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Mulheres pilando no ritual da erva mate

PERCURSOS METODOLÓGICOS: BELO CAMINHO

Foto 01: Mulheres pilando no ritual da erva mate

Nesta fotografia encontra-se suas tias pilando o mate no segundo dia da cerimônia do ka´a nhemongaraí9 (ritual de consagração da erva mate). Percebemos nesta foto o pilão, instrumento utilizado para macerar a erva mate. Este utensílio fica guardado dentro da opy e durante a pesquisa não foi encontrado nas casas. Neste momento elas conversavam na língua guarani e riam. Pelo pouco que entendi a risada é pela timidez causada pela presença da câmera e por isso desviavam o olhar.

Ainda faltando um ano para concluir os estudos do mestrado, levei algumas fotografias com boa qualidade de impressão em papel couchê 150 gramas cada uma no tamanho de um papel A4. Entreguei em mãos de algumas lideranças, incluindo uma mãe de uma criança presente em um retrato. Aguardei comentários delas enquanto observava suas expressões. Disse que era um presente para o CECI. Eles ficaram curiosos, as fotos passavam nas mãos de cada um deles e perguntaram sobre alguns recursos técnicos que utilizei. Apesar de não ter mais visto essas fotos e não saber para onde foram, aquele momento foi importante para mim, pois deixei claro o que fiz lá com a câmera e percebi satisfação dos que viram.

Após dois anos de mestrado, recolhi todo meu acervo fotográfico de cerca de 450 fotografias e selecionei com minhas orientadoras as que exprimiam melhor minha visão do

percurso de campo. As intervenções digitais foram de cores, enquadramento e pixelização dos rostos a fim de não serem identificados.

Nesses anos houveram alguns desconfortos com a mídia, tanto da televisão quanto impressa. Foram veiculadas notícias denegrindo a aldeia. Isso fez os moradores da Tekoa Pyau serem mais cautelosos com suas imagens e entrevistas, o que ficou perceptível no último ano do trabalho de campo. Uma vez fui chamada atenção por um senhor da família do cacique para que eu tivesse cuidado com as imagens que realizava na aldeia. Percebi que a câmara compacta era mais bem recebida que uma profissional. Optei pela primeira. Apesar da presença de equipamentos audiovisuais entre moradores na aldeia, a câmera ainda é vista como um objeto que guarda a imagem e que pode ser utilizada de formas que não respeitem a cultura mbya guarani10.

O CAMINHO DO ESTUDO ETNOGRÁFICO

Chão de terra batido, muitos cachorros latindo, pouca luz, muitos bancos de madeira, uma fogueira com uma chaleira, uma senhora de cerca de 80 anos prepara um petỹgua e distribui aos presentes, muitos gritos de crianças brincando. Uma pessoa de cada vez vai ao centro deste cenário, faz uma fala extensa, em voz baixa e andando rapidamente de um lado para o outro. Esta é a imagem que guardo do primeiro dia em que estive na opy da Tekoa Pyau. O momento que ia iniciar um trabalho, mas que nada vinha em minha mente no que eu pudesse contribuir, só aprender. Essa foi a sensação que me acompanhou por três anos.

Como já relatei, conheci a aldeia durante o Programa Aldeias, no qual trabalhei antes de ingressar no mestrado por quase dois anos como agente articuladora. Ao entrar no mestrado já havia vínculo construído e já era conhecida no local. A conversa sobre a pesquisa na aldeia já havia sido concretizada antes mesmo do estudo começar. Resgatei muitas das observações realizadas durante minha atuação no Programa e passei a frequentar a aldeia em média três vezes por semana em dias aleatórios, incluindo finais de semana, e passava ao menos seis horas por dia durante um ano e meio.

10 Algumas publicações, desde a época que Claudia Andujar fotografava os Yanomami (década de cinquenta),

ASPECTOS ÉTICOS

Como o presente estudo envolve seres humanos, estará amparado na resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012).

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública com o número de parecer 2.083.986.

Antes de iniciar a pesquisa, obtive por meio do cacique da Tekoa Pyau anuência escrita para desenvolver o trabalho de pesquisa, bem como a participação dos membros da comunidade para as pesquisas e oficinas, com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias, assinados após a pesquisadora ler e esclarecer sobre a pesquisa e confirmarem a participação. Durante a pesquisa houve a troca de cacique por duas vezes. Assim que fui avisada da troca, encaminhava uma conversa para conseguir uma anuência com assinatura atualizada.

Os TCLEs foram obtidos no decorrer da pesquisa a partir da necessidade das entrevistas realizadas. Foram lidos e esclarecidos em forma simples e detalhada sobre qual o propósito do projeto. Após entendimento colhi a assinatura da pessoa a partir da sua decisão na participação e contribuição com as entrevistas.

Os costumes, atitudes estéticas, universo cosmológico, organização social, estrutura política e diferença linguística não somente foram respeitadas, conforme Resolução n°304 do Conselho Nacional de Saúde, como também valorizadas pela pesquisadora. Não houve exploração, nem situações que colocassem em risco o bem-estar físico e mental da população. Também não houve uso e/ou coleta de produtos químicos ou biológicos.

O resultado do trabalho a partir das apreensões das concepções e reflexões da população local sobre alimentação pode vir a subsidiar políticas e projetos voltados para esse tema na aldeia, atendendo com maior ênfase a perspectiva guarani mbya.