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SITUADA

Na década de 1980 surgiu, na Inglaterra, e influenciou outros países, como Alemanha, Espanha e Estados Unidos da América, estando entre eles a Grécia, uma nova linha de investigação apontando para o estudo das ideias históricas das crianças e adolescentes, tendo por base uma categorização de conceitos, através de níveis de progressão do conhecimento histórico. Estes conceitos, relacionados com a natureza da história, passaram a ser designados como de segunda ordem, por exemplo, evidência, empatia, interpretação ou explicação. O pensamento dos alunos passou a ser analisado tendo em conta as suas ideias em história, numa escala que partia de um nível de raciocínio menos elaborado para outros mais complexos.

O estudo fora do Brasil, no âmbito da educação histórica, e que tem uma relação mais direta com essa pesquisa, é aquele realizado por Nakou (2003), na Grécia, e apresentado nas Segundas Jornadas Internacionais de Educação Histórica, realizadas na Universidade do Minho.

A autora desenvolveu, seu estudo, durante um período de três anos, com 141 estudantes do ensino secundário, de idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos. O estudo teve como objetivo explorar o pensamento histórico dos alunos gregos em situação de museu (NAKOU, 2003).

Ao utilizar o museu e seus objetos para estudar o passado, a autora pretendia observar se os estudantes desenvolveriam o pensamento histórico. Este grupo de alunos, durante os anos letivos antecedentes, nunca tinha tido a oportunidade de trabalhar com qualquer tipo de fontes, nem estava habituado a pensar em moldes e métodos característicos do pensamento científico e histórico.

Para a execução do seu trabalho, a investigadora preparou três diferentes tarefas escritas, relativas a objetos musealizados e sobre os quais os alunos teriam de responder a um questionário:

Foram apresentadas três diferentes tarefas: Tarefa 1, deixar os alunos concentrarem-se em apenas um objeto do museu; Tarefa 2, deixar os alunos concentrarem-se numa coleção de objetos do museu, e Tarefa 3, inter-relacionar as atividades realizadas no museu com o posterior trabalho na sala de aula. Todas as tarefas incluíram questões semelhantes "históricas" e "história livre" e, assim, as respostas às diferentes tarefas podiam ser comparadas. O conjunto de questões para a Tarefa 1, comum a todos os grupos, foram as seguintes: a) Por favor, escolhe um objeto que te interesse. Por que o escolheste? b) Que informação te dá o objeto sobre ele e sobre o seu período? c) O que podes dizer sobre este objeto? [A intenção desta questão era de que os alunos fizessem uma apresentação do objeto e não apenas o descrevessem] d) Quais são as tuas questões sobre este objeto? (Supõe que era um historiador que desejava saber sobre o passado estudando este objeto) (NAKOU, 2003).

No final, para a análise das respostas, Nakou construiu uma escala de sete níveis de categorização do pensamento dos jovens, tendo se baseado em Shemilt (1987). Os níveis estavam assim organizados:

- Nível 1 - "Pensamento a-histórico". Descrição simples dos objetos, por exemplo: "É uma estátua".

- Nível 2 - "Pensamentos não-históricos". Descrições dos objetos limitadas à definição ou apoiadas na informação museológica, mas com imprecisões, por exemplo: "É uma estátua danificada".

- Níveis 3 e 4 - "Pensamento pseudo-histórico". Representações do conhecimento histórico e inferências não suportadas diretamente pelos objetos, por exemplo: "Isto é um vaso Micenico do século XIV"; "Deve ser um vaso Micenico".

- Nível 5 - "Pensamento racional". Inferências feitas através de um processo racional, por exemplo: "O dono deste vaso deveria ser muito rico, pois o vaso é de ouro".

- Níveis 6 e 7 - "Pensamento histórico". Inferências feitas através de um processo histórico, por exemplo:

Este objeto dá-nos informações relativas à arte e ao período artístico em que foi feito. As figuras artísticas desse período deveriam ser muito importantes. Isso é visto através do tamanho em que estão representadas e dá-nos uma idéia sobre tamanho colossal do resto da estátua. As pessoas precisavam conhecer o uso do bronze, assim como precisavam dominar as técnicas de extração e trabalho em bronze (NAKOU, 2003).

Nakou (2003) separou os níveis 6 e 7, tentando caracterizá-los como "Pensamento histórico avançado", pelo fato de as inferências surgirem através de um avançado processo de raciocínio histórico. Os alunos de 14/15 anos revelaram um pensamento histórico mais desenvolvido, em termos de discussão de todos os elementos que estavam envolvidos, acrescentando e mostrando a influência de outras variáveis. Demonstraram domínio de certos conceitos e souberam fazer inferências em termos explicativos.

Por fim, Nakou aponta algumas implicações relativas ao valor do estudo do passado através da utilização de espaços museológicos e, nomeadamente dos objetos lá expostos.

Os resultados desse estudo são importantes para a educação histórica porque, segundo Nakou (2003), os dados sugerem que as crianças, ao estudarem o passado num museu, desenvolvem mais facilmente o pensamento histórico, pois os objetos estimulam e apelam à sua imaginação.

No Brasil, no município de Araucária, a presente pesquisa sobre aulas-visitas a museu, bem como sobre educação histórica, busca também entender o interesse das crianças/alunos pelos objetos dos museus e o desenvolvimento do seu pensamento histórico a partir do contato com esses objetos. Por isso, a relevância desta pesquisa para a linha que investiga a cognição dos sujeitos durante o processo de escolarização e no contexto da escola.

2 POSSIBILIDADES E LIMITES DO ENSINO E APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA EM MUSEUS: O CASO DE ARAUCÁRIA

No ensino de história, o estudo do passado não se faz por meio da observação direta nem da experimentação. Contudo, quando as crianças/alunos trabalham diretamente com indícios do passado (fontes primárias), eles podem exercitar essas capacidades de observação e experiência cognitiva, principalmente a partir dos objetos. A saída da escola para a realização das aulas-visitas aos museus pode permitir a consecução dessas práticas, pois a criança/aluno, ao olhar, observar e mesmo manusear o objeto, tem um contato direto com os vestígios pertencentes ao passado. O objeto sugere perguntas, fatos, relações passado/presente/futuro, ideias históricas e, dessa forma, potencializa o conhecimento significativo de um determinado período histórico.

Assim, a saída da escola para a aula-visita ao museu é um caminho importante para ensinar à criança/aluno o método de pesquisa histórica baseado na investigação, raciocínio e inferência. Se na aula de história lhe for permitido proceder dessa forma, a criança/aluno sentir-se-á protagonista da aprendizagem, e não unicamente um receptor de conhecimentos. Poderá aprender a ser crítico perante o que se lhe ensina e, por extensão, perante a realidade que o rodeia. A possibilidade de colocar as crianças/alunos frente a objetos do passado é uma das características das aulas-visitas aos museus.

A seguir apresentam-se algumas ideias sobre o ensino de história presentes nos PCNs (1998) e as possibilidades de professores saírem da escola com crianças/ alunos para visitar museus ou espaços históricos.