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6.2 LITORAL SOB FRACA INFLUÊNCIA DA DESCARGA FLUVIAL 62

6.4.7 Mudanças do manguezal de Linhares-ES durante as últimas décadas 81

A análise de séries temporais de imagens de satélite, para um intervalo de vinte e nove anos, indica importantes mudanças geomorfológicas e de vegetação (Figura 7). A laguna, onde os manguezais estudados estão localizados, está truncada com os cordões arenosos e os manguezais estão migrando para uma posição topográfica elevada e ocupada por vegetação herbácea. Por exemplo, o local de amostragem, representado pelo testemunho LI-34, apresenta uma planície de maré colonizada por manguezais.

No entanto, de acordo com a imagem, obtida por satélite para o ano de 1984, o local foi ocupado pela vegetação herbácea (Figura 7), como indicado pelas análises de pólen (Figura 9). Situação similar foi descrita no litoral norte brasileiro (Cohen e Lara, 2003; França et al, 2012).

Essa migração do mangue para setores elevados, durante as últimas décadas, e a erosão dos cordões arenosos por lagunas pode estar relacionada com um aumento do nível do mar atual, frequentemente referido na literatura (Bindoff et al., 2007). A dinâmica de mangue, dependente da topografia, sugere fortemente um aumento na frequência de inundação, mudanças na salinidade do solo e transporte de sementes de mangue para áreas mais elevadas (Cohen & Lara, 2003; Lara & Cohen, 2006).

Outras causas para a expansão das lagunas e migração de mangue na área de estudo pode ser proposto. Por exemplo, alterações na descarga fluvial poderiam ter afetado tanto a salinidade quanto o nível de água. Essas mudanças poderiam ter sido cíclicas, ao longo da costa, por causa de correntes litorâneas que podem obstruir a ligação da laguna com o mar. Por exemplo, um lago moderno, perto da foz do Rio Doce (Figura 7c), não está conectado com o mar. Consequentemente, a vegetação dominante na borda desse lago é de água doce. No entanto, se a conexão entre o lago e o mar retornar, o mangue irá expandir sobre essa área. Em seguida, o transporte de sedimentos pela deriva litorânea ao longo da costa pode causar

episódios recorrentes de desconexão entre a laguna e o mar, afetando a sucessão da vegetação local dentro de um prazo determinado (nesse caso, décadas).

Nesse contexto, as forças controladoras por trás das alterações da vegetação na área de estudo poderiam ser explicadas por processos autocíclicos e alocíclicos (Busch & Rollins, 1984). Processos autocíclicos têm origem no interior da bacia e estão relacionados com a dinâmica sedimentar.

Os autocíclicos podem ser causados por marés e tempestades e eles apresentam continuidade estratigráfica limitada. Em sistemas deltaicos, tais processos podem incluir avulsão do rio, a migração de barras em pontal, meandros fluviais ou migração lateral de ilhas barreiras.

Já os processos alocíclicos são de origem de fora da bacia e podem incluir, por exemplo, alterações climáticas, as flutuações do nível do mar e tectonismo. Esses processos tendem a produzir impactos generalizados sobre o registro sedimentar (Walker, 1992).

Assim, as alterações da vegetação durante o Holoceno na área de estudo estão provavelmente associadas com os processos alocíclicos, pois mudanças importantes nas associações de fácies ocorreram e são consistentes com a queda do NRM e com as mudanças climáticas registradas, ao longo da costa sudeste do Brasil.

No entanto, a migração do mangue – registrado por imagens de satélite durante as últimas décadas, com a transição de planícies de maré herbáceas para manguezais, e a matéria orgânica terrestre para estuarina, revelado pelo pólen e dados biogeoquímicos durante último século(s) – pode estar relacionada a uma tendência de longo prazo, controlada pela atual tendência de elevação do nível do mar (processo alocíclico) e/ou transporte de sedimentos ao longo da costa (processo autocíclico).

Em resumo, os dados do litoral de Linhares revelam que durante o Holoceno médio, planícies de maré – posicionadas sobre terrenos topograficamente elevados, ao longo da borda de uma laguna protegida por cordões arenosos – foram ocupadas por pântanos representados por árvores de mangue e ervas. Durante os últimos ~ 6350 cal anos AP, a queda do NRM e a maior descarga de sedimentos fluviais teria promovido a progradação do litoral. Esses processos também teriam levado a formação de extensos cordões arenosos sobre depósitos de lama transgressiva. O último, acumulado em lagunas e planícies de maré, levou à contração da área de mangue. Uma transição similar foi registrada em uma posição relativamente baixa e distal em ~3043 cal anos AP.

Entre ~ 1337 e ~ 900 cal anos AP, uma planície de maré na borda de uma laguna foi colonizada por vegetação herbácea (plantas C4) e acumulou matéria orgânica marinha. No entanto, a contribuição de matéria orgânica terrestre aumentou ao longo do tempo.

A fase seguinte, entre ~900 e ~400 / ~100 cal anos AP, é marcada pela transição de planície de maré herbácea para mangue, como indicado pelo aumento do afluxo de matéria orgânica terrestre. Durante os últimos ~ 400/~ 100 cal anos AP, o mangue se estabeleceu, como indicado pela análise de pólen, seguido de um aumento da contribuição da matéria orgânica estuarina.

A última fase de estabelecimento de mangue e do aumento da contribuição de matéria orgânica estuarina, registrada nos últimos séculos, pode estar associada a um aumento do nível relativo do mar. Sob essa condição, a erosão dos cordões arenosos e a expansão das lagunas e manguezais, como registrados nas análises de séries temporais de imagens de satélite, são esperadas.

No entanto, considerando as diversas forças que podem influenciar a dinâmica de mangue, estudos aprofundados, ainda, são necessários, consistindo no acompanhamento das florestas de mangue por imagens de satélite, somado ao trabalho de campo, a fim de identificar a influência da subida do nível relativo do mar sobre a distribuição dos manguezais ao longo do litoral do Estado do Espírito Santo, Sudeste do Brasil.

7 INTEGRAÇÃO DA DINÂMICA DOS MANGUEZAIS DO LITORAL NORTE,

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