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O processo de mundialização e as reestruturações na expansão do capitalismo O processo de mundialização do capital se estabelece para a reorganização e garantia

A PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO E AS ESTRATÉGIAS DA EXPANSÃO DO CAPITALISMO NO ESPAÇO AGRÁRIO

1.4. O processo de mundialização e as reestruturações na expansão do capitalismo O processo de mundialização do capital se estabelece para a reorganização e garantia

da acumulação e reprodução do capital, mediante a reestruturação da produção em escala mundial sob o domínio do capital financeiro. Nesse sentido, a riqueza social produzida pelo

trabalho humano passa a ser controlada pelo capital financeiro, determinando assim “a repartição e a destinação social da riqueza”. (CHESNAIS, 1996, p. 15).

François Chesnais procura mostrar a partir do conceito de mundialização, os elementos que integram o tempo – histórico do capitalismo nos anos de 1980. Período de reestruturação do capital produtivo e financeiro, os quais alcançaram rentabilidade e lucros no processo de flexibilização e desconcentração do processo produtivo em escala mundial. Tal expansão desenvolveu-se também a partir das novas condições trazidas pelo avanço científico e das técnicas, reorganizando assim o papel da reprodução dos espaços para garantir a acumulação do capital.

Conforme Chesnais (1996, p.32, grifo nosso) “a mundialização deve ser pensada como uma fase específica do processo de internacionalização do capital e de sua valorização, à escala do conjunto das regiões do mundo onde há recursos ou mercados”. Compreende-se que, embora não sejam opostas, as noções de internacionalização e mundialização, são distintas, principalmente com relação às formas de controle da produção e acumulação do capital.

Ao final do século XIX, já era possível observar a internacionalização do capital, com o caráter de escala global, mas ainda sob o controle do Estado nacional. O processo de internacionalização ocorreu “[...] por meio de uma ação imperialista fundada na exportação de capital, apropriação militar de novas áreas e progressiva fusão do capital industrial e bancário”. (LIMA, 2010, p. 117). A criação de instituições financeiras como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial ajudaram a consolidar a expansão do capitalismo em escala mundial em meados da década de 1940.

Em integração com a escala global, a mundialização do capital apresenta-se como uma nova configuração do capitalismo e dos meios que o controlam e regulam. De acordo com Chesnais (1996, p.14) o que distingue a mundialização enquanto processo recente no desenvolvimento do capitalismo é que apesar de persistirem aspectos de determinantes históricos anteriores, “o sentido e o conteúdo da acumulação de capital e dos resultados são bem diferentes”. Conforme o autor, no processo de mundialização do capital, “o estilo de acumulação é dado pelas novas formas de centralização de gigantescos capitais financeiros (os fundos mútuos e fundos de pensão), cuja função é frutificar principalmente no interior da esfera financeira”. (CHESNAIS, 1996, p. 14-15).

Esse novo cenário no modelo de produção capitalista provocou uma hegemonia das finanças, tornando assim o capital financeiro à condição de regulador da economia mundial. Deste modo, de acordo com Chesnais (1996) o processo de mundialização do capital é mais

marcante na esfera financeira, onde “[...] o domínio do capital financeiro sobre as outras formas do capital (agrário, industrial, comercial, bancário simples) é próprio de uma etapa histórica da acumulação”. (COGGIOLA, 2012, p. 18).

Vale ressaltar, que os capitais que se valorizam na esfera financeira nasceram – e continuam nascendo – no setor produtivo “[...] A esfera financeira alimenta-se da riqueza criada pelo investimento e pela mobilização de uma força de trabalho de múltiplos níveis de qualificação”. (CHESNAIS, 1996, p. 241). Isso significa que a produção de mais-valor é essencial no processo de acumulação em âmbito mundial.

Chesnais (1996) assinala que a mundialização é fruto de dois movimentos conjuntos, estreitamente interligados, porém distintos. O primeiro, o autor refere-se à fase mais longa e ininterrupta de acumulação do capital após a segunda guerra, o período conhecido como – “dos trinta anos gloriosos” – onde imperaram o fordismo e o keynesianismo. O segundo movimento é marcado pela ascensão da política neoliberal, encabeçada por Margareth Thatcher (1979) e Ronald Reagan (1980), uma clara ruptura da política do pós-guerra.

Nessa reestruturação do capitalismo, a política neoliberal proporcionou os movimentos de liberalização, de privatizações, com a desmontagem do setor produtivo estatal e de desregulamentações dos direitos conquistados pelos trabalhadores. Essas intervenções políticas permitiram que o capital financeiro internacional e os grandes grupos das multinacionais se expandissem pelo mundo, com a finalidade de explorar os recursos naturais, econômicos e a força de trabalho, onde lhes fossem oportuno. (CHESNAIS, 1996). A integração internacional dos mercados foi possível mediante a liberalização e desregulamentação dos mercados nacionais e a livre circulação de capitais internacionais.

As políticas desenvolvidas sob a perspectiva neoliberal de Estado estão pautadas na garantia de acumulação do capital, em níveis cada vez maiores provenientes, sobretudo, da exploração de mais-valor. Embora o discurso neoliberal construído esteja pautado na minimização do poder do Estado, Conceição (2013b, p. 89) aponta que “o contexto histórico demonstrou que as relações capitalistas não podem desenvolver-se sem a ação efetiva da governabilidade”.

A atual conjuntura é permeada pela intensificação ainda maior nas formas de exploração da força de trabalho, principalmente nos países periféricos, onde os índices são de baixos salários, jornada de trabalho prolongada e poucos direitos aos trabalhadores. De acordo com Conceição (2008, p. 4) “[...] nos países periféricos as altas taxas de exploração, alicerçadas na presença de um exército de reserva, levam os salários a baixos patamares e, consequentemente, um baixo custo para o mercado externo”. Harvey (2014) aponta que o

mercado de trabalho passou por uma radical reestruturação através do regime de acumulação flexível22.

Diante da forte volatilidade do mercado, do aumento da competição e do estreitamento das margens de lucro, os patrões tiraram proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de mão de obra excedente (desempregados ou subempregados) para impor regimes e contratos de trabalho mais flexíveis. (HARVEY, 2014, p. 143).

O processo de flexibilização no setor produtivo propiciou também a expansão dos grandes grupos, os quais detêm o oligopólio mundial. Esses grupos, paulatinamente, foram conduzindo suas plantas industriais para os países periféricos, a exemplo de países na América Latina e na Ásia, os quais possuem baixos salários. No processo de mundialização, o sistema está integrado quanto às mercadorias, às tecnologias e às novas técnicas, mas não se integra quanto ao trabalho, e sim ao preço da venda da força de trabalho.

As deslocalizações industriais para países periféricos implicaram na relação entre empresas e trabalhadores também nos países desenvolvidos (sedes das indústrias). Percebe-se assim, que a “liberalização do comércio exterior e dos movimentos de capitais permitiram impor, às classes operárias dos países capitalistas avançados, a flexibilização do trabalho e o rebaixamento dos salários” (CHESNAIS, 1996, p.40).

Além dessas condições apresentadas como processo de avanço da mundialização do capital, era possível perceber também a presença dos Investimentos Externos Diretos (IEDs). Conforme aponta Lima (2010)

Os IEDs representaram a verdadeira expansão do capital sobre o espaço mundial, pois eles trataram de espacializar a exploração de mais-valor sobre o planeta através de deslocalizações das unidades produtivas que produziram determinadas especializações da força de trabalho e do capital entre as nações. (LIMA, 2010, p.120).

Esses investimentos passaram a controlar e reorganizar os espaços no processo da produção, na delimitação das políticas de Estado e na divisão territorial do trabalho.

O lugar atualmente ocupado por muitos “países em desenvolvimento” no sistema mundial de intercâmbio não é resultado de uma dotação fatorial

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A acumulação flexível é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional (HARVEY, 2014, p.140).

natural, que de alguma maneira tenha caído do céu. Em grande número de casos, sua situação de produtor e exportador de uma ou duas matérias-primas básicas, de mineração ou agricultura, frequentemente com demanda cada vez menor pelos países industrializados, é resultado de antigos investimentos diretos, feitos a partir dos anos de 1880 por administrações ou empresas estrangeiras (CHESNAIS, 1996, p.47, grifo nosso).

Vale ressaltar que o processo de mundialização não é apenas o avanço de grupos empresariais em escala mundial e dos fluxos de comércio, mas também dos grupos financeiros que terão total controle da produção mundial. De acordo com Lima “a financeirização da economia mundial consolidada por um aparato técnico/científico/informacional permite a construção de uma relação hierárquica entre escala global e local onde essa última é subsumida à reprodução ampliada do capital” (LIMA, 2010, p. 119).

Nesse sentido, destacamos a agricultura nacional que nesta atual conjuntura se estabeleceu em regime de commodities agrícolas, sob o domínio de grupos estrangeiros que passaram a controlar e organizar as cadeias produtivas.

Grandes tradings agrícolas passaram a associar-se com empresas nacionais, por meio de fusões e aquisições, reduzindo a concorrência e fortalecendo os monopólios e oligopólios internacionais. De acordo com Oliveira (2012, p.2) “o capital disseminou-se pelos países emergentes, arrebatando setores das burguesias nacionais, transformando-as em capitalistas mundiais”. As multinacionais cumpriram bem esse papel ao expandir em escala mundial.

No ano de 2011, a revista Exame listou as 10 maiores empresas de agronegócio do Brasil, juntas estas companhias faturaram mais de US$ 56 bilhões de dólares, são elas: Bunge alimentos, Cargill, Souza Cruz, Brasil Foods, Unilever, Copersucar, JBS, Nestlé e ADM. Além dessas empresas, existem os grupos de telecomunicações, os grupos de financeiras, como os bancos Itaú, Santander e Bradesco que têm um controle sobre a economia nacional23. Diante desse contexto, observamos que o capital financeiro tem imposto sua dinâmica sobre a agricultura mundial e principalmente sobre os países periféricos com “[...] a contínua expansão dos grandes grupos internacionais de comércio e produção de insumos e de produtos agrícolas, de financiamento e de biotecnologia, alavancados pela ampliação da circulação de títulos financeiros agropecuários e pelas bolsas de mercadorias”. (MEDEIROS, 2015, p.6224).

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No ano de 2014 a revista Exame mostrou que o domínio do capital no Brasil está sob o controle de 20 empresas (dados esses produzidos pela Forbes). “Para se ter uma ideia, só as primeiras quatro empresas da lista superam o poder econômico da União”. (AS 10 EMPRESAS, 2014).

CAPÍTULO 2

O MOVIMENTO DE EXPANSÃO DA PRODUÇÃO DA BORRACHA NATURAL EM