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I MPLEMENTAÇÃO DE UM P ROGRAMA DE A MOSTRAGEM E DE M ONITORIZAÇÃO DA Q UALIDADE DAS Á GUAS

5. PROPOSTA DE UM SISTEMA DE ALERTA PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS

5.2 I MPLEMENTAÇÃO DE UM P ROGRAMA DE A MOSTRAGEM E DE M ONITORIZAÇÃO DA Q UALIDADE DAS Á GUAS

Para além dos aspectos específicos de concepção que cada Sistema de Alerta deverá contemplar alguns aspectos multidisciplinares que condicionam a sua concepção, como por exemplo os seguintes:

 A elaboração de um plano no qual seja devidamente identificado o que fazer, por quem, em que datas ou períodos de tempo e qual o local ou locais para a recolha de amostras;

 O desenvolvimento de um modelo da qualidade das águas que forneça mais rapidamente

resultados;

 A identificação da entidade que ficará responsável pela verificação e validação dos dados;

 A identificação da entidade que ficará responsável pela interpretação dos resultados da monitorização e da modelação, incluindo informações relevantes sobre o não cumprimento dos critérios de qualidade estabelecidos para interdição e reabertura das praias;

 A identificação da entidade que ficará responsável pela produção de informação e dos meios necessários na comunicação da informação ao público.

5.2.1 PLANO DE AMOSTRAGEM E DE MONITORIZAÇÃO

Para além dos aspectos gerais referidos no ponto anterior devem ser atendidos os seguintes aspectos e/ou passos indicativos para o estabelecimento de um bom plano de amostragem e de monitorização (sendo certo que haverá sempre excepções que devem ser devidamente ponderadas):

a. Que parâmetros deverão ser monitorizados?

A decisão sobre quais os parâmetros que deverão ser monitorizados deverá, primeiramente, basear-se nos parâmetros microbiológicos estabelecidos na Directiva 2006/7/CE (Escherichia coli e Enterococos Intestinais). Todavia, poder-se-á incluir uma série de medições além dos microrganismos referidos, nomeadamente, parâmetros físico-químicos, factores ambientais e oceanográficos. Conforme referido nos capítulos anteriores, estes parâmetros possibilitam avaliar atempadamente a qualidade das águas balneares. Por exemplo, a velocidade e direcção do vento permitem identificar a direcção das correntes marítimas que conduzem à dispersão/concentração da poluição na massa de água; por outro lado, a precipitação e o vento poderão influenciar os padrões de escoamento superficial nas bacias hidrográficas, etc. A Tabela 32 resume os microrganismos indicadores e parâmetros adicionais monitorizados em diferentes projectos e a proposta apresentada para as zonas balneares do Porto.

Tabela 32 – Parâmetros monitorizados em três casos de estudo e proposta para a orla marítima do Porto (Adaptado de USEPA, 2002). Parâmetros Sistema de Alerta Charles River Basin/Boston Harbor Milwaukee/ Racine Beachhealth

Rhode Island Beach Monitoring Orla Marítima do Porto Indicador Microbiológico  Coliforme Fecal  Enterococos

 E. coli  Coliforme Fecal

 Enterococos  E. coli  Enterococos Outros Factores  Precipitação  Temperatura  Condutividade  Salinidade  Condições Meteorológicas  Precipitação  Temperatura do ar e da água  Turvação  Fluorescência  Condutividade  Potencial oxidação/redução  Velocidade e direcção do vento  Clorofila  Nitratos e Fosfatos  Precipitação  Temperatura da água  Turvação  Condições meteorológicas  Predominante do Vento  Precipitação  Radiação Solar  Direcção do Vento  Altura de onda  Período Médio da onda  Turvação

b. Onde deverá ser efectuada a amostragem?

Com o intuito de estabelecer o plano de amostragem dever-se-á considerar os seguintes factores:

 Frequência e densidade de utilização – as águas balneares com um elevado usufruto poderão representar um maior risco para a saúde pública e como tal exigir uma maior frequência de amostragem;

 Proximidade de fontes de poluição - as condicionantes da bacia hidrográfica em que se inserem as águas balneares, incluindo a localização de fontes pontuais e difusas de poluição, representam um factor importante a ter em consideração no plano de amostragem.

c. Quando deverá ocorrer a recolha das amostras?

As áreas com maior risco de exposição a episódios de contaminação necessitam de um acompanhamento mais frequente da qualidade da água. Por isso, os factores mencionados na questão anterior deverão, igualmente, ser considerados neste caso. No entanto, outros factores poderão ser ponderados, nomeadamente, o tempo necessário para que os resultados dos indicadores microbiológicos sejam obtidos e, por outro lado, a necessidade de informar atempadamente o público. A recolha de amostras será importante quando são ultrapassadas os valores regulamentares estabelecidas na Directiva 2006/7/CE, e nos períodos subsequentes, para assim se garantir que a concentração dos indicadores fecais voltou a níveis aceitáveis. Este tipo de controlo ajudará a fundamentar a decisão de quando as praias interditas poderão ser novamente reabertas sem riscos para a saúde pública.

d. Como serão recolhidas as amostras?

É importante desenvolver procedimentos específicos para a recolha, conservação e armazenamento das amostras, que deverá ser mantido ao longo de todo o plano de amostragem.

Dependendo das decisões de coordenação poderá ser incluída uma estação meteorológica na proximidade das zonas balneares, com o intuito de reflectir as condições climatéricas do local. No caso do Porto, a estação meteorológica mais próxima localiza-se no Aeroporto Sá Carneiro, aproximadamente a 12 km da zona em estudo. Pelo que seria essencial obter os elementos meteorológicos junto da orla costeira para uma boa caracterização da sua realidade física e urbana.

Será, igualmente, conveniente definir procedimentos normalizados, para no momento da recolha das amostras das águas balneares, se efectuar também os registos de outros parâmetros (meteorológicos, oceanográficos e físico-químicos). Por esse motivo, os sistemas baseados em sensores de monitorização automática são os ideais. Com efeito, estes sistemas modernos possibilitam a obtenção da informação em tempo real e um tratamento eficiente dos dados (vidé Figura 20).

Figura 20 – Representação do sistema de monitorização automático implementado em Milwaukee/Racine, Wisconsin (USEPA, 2002).

5.2.2 MODELOS DE PREVISÃO

Conforme apresentado anteriormente (subcapítulo 2.3), o desenvolvimento de um modelo de previsão proporciona um quadro conceptual necessário para simplificar as actuais obrigações de monitorização e informação atempada do público. Em última análise, permitirá descrever a ocorrência de episódios de poluição em tempo real e relacionar diversos factores com o aumento da concentração fecal. Neste sentido, diferentes métodos de previsão têm sido implementados em diversos países, envolvendo vários ramos do conhecimento e apresentando diversas vantagens para a gestão efectiva das zonas balneares.

5.2.3 VERIFICAÇÃO E VALIDAÇÃO DE DADOS

A verificação e validação do modelo são, possivelmente, os passos mais importantes na sequência do seu desenvolvimento e, também um dos mais negligenciados.

A fase de verificação inclui um conjunto de acções cujo objectivo é certificar se o modelo conceitual foi integralmente respeitado na programação informática. Assim, dever-se-á proceder

 Realizar um controlo dos dados de entrada para detectar eventuais erros;  Representar graficamente os dados para facilmente se detectar dados inválidos.

A fase de validação inclui procedimentos cuja meta é certificar se os valores gerados pelo modelo apresentam coerência em relação aos determinados analiticamente. Existem várias ferramentas estatísticas que possibilitam a validação, mas as mais usadas incluem coeficientes de determinação, intervalos de precisão e identificação de falsos-positivos/falsos-negativos. Deste modo, este processo permitirá confirmar se os requisitos foram cumpridos, isto é, possibilitará a sua utilização técnica no que respeita aos objectivos do Sistema de Alerta. Este método deverá produzir um relatório que avalie a utilização dos dados (se algum deles é suspeito ou se necessita de ser qualificado) e que identifique as discrepâncias entre os dados obtidos pelo sistema real e os gerados através do modelo.

5.2.4 INTERPRETAÇÃO OS RESULTADOS DA MONITORIZAÇÃO E DA MODELAÇÃO

Os resultados da qualidade da água obtidos quer, por monitorização quer, por modelação, devem ser interpretados por técnicos qualificados do domínio da saúde pública e pelas entidades gestoras da praia, uma vez que só eles poderão determinar se existe um risco para a saúde e quais as medidas adequadas a implementar. Deverão, igualmente, ser estabelecidos procedimentos claros para a interdição e reabertura das praias. Um exemplo de uma boa política poderá ser a de considerar que, quando um resultado atinja o critério de qualidade “má/medíocre”, sejam recolhidas amostras adicionais e, no caso, de confirmação dos resultados de não conformidade se proceda à interdição da praia. No caso de praias com mais de um local de amostragem, como a zona balnear da Foz, a praia deverá ser interditada se as análises efectuadas para a maioria dos locais de amostragem exceder um determinado critério previamente estabelecido.

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