• Nenhum resultado encontrado

1.2 A NÁLISE DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ADESÃO PARA T IMOR L ESTE

países considerados; então, as vantagens comparativas reveladas do país j no bem i (VCRij) são VCRij = (Xij / ∑jXij)

1.2 A NÁLISE DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ADESÃO PARA T IMOR L ESTE

Vantagens Comparativas de Timor no comércio com os Países ASEAN

Vista a estrutura produtiva dos países ASEAN e as suas vantagens comparativas, vejamos, agora, a potencial concorrência e complementaridade que isso representa para Timor, procurando averiguar a possibilidade de existência de mercados regionais para os bens actualmente exportados pela economia timorense ou, eventualmente, para outros bens, hoje não exportados, mas nos quais o país apresente potenciais vantagens comparativas, em relação a estes países ASEAN232.

Como já vimos, a dotação de factores de um país reflecte-se na sua estrutura produtiva e no padrão do seu comércio externo (exportações e importações) e, assim, nas suas vantagens comparativas (modelo da dotação relativa de factores de Heckscher-Ohlin).

Ora, a análise dos Quadros n.º 51 e n.º65 (em anexo) permite-nos verificar a dotação de factores em Timor-Leste, através dos valores apresentados para determinados indicadores. Assim, verificamos que o país é pouco abundante quer em capital (físico e humano/conhecimento), quer em trabalho, apresentando baixos níveis de escolarização (reflectidos pela taxa bruta de escolaridade e pela taxa de alfabetização), um valor muito reduzido para o PIB e para o PIB per capita, e um número de habitantes muito limitado. Em termos de recursos naturais, e apesar da sua reduzida dimensão territorial, o país tem uma quantidade importante de terra arável (medida em hectares), propícia para a prática agrícola – embora se saiba que uma fatia relevante dessa terra arável não é actualmente cultivada – assim como reservas naturais de petróleo e gás (cuja exploração resultará, previsivelmente, como já se referiu, em significativas receitas para o país, a partir de 2004).

Para analisarmos as vantagens comparativas de Timor em relação aos países ASEAN, teremos que comparar, no entanto, estas dotações relativas de factores com as daqueles países, de forma a averiguar qual o factor (ou factores) relativamente mais abundante em Timor (já que o país

Tailândia, quer pelo Vietname e, em menor grau, pelo Camboja e Myanmar; no peixe têm importantes vantagens comparativas o Myanmar e o Vietname, mas também a Tailândia.

232

Todas as conclusões que daqui retirarmos baseiam-se nos dados estatísticos existentes que poderão não corresponder exactamente à realidade dos factos. Ainda assim, consideramos que este é um estudo que vale a pena, até porque vai ao encontro de uma preocupação manifestada pelo próprio Governo timorense.

terá vantagens comparativas na produção e exportação dos bens que utilizam intensivamente os seus factores relativamente mais abundantes). Retomando aquilo que se disse no ponto anterior deste texto, calculemos, então, os rácios das dotações relativas dos factores utilizados por Leamer, e verifiquemos qual a posição relativa de cada um destes países (incluindo Timor), em relação uns aos outros. Assim, podemos ver que Timor apresenta o mais reduzido rácio capital/trabalho (aqui medido pelo indicador PIB per capita), e o terceiro maior rácio terra/trabalho (medido pela dimensão territorial por cada mil habitantes). Mas, se considerarmos o indicador terra arável (propícia para a agricultura) per capita como variável proxy deste último rácio, então o país apresenta o mais elevado valor.

Daqui podemos concluir que Timor é menos dotado, em relação aos Estados Membros da ASEAN, em factor capital (aqui referimo-nos apenas ao capital físico, já que o medimos através do rendimento, mas sabemos que, em termos de capital humano, Timor é também o país, de entre todos os analisados, o que apresenta pior performance, se medirmos a dotação deste factor pela taxa de alfabetização e bruta de escolaridade), pelo que não tem vantagens comparativas na produção e exportação de bens intensivos neste factor. Pelo contrário, o país terá vantagens comparativas: em relação aos países ASEAN (essencialmente aos seis primeiros países a aderirem ao agrupamento regional), na exportação de produtos primários (onde se incluem o café – bem já hoje exportado – e outros bens agro-florestais, assim como a exploração, mais trabalho intensiva do que capital intensiva, de recursos naturais como o petróleo e o gás natural); e em relação ao Mundo em geral, também, para além destes bens, em outros trabalho- intensivos (necessariamente ligados ao sector primário, como por exemplo os trabalhos em madeira e outros agro-florestais de processamento simples), dado apresentar um rácio recursos naturais/trabalho relativamente mais elevado que qualquer outro país ASEAN (apenas o Laos e o Brunei têm rácios superiores), mas semelhante ao da média do Mundo.

Verificamos ainda que o Camboja, o Myanmar e o Laos têm também vantagens comparativas, em relação aos parceiros ASEAN, em produtos intensivos em recursos naturais (ligados ao sector primário), apresentando um rácio terra/trabalho mais ou menos semelhante ao de Timor, mas mostrando também que são menos escassos em capital do que este último (têm, por isso, um rácio capital/trabalho que, embora muito baixo, é bem mais elevado do que o timorense). O Vietname, também relativamente escasso em capital (embora menos escasso que os outros 3 países a aderirem numa fase posterior à organização regional) e com um rácio recursos naturais/terra muito reduzido, deverá especializar-se nos produtos industriais trabalho-intensivos (como o vestuário).

Por seu lado, os cinco países fundadores da ASEAN apresentam uma dotação de factores diferenciada da dos Estados mais recentes e de Timor, possuindo um rácio capital/trabalho relativamente mais elevado. Mesmo assim, a dotação relativa dos factores trabalho e terra difere entre os países fundadores: Brunei e Malásia são indiscutivelmente mais abundantes, em termos relativos, em recursos naturais, do que as Filipinas, a Tailândia e Singapura, pelo que devem possuir, por isso, vantagens comparativas na exploração capital-intensiva de recursos naturais. A Indonésia é relativamente menos abundante em capital do que os outros países fundadores da ASEAN, mas possui maior rácio recursos naturais/trabalho do que as Filipinas, Tailândia ou Singapura.

Desta forma, mostra-nos o modelo de H-O, Timor terá vantagens233 em entrar em comércio com os países ASEAN, na medida em que apresenta dotação relativa de factores diferenciada da daqueles países (sobretudo dos mais avançados deste grupo), devendo produzir e exportar bens primários (como bens agro-florestais, naturais ou eventualmente de processamento simples e intensivos em mão de obra não qualificada; ou exploração de recursos naturais- incluindo o gás e o petróleo), dado ser escasso em capital e apresentar um rácio recursos naturais/trabalho relativamente elevado em relação àqueles países234. O país poderá, nestas condições, encontrar, nos Estados ASEAN (essencialmente nos mais industrializados), potenciais mercados para os seus produtos primários de exportação (que apenas se ressumem actualmente ao café, mas a própria integração poderá levar a que o país possa passar a exportar também outros bens primários em que tem, como vimos, vantagens comparativas). O cálculo do indicador das VCR de Bela Balassa, para Timor e para os Estados Integrados na ASEAN, para 2001, permite-nos, reforçar a existência de importantes vantagens comparativas de Timor na produção e exportação de café235.

Esta análise das vantagens comparativas com base na dotação relativa de factores permite-nos, ainda, tirar algumas ilações acerca do caminho para o desenvolvimento que Timor poderá seguir.236

233

Estas conclusões dependem dos dados estatísticos existentes, pelo que poderão não ser totalmente fiáveis.

234

Relativamente aos países ASEAN, Timor tem maiores vantagens comparativas em bens intensivos em recursos naturais do que em trabalho, porque possui um rácio recursos naturais/trabalho relativamente muito elevado. No entanto, em relação ao Mundo em geral, o país apresenta praticamente as mesmas vantagens comparativas quer em bens naturais, quer em produtos trabalho-intensivos (que requeiram trabalho não qualificado), já que o rácio recursos naturais/trabalho é moderado, semelhante ao da média de todos os países do Mundo, em geral.

235

O índice de VCR que calculámos, permite-nos comparar as V.C. de Timor, no café, em relação aos 10 actuais membros da ASEAN [considerando para o efeito: (exportações de café por Timor/exportações de café pela ASEAN 10 e Timor)/(exportações totais de Timor/exportações totais da ASEAN 10 e Timor)]. Ver Quadro n.º69 em anexo.

236

O triângulo de Leamer permite estudar, através da análise da dotação relativa de factores, os possíveis caminhos para o desenvolvimento que os diferentes países seguem. Assim, o autor concluiu que países ricos em recursos

Assim, dadas as actuais dotações de factores produtivos (escasso em capital, e relativamente mais abundante em trabalho não qualificado e em recursos naturais- terra), o país vai, com a acumulação de capital (capital estrangeiro mas também poupanças internas, nomeadamente da exploração de petróleo, como já se viu) e a crescente formação de recursos humanos (uma das prioridades referidas no Plano de Desenvolvimento Nacional de Timor-Leste237), passar para indústrias mais capital-intensivas, com a consequente deslocação dos trabalhadores dos trabalhos agro-florestais (primitiva e simples manufacturas intensivas em trabalho) para estes sectores mais intensivos em capital (numa fase inicial indústrias ligadas ao processamento de bens agro-florestais mais capital-intensivos; numa fase posterior, indústrias muito intensivas em capital físico e humano).

As reservas de crude e gás natural no Mar de Timor deverão representar, num futuro próximo (e por um período de cerca de vinte a trinta anos) importantes fontes de receitas e de acumulação de capital (se as autoridades souberem poupar parte dessas receitas, constituindo um Fundo de Poupança, como se define do Plano de Desenvolvimento Nacional e no documento base do Orçamento de Fontes Combinadas para 2002-2003). Note-se que, no entanto, Timor deverá fazer esforços no sentido de aumentar as suas receitas internas, para que não fique demasiado dependente das provenientes do Mar de Timor, e criar condições para a atracção do investimento estrangeiro, essencial, num país com poucos recursos financeiros, à acumulação de capital inerente ao desenvolvimento de indústrias mais capital-intensivas. Do mesmo modo, é importante que o país adopte uma política de escolarização e formação de capital humano238, de modo a que, como aconteceu em outros países ricos em recursos naturais239 (eventualmente até mais ricos que Timor), não hipoteque as hipóteses de passagem de indústrias ligadas ao sector primário intensivas em capital físico, para as que são intensivas em capital físico e humano e representam já um nível de desenvolvimento económico importante.

O país não deverá, assim, seguir uma linha de desenvolvimento equivalente à que seguiram os Novos Países Industrializados (incluindo Singapura), que não tinham inicialmente, como se viu, as mesmas dotações de factores que Timor apresenta, desde logo, eram muito pobres em recursos naturais.