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Nas organizações públicas, o processo de mudança é entendido como qualquer intervenção que tenha o objetivo de promover o aumento da eficiência, da eficácia e da efetividade de um órgão ou mesmo de um sistema governamental. Essa reforma pode, ainda, mudar as características de uma determinada instituição pública, como a sua missão, as ações políticas e estratégicas, as formas de gerenciamento, o comportamento e a produção. Costa e Cavalcanti (apud LICKS, 2000, p.48).

Essa relação entre reforma estatal e a promoção da eficiência, da eficácia e da efetividade na administração pública e a relevância desse debate para a modernização do Estado nos remete compulsoriamente a uma breve discussão sobre essas variáveis, não obstante, deixar claro que nesta investigação o foco é o estudo do impacto dessa reforma para a modernização administrativa da PMBA e a percepção dos atores envolvidos.

Os princípios reguladores da administração pública brasileira estão entalhados no caput, do art. 37, da Constituição Federal, hoje com seguinte escrita: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados... obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência...”. Frisa-se que o princípio da eficiência foi apensado ao referido texto constitucional pela Emenda Constitucional 19, de 05 de junho de 1998, quase dez anos após sua promulgação.

Para Aragão (apud SIQUEIRA e BERTOCINI, 2002, p. 124-125):

“A eficiência não pode ser entendida apenas como maximização do lucro, mas sim como um melhor exercício das missões de interesse coletivo que incumbe ao Estado, que deve obter maior realização prática possível das

finalidades do ordenamento jurídico, como os menores ônus possíveis, tanto para o próprio Estado, especialmente de índole financeira, como para as liberdades dos cidadãos”.

No caso pontual, a respeito da atuação da PMBA, de forma clara e explícita, o texto da Constituição do Estado da Bahia de 1988, no §7o do art. 144, reza que:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: § 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

Do ponto de vista da gestão, a eficiência representa a boa utilização dos recursos (financeiros, materiais e humanos) em relação às atividades e resultados atingidos. Nessa linha, Torres (2004, p. 175), assim se posiciona:

“Eficiência se refere à menor relação custo / benefício possível para alcançar os objetivos propostos de maneira competente, segundo as normas preestabelecidas, podendo, assim, ser traduzida sob a forma de indicadores de produtividade das ações desenvolvidas. Essa dimensão tem foco na otimização dos recursos utilizados, nos processos e nos fatos, ou seja, em fazer mais com menos, pouco se importando com os meios e mecanismos utilizados para atingir tais objetivos”.

Eficácia, por seu turno, refere-se ao desempenho externo da organização, ao seu produto, ou seja, sua contribuição para o alcance dos objetivos organizacionais. Pode ser sintetizada na relação entre a saída de produtos/serviços real e a saída de produtos/serviços padrão, cujo resultado tenderia a infinito. Analisa-se até que ponto os resultados estão sendo alcançados. A eficácia corresponde, portanto, à capacidade de fazer o que deve ser feito, isto é, cumprir o objetivo determinado. Frasson (apud TENÓRIO, 1999).

A Eficácia é uma medida que procura traduzir até que ponto os resultados, metas e objetivos foram atingidos. Tem foco nas ações e nos resultados tanto em termos de quantidade quanto de qualidade e, portanto, seus indicadores englobam estas duas facetas (BELLONI, MAGALHÃES e SOUSA, 2001).

Já a efetividade é o conceito que revela em que medida a correspondência entre os objetivos traçados em um programa e seus resultados foram atingidos. Refere-se a uma análise de impacto, pois ao contrário da avaliação de resultados, que procura investigar os efeitos de uma intervenção sobre a clientela

atendida, ela procura diagnosticar os reflexos desta mesma intervenção no contexto mais amplo (BELLONI, MAGALHÃES e SOUSA, 2001).

A efetividade realça o valor e o impacto das decisões públicas junto aos beneficiários, assim é o mais complexo dos três conceitos. Esta dimensão é mais ampla e se preocupa em analisar, em termos técnicos, econômicos, socioculturais, institucionais e ambientais, os efeitos das ações governamentais. Analisa-se, também, a utilidade das ações e a conformidade entre a demanda da sociedade e seu atendimento através das políticas implementadas (TORRES, 2004).

A busca da modernização na administração pública está intimamente relacionada ao princípio da eficiência e traz as seguintes características básicas: o direcionamento da atividade e dos serviços públicos à efetividade do bem comum, imparcialidade, neutralidade, transparência, participação e aproximação dos serviços públicos da população, eficácia, desburocratização e busca da qualidade (MAYER e VEY, 2005).

É nesse cenário de mudanças e busca da eficiência que as organizações públicas estão inseridas. Os órgãos públicos devem responder de forma ágil e com efetividade às novas demandas, de forma que busquem gerenciar adequada e responsavelmente os seus bens e recursos, tendo, pois, como grande desafio tornarem-se flexíveis e empreendedores. Neste sentido, as mudanças também fazem parte do cotidiano das organizações publicas, propiciando o desenvolvimento de adaptações estratégicas e inovações (FIATES e SCHMITT, 2009).

De outra forma, a inserção de uma reforma estrutural denota uma escolha por uma linha de ação em detrimento de outra. Encravam-se nesta opção duas questões: a preferência e a seleção. O caminho escolhido não congrega, necessariamente, uma unicidade por parte dos membros ou grupos organizacionais, pois as organizações são multiculturais, os diferentes grupos atribuem distintos significados ao ambiente e se colocam de forma diferenciada quanto à ação a ser conduzida. Esta interdependência entre valores e a ação denota que a implementação de uma mudança congrega em si não somente avaliações racionais, mas também uma dimensão simbólica que permite a legitimação ou não da ação (LICKS, 2000).

Deixa-se de analisar se essa intervenção promoveu o aumento na eficiência, na eficácia e na efetividade da PMBA, pois como foi dito anteriormente esse processo se encontra em fase de amadurecimento, consubstanciando-se em nosso entendimento, inoportuno qualquer estudo sob essa perspectiva. O curto tempo de operacionalização dessa mudança não permitiu a maturação necessária, daí, acredita-se ser, no momento, precipitada e intempestiva uma investigação tendo como pilar essas variáveis, pois uma análise dessa magnitude é muito complexa, imaginem sem os elementos necessários para realizá-la. Abre-se aí, campo futuro para que outros estudos sejam realizados, quando essa reforma propicie os elementos suficientes a possibilitá-los e se possa apropriadamente avaliar os resultados no que se refere à eficiência, à eficácia e à efetividade.

Por outro lado, como o objetivo desta investigação é verificar os impactos decorrentes da reforma ocorrida na PMBA torna-se necessário e recorrente desenvolver o conceito de mudança organizacional, o que será realizado na próxima seção