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3 AS REGIÕES DO ESTADO DA BAHIA

3.1 OCUPAÇÃO TERRITORIAL: HISTÓRICO

3.1.5 Mudança da base econômica

A década de 1950 e a implantação do nacional-desenvolvimentismo foram o marco significativo na economia brasileira, rumo às mudanças que se observaram na base econômica, nos anos posteriores. A ruptura do modelo primário-exportador em favor de um modelo conhecido como de “substituição de importações”, voltado para o mercado interno, significou uma profunda mudança quantitativa e qualitativa da economia brasileira. Do ponto de vista da produção, o aumento interno de bens de consumo anteriormente importados, estimulou, também, as importações de bens intermediários necessários a essa produção e bens de capital. O processo de industrialização brasileiro teve na indústria automobilística e na agricultura seu principal suporte e, numa via de mão dupla, a agricultura vem se industrializando cada vez mais.

A fase da “substituição de importações” caracterizou-se pela implantação de indústria pesada (1955/61). Posteriormente (início dos anos 60), instalaram-se fábricas de máquinas e insumos agrícolas e na agricultura formou-se um novo “mercado consumidor” dos novos meios de produção, com forte incentivo estatal, que veio fortalecer a produção de produtos destinados à exportação.

A concentração da industrialização nas regiões Sul e Sudeste, entretanto, acentuou as disparidades regionais e provocou atraso nas demais regiões, levando o governo de Jânio Quadros à criação de órgãos promotores de desenvolvimento regional como a Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE),

idealizada e dirigida por Celso Furtado, instituição de fundamental importância para a instalação do parque industrial da Bahia.

Sodré (1976, p. 361) registra essas disparidades em sua análise sobre a formação histórica do Brasil:

A estrutura da economia brasileira não se apresenta uniforme. Há zonas em que a produtividade é maior, enquanto outras apresentam índices baixos. [...] Comparando-se, por exemplo, a produtividade da indústria têxtil nos Estados da Bahia, Guanabara e São Paulo, verificaríamos, para 1957, diferenças gritantes: o valor da produção por operário era em São Paulo quase o triplo da Bahia; o salário médio era na Guanabara quase o dobro da Bahia.

As turbulências no cenário político com a renúncia do então presidente Jânio Quadros em 1961, a deposição do presidente João Goulart e a instalação da ditadura militar, em 1964, não abalaram a crença no desenvolvimentismo. O governo João Goulart ressaltava a estreita ligação entre emancipação econômica e superação do subdesenvolvimento, fundamentando-se nas estratégias traçadas no Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico. Já os militares, privilegiando a necessidade de controlar a crise econômica e financeira do país, estabeleceram as Diretrizes de Governo e o Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), visando à “aceleração do desenvolvimento” e à “contenção da inflação”. Posteriormente, traçaram os Planos Nacionais de Desenvolvimento (I e II PND), que estabeleceram os grandes objetivos do desenvolvimento brasileiro: elevar o Brasil à categoria de nação desenvolvida, dentro de uma geração; duplicar a renda per capita e expandir a economia, ambientados em um cenário de “potência emergente”.

O projeto Brasil-potência mundial emergente, levado a cabo pelo general Ernesto Geisel, propunha manter a performance econômica do modelo “milagre brasileiro”, implantar um novo padrão de industrialização baseado na indústria de bens de capital (em substituição ao setor de bens duráveis) e insumos básicos. A expansão da indústria foi colocada como primeira prioridade do governo.

Na onda dos acontecimentos e da implementação das políticas econômicas, o Estado da Bahia experimentou a gradativa mudança na base da sua economia com a entrada da produção petrolífera, a inauguração do Centro Industrial de Aratu, a implantação da Usina Siderúrgica da Bahia (USIBA) e o Pólo Petroquímico de Camaçari.

As repercussões dessas medidas se fazem sentir a partir dos meados da década de 1970, com a superação da fase agroexportadora da economia baiana e crescente industrialização da Região Metropolitana de Salvador (RMS), com grande impacto no grau de complexificação das atividades urbanas. Segundo Porto (2002), entre 1975 e 1985, a Bahia apresentou as mais altas taxas de crescimento médio anual do Produto Interno Bruto - PIB. Nesse período, “o setor secundário passa a superar a participação do setor primário na economia estadual e a espacialidade baiana reconcentra-se no litoral, em contrapartida a uma tendência anterior de interiorização da ocupação da produção de riqueza no estado” (PORTO, 2002, p.100).

A alteração desse perfil pode ser observado na Tabela 1 da composição setorial do PIB baiano mostrado por Menezes (2000, p.75), que ilustra o momento dessa inflexão e a nova tendência que se estabelece a partir da nova base.

Tabela 1 – Participação relativa dos setores da atividade econômica no PIB da Bahia, período 1960-1998

Setores Ano

Primário Secundário Terciário

1960 40,0 12,0 48,0 1970 21,2 12,4 65,4 1980 16,4 31,6 52,0 1985 25,1 38,0 36,8 1990 12,8 38,1 48,9 1995 15,5 36,0 48,6 1998 10,3 38,4 51,3 Fonte: Menezes, 2000, p.75

A mudança decorre da agricultura, debilitada pela estagnação ou declínio dos produtos tradicionais (cacau, fumo, sisal, algodão, cana-de-açúcar, mamona) que regrediu sua participação no PIB estadual, cedendo sua relativa importância aos novos pólos dinâmicos de produção industrial.

Nas análises de Prosérpio (1994) e Menezes (2000), a industrialização fez com que a dinâmica de acumulação do capital na Bahia passasse a ser condicionada pela atividade industrial e, a partir da consolidação do Pólo Petroquímico, reforçou os vínculos entre a economia baiana e o Sudeste do país, tendo em vista seu caráter complementar à indústria instalada no Centro-Sul.

Com essa matriz, a economia sofreu uma mudança estrutural que se caracterizou pela concentração espacial, ficando a RMS responsável por 70,5% do valor da transformação industrial, em 1999, conforme dados de Menezes (2000, p.77). Essa proeminência de Salvador resultou em obstáculos ao desenvolvimento de pólos regionais liderados pelas cidades médias.

Apesar dessa tendência, constatou-se a emergência de novas áreas de produção agrícola que tiveram como característica principal a incorporação de tecnologias avançadas, com utilização de insumos ou irrigação, permitindo a instalação de agroindústrias modernas e competitivas, que tiveram impactos positivos na agregação de valor dos produtos, ao se instalarem nas regiões Oeste, Norte e Sul do Estado (soja, café e fruticultura irrigada na região de Barreiras; fruticultura na região de Juazeiro e madeira para celulose no Extremo Sul), propiciando a entrada de fluxos econômicos que vêm dinamizado essas regiões.

Nos anos 1990, quando os reflexos da economia globalizada começam a se fazer sentir, investimentos em indústrias eletroeletrônicas, automotiva e de turismo têm contribuindo para a diversificação das atividades econômicas e a desconcentração espacial e dos fluxos de capitais.

Os ajustamentos sofridos em virtude dos processos de reestruturação produtiva, abertura comercial, plano de estabilização econômica, privatizações e reforma do setor público têm sido incorporados gradativamente à estrutura socioeconômica do Estado, delineando, no panorama atual, uma nova dinâmica demográfica, diversificação e desconcentração espacial agrícola e industrial e integração de cadeias agroindustriais.