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Municípios de nascimento dos bolivianos residentes em Corumbá, 2006.

Evolução imigratória (em mil) Chile

Mapa 1.2-2: Municípios de nascimento dos bolivianos residentes em Corumbá, 2006.

Fonte: Encuesta Corumbá, 2006. Nepo/UNICAMP.

Conforme gráfico acima, os municípios de Santa Cruz de La Sierra (28%) e La Paz (11%) são os municípios que mais contribuem para o incremento de Corumbá, municípios que são capitais dos mais populosos departamentos da Bolívia (Santa Cruz e La Paz). Os municípios que fazem fronteira com o Brasil, Puerto Quijarro e Puerto Suarez, representam juntos apenas 11%, um percentual baixo frente as suas localidades.

Como dito anteriormente, um dos fatores para a redistribuição populacional dentro da Bolívia se deu pela reforma agrária decorrente da década de 1950. Todavia, esse volume de imigrantes que cruzaram a fronteira

38 com destino a Corumbá são, em grande parcela, urbano. Esse fato elucida um falso caráter rural do fenômeno migratório.

Corumbá revela uma dinâmica urbana pautada em atividades comerciais e industriais presentes desde os primeiros registros de bolivianos na região. Portanto, muitos bolivianos estabelecidos no Brasil possuem uma experiência de vida urbana, justamente por suas trajetórias de migração dentro do próprio território boliviano.

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2 A presença boliviana na cidade de São Paulo

A significante presença boliviana em São Paulo data a década de 1980, ainda que tal fluxo possa ser verificado a partir dos anos de 1950 quando bolivianos estudantes vieram para São Paulo estimulados pelo programa de intercâmbio cultural Brasil-Bolívia. Ao final dos estudos, muitos desses bolivianos optaram pela permanência na cidade pelo fato da oferta das oportunidades e possibilidades no mercado de trabalho paulistano.

As razões de constantes saídas do país de origem são inúmeras, embora tenha como fator principal a questão de ordem econômica. Essa situação era encarada nos anos de 1980 e ainda perdura nos novos fluxos, pois o Brasil, em especial São Paulo, oferece mais oportunidades visto às condições da Bolívia que sofre com constantes crises econômicas, altos índices de inflação e desemprego.

A atração desses imigrantes bolivianos oriundos, sobretudo de La Paz e Cochabamba, resume-se nas promessas de bons salários oferecidos pelos empregadores da indústria de confecção que são coreanos, brasileiros e até mesmo outros bolivianos.

Ao passo que os primeiros bolivianos se estabelecem, outros familiares como os pais e irmãos iniciam os preparos de vinda.

À medida que eles vão se estabelecendo na cidade, inicia-se um processo de reunificação familiar, com a vinda de irmãos, parentes e pais, muitas vezes oriundas do campo e com pouco domínio do espanhol. Em São Paulo, os mais idosos são incorporados de alguma forma ao processo de produção nas oficinas de costura, exercendo atividades suplementares, como é o caso das mulheres que preparam a comida servida aos trabalhadores. (SILVA, 2006).

Essa unificação de familiares em detrimento de uma prática de trabalho é compreendida na formação das redes, que segundo Santos (1997) são também “social e política, pelas pessoas, mensagens, valores que a frequentam. Sem isso, e a despeito da materialidade com que se impõe aos

40 nossos sentidos, a rede é, na verdade, uma mera abstração.”. (SANTOS, 1997:176).

A vinda de milhares de bolivianos à cidade de São Paulo refere-se a uma conjuntura material que se dispõe dos mecanismos de poder oferecidos ou não pelo seu lugar de origem. O caso é que as condições nacionais acabam por pesar nos níveis da sociedade, uma vez que o trabalho local depende das infraestruturas oferecidas localmente.

No momento em que essas infraestruturas são inexistentes, a mão-de- obra é reorganizada, resultando em um rearranjo de pessoal e configuração territorial.

Como aponta Santos (1997):

Hoje, o centro de decisão pode encontrar-se no estrangeiro, no mesmo continente ou em outro. São as cidades locais que exercem esse comando técnico, ligado ao que, na divisão territorial do trabalho, deve-se à produção propriamente dita. Cidades distantes, colocadas em posições superiores no sistema urbano (sobretudo as cidades globais), têm o comando político, mediante ordens, disposição da mais-valia, controle do movimento, tudo isso que guia a circulação, a distribuição e a regulação. (SANTOS, 1997:184).

Outro fator de grande relevância e consequência, no que se atribui à presença de bolivianos na cidade de São Paulo, é a potencialização, ao longo de cada fluxo migratório, de famílias constituídas, em geral de forma endogâmica.

A necessidade de se estabelecer no território paulistano em virtude das redes de produção trouxe a necessidade de direito à própria cidade. Consequentemente, foram criadas organizações socioculturais como: a Associação dos Residentes Bolivianos, o Círculo Boliviano, a Associação Interligas, a Associação Bolívia/Brasil, a Associação Gastronômica Praça Kantuta e outros. Hoje, os bolivianos é o grupo mais numeroso entre os hispano-americanos que vivem na cidade de São Paulo (SILVA, 2006).

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2.1 O perfil

A apreensão do tema foi feito por Sidney da Silva (1997) sobre a migração boliviana para São Paulo transformado no livro Costurando Sonhos. Historicamente, segundo esse autor, a vinda dos bolivianos para a cidade data os anos de 1950 quando existiam convênios de intercâmbio universitário entre o Brasil e a Bolívia.

Entretanto, o perfil dos bolivianos que se apresentava na década de 1950 é diferente do grande fluxo de bolivianos que se mobilizaram para São Paulo em 1980, ano este de grande intensificação do fenômeno migratório boliviano no Brasil.

Em 1980 apresentavam-se trabalhadores com pouquíssima qualificação e que serviriam de combustível para o funcionamento das oficinas de costura da cidade.

Esses bolivianos trabalhadores já vinham com a atividade a ser exercida definida e as relações que aí se estabeleceriam já se iniciavam no momento em que as despesas da viagem de vinda eram pagas pelo empregador.

Uma vez criados tais laços de poder e que, aos olhos dos imigrantes bolivianos, expressam uma melhor condição de vida, a chegada de mais bolivianos cresceu ano a ano, com uma forte expressão na década de 1990 (devido ao controle da inflação com o Plano Real) e por volta de 2005.

A população boliviana que reside na cidade de São Paulo tem, em média, 36 anos de idade, enquanto que a população total de São Paulo tem, aproximadamente, 29 anos e outros imigrantes residentes na cidade tem, em média, 58 anos. Essa diferença de idades, em especial, entre bolivianos e paulistanos é resposta do fenômeno da imigração de mão-de-obra pouco qualificada, sendo esses imigrantes bolivianos que chegam a São Paulo adultos acompanhados (ou não) de seus cônjuges também bolivianos.

A imigração boliviana em São Paulo, embora apresente um equilíbrio entre os sexos, é predominantemente masculina (56%), padrão que não se aplica à fronteira corumbaense, onde se concentram mais mulheres. Essa diferença reside, basicamente, nas atividades desenvolvidas nos dois lugares.

42 Em São Paulo a atividade têxtil entre os imigrantes é a principal função associada aos homens enquanto que, na fronteira, prevalece uma atividade voltada ao comércio formal e informal de rua, função exercida, historicamente, por mulheres na sociedade andina boliviana (SOUCHAUD, 2010).7

Ainda que a imigração boliviana em São Paulo seja considerada um fenômeno novo, de acordo com o Censo de 2000, do total de imigrantes residentes na cidade, 30,5% residem há mais de 20 anos.

Por mais que os dados quantitativos acerca do real número de bolivianos no Brasil e em São Paulo sejam superficiais, é possível compreender que essa percentagem refere-se a um perfil diferente e que, por isso, obteve um melhor registro.

Por outro lado, como pode ser visto no gráfico 2.1-1, os bolivianos que possuem até 4 anos de residência no Estado de São Paulo representam 27,6% do total desses imigrantes bolivianos.

7A distinção de atividades exercidas por bolivianos é consequência dos critérios do lugar de destino. A atividade comercial acompanha a história de Corumbá por ser um lugar de travessa, enquanto que em São Paulo a confecção reflete a dinâmica industrial e sua implicância na economia nacional, característica territorial predominante do lugar. Os lugares de destino, enquanto territórios, correspondem a própria imigração.

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Gráfico 2.1-1: Percentual de tempo de residência no estado de São Paulo dos imigrantes bolivianos residentes na RMSP, 2000.

27,6

18,0 23,9

30,5

Tempo de residência de bolivianos no estado de