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Artigo 3: Desempenho na gestão da saúde pública municipal A gestão da

4.3. Mudança na ordem governativa da cidade:

Vilaça-Mendes (1996) destaca que, para atender ao paradigma da produção social da saúde, é necessário que a cidade seja governada com políticas transversais que possibilitem tratar a saúde de forma integral. Pois entende que só é possível criar um estoque de saúde na população quando vários fatores socioeconômicos que se relacionam a ela forem igualmente tratados.

Em benchmarks positivos é possível frisar que os gestores reconhecem a importância de ações transversais entre as secretarias e que possuem uma facilidade em realizar essas parcerias. Esse aspecto mostra que a estrutura da saúde é transversal ou integrada. Como diferencial, ressalta-se: “Boa equipe, o pagamento é em dia, um bom salário, o município paga um salário bom perante outras realidades que eu conheço. Isso é um diferencial, o funcionário faz o seu trabalho com prazer” (S.1).

Mesmo não existindo formalmente o cargo de coordenadora, a enfermeira da unidade central faz esse papel de planejamento e organização da ESF, o que mostra a vontade de gestar e de organizar a ESF do município.

Percebe-se, no entanto, que as metas ainda são muito definidas pelo governo federal, o que dificulta a descentralização das ações. Por outro lado, possibilita que os gestores municiais tenham liberdade para alcançar essas metas com as ações que acharem melhor.

Em benchmarks negativos observa-se que os Agentes comunitários de saúde entendem o planejamento como algo determinado pelo ministério da saúde e pelo governo federal. De fato, os gestores afirmam não fazer planejamento municipal (os que pretendem fazer irão começar esse ano) desconsiderando a importância do planejamento das ações em saúde (MARQUES, et. al., 2010).

A dificuldade apontada para a efetividade dos tratamentos foi o transporte, tanto dos agentes comunitários quanto dos pacientes, que precisam de encaminhamento. Isso mostra a falta de parcerias entre as secretarias. O gestor acredita serem as ações conjuntas com secretarias como a de educação de grande importância para a prevenção, mas também entende são iniciais, pois estão sendo planejadas somente agora.

Em uma das cidades pesquisadas existe um planejamento municipal, mas o secretário não tem conhecimento sobre ele, e, ao ser questionado sobre como ocorre o planejamento municipal ele responde: “Essa pergunta tem que ser feita para o prefeito” (S.2). Já o planejamento para a saúde conta com a participação de todos os agentes, os gestores e o conselho de saúde.

Apesar de a participação estar começando a acontecer efetivamente na cidade, é importante destacar que a população, quando se reúne no conselho, discute assuntos importantes para a população em geral. Esse é um aspecto incomum, já que na maioria dos municípios pesquisados citaram a população não consegue chegar a discussões mais esclarecedoras sobre o conceito de bem público, uma vez que eles discutem assuntos políticos ou de um determinado grupo de interesses em detrimento ao interesse da população como um todo.

É possível destacar, naquele contexto, que para ter eficiência na ESF é necessário que se tenha vontade política municipal, o que está começando neste mandato, ou seja, quando foram medidos os indicadores para selecionar os municípios para este estudo, ainda não tinham ações efetivas nesse sentido.

5. CONCLUSÃO

Percebe-se que os fatores que colaboram para que os municípios alcancem a eficiência na ESF se relacionam com o paradigma de produção social da saúde. Pois as práticas mais eficientes estão associadas à participação da população na construção das políticas de saúde do município, práticas de gestão transversais que englobam ações que vão além da secretaria de saúde e a busca da eficiência na gestão fiscalizando os horários dos membros da equipe da ESF.

Assim, a descentralização da política, ao permitir que cada município desenhe suas ações para cumprir as metas estipuladas pelo governo federal e estadual, traz benefícios quando o município conhece a própria realidade e trabalha suas potencialidades para melhorar a qualidade de vida da população. Todavia, pode servir também como uma “desculpa” para gestores que não alcançam resultados esperados, aguardando que o governo federal mande ações pontuais que somente é necessário executar.

Por fim, este estudo buscou contribuir com o campo de estudos em administração pública porque revela que as teorias organizacionais são amplas e capazes de embasar estudos em outras áreas, como um estudo da Gestão da Saúde. Mostrar que a qualidade de gestão é determinante para a eficiência de um programa público, e, portanto, para a melhoria da qualidade de vida da população, quando se pretende que outros pesquisadores e gestores tenham acesso a esses dados e que essas mudanças na gestão municipal possam se efetivar de alguma forma.

Os resultados foram encontrados em 9 municípios mineiros, o que não permite a generalização do estudo, mas mostra o comportamento de municípios selecionados apartir de grupos homogêneos. Estas circunstância levantam a hipótese de existirem comportamentos semelhantes nesses grupos.

6. REFERÊNCIAS

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CONCLUSÕES GERAIS

Com esse trabalho pode-se concluir que a eficiência da Atenção Primária à Saúde (APS) no estado de Minas Gerais se manifesta de forma diferente nos municípios, em que alguns conseguem atingir um nível máximo de eficiência e outros estão distantes dessa curva. Isso revela que a descentralização da Estratégia Saúde da Família (ESF), que é a principal estratégia de APS no Brasil, possibilita diferentes formas de gestão dessa política. Além de que se pode perceber que fatores como a educação e a renda se destacam como diferenças entre os grupos de municípios divididos pela sua eficiência da APS, aspecto que sugere que outros fatores podem influenciar nessa eficiência.

A partir de uma investigação dos fatores que se relacionam à qualidade de vida (objetivo final da APS) foi verificado que fatores socioeconômicos influenciam a qualidade de vida além da eficiência da APS, o que revela que políticas transversais e a adequação ao conceito de Atenção Primária à Saúde, na qual trabalha problemas do individuo de forma integral, podem ser mais efetivos na melhoria da qualidade de vida.

Por fim, é possível concluir que a gestão municipal e ações descentralizadas, adaptadas à condição de cada município além da participação popular efetiva, são fundamentais para uma saúde pública de qualidade e a intervenção do Estado, garantindo que esse direito da população seja fundamental para que se construa uma cultura de promoção da saúde e qualidade de vida.

Dessa forma, são necessários trabalhos que conscientizem a população da importância da prevenção, estímulo a uma vida com hábitos mais saudáveis e fomento da participação social que ainda é incipiente nos municípios estudados.

Espera-se que este estudo possa contribuir para que os gestores públicos e a população trabalhem coletivamente em prol de uma melhor saúde pública, e que possa fomentar a ideia de uma administração pública mais eficiente e que traga mais retorno a toda população.

APÊNDICE 1: MUNICÍPIOS MINEIROS EXCLUÍDOS DA ANÁLISE

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