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Museu e Monumento num projeto de Educação Visual

1. Enquadramento teórico

1.2. Museu e Monumento

1.2.3. Museu e Monumento num projeto de Educação Visual

Na educação não formal em museus é necessário compreender que não se atinge o objetivo educacional se a visita se basear apenas na “fruição” ou na “contemplação desinteressada” ou, ainda, na “apreciação” de obras de arte visuais. Como tal, é mais fácil levar os alunos a compreenderem o modo como as instituições culturais os representam, assim como, a compreenderem como é que estas instituições os afetam e influenciam sobre o que pensam de si mesmos, através da “problematização” (Franz, citado por Eça, 2009).

Eça (2009) refere que “A interface entre o museu e o indivíduo pode gerar processos de aprendizagens significativas” (p.277). Logo, estas aprendizagens resultam do cruzamento da biografia de cada indivíduo, do seu património cultural, social e emocional, com aquilo que a instituição visitada é capaz de lhes proporcionar (Eça, 2009, p.277).

Neste sentido, o Museu e o Monumento podem e devem ser um veículo, um ponto de partida, uma fonte de investigação para o desenvolvimento de um trabalho, de um projeto para qualquer disciplina, pois “todos os temas de estudo curricular são possíveis de análise nas várias tipologias de museus e exposições, dependendo da abordagem, da análise interdisciplinar, que o professor realiza ao selecionar os objectos e o percurso expositivo” (Guedes & Moreno, 2002, p.11).

O projeto não é um conceito recente de ensino-aprendizagem, sendo John Dewey e William Kilpatrick referência incontornáveis deste processo de trabalho. No entanto, esta metodologia é “uma forma inovadora, flexível, capaz de atender a um só tempo aos interesses que fazem o mundo da criança e às finalidades e competências estabelecidas como desejáveis para as crianças e jovens de hoje” (Gambôa, 2011, p.49).

Gambôa (2011) afirma que o trabalho de projeto está no centro da pedagogia-em- participação, sendo um meio para a autonomia e para a participação. Assim, este tipo de trabalho centra-se no aluno, pois tal como defendia William Kilpatrick, citado por Gambôa (2011) o objetivo do trabalho de projeto é “preparar a nova geração para pensar por si própria” (p.50).

Pedagogia-em-participação é entendida por Oliveira-Formosinho e Formosinho (2011) como a criação de espaços e tempos pedagógicos de interação, permitindo desenvolver atividades e projetos que valorizam a experiência, os saberes e as culturas das crianças em partilha com os saberes e as culturas dos adultos, facilitando às crianças viver,

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conhecer, significar e criar. Estes autores também sublimam o grupo-turma como grupo de aprendizagem, onde as interações e relações são fundamentais e onde o sentimento de pertença e participação é desenvolvido, estando o conceito de togertherness de Dewey na sua base. Assim, estes autores acreditam que os projetos implicam o envolvimento das crianças, de forma ativa e motivada, assim como, um envolvimento constante assente na pesquisa apoiada de um grupo de crianças para resolver um problema.

Segundo Hernández (1998) os projetos de trabalho supõem um enfoque no ensino, tendo em vista a reestruturação das práticas educativas, de modo a dar resposta às mudanças sociais que se produzem nos alunos e na função da educação. Este autor afirma que no desenvolvimento de projetos de trabalho o docente atua mais como um guia do que como autoridade e, como tal, deve haver uma maior compreensão das matérias e dos temas em que os alunos trabalham. Hernández (1998) também aponta que os projetos contribuem para auxiliar os alunos na aquisição de capacidades relacionadas com: a autodireção, favorecendo a iniciativa; a inventiva, através da utilização criativa de recursos e métodos; a formulação e resolução de problemas; a integração de informação de diferentes fontes; a tomada de decisões; e a comunicação interpessoal, ou seja, a discussão e partilha de opiniões.

Segundo Dewey, citado por Hernández (1998), o método de projetos “não é uma sucessão de atos desconexos, e sim uma atividade coerentemente ordenada, na qual um passo prepara a necessidade do seguinte, e na qual cada um deles se acrescenta ao que já se fez e o transcende de um modo cumulativo” (p.68). Para este autor os projetos de trabalho não são um método, pois acredita que “quando se fala de “método” em relação à prática escolar, ao que se costuma fazer referência é à aplicação de uma fórmula, de uma série de regras” (p.68).

No entanto, o conceito de projeto está também muitas vezes ligado ao processo de trabalho de diferentes áreas: design, arquitetura e engenharia.

Segundo Munari (2010), designer italiano, autor do método de resolução de problemas, o “método projetual não é mais do que uma série de operações necessárias, dispostas por ordem lógica, ditada pela experiência. O seu objectivo é o de se atingir o melhor resultado com o menor esforço” (p.20). Para este designer esta série de operações é feita de valores objetivos, desenvolvidos por projetistas criativos, mas nada é absoluto nem definitivo, pois pode ser sempre modificado e melhorado se se encontrarem outros

valores. Desta forma, segundo este autor, este processo não bloqueia o projetista, pelo contrário, estimula-o a descobrir coisas que poderão servir a outros. No entanto, Munari também considera que nas escolas o modo de projetar é muitas vezes desenvolvido de forma errada, pois incentivam “os alunos a encontrarem ideias novas, como se devessem inventar tudo desde o princípio todos os dias” (p.22). Munari acredita que esta não é a melhor maneira de se ajudar os jovens, pois estes precisam de se deparar com problemas, de investigar, de errar para melhorar. Pois, tal como afirmou Gropius, citado por Munari (1993):

Assim, é nossa intenção formar um novo tipo de artista criador, capaz de compreender qualquer espécie de necessidade: não porque seja um prodígio, mas porque é capaz de abordar as necessidades humanas segundo um método exacto. Desejamos torná-lo consciente do seu poder criador, ousado frente aos factos novos e independentemente, no seu próprio trabalho, de qualquer espécie de fórmula. (p.21)

Assim, na prática de E.V. é tão importante a formação artística como o desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas, através do trabalho de projeto.

De acordo com CNEB, o desenvolvimento curricular de E.V., no ensino básico, deve contemplar:

• A organização de actividades por unidades de trabalho, entendidas como projectos que implicam um processo e produto final, estruturando-se de forma sistemática, englobando diferentes estratégias de aprendizagem e de avaliação;

• A metodologia deve contemplar várias formas de trabalho baseadas em acções de natureza diversa: exposições orais, demonstrações práticas, mostras audiovisuais, investigação bibliográfica, recolhas de objectos e imagens, debates, visitas de estudo, trabalhos de atelier, registos de observação no exterior, frequência de museus e exposições, entre outras.

(…)

• Os temas deverão ser relevantes, actuais e orientados por uma visão de escola aberta ao património artístico e natural, sempre que possível partindo da relação com o meio envolvente, de propostas dos alunos ou da abordagem ao universo das artes visuais em Portugal. (Ministério da Educação, 2001, p.161) Neste sentido, segundo Bamford (2007) “por vezes as actividades fora da escola têm uma maior ligação à comunidade e são mais relevantes para as necessidades e

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interesses das crianças” (p.4). Também a sensibilização dos alunos, face ao Museu e Monumento, “é essencial para o sucesso de futuros projectos escolares, numa contínua formação de cultura geral, fundamentais ao desenvolvimento de aptidões cognitivas e emocionais conducentes com a exigência da sociedade em que vivemos” (Guedes & Moreno, 2002, p.9). Estas aptidões cognitivas e emocionais podem e devem conduzir o aluno ao desenvolvimento da sua capacidade criativa, isto é, da sua criatividade.

Segundo Sousa (2003b) “a criatividade é uma capacidade humana, uma capacidade cognitiva, que lhe permite pensar de modo antecipatório, imaginar, inventar, evocar, prever, projectar e que sucede internamente, a nível mental, de modo mais ou menos consciente e voluntário” (p.169).

Como tal, as visitas ao Museu e ao Monumento devem ser capazes de desenvolver a criatividade dos alunos, pois “há também monumentos, obras de arte (…) coleções que “falam” e por meio dos quais se pode “decifrar” muitos fatos e versões de uma mesma história” (Mendonça, 2009, p.3), assim como “a grande variedade de hipóteses de actividades que envolvem as crianças e o museu só é limitada pela capacidade de imaginação e empenho dos organizadores” (Guedes & Moreno, 2002, p.23).

Em suma, no contexto do Museu e do Monumento, o desenvolvimento de um projeto em E.V. pode tornar-se um processo prazeroso de ensino-aprendizagem, facilitando e promovendo a relação com o meio envolvente e com a cultura local, assim como, o desenvolvimento da criatividade.