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Apresentação

Para cumprir com o objectivo de apresentar uma análise da actuação das instituições museológicas portuguesas, a nível internacional, e para além da obrigatória pesquisa bibliográfica, procedemos ao estudo de caso de três instituições: o Museu de Aveiro, a Fundação de Serralves e a Fundação Berardo, às quais foi pedida a realização de uma entrevista para responder a questões centradas na problemática da internacionalização. Esta ferramenta de estudo permitiu compreender como estas instituições preparam e gerem a sua actuação além-fronteiras, bem como analisar quais as competências multilinguísticas e interculturais ao seu dispor. Com esta metodologia de investigação não se procura encontrar verdades absolutas sobre a actuação das instituições portuguesas no mercado cultural além-fronteiras, procura-se antes estimular a discussão desta matéria, através de relatos de experiências abertos à análise e à interpretação. As conclusões apresentadas em relação à experiência de internacionalização de cada instituição são baseadas na análise da informação recolhida a partir destas entrevistas. Em primeiro lugar será feita uma breve apresentação de cada instituição e, seguidamente, será aprofundada a experiência de cada uma nos mercados internacionais.

O Museu de Aveiro é, presentemente, tutelado pelo Ministério da Cultura, através do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC). Tem uma vocação declaradamente direccionada para a arte sacra e divulga as suas colecções através de exposição permanente e do ciclo de exposições temporárias. Assume como missão conservar, estudar e divulgar o monumento onde foi fundado – o Convento de Jesus – e o seu espólio, bem como contribuir para a salvaguarda do património móvel da sua área de influência.

A equipa do Museu conta com um total de dezassete funcionários, incluindo a directora, quatro conservadores, oito vigilantes, um guarda e três auxiliares de limpeza.

O Museu de Aveiro foi inaugurado no antigo Convento de Jesus, decorria o ano de 1911. O Convento de Jesus foi fundado convento da ordem Dominicana pela Bula Papal de Pio II, em 1458. Era, inicialmente, apenas uma casa de recolhimento, mas assume protagonismo a partir de 1472, ano em que a Princesa Santa Joana, filha de Afonso V, hoje padroeira da cidade de Aveiro, decide tornar-se freira de clausura e recolher-se no convento. A presença da filha do rei em Aveiro foi de extrema importância para o engrandecimento e prestígio não só do Convento de Jesus, mas também para o da própria vila. Contudo, a construção do convento evolui de forma deficiente, com intervenções esporádicas, muitas delas feitas pelas próprias freiras. É somente em inícios do século XVII, fruto do crescimento económico da cidade, que se verificam os primeiros investimentos e reformas nas casas religiosas. Deste modo, surge a magnífica obra

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arquitectónica e de talha dourada da Igreja de Jesus, distinta representação do esplendor barroco seiscentista e setecentista em Portugal. As obras mais profundas de adaptação das instalações do convento às necessidades do museu são iniciadas três séculos mais tarde, em 1925, pelo Dr. Alberto Souto. A partir dessa altura o museu nunca mais deixou de estar em obras, tendo sido alvo de sucessivas campanhas de intervenção.

O acervo do museu abrange colecções de arte sacra com maior incidência no período barroco. Conta com uma notável colecção de talha dourada e peças de pintura, escultura, paramentaria, azulejo, ourivesaria, metais, mobiliário e cerâmica provenientes do próprio Convento de Jesus e de outras casas e comunidades religiosas da cidade e região de Aveiro, de Coimbra e Lisboa, dissolvidas com a extinção das ordens religiosas e com a legislação liberal. O Museu de Aveiro dispõe ainda de um espólio documental de grande importância histórica dos séculos XV ao XIX, do qual se destacam os mapas da cidade, da barra e da ria de Aveiro.

Com a actual direcção, deu-se início a um novo capítulo na história do edifício do museu, que foi objecto de profundas obras de requalificação e ampliação. Este projecto consistiu na construção de um novo corpo para o museu, que se destina a acolher uma nova sala de exposições temporárias (com cerca de 330 m²) e dois pisos para as reservas. O projecto visava ainda a criação de novas funções das quais o museu carecia: cafetaria, auditório, biblioteca, serviço educativo, gabinetes e laboratórios de conservação e restauro. As áreas de acolhimento e o circuito da exposição permanente (com cerca de 1200m²) também foram alvo de profunda intervenção. De modo a garantir uma reabertura em pleno, a equipa do museu pôs igualmente em marcha trabalhos de restauro das colecções que iriam integrar as galerias de exposição permanente e temporária do novo Museu.

A visita ao Museu de Aveiro incluía, antes do período de obras, um percurso pelo convento, do qual se conservam a igreja, com os respectivos coros alto e baixo, o claustro, com as suas capelas, o refeitório e a sala de lavor. É no coro baixo que se mantém exposto o túmulo da Princesa Santa Joana, uma obra singular de mármores policromos que representa uma das maiores atracções do Museu. Como complemento do circuito, podia visitar-se a Igreja das Carmelitas, que se situa no antigo Convento de S. João Evangelista, onde se encontraram a funcionar os serviços administrativos do museu durante a requalificação do edifício. Também esta igreja é uma representação esplendorosa do estilo barroco.

Na fase de obras, os esforços da equipa estiveram centrados na preparação da exposição permanente, no programa das exposições temporárias e na angariação de apoios para o restauro das colecções. Apesar disso, a direcção optou por manter o Museu de Aveiro aberto ao público. A par do plano de visitas no antigo Convento de Jesus e na Igreja das Carmelitas, destinado ao público em geral, o Museu oferecia ainda o programa de

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Experiência de