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5 O PROGRAMA MULHERES MIL NO IFMA: uma proposta de inclusão

5.2 Percepções das egressas sobre o PMM

5.2.3 Mudanças na vida das mulheres após a certificação

Entendemos como empoderamento pleno da mulher o processo que presume vários aspectos, como autonomia pessoal, autonomia do corpo e da sexualidade e participação das decisões na família e na sociedade. Ou seja, está além da inclusão econômica e do aperfeiçoamento educacional. A esse respeito, procuramos identificar nas narrativas das mulheres quais as mudanças, familiar, pessoal e profissional, ocorreram em suas vidas após a participação no Programa, como forma de entender qual a concepção de empoderamento adotada pelo PMM. Vejamos os relatos:

“Quando decidi voltar a estudar foi muito difícil conseguir fazer o curso, sempre chegava atrasada, mas eu tinha muita vontade de participar das aulas, pois os professores levantavam a minha autoestima e eu queria muito arrumar um emprego com carteira assinada, todo regularizado. Ainda não consegui arranjar um emprego, mas nesse curso tive a oportunidade de conhecer muitas coisas novas, que eu não conhecia. Agora, respeito mais os idosos, fiz muitas amizades boas e, principalmente, aprendi a lutar pelos meus direitos. Descobri coisa que nem imaginava como usar computador” (M1).

“Hoje, para se conseguir um emprego, é muito importante você está sempre buscando aprender mais coisas ou na parte que você já trabalha ou em outra área para se trabalhar. Eu sempre quis trabalhar com pessoas, por isso fiz esse curso e hoje tenho muitos conhecimentos que aplico na minha nova profissão. Graças a Deus, além de melhorar meu currículo, ainda consegui me inserir no mercado de trabalho. Embora não tendo carteira assinada, eu estou muito feliz” (M3).

“Fiz o curso, nele conheci pessoas maravilhosas, trocamos muitas informações, o curso proporcionou um aprendizado para a vida, eu consegui falar sobre as minhas dúvidas, meus sonhos, foi muito legal. Não consegui emprego na área do curso, mas senti a vontade de continuar estudando” (M4).

“Fiz o curso para abrir minha mente para o mundo, tinha muitas curiosidades em obter conhecimento sobre esse curso e queria muito me qualificar para conseguir um emprego, mas ainda não consegui emprego com carteira assinada. Fico sempre nessa expectativa” (M5).

“O curso me ajudou a fazer muitas amizades, trocar muitas informações e, principalmente, porque consegui arrumar emprego em uma área residencial

cuidando de uma senhora, o que contribuiu para eu sair do meu trabalho no ambiente hospitalar, pois eu não me identificava com o espaço. Agora, graças ao curso, trabalho com carteira assinada e em um ambiente que gosto. Diminuiu minha timidez e aumentou minha autoestima” (M7).

“Criei expectativa para arrumar emprego com carteira assinada. Venci a timidez porque dava minha opinião na sala, conversava com os professores e minhas colegas sobre as barreiras da vida e tive bastante aprendizado, mas continuo trabalhando no que eu trabalhava antes e sem carteira assinada” (M8).

“Fiz o curso com a esperança de arrumar um emprego, pois as mulheres podem ocupar grande parte do mercado de trabalho, até aquela parte que o homem domina. Não arrumei emprego na área do curso, mas me empolguei muito em continuar os estudos. Hoje, faço um curso superior no IFMA” (M12).

“O curso me estimulou bastante a mudar o rumo da minha vida e, atualmente, tenho certeza que a mulher pode organizar sua casa e também trabalhar fora. Com o curso consegui um emprego de carteira assinada, me sinto produtiva. [risos]” (M17). “O Mulheres Mil mudou minha vida, pois estava no fundo do poço: tinha perdido um filho [...] não tenho palavras. Nunca vou esquecer o mapa da vida que fizemos nos primeiros dias do curso” (M15).

O termo empoderamento, usado pelo movimento feminista a partir da década de 1970 compreende a alteração radical dos processos e das estruturas que reproduzem a posição da mulher como submissa, ou seja, representa um desafio de superação das relações patriarcais.

A expressão “empoderamento” aparece como um dos objetivos específicos do Programa Mulheres Mil: “Fomentar […] o empoderamento das mulheres por meio do acesso à educação e ao mundo do trabalho”. (Brasil, 2011).

Em outro trecho o termo empoderamento é tratado de forma indireta ao ser ressaltada a importância da autoestima, agora no livro Mulheres Mil: do sonho à realidade, no qual Rosa (2011, p. 8) destaca a importância de que as alunas do PMM resgatem a sua autoestima e voltem a “acreditar em si mesmas”.

Considerado como uma ampliação do poder, que tem caráter relacional, para Brumer & Anjos (2008), o empoderamento pode ser percebido nas dimensões econômica, pessoal, social e política. Na dimensão econômica, consideram-se as perspectivas de aumento da renda, da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos e da qualidade de vida da família, assim como o controle das mulheres sobre os resultados econômicos de seu trabalho. A dimensão pessoal compreende o aumento da autoestima e da autoconfiança. Nas dimensões social e política, focaliza-se a capacidade das mulheres de mudar e questionar sua submissão em todas as instâncias em que ela se manifesta, assim como a ampliação de sua participação em instâncias de poder.

Para o Banco Mundial, empoderamento é o processo de aumentar os meios e capacidades dos indivíduos ou grupos para fazer escolhas intencionais e transformar essas escolhas nas ações e resultados pretendidos. De acordo com Carvalho (2014, p. 157), a proposta do empoderamento liga-se à ideia de que o “fracasso dos indivíduos no mercado” se deve a uma baixa autoestima e a um “desempoderamento”. Assim, faz-se necessário desmistificar o constructo ideológico presente na terminologia empoderamento sob as diretrizes do Banco Mundial (BM), que incorpora este projeto, como um dos principais dispositivos de enfrentamento à pobreza com o intuito de “desvincular a pobreza da acumulação de riqueza, obscurecer as relações materiais contraditórias de apropriação privada da riqueza socialmente produzida, adequar as classes trabalhadoras aos interesses do grande capital, e os países periféricos, aos interesses das potências internacionais”.

Dessa forma, o discurso de “empoderar” as mulheres transfere responsabilidades para estas, que têm a responsabilidade de sair sozinhas da situação social em que se encontram, atrelando a esse processo outros constructos ideológicos como empregabilidade, qualificação profissional e empreendedorismo, que corroboram com os interesses do capital. Destaca-se a constatação de um empoderamento numa perspectiva relativa em decorrência da sua subordinação ao capital na medida em que as egressas obtiveram conquistas mínimas quanto ao emprego, renda e auto estima pautadas nos constructos ideológicos elencados.

A partir destas análises, constrói-se um perfil para as mulheres atendidas pelo PMM no IFMA - Campus Timon. Observa-se que o PMM é direcionado a mulheres com características semelhantes sendo consideradas pertencentes a uma situação de vulnerabilidade social. Percebe-se que as contribuições do programa relacionadas à vida pessoal foram consideradas mais relevantes pelas mulheres do que os aspectos referentes ao empoderamento que deve ir além da autoestima e de uma certificação, contribuindo para superar as assimetrias de gênero.

O tópico seguinte revela os achados da PMM no que diz respeito à inserção das egressas do PMM no mercado de trabalho, considerado um eixo importante para o alcance dos objetivos do Programa.