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3 METODOLOGIA

4.1 Grupo CCR

4.1.9 Mudança no perfil profissional do engenheiro

A Engelog iniciou, em 2003, sua operação como o centro de engenharia do Grupo CCR. Hoje, além de ser responsável pelo gerenciamento dos investimentos de construção e dos serviços de conservação das rodovias administradas pelas Concessionárias do Grupo, cuida do atendimento aos clientes que utilizam a infraestrutura concessionada, ao poder concedente, aos acionistas, aos lindeiros, enfim, a todos os stakeholders relacionados com o negócio.

Em 16/11/10, 20trainees, de um total de 12.000 inscritos, foram contratados para o Grupo CCR. Desses, sete recém-formados em engenharia civil, foram destinados à Engelog. Primeiramente, eles passaram por um período de imersão na empresa, conhecendo melhor o grupo.

De janeiro até julho de 2011 fizeram um job rotation na Engelog e depois foram alocados em diversas áreas dentro dessa divisão do grupo.

Ao final do programa, fizeram uma espécie de trabalho de conclusão do curso, chamado de “trabalho complementar de formação empresária”. O título do trabalho é: o perfil do engenheiro de concessão, um estudo baseado no IFRIC 12 na gestão da Engelog, ou seja, 35% dos trainees contratados pela empresa foram alocados para estudarem o impacto das alterações contábeis nas atividades de engenharia do grupo. O objetivo do trabalho realizado por eles era entender o perfil adequado do engenheiro de concessão diante do novo cenário contábil.

De acordo com os trainees, “no dia a dia da organização palavras como balanços, balancetes, demonstração de resultados, caixa, competência são comuns e trazem consigo formas de registros de todos os eventos financeiros e econômicos. Um mundo de números que desperta aflição em muitos profissionais que não os advindos das áreas de administração ou de contabilidade”.

Um grande desafio para os trainees foi entender que a gestão interna da área de engenharia é baseada no regime de competência e, não, o regime de caixa. Foram necessárias muitas discussões para conhecerem esse conceito.

Segundo Carl Douglas, “com o IFRS o contador precisou conhecer muito de engenharia e o engenheiro precisou conhecer muito de contabilidade”.

Para Mario, “antes do IFRS, todos os projetos da empresa, em torno de R$1,5 bilhão, eram tratados como um bloco único de investimentos. Todos tinham o mesmo tratamento contábil. A maneira de gastar o dinheiro com investimento era indiferente, tudo estava dentro de um caixa único. Agora, a empresa precisa gerir de maneira individualizada suas classes de investimentos. Cada classe tem um procedimento contábil diferente”.

Conforme anteriormente comentado, o Grupo CCR, após a implementação do IFRIC 12, passou a classificar os seus investimentos em três categorias:

• 2)investimentos de manutenção e recuperação periódicos (provisão); • 3)investimentos de conservação de rotina (custo direto).

“O cuidado, agora, é maior em gerir o que de fato é planejado. Se gastar a mais do planejado há um impacto direto no resultado, dependendo da classe do investimento. Os engenheiros estão se acostumando com as mudanças. Precisaram reclassificar o passado. Essas mudanças, agora, fazem parte do dia a dia” (Mario)

De acordo com os trainees, “os novos procedimentos contábeis envolveram uma mudança na atividade de planejamento da Engelog. Antes o planejamento era feito de setembro até dezembro, agora, ele precisa ser contínuo. A contabilidade internacional impactou em uma melhora na informação de tendência sobre os investimentos. Foi necessário estruturar uma nova maneira de agir e pensar. Isso exigiu que os engenheiros se tornassem mais estratégicos, planejados e com um espírito empreendedor”.

Para Mario, “foi necessário diminuir as demandas extras da concessionária com estudos. Isso poderia estourar a verba de estudo. O planejamento das solicitações tornou-se mais bem elaborado. Os estudos foram mais bem empregados”.

Além das mudanças contábeis, a adoção do IFRIC 12 trouxe impactos indiretos para a organização. O trabalho complementar de formação empresarial dos trainees relata esses impactos indiretos.

Segundo o trabalho, os impactos indiretos foram aqueles decorrentes da mudança do ambiente da CCR Engelog como um todo e que, caso não existisse o IFRIC 12, teriam, ainda, a possibilidade de existir caso fossem motivados de outra forma.

A seguir, serão evidenciadas diversas mudanças organizacionais provocadas pela implementação das novas normas contábeis. Essas mudanças foram descritas no trabalho de formação dos trainees da Engelog do Grupo CCR nas p. 33 até 37 do documento interno.

“Precisão dos Valores Planejados e Realizados por Classe de Investimento

Em decorrência da obrigação da alocação dos investimentos em três diferentes classes, cada qual com sua particularidade no tratamento contábil e impacto nos resultados das empresas é

de extrema necessidade que os valores utilizados no planejamento dos investimentos sejam muito próximos aos realizados.

Da mesma forma, a execução deve seguir os parâmetros definidos no período de planejamento, se possível. Isso porque o montante de investimentos, que era tratado como uma grande classe de investimento, agora, é controlado dentro de cada classe, cada qual com suas particularidades. Deve-se ter em mente que as classes de Provisão de Manutenção e Custo Direto são as mais críticas, visto que erros nessas previsões geram impactos diretos nos resultados da empresa.

Planejamento Contínuo

O planejamento contínuo surgiu com o objetivo de acompanhar e avaliar os investimentos contemplados pelo planejamento quinquenal, por meio da busca da melhor e mais atualizada informação.

Maior controle na solicitação de estudos e demandas extras

Com a implantação do IFRIC 12, já se observa um maior controle na solicitação de estudos de viabilidade e demandas extras pelas Concessionárias à CCR Engelog. Esse impacto decorre do fato de que, qualquer investimento realizado não contemplado no planejamento, exige a realocação de verba que será destinada a sua execução, verba essa vinda de algum outro investimento previsto ou da redução dos dividendos esperados da empresa.

No primeiro caso, exige-se a readequação do planejamento, que pode ocorrer de duas formas: com a postergação de algum investimento pela autorização do poder concedente ou pela absorção da verba de algum investimento que não era uma obrigação contratual, que será postergado ou, caso não exista mais a necessidade de executá-lo, será excluído do planejamento.

No segundo caso, exige-se a aprovação dos acionistas para a liberação da verba necessária para a execução dessa demanda extra, que ocorrerá de acordo com a importância estratégica e/ou operacional desse investimento.

Otimização da Gestão Integrada dos Investimentos

O modelo de gestão integrada deve ser estruturado de forma que possibilite o controle das etapas e definição clara e disseminada das responsabilidades de cada área da CCR Engelog, ao mesmo tempo em que deve ser evitado ao máximo o excesso de burocracia.

Análise crítica na fase de orçamento

O IFRIC 12 e a divisão dos investimentos em três classes presumem planejamento e orçamento adequados, uma vez que erros poderão afetar, significativamente, o resultado da empresa. Para isso, a interação entre o orçamento e outras áreas, como: projetos, braços avançados e concessionárias, é indispensável, já que o compartilhamento e o alinhamento de informações são de suma importância para o funcionamento da engrenagem como um todo.

O principal ponto para essa realização é o entendimento de como o trabalho em equipe pode mudar as entregas de forma positiva, proporcionando maior precisão e, consequentemente, melhores informações ao acionista e ao mercado, contribuindo para o alcance de metas do Grupo CCR.

A análise crítica do projeto, na fase de orçamento, possibilitará que a qualidade dos projetos cresça e, assim, sejam evitadas futuras modificações de projetos e a adição de itens não previstos.

“Novo” Balizador de Contratações

Como resultado da atmosfera de maior controle do planejamento provocada pela adoção do IFRS, exigiu-se da CCR Engelog uma maior precisão na contratação de serviços, tal que o valor contratado seja próximo do valor divulgado no Planejamento do Quinquênio.

Mudança no perfil do engenheiro

No novo contexto formado direta e indiretamente pela adoção do IFRIC 12, observou-se a necessidade do desenvolvimento de novas características do engenheiro de concessões.

Sendo assim, com a necessidade de se ter um planejamento mais próximo do realizado, exigiu-se que as pessoas envolvidas no negócio tenham visão do processo com um todo, antecipando problemas e refinando as informações.

Da mesma forma, é, extremamente, importante que os engenheiros assumam uma posição ativa e atuem como responsáveis pela gestão dos investimentos, ao invés de somente acompanhá-los.

Vale ressaltar, no entanto, que grande parte dessas mudanças é inerente a um processo melhor de planejamento, e que, portanto, poderiam ser implementadas mesmo que o cenário estimulado pelo IFRIC 12 não fosse o plano de fundo adotado. As novas práticas contábeis por ele trazidas forçarão todos a adotar a postura planejadora que já poderiam ter, mas que, agora, é mandatória.

Assim, a gestão da CCR Engelog não deverá ser tão impactada em termos de processos internos, mas, sim, em termos de mudança de atitude dos seus analistas de engenharia rodoviária, profissionais que, aqui, deverão ser ousados, desprendidos, autônomos, íntegros e respeitosos, valores tão praticados à medida que as lideranças os difundirem.

Para Mario, “as mudanças do IFRS são vistas como algo positivo para a empresa. A apresentação dos trainees foi usada como instrumento de divulgação do conhecimento para as outras pessoas da empresa”. Até setembro, os trainees fizeram a apresentação mais de sete vezes para os funcionários da empresa de diversas áreas.

“Tenho convicção, hoje, da contribuição que o IFRS deu para a empresa. Não é um processo leve de implementação, mas nos deu a possibilidade, por exemplo, de enxergar melhor nossos investimentos. Antes, o investimento era visto como um todo; hoje, podemos perceber melhor os impactos dos investimentos realizados dentro do negócio. Melhorou a qualidade da informação”, afirma Marco.

“Se a Engelog fizer uma gestão ruim entre planejado e realizado, o resultado da empresa não será o mesmo que o esperado pelo acionista. É preciso muito foco no planejamento para não haver desvios”. (Mario)

Para Hélio, “a provisão de manutenção exigida pelo IFRIC 12 trouxe a questão do planejamento de engenharia para dentro da contabilidade. O planejamento vira débito e crédito na contabilidade. Consequentemente, houve uma grande exigência de antecipar projetos (levantamento, desenho e valorização) para ter números mais precisos”.

O problema é que há um alto grau de complexidade nessa estimativa. Conforme Carl Douglas, “não se sabe com precisão a profundidade do recapeamento antes que ele de fato se inicie fisicamente. Entretanto, é necessário estimar esse número e sensibilizar a contabilidade com ele”.

Segundo Mario, “um dos desafios dessa contabilidade internacional é a necessidade de uma ferramenta rápida para fazer gestão. Ao decidir replanejar uma obra não é possível mais pensar, somente, na distribuição física, é preciso analisar sempre o impacto contábil. Verificar qual é o impacto contábil com essa redistribuição física”.

“A contabilidade internacional melhora a forma de gerir o negócio, mas dá muito mais trabalho para colocar em prática”, afirma Mario.

Para Nara, “um grande ganho com o processo de convergência contábil foi a oportunidade da Engelog em rever seus processos. Isso melhorou a gestão de investimentos”.

Dessa forma, consegue-se notar que o movimento de convergência contábil traz diversas mudanças organizacionais para a empresa. Os impactos não estão atrelados, exclusivamente, a área contábil e financeira.