• Nenhum resultado encontrado

75

A exploração do Petróleo no estado tem modificado a paisagem dos municípios nos quais a PETROBRÁS tem atuação, seja pelo impacto na vida das pessoas, seja pelos recursos que injeta nas comunidades ou pelo pagamento dos royalties aos proprietários de terras onde a empresa extrai petróleo. Ressalta-se, entretanto, que a presença da PETROBRÁS em determinados municípios não conduz necessariamente a uma melhoria na qualidade de vida da população ali residente. Constata-se, por exemplo, uma elevação na renda per capta desses municípios que se explica pelos altos salários pagos aos prestadores de serviços e funcionários da empresa que geralmente são trazidos de fora da comunidade, visto que não existe em grande parte dos municípios mão de obra qualificada para o trabalho realizado pela empresa. Esta realidade, todavia apresenta perspectivas de mudanças com a instalação de escolas técnicas e a ampliação de universidades na região, através do governo federal.

Segundo Santos (2001) a exploração de petróleo no estado envolve 547 propriedades particulares e 574 proprietários, incluindo herdeiros, que recebem royalties. O pagamento a cada um dos proprietários é feito de acordo com a produção do poço e a área de terras ocupada pela Petrobrás. De acordo com Souza e Teixeira o corpo de funcionários da Petrobrás, envolvendo técnicos, pessoal administrativo e auxiliares em geral é grande parte do Rio Grande do Norte, já os engenheiros e outros funcionários qualificados, são mais estratificados, isso se deve a política da empresa, que faz concurso nacional e depois distribui o pessoal de acordo com os seus desempenhos. Com relação ao fornecimento de bens e serviços, a participação que está sendo realizada é pouca, apenas 9% dos materiais e 19% dos serviços são ofertados pelo estado. Dados mais recentes informam que a empresa injetou no estado, no período de 1997 a 2007, como forma de pagamento de royalties um montante superior a R$ 1,6 bilhões.

Freire (2011) chama atenção para o fato de que não obstante a produção de petróleo no RN ser importante para a economia local, no cenário nacional esta produção equivale a apenas 3% da produção do país, a qual é atualmente liderada pelo Rio de Janeiro que é responsável por 79 % da produção nacional. De acordo com o gráfico 02 em 2010 o estado totalizou a produção de 20.782.490 barris de petróleo,

76

sendo este volume 2,5% inferior ao que foi produzido em 2009 e 35% menor do que a produção do ano 2000, conforme se pode observar no gráfico que segue:

Gráfico 02 – Produção anual de petróleo – 2000/2010

Fonte: Freire, 2011.

Na última década registrou-se uma progressiva queda nessa produção, conforme se pode observar no gráfico apresentado (gráfico 02). Para Freire (2011) a principal razão para essa queda está no fato de que os campos de produção do estado já estão maduros e portanto, vem perdendo capacidade de geração de petróleo em volume crescente ou mesmo constante.

“A crise da indústria de petróleo e gás no estado traz impactos significativos para a economia potiguar. Dentre esses impactos podemos citar: 1) redução do ritmo de crescimento da economia. Com a queda do volume de petróleo produzido no estado ao longo da década isso já pode ser sentido no crescimento do PIB do RN, que já não cresce mais em ritmo maior que o Nordeste; 2) redução do volume de royalties pagos ao governo do estado,

77

prefeituras e proprietários rurais. 3) na geração de emprego e renda nas atividades diretas de produção de petróleo e nos serviços correlacionados; 4) nas atividades científicas do estado: devemos lembrar que os investimentos da Petrobras e da ANP na UFRN27 foram significativos, construindo importantes

laboratórios e investindo pesado na formação de mão-de-obra qualificada; 5) no risco da empresa deixar de produzir no estado.” (Freire, 2011)

Essas questões são elementos de discussão no âmbito do governo, tornando- se mais importantes ainda em função da descoberta do pré-sal e das propostas de redistribuição dos recursos oriundos das atividades petrolíferas entre os estados produtores e aqueles que não o são.

No que se refere à carcinocultura, a atividade teve iniciou nos anos 70, através do “Projeto Camarão” criado pelo governo estadual como alternativa para substituir a extração do sal - atividade tradicional que se encontrava em crise. De acordo com o IBAMA:

“Ainda que a atividade tenha dado seus primeiros passos no Brasil no início da década de 1970 no Rio Grande do Norte, somente após o desenvolvimento do pacote tecnológico do camarão do pacífico (Litopenaeus vannamei) entre 1996/1997, é que um crescimento mais intenso ocorreu. Este crescimento se deu em muitos aspectos, nos moldes do que já havia ocorrido nos países do sudeste asiático, sem ordenamento adequado, sem regulamentação, com forte incentivo governamental e geração de impactos ambientais e sociais graves.” (IBAMA, 2005, p 8)

Mesmo sem o adequado ordenamento e sem regulação a produção cresceu aceleradamente no final dos anos 90 e 2000. O volume comercializado em 1998 passou de 137 mil dólares para 1,5 milhões em 99. Nos anos 2000 e 2001 chegou a ultrapassar o setor têxtil, com 28,8 milhões28. Todavia em 2010 houve uma queda na produção, em consequência das oscilações do câmbio e das enchentes registradas nos dois anos anteriores, conforme registrado nas fotos 04 e 05:

27A Universidade Federal do Rio Grande do Norte conta, atualmente com o segundo maior centro de pesquisa sobre o petróleo e o gás natural do país, com 31 laboratórios dedicados à temática. O primeiro centro de pesquisa do petróleo tem sede na UFRJ (Gerência de Comunicações da PETROBRAS, 2008). 28 RN CRESCE, 2002.

78

Fotos 03 e 04: Fazendas de Camarão - Vale do Açu/RN - Maio/2009

Foto: Vlademir Alexandre

Mesmo com as enchentes e a diminuição das áreas, em 2010 o estado chegou a produzir 20 mil toneladas de camarão, todavia deixou de ser o maior produtor do país. Posto atualmente ocupado pelo estado do Ceará, seguido por Santa Catarina.

Outro pólo dinamizador da economia do estado tem sido a atividade turística29, sendo a cidade de Natal a maior referência para o setor. De acordo com Lima:

“A consolidação do projeto da Via Costeira-Parque das Dunas, iniciado no fim dos anos 70 e começo dos anos 80, com a ampliação da rede hoteleira, de restaurantes e bares ao longo do litoral, contribuiu decisivamente para colocar o turismo como uma das atividades mais importantes da economia norte-rio- grandense.” (Lima, 2001, p 104 )

Ainda segundo este autor (Lima, 2001, p. 105) no projeto original para construção da via costeira, previa-se, além da construção do Centro de Convenções e da Residência Oficial do Governador, a ocupação das dunas com unidades turísticas, residenciais e complementares (camping, clubes, hotéis, colônia de férias, mirantes,

29 De acordo com Lopes Júnior a ocupação da Via Costeira por hotéis foi feita sem estudos de impacto ambiental. Essa ausência de estudos aliada a ineficácia dos órgãos ambientais fez com que um dos mais graves problemas da ocupação da Via Costeira que diz respeito ao que fazer com os dejetos e esgotos, venha sendo resolvido de acordo com as conveniências e interesses de cada unidade turística. (Lopes Júnior, 2000:137)

79

unidades de recreação, saúde, educação e cultura, padarias, comércios, etc). Parte do projeto não se concretizou, ainda assim houve um aumento na dinâmica comercial da cidade, com grandes investimentos do setor imobiliário e de outros agentes econômicos, tais como grandes redes de supermercados.

Conforme dados do RN CRESCE30 entre os anos de 1996 e 2000 o fluxo turístico do estado cresceu 119,5%”, movimentando cerca de 33 milhões de dólares ao ano. Nos anos recentes o setor cresceu em menor escala atingindo no ano de 2009 um fluxo turístico de 1.881.580 milhões de pessoas. A crise internacional, entretanto tem dificultado as atividades do setor, donde se registra uma queda no número de vôos internacionais de 57,86%, no período de 2006 a 2009. De acordo com dados da Secretaria de Estado do Turismo o índice de visitação turística no estado em 2010 cresceu 12,43% em relação a 2009. A Secretaria calcula que uma média de 2,6 milhões de turistas visitaram o estado em 2010. Deste total, 7% são visitantes provenientes de outros países.31

O desenvolvimento e o crescimento econômico do estado do Rio Grande do Norte evidenciam-se nos dados apresentados oficialmente. Uma análise mais detalhada, entretanto, nos exige pensar sobre o modelo de desenvolvimento adotado. Um modelo que tem privilegiado a dimensão econômica, contrariando as discussões recentes acerca do desenvolvimento sustentável que apontam para a necessidade de uma articulação entre as dimensões social, ambiental, econômica e política. As discussões recentes acerca do desenvolvimento apontam para a necessidade de um desenvolvimento ecologicamente equilibrado e socialmente justo.

No Rio Grande do Norte o modelo de desenvolvimento adotado pode ser considerado bem sucedido à luz do paradigma tradicional, que considera o desenvolvimento a partir do binômio crescimento econômico X industrialização.

30 Caderno especial, sobre o crescimento do Estado, publicado pelo Jornal Tribuna do Norte em março de 2002 em comemoração aos seus 25 anos.

31 Sobre a expansão do turismo ver: LOPES Júnior, Edmilson. A construção social da cidade do prazer: Natal (RN). EUFRN, 2002; FURTADO, Edna Maria. A onda do turismo na cidade do sol: a reconfiguração urbana

de Natal. Tese (Doutorado). Natal: UFRN, CCHLA, Programa de Pós-Graduação em

Ciências Sociais, 2005 e FURTADO. O turismo na capital potiguar: visões sobre o espaço urbano de Natal/RN. In: Mercator – Revista de Geografia da UFC. Fortaleza: ano 6, número 11, 2007.

80

Entretanto, em uma análise em que se considere o desenvolvimento sustentável, esse modelo encontra-se falido, pois, não garante a sustentabilidade, não é socialmente justo e muito menos ecologicamente responsável. Sob esse prisma de análise a falência do modelo implantado no Rio Grande do Norte se evidencia quando os dados econômicos apontam para o crescimento do estado enquanto os dados relacionados à distribuição dos resultados desse crescimento revelam a persistência da pobreza, exposta através de diversos indicadores que estão para além da renda.

Os dados referentes ao analfabetismo, por exemplo, revelam números bastante elevados, embora registre uma diminuição no último ano, conforme pode-se observar na tabela abaixo.

Tabela 04 – Analfabetismo no RN /2006-2009

PESSOAS COM 10 OU MAIS ANOS DE IDADE, SEM INSTRUÇÃO OU COM MENOS DE 1 ANO DE ESTUDO

ANO TOTAL SEM INSTRUNÇÃO % EM RELAÇÃO AO TOTAL

2006 2.548.000 398.000 15,62

2007 2.557.000 378.000 14,78

2008 2.638.000 441.000 16,72 2009 2.691.000 373.000 13,86 Fonte: IBGE.

Os dados apresentados acima colocam o Rio Grande do Norte entre os cinco estados com maior taxa de analfabetismo do País. São números preocupantes uma vez que a educação constitui-se um instrumento importante para o desenvolvimento influenciando não apenas as condições de vida daqueles que tem acesso a educação, mas também gerando uma série de externalidades sobre o bem-estar da população em geral.

No que se refere aos índices de habitação, a Companhia Estadual de Habitação e Desenvolvimento Urbano no Rio Grande do Norte registrou em 2010 um déficit de 130 mil moradias. Na capital do estado esse número chega a 50 mil. Dados de 2010 divulgados pelo IBGE em 2011 registram que 2,7% da população do Rio Grande do

81

Norte vivem em agrupamentos subnormais, nomenclatura usada pelo instituto para classificar localidades com deficiências no abastecimento de água, esgotamento sanitário, destino do lixo e energia elétrica. O mesmo estudo aponta que apenas duas cidades do estado contam com esse tipo de loteamento: Natal e Mossoró.

Fotos 05 E 06 – Assentamentos irregulares em Mae Luíza/Natal e Monte Belo / Grande Natal

Fotos: Vlademir Alexandre

Embora o IBGE aponte a existência de assentamentos irregulares apenas em Natal e Mossoró é possível constatar a existência desse tipo de moradia em outras cidades do estado, particularmente na região Metropolitana e nas cidades com maior número de habitantes.

No que se refere ao saneamento básico o estado é considerado um dos piores do nordeste, contando com apenas 16,52% de sua população com acesso a esgotamentos sanitários (saneamento básico), sendo o sexto com os piores serviços de esgoto do país32.

No tocante a segurança alimentar os dados da PNAD referentes ao ano de 2009 registram que 52,9% dos domicílios potiguares vivem em situação de segurança alimentar. Os demais se dividem em 25,3% vivendo em situação de insegurança alimentar leve, 13% em situação de segurança alimentar moderada e 8,9% em situação de insegurança alimentar grave (IBGE/PNAD, 2009).

82

Em levantamento realizado pelo IBGE constatou-se que 12,81% da população norte-rio-grandenses, o que representa 400 mil pessoas, vivem em estado de extrema pobreza33. Desse total, 53,4% residem na zona urbana, enquanto 46,6% residem na zona rural. A maioria é mulher, parda e tem entre 15 e 64 anos. O estudo aponta ainda que os municípios em extrema pobreza concentram-se em determinadas áreas do estado. O mapa abaixo apresenta uma distribuição desses dados: