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2.1.6 – A NÁLISE DA B IBLIOGRAFIA E A NEXOS DO GUIA CURRICULAR “P ROGRAMAS DE I NFORMAÇÃO P ROFISSIONAL ” COMO COMPONENTE CURRICULAR DO ENSINO DE 2º

No documento STELLA MARIS ALVARES LOBO (páginas 87-95)

Anexo II – Fontes de Informações educacionais e profissionais Anexo III – Indicações bibliográficas

2.1.6 – A NÁLISE DA B IBLIOGRAFIA E A NEXOS DO GUIA CURRICULAR “P ROGRAMAS DE I NFORMAÇÃO P ROFISSIONAL ” COMO COMPONENTE CURRICULAR DO ENSINO DE 2º

GRAU .

Para concluir a análise do guia curricular foram considerados a bibliografia e os anexos, pois no texto analisado foram encontradas parcas referências sobre Orientação Profissional e nenhuma referência sobre teorias de escolha.

A bibliografia citada como referência para formulação do guia compreende dezesseis títulos. Dos títulos listados, nove versam sobre procedimentos e técnicas de ensino tais como: formulação de objetivos educacionais; planejamento de ensino; avaliação e tecnologia educacional. Nessa lista encontram-se autores como Bloom, Tyler, Mager17, entre outros que se tornaram “clássicos” nas faculdades de Pedagogia e nos cursos de licenciatura.

Foram encontrados também dois títulos sobre Orientação Educacional, sendo um deles de autoria da própria CENP e apenas quatro títulos sobre

17 As obras desses autores, encontradas na bibliografia do guia curricular são: BLOOM, B. S.,

1973 Taxionomia dos Objetivos Educacionais: domínio cognitivo; MAGER, Robert F., 1972. Objetivos para um ensino efetivo; TYLER, Ralph W. 1975. Princípios básicos de currículo e ensino.

informação e / ou orientação profissional, sendo que destes dois títulos são artigos publicados na revista Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, um é o livro de Hoppock que, como citado anteriormente, não teve tradução para o português e por fim um título publicado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC).

Por fim, um único título, “O SENAC e a educação permanente” também publicado pelo SENAC, não pode ter seu conteúdo analisado por não conter referências precisas – não consta à data de publicação da obra, nem o autor. Além disso, a obra não aparece citada no texto e apenas por seu título, não foi possível identificar se o conteúdo estava inserido na área de Técnicas, Orientação Educacional ou Informação e /ou Orientação Profissional.

A bibliografia tornou-se um instrumento importante para a análise do guia curricular por reforçar a hipótese anterior que o guia visava, mais do que propor um conteúdo para auxiliar o professor, reforçar as idéias presentes na Lei 5692/71 de uma educação calcada nos critérios da racionalidade e da objetividade, organizadas a partir do planejamento e da avaliação.

A idéia de que a educação deveria ser planejada e avaliada representou uma inovação em termos educacionais no país. Porém, mesmo os teóricos mais conservadores sobre esse assunto não têm dúvidas sobre a quem cabe essa tarefa: ao professor. O guia, como visto no item 2.1 deste capitulo, desconsidera essa premissa e além de propor objetivos gerais e específicos para a atividade PIP, institui uma avaliação do processo calcada basicamente nos modelos tradicionais presentes nas demais disciplinas, inclusive sugerindo ao professor a aplicação de uma “prova escrita” ao final do ano letivo!

As poucas referências sobre o tema específico da Informação Profissional também reforçam a hipótese anterior. Com um programa pronto nas mãos, contendo objetivos gerais e específicos, com uma lista de tarefas a serem cumpridas durante o ano letivo contendo, inclusive, a forma como deveriam ser avaliadas, não havia espaço para discussão sobre o significado de inclusão de uma atividade dessa natureza na escola regular.

Como a atividade PIP concentrava seu conteúdo em apenas um dos componentes da Orientação Profissional – a Informação Profissional – referências sobre o autoconhecimento, levantamento de necessidades do grupo e teorias de escolha, não faziam sentido para a publicação.

Mas, caso o professor da atividade quisesse buscar mais referências sobre o tema, o guia curricular apresenta três anexos.

O Anexo I apresentava sugestões de roteiros variados (roteiro de entrevista com profissionais; roteiro para palestra, roteiro para visitas a empresas; roteiro para visitas a escolas; roteiro para elaboração de monografias profissionais sintéticas;etc.)

Para efeito da análise, será considerado o “Roteiro para entrevista com profissionais”, reproduzido no quadro abaixo, pois foi uma das atividades analisadas no decorrer deste trabalho.

Quadro 6 : Anexo I - Sugestão de roteiros

1 – Roteiro de entrevista com profissionais 1.1 – Dados gerais de identificação

1.1.1 Informante (nome) 1.1.2 Sexo

1.1.3 Profissão

1.1.3.1 Tempo de exercício da profissão 1.1.4 Função

1.1.4.1 tempo de exercício da função

1.1.5 Local de trabalho (nome e natureza da instituição) 1.1.6 Endereço profissional

1.2 – Nomes pelos quais a profissão é conhecida 1.3 – Descrição da s principais tarefas realizadas 1.4 – Condições de trabalho (ambiente físico e social) 1.5 – Ferramentas, máquinas e instrumentos utilizados 1.6 – Horário habitual de trabalho

1.7 – Tipo de trabalho: por conta própria ou como empregado 1.8 – Salário médio da profissão

1.9 – Ingresso na profissão depois de formado

1.10 – Curso (s) a ser (em) realizado (s) para desempenhar as atividades

profissionais

1.11 – Duração desse (s) curso (s)

1.12 – Local de realização desse (s) curso (s) 1.13 – Especializações admitidas na profissão 1.14 – Outros locais de trabalho

1.15 – Aspectos legais da profissão (regulamentação)

(Fonte: São Paulo, SE /CENP, 1978, p. 41) O “Roteiro de entrevista com profissionais” sugerido no guia curricular expõe lacunas já observadas no item 2.1.3 desse capítulo. Não são consideradas relevantes a curiosidade dos alunos a respeito do entrevistado e sua escolha e, portanto, estão ausentes informações como:

• Houve alguma alteração em suas escolhas, por conta do mercado de trabalho, da necessidade de garantir remuneração maior ou de inadequação na escolha inicial?

• Quais as restrições para o exercício da profissão escolhida (físicas, materiais, econômicas) ?

• O que representa crescimento nessa profissão (ascensão vertical / horizontal)?

Ou seja, são desconsideradas informações subjetivas fundamentais como o motivo da escolha e as observações do entrevistado a respeito de sua vida profissional, são também desconsideradas as possíveis informações críticas a respeito da atividade do entrevistado como, por exemplo: condições de trabalho, condições de promoção, rotatividade, etc.

Ao desconsiderar essas questões o roteiro sugerido pelo guia limita substancialmente a possibilidade de uma análise crítica a respeito da ocupação informada, tanto para o professor, como para os alunos da atividade.

Também não foi encontrado dentro do roteiro apresentado, um espaço para as possíveis considerações pessoais de cada aluno sobre o que fora visto e ouvido na entrevista. Dessa forma, a reflexão sobre a entrevista, já fragmentada e descontextualizada, tornava-se ainda menos substancial e com poucas possibilidades de gerar empatia entre os estudantes e o entrevistado, pois o roteiro apresentado enfatiza certezas e, em geral, o aluno dessa faixa etária (adolescente) está repleto de incertezas e dúvidas a respeito de suas escolhas e seu futuro profissional.

Ao indicar um roteiro tão específico para cada atividade o guia curricular reforça, mais uma vez, a hipótese de que fora produzido para que qualquer professor, habilitado ou não, possuísse um referencial mínimo para ministrar as aulas de PIP cabendo, portanto, a inclusão de observações tão detalhadas sobre fatos considerados como relevantes pela CENP e não pelos professores ou alunos, para a consecução das entrevistas.

O Anexo II apresentava as “Fontes de Informações Educacionais e Profissionais”. Nele estão listados vinte e um locais, com endereço e telefone, onde o professor da atividade poderia encontrar mais elementos informativos sobre as profissões. São locais como: O Centro de Integração Empresa – Escola; os Conselhos Regionais (de Medicina, Psicologia, Engenharia, etc.); as

Ordens (dos Advogados, dos Economistas); Institutos ligados à Orientação Profissional / Vocacional como o Instituo Roberto Simonsen e o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP); Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST) e UNESP; órgãos de mídia como a Fundação Padre Anchieta e o Jornal do Brasil; SENAC; SENAI e o Conselho Regional dos Técnicos em Administração.

O interessante desse anexo é observar que o número de instituições que oferecem informações sobre cursos superiores é substancialmente maior do que o número de instituições que oferecem informações sobre cursos de nível médio e a ausência de uma menção sobre os Sindicatos (de empregados, empregadores, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais) como uma fonte geradora de informações, principalmente para as ocupações de nível médio e técnico.

De qualquer maneira, a possibilidade de oferecer ao professor “fontes” onde pudesse, em conjunto com os alunos, buscar informações profissionais adicionais, apresentou-se como um fato relevante já que, como se sabe a informação profissional não se encontrava facilmente disponível como hoje em dia e as bibliotecas escolares não estavamaparelhadas para fornecer esse tipo de informação. Além disso, caso a cidade ou região onde estava situada a escola não tivesse profissionais ou empresas relacionadas a áreas que despertassem interesse nos alunos, caberia ao professor da atividade municiar o grupo com essas informações, por meio de catálogos, folhetos explicativos e outros.

Uma outra ausência sentida nas “fontes” relacionadas no Anexo II é a de órgãos públicos reguladores das atividades produtivas como o Ministério do Trabalho e as Secretarias Estaduais de Trabalho, já que no Brasil da década de 1970 (e ainda hoje) as atividades produtivas eram reguladas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) criada por Getúlio Vargas em 1943. Na CLT estavam (e ainda estão) dispostos, os direitos e deveres de trabalhadores e empregadores, sendo, portanto, informação importante para quem busca inserção no universo profissional.

Por fim, chegamos ao Anexo III onde estão as indicações bibliográficas que, supostamente, poderiam auxiliar o professor da atividade a obter mais

dados e informações sobre profissões que despertassem interesse no grupo de alunos.

No Anexo III um dado relevante é a diversidade de temas que compõe as indicações. São listados desde livros que versam sobre técnicas educacionais, como: planejamento, formulação de objetivos e avaliação, (os mesmo já citados anteriormente como referência para a formulação do guia curricular); obras sobre técnicas de dinâmica de grupo; sobre informação e orientação profissional e um grande número de livros com informações ocupacionais.

O total de obras que compõe a indicação bibliográfica é de cento e dois livros e / ou artigos. A grande maioria dessas obras trata especificamente sobre informação profissional, apresentadas como monografias profissionais sobre ocupações específicas, como por exemplo: o farmacêutico bioquímico, publicado pelo ISOP, em 1968. Aliás, uma grande parte das obras relacionadas foi editada pelo Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), outro grupo de obras editado pelo Centro de Estudos em Psicologia Aplicada (CEPA), outro pelo SENAC e outro, menos representativo, pela Fundação Carlos Chagas. Algumas das obras citadas como referência na busca de informação sobre uma ocupação específica foi escrita por profissionais da própria área (farmacêuticos, engenheiros) e outra, por pesquisadores em educação e / ou psicologia.

O quadro abaixo, criado para exemplificar a distribuição dos temas, apresenta três grandes divisões: monografias profissionais e catálogos profissionais; técnicas em educação e obras sobre informação e / ou orientação profissional.

Tabela 01 : Indicações bibliográficas

Temas Número de obras

encontradas na bibliografia Monografias Profissionais e Catálogos de

Profissões 61

Informação e /ou Orientação Profissional 23

Técnicas Educacionais 18

Total 102

(Fonte: São Paulo, SE /CENP, 1978) O mais interessante dessa indicação bibliografia é notar que grande parte das obras listadas como referência de informação profissional, foi editada antes ou durante 1968 anteriores, portanto, a entrada em vigor da Lei 5540/68 (Reforma Universitária) e da Lei 5692/71. Dessa forma, muitas das monografias profissionais estavam desatualizadas, no tocante a formação profissional e /ou técnica . Como exemplo, podemos citar a monografia sobre o técnico em fisioterapia, de 1968. No período anterior a Reforma Universitária cursos como: fisioterapia, nutrição, turismo e educação física, entre outros, eram oferecidos em nível técnico secundário e não como cursos universitários. Com a Reforma Universitária, muitos desses cursos passam a ser oferecidos em nível universitário. Alguns cursos, como nutrição e turismo, permaneceram nos dois níveis, técnico e universitário, outros como fisioterapia e educação física, deixaram de existir como cursos técnicos secundários, sendo somente oferecidos como cursos universitários.

Essa constatação encontra respaldo em Ferretti (1988, p.73), que realizou uma análise de diversos materiais impressos de Informação Profissional, vários elencados pelo guia curricular, apontando que: “No caso brasileiro, em particular, deve-se considerar que essa informação, [...] construída à base e semelhança de análises ocupacionais, peca também pela não atualização e pela extrema generalidade”.

Outro fato interessante é que dentro dos vários catálogos de profissões encontrados tais como: o dicionário de profissões do Centro de Integração Empresa–Escola(CIEE), o Cadastro Brasileiro de Ocupações do Departamento Nacional de Mão de Obra, o caderno de profissões do Jornal do Brasil / Shell, não existe nenhum da própria Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, informando sobre quais seriam os cursos técnicos existentes ou

previstos para serem implantados na rede estadual de ensino, em nível de 2º grau.

Apesar de numerosa e variada, as indicações bibliográficas do guia curricular não representam uma contribuição efetiva para o desenvolvimento da atividade, pois em sua grande maioria, os livros e catálogos listados eram de acesso restrito, não sendo distribuídos para todas as bibliotecas escolares e estavam desatualizados. Caberia, então, ao professor um esforço extra para reunir dados que estivessem atualizados e disponíveis.

Essa constatação é reforçada por Carvalho (1985) que teve acesso à única avaliação da atividade PIP, realizada pela CENP um ano após sua implantação. Nessa avaliação os professores da atividade, além de treinamento específico, solicitam “mais material de apoio”, demonstrando a dificuldade em conseguir levantar dados, em suas comunidades, sobre as profissões existentes em nível técnico ou universitário.

CAPÍTULO 3

No documento STELLA MARIS ALVARES LOBO (páginas 87-95)