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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.5. Muito Prazer – Fale o Português do Brasil

Apresentamos no QUADRO 5 a ocorrência e diversidade de gêneros no livro MP, última obra de nosso corpus a ser analisada.

QUADRO 5:

Diversidade e ocorrência de gêneros no livro didático Muito Prazer

Gênero Ocorrências Redação 18 Reportagem 5 Mapa 3 Nota 3 MSN 2 Cardápio 2 Texto informativo 2 Resenha de filme 2 Artigo 2 Recado, Cheque, 1

Documentos oficiais, Guia de restaurante, Relato, Guia de parques, Planta,

Classificados, Sinopse de livro, Bilhete, Recado, Roteiro de viagem, Notícia, Impostos, Entrevista

Fonte: FERNANDES G. R. R., FERREIRA, T. L. S. B., RAMOS, V. L., 2008.

Constatamos que MP, apesar de ser um livro composto por 20 unidades, não explora muito o trabalho com gêneros textuais. A obra apresenta uma variedade de 24 gêneros, que ocorrem 54 vezes no livro.

O GRÁFICO 9 mostra como se dá a distribuição dos gêneros ao longo da obra.

GRÁFICO 9: Ocorrência de gêneros nas unidades do livro Muito Prazer Fonte: Resultados obtidos nesta pesquisa.

Notamos que a unidade que apresenta o maior número de gêneros é a unidade quatro, na qual encontramos 5 deles. A distribuição das categorias textuais em MP é feita de forma relativamente equilibrada. No GRÁFICO 10 a seguir podemos visualizar como foram explorados os gêneros presentes na obra.

GRÁFICO 10: Exploração dos gêneros no livro Muito Prazer Fonte: Resultados obtidos nesta pesquisa.

Apesar de, considerando-se a extensão da obra, não haver muitos gêneros em MP, há quase 100% de exploração dos gêneros que a compõem.

A atividade abaixo (FIG.12) ilustra como os gêneros são explorados para leitura.

FIGURA 12: Muito Prazer (GEL)

Fonte: FERNANDES G. R. R., FERREIRA, T. L. S. B., RAMOS, V. L., 2008, p. 154. 5%

Primeiramente, foram apresentados anúncios de venda referentes a diferentes apartamentos. Após a leitura e interpretação deles, são propostas aos alunos questões para verificação de leitura, conforme exposto a seguir (FIG. 13).

FIGURA 13: Muito Prazer (GEL)

Fonte: FERNANDES G. R. R., FERREIRA, T. L. S. B., RAMOS, V. L., 2008, p. 155.

A atividade propõe ao aluno a busca de informações específicas a partir da leitura de classificados. Esses textos configuram um gênero publicado em jornais cuja função sociocomunicativa pode ser vender, alugar ou trocar produtos e serviços diversos. Essas atividades nos revelam o aspecto social e interativo dos gêneros, principalmente de gêneros publicados em jornais, um meio de comunicação que atinge várias esferas da atividade social. Embora os “classificados”, nessa atividade, tenham sido pouco explorados na sua função sociocomunicativa, o fato de as autoras terem ressaltado no quadro “Note que...” as formas de abreviação, já é indício de que o aspecto linguístico é considerado importante para que os alunos “decifrem” as abreviações que são comumente feitas nesse tipo de gênero que, assim como outros anúncios, também pretende persuadir o leitor.

Uma temática que geralmente mobiliza a atenção e engajamento dos alunos em uma aula de LE é a discussão sobre filmes. Não seria generalização afirmar sobre esse assunto que todos os alunos tenham alguma observação a ser compartilhada. A última atividade analisada nesta pesquisa traz como proposta de escrita a produção do gênero crítica de filmes ou resenha, conforme definição de Fiorin (1993), adiante.

Vejamos, primeiramente, a FIG. 14, exemplo de GEP retirado de MP.

FIGURA 14: Muito Prazer (GEP)

Depois de lida a crítica dos filmes propõe-se aos alunos a seguinte atividade de produção escrita:

FIGURA 15: Muito Prazer (GEP)

Fonte: FERNANDES G. R. R., FERREIRA, T. L. S. B., RAMOS, V. L., 2008, p. 254.

Apoiando-nos em Fiorin (1993), consideramos como resenha a elaboração de uma crítica de filme a ser publicada em um meio de comunicação. O linguista defende que resenhar é o mesmo que estabelecer uma relação das propriedades de um objeto, enumerar cuidadosamente seus aspectos relevantes, descrever as circunstâncias que o envolvem. Ele acrescenta que o objeto resenhado pode ser qualquer acontecimento da realidade, como uma comemoração solene ou textos e obras culturais, como um romance, um filme, uma peça teatral. Para esse linguista o gênero “resenha” pode ser classificado em “resenha descritiva” (aquela que não apresenta nenhuma apreciação ou julgamento de quem a produziu) e “resenha crítica” (aquela que apresenta um juízo crítico do resenhador). A atividade em análise sugere que o aluno escreva a crítica do pior ou do melhor filme que ele já assistiu. Como há o julgamento de valor acreditamos com Motta-Roth (2002) que o estudante deverá elaborar um texto crítico por excelência, tendendo, ora para um lado mais avaliativo, ora para um ângulo mais descritivo, dependendo das circunstâncias que o envolvam. Além de considerar a condição de que ele produzirá um texto a ser publicado em algum veículo de comunicação.

Salientamos a importância de propostas como essa que, além de explorar as questões linguísticas e um gênero de ampla circulação social, trabalham também com o conhecimento de mundo do aluno, estimulam a capacidade de persuasão e dão a ele a oportunidade de expressar-se livremente em relação àquilo que irá escrever.

Muito Prazer é uma obra destinada a estudantes do nível básico ao intermediário e que também

privilegia a exploração dos gêneros para desenvolver a habilidade de leitura; 56% das atividades que envolviam categorias textuais, destinavam-se à compreensão leitora. A percentagem de gêneros explorados para leitura é alta, 39%. Apenas 5% por gêneros que compõem MP não foram utilizados para nenhuma atividade na obra.

Para finalizar este capítulo, vamos tecer alguns comentários que merecem destaque.

Ao fazermos uma comparação em relação à quantidade, à ocorrência e à forma de exploração de gêneros presente em cada uma das obras, temos como representação o GRÁFICO 11.

GRÁFICO 11: Comparação entre as obras Fonte: Resultados obtidos nesta pesquisa.

Por meio dos resultados obtidos na pesquisa, constatamos que o livro Bem-Vindo!, que apresentou a ocorrência de 123 gêneros, explora pouco os textos que traz na obra, como já apontado no capítulo de análise. A maioria das atividades elaboradas a partir dos gêneros não exploram, ou exploram insuficientemente, seu potencial linguístico, social, visual, lúdico, intercultural.

Estação Brasil foi a obra que, proporcionalmente ao número de capítulos que a compõem – apenas

quatro –, mais propôs atividades envolvendo GTs. Das 43 categorias textuais presentes na obra, 40 são exploradas em alguma atividade. Nessa obra também, em mais de um momento, as autoras utilizaram a leitura de um gênero para propor a produção de outro gênero, como pode ser observado na FIGURA 6, do capítulo de análise. Apesar de não mencionarem o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (CELPE-Bras), as tarefas propostas em EB assemelham-se muito ao exame, que tradicionalmente cobra dos candidatos a produção de algum gênero textual.

Terra Brasil mostrou-se um livro didático com grande ocorrência – 85 – e ampla diversidade de

gêneros – 33. Esse livro também privilegia as atividades de leitura e explora, de forma bastante funcional, os gêneros que são propostos para as atividades de produção. Apresenta propostas comunicativas de se trabalhar língua e cultura, propondo a execução de tarefas como desafios (para descrição detalhada da obra, vide ANEXO C). O trabalho com os gêneros nessa obra é diversificado, considerando a função dos gêneros em muitas das atividades propostas.

O Novo Avenida Brasil 1 é uma obra que organiza as unidades de forma dinâmica e privilegia a leitura; dos 46 gêneros presentes no livro, 33 são voltados para o desenvolvimento da habilidade de leitura. Trabalha muitos anúncios, porém a maioria voltada para a compreensão leitora.

Por último, Muito Prazer destacou-se como uma obra que, apesar de não apresentar grande ocorrência de gêneros (apenas 54 em uma obra composta por 20 unidades), explora satisfatoriamente aqueles que se propôs a trabalhar, como é apresentado na FIG.14, em que é possível perceber o cuidado das autoras em apresentar as condições de produção da atividade proposta.

De um modo geral, constatamos adequação ao serem explorados os gêneros apresentados nas obras pesquisadas. Houve, entretanto, casos em que a exploração dos gêneros nos pareceu inadequada. Um deles foi verificado em BV, outro em AB.

BV, na página 78 (ANEXO E), traz um exemplo de exploração pouco adequada do gênero carta. O enunciado traz a seguinte informação “Você foi convidado a passar um fim de semana em algum lugar. Escreva uma pequena carta agradecendo o convite e desculpando-se por não poder

ir”. O enunciado ainda solicita que o motivo da recusa seja explicado e apresenta um exemplo a ser seguido.

Consideramos pouco adequada a exploração do gênero, primeiro pela imprecisão do enunciado “Você foi convidado a passar um fim de semana em algum lugar” e, principalmente, pelo fato de que o gênero carta não seria o mais apropriado para a situação contextualizada. Questionamo-nos se, nesse caso, não seria mais pertinente a proposição de um e-mail, pela dinamicidade característica desse gênero.

Na pág. 76 (ANEXO F) a obra AB traz uma atividade de leitura; propõe-se uma carta do leitor, dirigida ao editor de uma revista fictícia The International Home Magazines, na qual uma moça de 23 anos se descreve informando seu desejo de corresponder-se com “rapaz solteiro ou divorciado (sem filhos), de 25 a 35 anos, alto, com boa situação profissional, esportivo, sincero e carinhoso”. Bezerra (2005, p. 210) vê a carta do leitor como “um texto utilizado em situação de ausência de contato imediato entre remetente e destinatário que não se conhecem, atendendo a diversos propósitos comunicativos como opinar, agradecer, reclamar, solicitar, elogiar, criticar entre outros”. Para Costa (2005), a carta do leitor é um meio de medir o sucesso de artigos publicados nos jornais e revistas, sendo essa carta uma resposta positiva ou negativa do que foi lido, além de constituir um dispositivo eficaz de divulgação de problemas nos quais, muitas vezes, pessoas defendem-se de serviços mal prestados, ameaçando denunciar seus responsáveis ao “escrever para os jornais”. Logo, consideramos que o gênero carta do leitor talvez não seja o mais apropriado para a situação proposta.

Esclarecemos que, nesta pesquisa, não se focalizou a avaliação da qualidade das atividades propostas para se explorar os gêneros textuais presentes nos LDs selecionados. A meta foi verificar e descrever a funcionalidade dos GTs que faziam parte das obras escolhidas em nosso corpus. Portanto, cabe ressaltar que, embora tenhamos observado diferenças significativas nas abordagens em cada obra, mantivemos nosso objetivo inicial.

A seguir, no capítulo 5, apresentamos nossas considerações finais e apontamos algumas contribuições deste estudo para a área de Linguística Aplicada.

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