Abolitionist Veganism and Cultural Practices
Artigo 11 Os Municípios do Estado devem manter programas permanentes de controle de zoonoses, através de vacinação e controle de reprodução de cães
e gatos, ambos acompanhados de ações educativas para propriedade ou guarda responsável.
Em relação ao pedido de isenção de taxa de qualquer natu- reza para o processo administrativo nº 2072/2010, entendo que também estão presentes os requisitos da tutela antecipada.
De início, respeitado o entendimento do procurador munici- pal, mesmo no âmbito judicial, a contratação de advogado não é suficiente para afastar o benefício da justiça gratuita.
A propósito:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. JUSTI- ÇA GRATUITA. A contratação de advogado não é condição suficiente para se indeferir pedido de justiça gratuita. Viável a concessão do bene- fício quando a pleiteante, além de juntar declaração de imposto de renda com rendimento compatível com a benesse, afirma sua pobreza. Em decisão mono- crática, provido o agravo de instrumento para reformar a decisão vergastada e conceder à agravante o benefício da justiça gratuita. (Agravo de Instrumento Nº 70035962273, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 22/04/2010)
BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA. RENDIMENTOS. PROVA. EXIGÊNCIA. CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO. DEFENSORIA PÚ- BLICA. 1. Conquanto, em princípio, para fazer jus ao benefício da justiça gratuita seja suficiente a parte afirmar, na inicial, a impossibilidade de arcar com as despesas processuais, pode o Juiz exigir da parte a comprovação de seus rendimentos. 2. A concessão do benefício não se restringe às pes- soas que se socorrem dos serviços da Defensoria Pública, podendo alcançar aquelas que estão representadas por advogado contratado. Recurso provido por ato do Relator. Artigo 557 do Código de Processo Civil.
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(Agravo de Instrumento Nº 70031310451, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Isabel de Azevedo Souza, Julgado em 29/07/2009)
Tal raciocínio deve ser transportado para o caso de isenção de taxas nos processos administrativos. Nestas situações, no entan- to, deve haver comprovação de hipossufiência para a concessão da benesse legal. E no presente caso, em sede de cognição sumá- ria suficiente para a concessão da tutela antecipada, houve. Em princípio, as autoras não possuem grandes rendimentos, têm dívidas e ainda arcam, provavelmente com auxílio de doações, com altas despesas para cuidar de dezenas de gatos e cachorros abandonados.
O perigo de dano irreparável ou de difícil reparação consiste na demora da aprovação do projeto, cujo andamento depende da concessão da isenção, prejudicando-‐‑se dezenas de animais abandonados.
Também merece deferimento, outrossim, o pedido de tute- la antecipada no sentido de obrigar a requerida a fornecer pro- fissional habilitado para proceder a vacinação e castração dos animais.
Conforme item “3” do termo de ajustamento de conduta ce- lebrado entre o Ministério Público e ré, esta voluntariamente se obrigou a fornecer atendimento veterinário gratuito a animais
pertencentes a pessoas de baixa renda; inclusive com possibilidade de castração sem qualquer ônus, a população reconhecidamente caren- te. Além disso, conforme já explicitado, existe o art. 11 da Lei
Estadual 11.977/05, também conhecida como Código de Proteção aos Animais. O TAC e a citada lei apenas respeitam o comando inserto no art. 225, § 1º, inciso VIII, da Constituição Federal.
Não se pode olvidar, ainda, da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada pela UNESCO em 27 de ja- neiro de 1978 em Bruxelas na Bélgica, que, em seu art. 2º, alíneas “a” e “c”, prescrevem que:
a) Cada animal tem o direito a respeito.
c) Cada animal tem o direito a consideração, à cura e à pro- teção do homem.
Malgrado tal Declaração não obrigue as nações, não pode ser ignorado que se trata de exortação que funciona, ao menos, como orientação moral.
Sendo assim, tratando-‐‑se as autoras de pessoas com parcos ganhos financeiros, mormente diante da atividade social de in- teresse público que exercem, a requerida tem obrigação, seja le- gal ou pelo TAC, de fornecer atendimento veterinário gratuito.
O perigo de dano irreparável ou de difícil reparação é evi- dente, pois há risco a saúde das autoras e dos animais, podendo estes se proliferarem.
Em relação ao fornecimento de ração, a tutela antecipada tam- bém tem guarida, embora não, por ora, nos moldes requeridos. Conforme TAC assinado com o Ministério Público, a requeri- da tem obrigação de recolher cães e gatos errantes do município, para fins de promover a castração e os tratamentos médicos ade- quados. Após o recolhimento e tratamento, deveria a ré promo- ver campanhas de adoção.
Pelo que se apurou nos autos, em sede de cognição sumária, a requerida não vem cumprindo com tal primária obrigação. Segundo se apurou através de auto de constatação realizado por oficiais de Justiça (fl. 153), o canil/gatil municipal não está
recebendo nenhum tipo de animal abandonado para fins de tra- tamento e posterior colocação em feira de adoção (...) não existe no Município nenhum lugar para receber animais abandonados (...) na época que a pessoa de nome Sílvia lá trabalhava havia aproximadamente 45 animais, entre cães e gatos, e hoje conta com 6 cachorros e nenhum gato (...) dezembro de 2008 como data de inauguração e segundo o conhecimento de Diogo não houve reformas e ampliação desde aquela época. Diogo afirmou ainda tratar-se apenas de um centro de castração.
Sendo assim, ao que parece, a requerida não vem aceitan- do cães e gatos errantes, descumprindo mais do que uma obri- gação assumida com o Ministério Público, mas uma obrigação
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perante a sociedade que é o recolhimento e tratamento de cães e gatos abandonados. Pelo que foi apurado, os munícipes terão que assumir o encargo de recolher e cuidar dos animais aban- donados, pois a ré apenas está castrando os animais. E as auto- ras, em princípio, vêm assumindo essa obrigação que também é do Município, pois têm em seu poder 114 gatos e 54 cães (fls. 117/118), sendo que a requerida tem apenas 6 cachorros e 0 ga- tos (fl. 153).
Como as autoras vêm prestando um serviço de interesse pú- blico e cunho social, recolhimento de cães e gatos errantes, no lugar da requerida, esta deve cumprir sua obrigação, mesmo que longe de suas dependências, mesmo porque, segundo os itens 23 e 24 do TAC, a ré poderia fazer um convênio com enti- dade particular e deveria reformar e ampliar as dependências do Centro de Controle Populacional para Cães e Gatos. O auto de constatação demonstrou, inclusive com fotos, que o local, malgrado visivelmente precise, não recebeu qualquer reforma desde a sua inauguração.
A jurisprudência, sensível a essa situação, já entendeu que: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA POR ASSO- CIAÇÃO PROTEDORA DE ANIMAIS DO MUNICÍPIO DE CAMA- QUÃ (APACA). RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO PELO RE- COLHIMENTO, ABRIGO E TRATAMENTO DE ANIMIAS ABAN- DONADOS NAS RUAS DO MUNICÍPIO. OMISSÃO MANIFESTA DO ENTE PÚBLICO. INDENIZAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO PELOS GASTOS DESPENDIDOS NO CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE NATUREZA PÚBLICA. IMPOSIÇÃO DA CONDENAÇÃO EM OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONSTRUÇÃO DE ABRIGO EM LOCAL ADEQUADO. PRORROGAÇÃO DO PRAZO FIXADO. MANUTEN- ÇÃO DO PAGAMENTO DOS CUSTOS PELO ABRIGO DOS ANIMAIS ATÉ A CONCLUSÃO DA OBRA. Nos termos do art. 225, VII, c/c art. 23, VI e VII, e art. 30, V, todos da CF/88, recolher, abrigar, e dar tratamento adequado a animais domésticos abandonados nas vias públicas muni- cipais, até como forma de se evitar a propagação de doenças aos munícipes. Manifesta omissão do Município de Camaquã no cumprimento de atri- buição que lhe foi conferida, em nível de legislação municipal, pelos arts. 235 e 244 do Código de Posturas do Município (Lei Municipal nº 19/49. Servi-
ço público que vinha sendo prestado por Associação de proteção aos Animais, sediada no Município, em face da omissão do ente público, a ensejar a indenização do ente privado pelos gastos suportados com a manutenção dos animais encaminhados por Órgãos Públicos. Majoração do prazo para a construção de abrigo adequado, fixando-‐‑o em um ano, man- tida a determinação de pagamento de valores pelos gastos suportados com a Associação com a prestação de serviço de natureza pública. VERBA HO- NORÁRIA. FAZENDA PÚBLICA. MANUTENÇÃO. Vencida a Fazenda Pública, aplicável a regra do art. 20, § 4º, do CPC, para fins de condenação ao pagamento de verba honorária. Manutenção dos honorários advocatícios fixados na sentença. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70023027758, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Henrique Osvaldo Poeta Roenick, Julgado em 26/03/2008)
Segundo os laudos veterinários de fls. 117/118, as autoras gastam mensalmente 310 kg de ração com os 114 gatos e 850 kg com os cães. Até que haja prova de que a requerida cumpre sua obrigação legal e contratual, bem como prova pericial da real necessidade de ração, entendo que a ré deve providenciar 200 kg e 550 kg de ração para, respectivamente, gatos e cachorros das autoras.
Em relação ao pedido de tutela antecipada de abertura de acesso à propriedade das requerentes, ao menos por ora, enten- do que não deve ser deferido. Em razão de pedido pendente perante a requerida, entendo que esta deve primeiro analisá-‐‑lo, mormente porque havia o empecilho, agora inexistente, do re- colhimento das taxas.
De outra face, nas palavras do Eminente Juiz Federal Dirley da Cunha Junior*, decorrido prazo legal ou, não havendo este, ex-
pirado tempo razoável para a Administração se manifestar, pode o Administrado, que tem o direito a uma manifestação rápida da Administração, ingressar em juízo com ação adequada (...).
A propósito:
ADMINISTRATIVO. RÁDIO COMUNITÁRIA. PROCESSO ADMINIS- TRATIVO. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO. MORA DA ADMINISTRA- * JUNIOR, Dirley da Cunha; in Curso de Direito Administrativo, 4ª ed. Ed. Podium: 2006,
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ÇÃO. ESPERA DE CINCO ANOS DA RÁDIO REQUERENTE. VIOLA- ÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA EFICIÊNCIA E DA RAZOABILIDADE. INEXISTÊNCIA. VULNERAÇÃO AO ARTIGO 535, II DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AUSÊNCIA DE INGERÊNCIA DO PODER JUDI- CIÁRIO NA SEARA DO PODER EXECUTIVO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO PELA ALEGATIVA DE VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 6º DA LEI 9612/98 E 9º, INCISO II, DO DECRETO 2615/98 EM FACE DA AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DOS DEMAIS ARTIGOS ELENCADOS PELA RECORRENTE. DESPROVIMENTO. 1. Não exis- te afronta ao artigo 535, II do Código de Processo Civil quando o decisório combatido resolve a lide enfrentando as questões relevantes ao deslinde da controvérsia. O fato de não emitir pronunciamento acerca de todos os dis- positivos legais suscitados pelas partes não é motivo para decretar nula a decisão. 2. Merece confirmação o acórdão que julga procedente pedido para que a União se abstenha de impedir o funcionamento provisório dos serviços de radiodifusão, até que seja decidido o pleito administrativo da recorrida que, tendo cumprido as formalidades legais exigidas, espera já há cinco anos, sem que tenha obtido uma simples resposta da Administração. 3. A Lei 9.784/99 foi promulgada justamente para introduzir no nosso ordenamento ju- rídico o instituto da Mora Administrativa como forma de reprimir o arbítrio administrativo, pois não obstante a discricionariedade que reveste o ato da autorização, não se pode conceber que o cidadão fi- que sujeito à uma espera abusiva que não deve ser tolerada e que está sujeita, sim, ao controle do Judiciário a quem incumbe a preservação dos direitos, posto que visa a efetiva observância da lei em cada caso concreto. 4. “O Poder Concedente deve observar prazos razoáveis para ins- trução e conclusão dos processos de outorga de autorização para funciona- mento, não podendo estes prolongar-se por tempo indeterminado”, sob pena de violação aos princípios da eficiência e da razoabilidade. 5. Recurso especial parcialmente conhecido e desprovido. REsp 531349 / RS RECURSO ESPE- CIAL 2003/0045859-‐‑1 Relator(a) Ministro JOSÉ DELGADO (1105) Ór- gão Julgador T1 -‐‑ PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 03/06/2004 Data da Publicação/Fonte DJ 09/08/2004 p. 174
Dessarte, diante da concessão da isenção de taxas, deve a requerida analisar o requerimento da parte autora em tem- po razoável, sob pena de determinação judicial para que a Administração edite o ato.
Nesse sentido, traz-‐‑se novamente a baila os ensinamentos do Eminente Dirley da Cunha Junior**:
“Pensamos, todavia, que, mesmo sendo vinculado o conteúdo do ato admi- nistrativo omitido, o juiz deve determinar que a Administração Pública conceda o pedido, e não diretamente concedê-lo. Tomemos um exemplo: o pedido do administrado à obtenção de uma licença para construir. Em face do silêncio administrativo, imaginemos que o efeito previsto em lei é o denegatório. Como o ato é vinculado e a Administração Pública não pode negá-lo quando o administrado satisfaz as condições legais à sua obtenção, ele pode, através do Poder Judiciário, compelir a Administração a expedir o ato de licença. Não é correto, a nosso sentir, que o Judiciário conceda diretamente a licença, que, por natureza, é um ato administrativo. O Judiciário, no caso, ordena que a Administração edite o ato omitido”.
Sendo assim, deixo para analisar tal pedido de tutela ante- cipada quando da defesa da ré, ocasião em que terá decorrido tempo suficiente para análise do processo administrativo.
Ante o exposto, DEFIRO PARCIALMENTE a tutela antecipa- da para fins de:
a) obrigar a requerida a não demolir o abrigo de animais construído pela parte autora, na Estrada do Camarão, nº 2315, sob pena de multa no valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), pelo descumprimento da decisão, sem prejuízo de crime de de- sobediência e ato de improbidade administrativa.
b) dispensar a parte autora de recolher qualquer tipo de taxas em relação o processo administrativo nº 2072/2010.
c) obrigar a requerida, no prazo de 45 dias, contados desta decisão, a castrar e vacinar os cães e gatos na posse das autoras. d) obrigar a parte requerida a fornecer às autoras 200 kg e 550 kg de ração de boa qualidade para, respectivamente, gato e ca- chorro, até que haja prova inequívoca de que a ré vem recolhen- do e tratando dos gatos e cachorros errantes, ocasião em que as condições dessa tutela antecipada poderão ser modificadas.
** JUNIOR, Dirley da Cunha; in Curso de Direito Administrativo, 4ª ed. Ed. Podium: 2006, pag. 88.
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Cite-‐‑se para resposta, no prazo legal, constando no mandado as advertências legais.
Oficie-‐‑se ao Ministério Público, com cópia desta decisão, auto de constatação e suas fotos, para tomada das providências que entender cabíveis.
Intime-‐‑se.
Cumpra-‐‑se com urgência.
Diligências necessárias. Ilhabela, 22 julho de 2010.
Sandro Cavalcanti Rollo Juiz de Direito