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Mudança do uso da terra e emissões de gases do efeito estufa no Cerrado

O efeito estufa é gerado pela presença de gases que retêm a radiação infra-vermelho na

atmosfera, evitando que esta se disperse no espaço. Dentre os gases causadores do efeito estufa

(GEEs), destacam-se o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), sendo

estes responsáveis por aproximadamente 50, 15,5 e 5 % do forçamento radioativo causador do

efeito estufa (IPCC, 2007)

O setor agrícola, mundialmente, produz 47 e 84% das emissões antropogênicas de CH4 e

N2O, respectivamente, e aproximadamente 5% das emissões de CO2 (RICE, 2006). No Brasil,

a mudança de uso da terra é uma das principais causas do aumento das emissões de CO2, CH4 e

N2O da biosfera para a atmosfera (BERNOUX et al., 2001; SCHUMAN et al., 2002).

A dinâmica dos fluxos de gases é alterada pela mudança do uso da terra e pelos sistemas

de manejo aplicados ao solo. A decomposição aeróbia do C produz CO2, enquanto a

decomposição anaeróbia produz CH4 e a desnitrificação conduz a formação de N2O. Dependendo

das concentrações de gases produzidos pela desnitrificação (N2O e NO) e das quantidades

emitidas para a atmosfera, podem contribuir para a destruição da camada de ozônio (O3) da

estratosfera e troposfera terrestre (SIQUEIRA; FRANCO, 1988). Em ecossistemas florestais,

onde a entrada através da liteira e dos exudados das raízes é a fonte lábil do C orgânico do solo,

alterações espaciais e temporais dessas variáveis biológicas poderia ter uma grande influência na

emissão de CO2 e N2O (MONTIEL et al., 2004).

A matéria orgânica presente nos solos da terra é uma grande reserva de carbono (C) que

pode atuar como um dissipador ou fonte de CO2 atmosférico (LUGO; BROWN, 1993; RAICH;

POTTER, 1995). Devido a mudança de uso da terra provocada pela ação humana, tais como a

transformação de ecossistemas naturais em agroecossistemas, ter o potencial de alterar

reservatório da MOS e a taxa de retorno em sistemas naturais e modificados pelo homem é

fundamental para estimar os fluxos de C entre o solo e a atmosfera.

Importantes fontes tropicais de emissões CH4 para a atmosfera incluem o

desflorestamento, confinamento do gado, queima da biomassa para mudança do uso da terra e

cultivo de arroz irrigado (HOUGHTON, 1990; LENG, 1993; FEARNSIDE, 1997).

Na Amazônia brasileira, as emissões derivadas da queima de biomassa aumentaram na

década de 80 devido a aceleração nas taxas de desflorestamento para projetos de colonização que

criaram incentivos fiscais para a expansão agrícola em áreas remotas da Amazônia (MOLION,

1991; HECHT, 1993; BROWDER; GODFREY, 1997). Tradicionalmente, a queima de biomassa

é usada para converter florestas tropicais para agricultura itinerante, agricultura permanente, e/ou

pastejo de animais.

Modificações na matéria orgânica do solo e ciclagem de nutrientes podem mudar a

magnitude e a direção dos fluxos de gases (CO2, CO, NO e N2O) como ter impactos

significativos na atmosfera. Mais recentemente, variações sazonais nas emissões desses gases têm

sido intensamente avaliadas em áreas de Cerrado nativo (KISSELLE et al., 2000; PINTO et al.,

2002). Os dados de fluxos de gases em agroecossistemas de Cerrado são escassos (DAVIDSON;

BUSTAMANTE; PINTO, 2001), porém têm sido estudados mais recentemente por alguns

autores (CARVALHO, 2006, SIQUEIRA NETO, 2006) devido ao aumento expressivo das áreas

com uso agrícola nesse bioma.

Embora exista uma grande diversidade de solos da Amazônia, uma característica comum

é a relativa abundância de ciclagem de N em ecossistemas florestais (MARTINELLI et al., 1999).

Em solos arenosos, como em alguns solos estudados próximos a Manaus por Matson et al (1990),

os fluxos de N2O medidos durante o período de 6 semanas foram mais baixos do que aqueles

As taxas de transformação de N, através de processos de nitrificação e desnitrificação,

também estão relacionadas com as emissões de N2O. Baixas emissões de N2O são comumente

observadas em savanas bem-drenadas. Tanto as bactérias nitrificadoras quanto as denitrificadoras

produzem N2O, mas a maior parte das emissões ocorre por desnitrificação sob condições

anaeróbias (LEVINE et al., 1996; SANHUEZA et al., 1990). Estudos identificaram aumento das

perdas de N2O devido aos distúrbios provocados pelo corte de florestas (KELLER et al., 1993;

MATSON; VITOUSEK, 1987; STEUDLER et al., 1991), e tratando-se de sistemas agrícolas,

pode-se observar menores fluxos de N2O em pastagens velhas do que na floresta original

(KELLER et al., 1993).

A baixa disponibilidade de N em solos de Cerrado, presumidamente se dá pelas perdas

com fogo freqüente, como contribui para as baixas emissões do solo e gases nitrogenados

(PINTO et al., 2002). As informações disponíveis atualmente para o Cerrado indicam que a

conversão do Cerrado nativo para sistemas agrícolas tem aumentado modestamente as emissões

de N2O. Provavelmente o clima do Cerrado, caracterizado por meses de seca, não favoreça

grandes emissões de N2O (DAVIDSON et al., 2001).

Estudando os fluxos de gases em latossolos na região de Brasília, Varella et al (2004) não

encontraram diferenças significativas nas emissões de C-CO2 entre as áreas de pastagem e

Cerrado nativo, porém houve diferenças foram observadas, com menores emissões na estação

seca e maiores emissões na estação úmida nos dois sistemas estudados.

Na conversão de Cerrado nativo para agricultura em Vilhena (RO) em um solo com

textura variando de argilosa a arenosa, as emissões de CO2 e N2O foram maiores em áreas de

Cerrado do que nos locais cultivados com plantio convencional (1 e 2 anos) e plantio direto (1 a 4

anos). A absorção de CH4 sob condições naturais foi em média 30% mais rápida do que nos

Em Rio Verde (GO), as emissões de gases do efeito estufa (CH4 e N2O) em um Latossolo

vermelho amarelo distrófico (50-70% de argila) com diferentes sistemas de manejo (Campo nativo, pastagem, plantio convencional e plantio direto com 8, 10 e 12 anos de implantação), foram

afetados pela sazonalidade climática, com menores emissões nos meses de inverso (período seco)

e maiores emissões no verão (período chuvoso). Já os fluxos de metano não apresentaram relação

com a as variações climáticas, apresentando emissões somente no sistema pastagem (SIQUEIRA

NETO, 2006).