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2. METODOLOGIA

2.1.1. Mudanças na oferta e demanda relativas face à liberalização

O início da década de 90 foi cenário de mudanças significativas na política de comércio exterior brasileira. No período 1988/93, o país promoveu ampla redução de barreiras tarifárias, revertendo o processo de fechamento ocorrido até então. Em 1988/89, a incidência tarifária média caiu de 41,2% para 17,8% (AVERBUG, 1999). Assim, o Estado Brasileiro promoveu uma ampla abertura comercial que reduziu drasticamente o grau de proteção nominal dado à economia.

Diante de um cenário que situa a abertura da economia brasileira numa perspectiva de economia mundial aberta, pretende-se, de início, analisar as possíveis conseqüências das reduções de tarifas e dos subsídios à exportação, implementadas no processo de abertura da economia brasileira, considerando-se para fins de análise dois grandes grupos de produtos: primários e manufaturados. Para ilustração gráfica utilizam-se, principalmente, as discussões contidas em KRUGMAN e OBSTFELD (2005).

A teoria da política comercial revela que a incidência de tarifas e subsídios introduz um viés entre os preços em que os bens são comercializados internacionalmente e os preços praticados no mercado doméstico. Pode-se, assim, afirmar que esses instrumentos de política comercial produzem variações nos termos de troca de um país com o exterior, o que resulta em mudanças no poder de compra dos residentes de um país face aos residentes do resto do mundo. Admitindo-se os grupos de produtos primários e manufaturados, a relação Pp/Pm (preço dos produtos primários/preço dos produtos manufaturados)

indica quantas unidades de primários um país precisa exportar para importar uma unidade de manufaturados. A Figura 1 ilustra os efeitos da implementação de um cenário de queda nas tarifas de importação adotadas por um país.

Preço relativo dos

produtos primários, Pp/Pm RS1 1 (Pp/Pm)1 2 (Pp/Pm)2 RD1 RD2 RS2 Qp + Qp* Qm + Qm* Quantidade relativa de produtos

primários

Figura 1 – Efeitos da desoneração fiscal sobre os termos de troca com o exterior.

Se um país desonera suas importações de manufaturados, isto é, reduz as alíquotas tarifárias incidentes sobre os preços desses bens em relação aos preços dos produtos primários há a ocorrência de vários efeitos econômicos sob as perspectivas dos produtores e consumidores domésticos. Primeiramente, os produtores domésticos serão estimulados a produzirem mais produtos primários

que ficaram relativamente mais caros em relação aos manufaturados e os consumidores domésticos, por sua vez, sentirão estimulados a aumentarem o consumo dos manufaturados que tiveram seus preços relativos reduzidos pela desoneração das tarifas de importação. A conseqüência desse processo de ajustamento, em termos de efeitos secundários, é um aumento na oferta relativa de primários e uma queda na demanda relativa de primários, conforme mostra o movimento do ponto 1 para o ponto 2 (Figura 1). Tal fato aponta para uma queda nos termos de troca do País exportador de produtos primários de (Pp/Pm)1 para

(Pp/Pm)2.

Assim, uma desoneração tarifária, na medida em que torna a economia de um país mais exposta à concorrência mundial, gera efeitos negativos em seus termos de troca. Entretanto, a extensão do efeito sobre os termos de troca depende do tamanho do país que desonerou a tarifa em relação ao resto do mundo. Se as importações desse país representam apenas uma pequena parcela do comércio mundial, a desoneração fiscal não tem influência sobre a oferta e demanda relativas mundiais e, portanto, sua política comercial não impacta os preços no resto do mundo. No caso do Brasil, sabe-se que apesar da pequena participação do país nas importações e exportações mundiais, o País tem um peso significativo em muitos produtos referentes ao comércio do agronegócio mundial.

A adoção de tarifas e subsídios é vista como medidas de política similares uma vez que ambos têm a intenção de apoiar os produtores domésticos, dando-lhes condições artificiais de competitividade. Entretanto, seus efeitos sobre os termos de troca do país que os adota são opostos. Dentro da perspectiva de uma economia aberta, qual o efeito esperado caso um país resolva eliminar os subsídios aos produtos de sua pauta de exportação. Nessa perspectiva, para quaisquer preços mundiais dados, o subsídio ao preço de qualquer bem exportado eleva o preço doméstico desse bem em relação aos substitutos de importações. Neste caso, pode-se inferir que o corte de subsídios à exportação tornaria os exportáveis relativamente mais baratos do que os importáveis. Essa queda no preço relativo dos bens de exportação, neste caso os produtos primários, tem

como efeito uma queda na oferta relativa mundial desses produtos e, por sua vez, um aumento na demanda relativa mundial já que esses bens tornaram-se relativamente mais baratos do que os manufaturados.

A Figura 2 mostra os deslocamentos das curvas de oferta e demanda relativas mundiais, indicando o aumento nos termos de troca quando um país deixa de subsidiar sua exportação. Esse aumento é representado pelo deslocamento do ponto1 para o ponto 2 e os ganhos nos termos de troca pelo deslocamento de (Pp/Pm)1 para (Pp/Pm)2.

(Pp/Pm)1 (Pp/Pm)2

Preço relativo dos produtos primários, Pp/Pm 1 2 RS1 RD1 RD2 RS2 Qp + Qp* Qm + Qm* Quantidade relativa de produtos primários

Figura 2 – Efeitos da redução de subsídios sobre os termos de troca com o exte- rior.

Assim, enquanto a desoneração tarifária piora os termos de troca de um país com o exterior, o corte nos subsídios às exportações melhora os termos de troca do país exportador.