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Capítulo 3. A EXPERIÊNCIA DA REGULAMENTAÇÃO DO EIV NOS

3.2. MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE

O histórico de atuação do Município de Porto Alegre em análises de impactos em grandes empreendimentos remonta de 1978 com a criação dos Estudos de Viabilidade Urbanística-EVU como instrumentos de análise de projetos com repercussões significativas sobre o ambiente urbano.

Em 1987 houve uma alteração no Plano Diretor através da lei 158/87 propondo que áreas da cidade com determinadas características pudessem ser objeto de planos conjuntos com vista à melhoria da qualidade da paisagem urbana e do aproveitamento daqueles imóveis, desde que observados o índice de aproveitamento, ausência da necessidade de redimensionamento da infra-estrutura, de rede viária, dos transportes ou dos equipamentos públicos existentes ou projetados e, ainda, ausência de prejuízo ao entorno urbano. Essa proposta permitiu que fosse possível planejar por projetos e não por aplicação da norma rígida, alterando padrões do Plano Diretor, através da avaliação do Sistema Municipal de Planejamento.

Em 1998 foi promulgada a Lei Municipal nº8267/98, que dispõe sobre o licenciamento ambiental para as atividades de interesse local. Essa lei exige Estudo de Impacto Ambiental para atividades muito similares às que são previstas no Estatuto da Cidade para o EIV, ou seja: estudos de tráfego, impactos na infra-estrutura urbana, na qualidade de ar, no patrimônio histórico cultural, impactos paisagísticos, impactos de volumetria das edificações, impactos na paisagem urbana e estudos sócio-econômicos. A lei complementar nº434/99 que trata sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Porto Alegre criou o Estudo de Viabilidade

Urbanística (EVU) para Projetos Especiais. Esse instrumento que seria exigido para atividades que geram impactos a serem fiscalizados pelo Sistema Municipal de Gestão e Planejamento. A lista de empreendimentos nessa lei é bastante extensa, inclui inclusive templos e locais de culto, que em geral costumam ser dispensados da exigência de apresentação de estudos de impactos. Estão entre os empreendimentos: casas noturnas com área superior a 200m2 de área computável; centro comercial e shopping center; centro cultural; clube; comércio atacadista e depósitos maiores e iguais à 2000m2 de área computável; comércio varejistas e serviços, maiores ou iguais à 500m2 de área computável; creche, escola maternal, centro de cuidados e estabelecimento de ensino pré-escolar; depósitos ou postos de revenda de gás, equipamentos administrativos; equipamentos de segurança pública; estabelecimentos de ensino formal; estação de radiofusão; estação de telefonia; estação de televisão; funerária; garagem comercial para 100 carros; hortomercado; hospital; industrial com interferência ambiental ; instituição científica e tecnológica; jogos eletrônicos; posto de abastecimento; supermercado; templo e local de culto em geral.

Sobre os Projetos Especiais explica WEISSHEIMER(2007):

“Este instrumento de intervenção no solo possibilita, mediante análise de comissões específicas e, por vezes, do Conselho Municipal de

Desenvolvimento Urbano, a avaliação dos impactos de

empreendimentos e atividades em função da especificidade da proposição, ou ainda a flexibilização de normas para casos com características especiais predefinidas. Para tanto, classificou os empreendimentos segundo níveis de impacto, estabeleceu pré- requisitos para a solicitação de flexibilização de normas e definiu procedimentos para o licenciamento.”

O EVU possui características semelhantes ao EIV, porém não é bastante para substituí-lo, pois o EVU constitui-se em um documento de caráter técnico administrativo necessário para a liberação do licenciamento urbanístico, analisado pelas Administrações e sem a obrigatoriedade de publicidade e de Audiências Públicas, ferindo o que prevê o Estatuto das Cidades para esses instrumentos.

Nota-se em Porto Alegre uma confusão em relação aos objetivos dos instrumentos voltados para a avaliação de impactos. Entre o que é típico das avaliações ambientais e o que é específico das avaliações ambientais em áreas urbanas. Com o passar do tempo, os Estudos de Impacto Ambientais, que são anteriores aos Estudos de Impacto de Vizinhança, acabou assumindo avaliações em áreas urbanas. Dessa forma, nesse município não aconteceu a separação entre EIA e EIV como recomenda o Estatuto da Cidade; que um estudo não substitui ou exclui o outro. Outro fato importante é que o Município passou a ter dois instrumentos para avaliar empreendimentos urbanos, o EVU e o EIA. Seria mais recomendável que o EVU fosse substituído pelo EIV, da forma que foi prevista no Estatuto da Cidade, e assim assumisse as análises que são previstas para EIA nas áreas urbanas como: estudos de tráfego; impactos na infra-estrutura urbana; na qualidade de ar; enfim, requisitos já citados anteriormente.

Outro ponto seria efetivar a exigência de Audiências Públicas e de Relatórios de Impacto de Vizinhança, a fim de incluir a participação da população nos processos de decisão de implantação e licenciamento dos empreendimentos. Os relatórios são importantes, pois neles a população toma conhecimento das características e impactos provenientes dos empreendimentos em uma linguagem de fácil leitura, adaptada a sua capacidade de entendimento.

Em 2003 foi realizada a I Conferência de Avaliação do Plano Diretor do Município de Porto Alegre com o objetivo de avaliar os três primeiros anos de aplicação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA), no qual foram criados cinco grupos de trabalho para possibilitar os estudos:

− Projetos Especiais e Estudos de Impacto de Vizinhança (GT1);

− Estrutura Urbana: Programa Viário (GT2);

− Monitoramento do Plano Regulador (GT3);

− Paisagem Urbana: Áreas Especiais de Interesse Cultural e alturas (GT5).

O GT1 ficou responsável por discutir os procedimentos adotados para a aprovação dos chamados Projetos Especiais – aqueles que, segundo o PDDUA, exigem análise diferenciada, observando critérios e condicionantes específicos. Foi discutido também parâmetros sobre o Licenciamento Urbanístico, Licenciamento Ambiental e compatibilização do instrumento Projetos Especiais com o Estudo de Impacto de Vizinhança tal qual previsto no Estatuto da Cidade. Dentre as resoluções que foram tomadas por aquele grupo destacam-se:

− Resolução 02 - Recomenda-se realizar Audiências Públicas para obras de grande impacto; anterior a Licença Prévia;

− Resolução 03 - Recomenda-se que os Projetos Especiais objeto de EIV, RIMA ou EIA contemplem nos seus procedimentos de avaliação, a participação da comunidade através das instâncias de planejamento urbano previstas no artigo 44 da LC434/99;

− Resolução 25 - Recomenda-se que os Estudos de Viabilidade Urbanística de Projetos Especiais de Impacto Urbano de tipo B sejam avaliados por Estudos de Impacto de vizinhança ou por Relatórios de Impacto Ambiental ou por Estudos de Impacto Ambiental.

Pelo exposto pelo conteúdo das resoluções, fica claro o interesse do Município de Porto Alegre em implementar o Estudo de Impacto de vizinhança, conforme instituído pelo Estatuto da Cidades, ou seja da previsão de Audiências Públicas, participação da comunidade e transferência de atribuições do EVU para o EIV. No entanto falta a exigência de relatórios de impacto de vizinhança.

PARTE ll

Capítulo 4. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA NO