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2 AGENDA 1: INSTRUMENTO DE REFERÊNCIA PARA

2.3 Experiências Brasileiras na Implantação de Agendas 21 Locais

2.3.9 Município de Piracicaba

A construção da Agenda 21 Local do Município de Piracicaba teve início no final de 1999 por iniciativa de uma empresa multinacional operante na área, a Caterpillar Brasil, dentro da prática da responsabilidade social. Junto com mais 32 representantes de outras empresas, de universidades e entidades locais, formou um grupo cujo objetivo era o de obter benefícios para a comunidade, através de um planejamento estratégico para a cidade. As

primeiras discussões a respeito das metas e metodologias a serem empregadas resultou na conclusão da necessidade de uma ampliação da participação da comunidade, e da oficialização da construção de uma Agenda 21 Local como o caminho a ser seguido.

Auto definiu-se, desde o início, como um processo suprapartidário, e os técnicos do poder público foram envolvidos no processo, participando de todos os estudos e debates realizados. Recebeu a denominação de “Piracicaba 2010”.

Em todas as fases do trabalho foram levadas em consideração seis dimensões consideradas básicas na construção de uma cidade sustentável: ambiental, social, econômica, política, cultural e urbanística.

O processo se desenvolveu em cinco fases:

• 1ª Fase

Correspondeu ao primeiro semestre do ano de 2000. Para esta fase foi contratada uma empresa especializada em Planejamento Estratégico e foram desenvolvidos três cenários alternativos para a cidade, expostos para lideranças locais como uma metodologia de identificação da situação ideal desejada pela comunidade, consensualmente. Os títulos criados para os citados cenários remetiam diretamente à idéia do que seria obtido dependentemente do esforço a ser realizado: A década perdida, A união fez a força, e A vitória do planejamento. O primeiro cenário representava uma visão negativa, como um resultado da falta de mobilização social, e os outros dois, versões positivas, com a diferença de que no segundo cenário previsto, a cidade obteria além do crescimento econômico, melhoras nas áreas de educação, saúde e ambiental. Uma pesquisa popular apontou para o cenário A união faz a força, como a visão almejada pela comunidade.

• 2ª Fase

Dedicada à organização do processo de trabalho, estendeu-se por todo o segundo semestre do ano de 2000. Foram desenvolvidos:

• metodologia, organização e cronograma dos trabalhos; • identificação dos temas e preparo dos roteiros de estudos;

• constituição da ONG Piracicaba 2010, com a finalidade de dar personalidade jurídica ao projeto e administrar os recursos financeiros obtidos;

• elaboração do orçamento e organização dos patrocínios oriundos de empresas privadas;

• criação do Conselho da Cidade, com representantes de todos os segmentos interessados da sociedade local. Contou com a participação inicial de aproximadamente 400 pessoas, sendo designado como presidente de honra, o Prefeito em exercício;

• contratação de especialistas para desenvolver os trabalhos relativos aos temas considerados representativos para a cidade.

Ao grupo inicial, formado por trinta e três pessoas, uniram-se mais seis membros, representantes do poder público e outras entidades, sendo oficializado como Grupo Consultivo. Criou-se uma Secretaria Executiva, com o objetivo de coordenar a execução dos trabalhos, a qual se caracterizou como o braço operacional do processo.

• 3ª Fase

Esta fase foi destinada à elaboração dos diagnósticos, cenários e visões desejáveis. Iniciou-se com a realização da primeira reunião do Conselho da Cidade, em fevereiro de 2001, quando foi apresentada a metodologia escolhida e realizada uma pesquisa sobre a percepção que os presentes tinham sobre a realidade e imagem da cidade.

Seguiram-se reuniões com o Grupo de Especialistas para a discussão dos seguintes assuntos: cidades concorrentes, pontos fortes e fracos; ameaças e oportunidades, e cenário desejável para o município. Destas reuniões surgiram 25 temas a serem trabalhados para o diagnóstico final, e os especialistas dividiram-se em Grupos de Trabalho para o levantamento dos dados. Os 25 temas foram: 1) habitação, 2) imagem da cidade, 3) transporte e trânsito, 4) comércio e serviços, 5) infra-estrutura urbana, 6) ação social, 7) infra-estrutura e caracterização rural, 8) capacidade financeira, 9) demografia, emprego e capacitação profissional, 10) sistema de gestão, 11) educação, 12) cultura, 13) saúde, 14) energia e telecomunicações, 15) esporte e lazer, 16) segurança, 17) ensino superior e pesquisa e desenvolvimento, 18) construção civil, 19) meio ambiente e saneamento, 20) turismo, 21) dinamismo dos setores públicos e privados, 22) agricultura e agroindústria, 23) logística de

transportes, 24) indústria de formação, e 25) Piracicaba nos contextos estadual, nacional e internacional. Os documentos preliminares gerados na evolução destes temas foram levados a debate público em um Seminário Temático, que por sua vez resultou no diagnóstico da cidade, recebendo o título “Como está Piracicaba”, e no cenário final pretendido. Novas reuniões em cima deste dois resultados, por parte do Grupo Consultivo, Grupo de Especialistas, o Prefeito e técnicos convidados, levou ao texto final, referendado pelo Conselho da Cidade. Este texto, denominado “O Salto de Piracicaba”39 é composto por uma Visão de Futuro e 14 objetivos prioritários, a saber:

1) Tornar Piracicaba em uma referência tecnológica e industrial no setor sucroalcooleiro;

2) Ocupar as áreas inadequadas À produção da cana de açúcar por culturas alternativas e agricultura orgânica;

3) Diversificar o parque industrial, tornando-o competitivo;

4) Transformar a cidade em pólo regional de atração nas áreas de educação e saúde, destacar o setor de serviços como forte gerador de receitas, assim como o turismo;

5) Criar vínculos das universidades locais com os diversos setores da cidade, contribuindo para o desenvolvimento e diversificação destes;

6) Implantar sistema de transporte multimodal, após a recuperação da ferrovia e construção da barragem, com uma navegação econômica e turística no Rio Piracicaba;

7) Construção de anel rodoviário que possibilite o contorno da cidade pelos veículos de carga;

8) Modernizar a legislação referente à expansão urbana, com o seu planejamento, a adequação do sistema viário e implantação de um eficiente sistema de transportes;

9) Promover o pleno controle da Prefeitura sobre as áreas públicas, erradicar as favelas e moradias precárias, arborizar os bairros e dotá-los de infra-estrutura adequada;

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10) Adequar a qualidade das águas dos rios Corumbataí e Piracicaba, proporcionando o fenômeno da piracema e permitindo atividades de esporte e lazer;

11) Recompor as matas ciliares dentro do perímetro municipal, e implantar a coleta seletiva, assim como o processamento do material reciclável;

12) Valorizar a cultura local, com a restauração do Engenho Central e construção de um Centro Cultural;

13) Tornar Piracicaba referência nacional em qualidade de vida;

14) Planejar a cidade, com uma prefeitura que desenvolva políticas públicas integradas, com o envolvimento da sociedade civil e equilíbrio das finanças.

• 4ª Fase

Com os objetivos estabelecidos passou-se à fase seguinte para elaboração dos macro- projetos referentes, sendo desenvolvido para cada um dos 14 objetivos, estratégias, ações e projetos específicos. As propostas foram apresentadas e discutidas em um novo Seminário Temático, com posterior aprovação do Conselho da Cidade, reunido em julho de 2001, com a presença de cerca de 500 conselheiros.

Esta fase contou com ampla divulgação da mídia escrita e eletrônica, com complementação através de palestras em bairros e instituições. Foi também criada uma página na Internet como instrumento de mobilização.

Os diversos documentos correspondentes à conclusão das quatro fases foram reunidos e deram origem à publicação “Piracicaba 2010 – Realizando o Futuro”, com tiragem inicial de 5000 exemplares.

• 5ª Fase

Corresponde ao estágio de implementação da Agenda 21 Local formatada e acompanhamento dos 316 projetos e ações definidos na fase anterior.

Foram organizados Grupos de Impulsão com a finalidade de colocar em prática, projetos que dependam de uma ação mobilizadora.

Objetiva-se promover reuniões anuais do Conselho da Cidade, para avaliação do progresso das ações e promoção de revisões das mesmas.

Alguns dos objetivos traçados já foram alcançados. Por ocasião do levantamento realizado pelo Grupo de Especialistas, sobre os pontos fracos da cidade, conclui-se pela necessidade de um Pronto Socorro de acordo com as normas do Conselho Federal de Medicina: o Grupo de Saúde do Piracicaba 2010 elaborou projeto arquitetônico e obteve aprovação junto ao Ministério da Saúde, conseguindo as verbas financeiras necessárias, através de um convênio entre o Ministério e a Santa Casa de Piracicaba.

Piracicaba tem demonstrado com esta experiência de construção de sua Agenda 21 Local, um alto senso de cidadania de sua população e uma integração entre os diversos setores que a compõem. Criada e sustentada pela livre iniciativa empresarial, a Agenda 21 de Piracicaba envolveu a comunidade e o Poder Público de forma democrática e participativa dentro dos novos paradigmas de planejamento e sustentabilidade.

2.4 Considerações

O estudo da bibliografia teórica sobre a construção de Agendas 21 Locais aponta para a relevante importância deste instrumento na busca por uma sociedade mais justa e saudável. Porém, a pesquisa sobre a situação nacional no que diz respeito ao interesse de se promover a utilização da Agenda 21, assim como sobre a pesquisa das experiências realizadas, infelizmente mostra, com raras exceções, o insucesso da mesma até o momento, evidenciando-se a falta de incentivos, técnicos e financeiros, por parte do governo central , e o desconhecimento da comunidade e dos coordenadores que tentam implantar este instrumento sobre os fundamentos e as estratégias.

Na prática, a Agenda 21 Local vem sendo confundida como um simples documento a ser formatado e registrado, e não como um processo contínuo, amplamente participativo, a ser construído paulatinamente.