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A NÃO-CUMULATIVIDADE E AS OPERAÇÕES COM CONTRIBUINTES OPTANTES PELO SIMPLES

No documento 5703 (páginas 46-50)

NACIONAL

Um último assunto deve ser analisado antes de finalizarmos este estudo: aquele que trata da limitação da não- cumulatividade do IPI nas operações realizadas com optantes do SIMPLES Nacional.70 Ressaltamos que não analisaremos a natureza jurídica do instituto, se novo tributo ou mera forma simplificada de recolhimento, na medida em que transbordaria os lindes deste estudo. Para o aprofundamento dessa análise recomendamos a leitura da excelente obra de CARLOS RENATO CUNHA, mestre em Direito do Estado pela UFPR.71

À semelhança do que dispunha a Lei nº. 9.317, de 05 de dezembro de 1996, em seu art. 5º, §5º, a Lei Complementar nº. 123/2006, em seu art. 23, prescreve que “As microempresas e

brasileiro segundo a interpretação das normas constitucionais. Ao contrário, estas últimas direcionam no sentido de, fora a problemática alusiva ao princípio da não- cumulatividade – e este pressupõe dupla incidência e não a incidência em certa base e isenção na seguinte –, ter-se como necessária, para caminhar-se no sentido do benefício, lei expressa, tal como finalizado no § 6º do artigo 150 e na alínea “a” do inciso II do § 2º do artigo 155. [...] Em síntese, presente o princípio da não- cumulatividade – e deste somente é possível falar quando há dupla incidência, sobreposição –, o direito do contribuinte ao crédito considerado o que recolhido em operação anterior, tendo-se a isenção ou alíquota zero na operação final, somente surgiu – e mesmo assim implicitamente, se é que isso é possível – com a edição da Lei nº 9.779/99. Não implicou ela mera explicitação de um direito. Entender-se, como fez a Corte de origem, que no caso pouco importa o período alusivo à operação, se anterior à lei comentada ou posterior, implica fugir à ordem natural das coisas, olvidando-se o princípio da não-cumulatividade no que sem o envolvimento de dupla incidência, caminhou-se, sem previsão em lei, no sentido do creditamento”.

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Instituído pela Lei Complementar nº. 123, de 14 de dezembro de 2006.

71

O SIMPLES Nacional, a norma tributária e o Princípio Federativo: Limites da

as empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional não farão jus à apropriação nem transferirão créditos relativos a impostos ou contribuições abrangidos pelo Simples Nacional”.72

Diante disso, o Superior Tribunal de Justiça vedava o aproveitamento dos créditos pelo optante pelo SIMPLES, conforme demonstram vários de seus julgados. Não há qualquer reparo neste entendimento, na medida em que a adesão ao SIMPLES não é compulsória, sendo que aquele que optar pelo enquadramento deverá observar as condicionantes específicas, dentre elas, a proibição ao aproveitamento de créditos de IPI.73

Ocorre que o Superior Tribunal de Justiça, agora de maneira equivocada, afasta a possibilidade de creditamento por parte daqueles que adquirem produtos industrializados de optantes pelo SIMPLES Nacional. Note-se, por exemplo, que por ocasião do julgamento do Agravo Regimental no Recurso Especial nº. 1.066.597/PR, ocorrido em 14 de outubro de 2008, entendeu o Superior Tribunal de Justiça que “...é ilegal o creditamento de IPI pelas adquirentes de mercadorias advindas

72

O mencionado § 5° prescrevia que “A inscrição no SIMPLES veda, para a microempresa ou empresa de pequeno porte, a utilização ou destinação de qualquer valor a título de incentivo fiscal, bem assim a apropriação ou a transferência de créditos relativos ao IPI e ao ICMS”.

73

Observe-se, para tanto, o posicionamento de ambas as Turmas do Superior Tribunal de Justiça. Por ocasião do julgamento dos Embargos de Declaração no Agravo n. 940.592/PR, relatado pela Exma. Ministra Denise Arruda, julgado em 04 de dezembro de 2007, a Primeira Turma afirmou que “...a orientação das Turmas que integram a Primeira Seção desta Corte firmou-se no sentido de que, na hipótese de adesão ao SIMPLES, a empresa recolhe os tributos de forma unificada e, em relação ao IPI, ele incide cumulado com outros impostos, por alíquota fixa sobre a receita bruta, e não sobre os produtos vendidos. Assim, mostra-se inviável o creditamento pretendido”. A Segunda Turma, por sua vez, por ocasião do julgamento, em 25 de março de 2008, do Recurso Especial n. 843.291/PR, relatado pela Exma. Ministra ELIANA CALMON, firmou o entendimento que “As empresas optantes pelo SIMPLES não fazem jus ao creditamento do IPI, mesmo diante do previsto no art. 11 da Lei 9.779/99, uma vez que já usufruem de outros benefícios tributários”.

de empresas optantes do SIMPLES, mesmo sendo empresas adquirentes não-optantes, pois o IPI passa a compor o sistema de tributação da Lei n.º 9.317/96”.74

Este posicionamento do Superior Tribunal de Justiça foi corretamente criticado por ANDRÉ MENDES MOREIRA, por JAMES MARINS e MARCELO BERTOLDI e por DÉBORA SOTTO, na medida em que o fato de o adquirente realizar negócios jurídicos com contribuinte optante pelo SIMPLES Nacional não tem o condão de proibir o seu creditamento, garantido constitucionalmente.75

74

Superior Tribunal de Justiça, AgRg no REsp 1066597/PR, relator Ministro FRANCISCO FALCÃO,disponível em www.stj.jus.br, acesso em 25.05.2011.

75

Em suas palavras: “…não se pode tolher o direito assegurado pela Constituição e pelo CTN de abatimento do IPI pag nas operações anteriores. O recolhimento do IPI por qualquer contribuinte, optante ou não por regimes especiais, deve, obrigatoriamente, gerar créditos aproveitáveis para o adquirente de suas mercadorias (desde que este também seja contribuinte do IPI, do contrário arcará com o ônus do imposto na qualidade de contribuinte de facto) – A. M. MOREIRA, A não-

cumulatividade dos tributos. São Paulo : Noeses, 2010, p. 432; No mesmo sentido

são as palavras de J. MARINS e de M. M. BERTOLDI, para os quais “Caso o adquirente seja empresa industrial ou comercial não optante do regime especial, a vedação ao destaque de créditos referentes aos tributos de natureza não-cumulativa gera evidentes problemas de compatibilidade com a Constituição. Como no âmbito do Simples Nacional estão incluídos tributos regidos pela regra constitucional da não-cumulatividade, como nos casos do IPI [...], a proibição da compensação por quem venha a adquirir mercadorias de ME ou EPP optante pelo Simples Nacional promove a cumulatividade. Isso porque, para as empresas comerciais e industriais, uma parcela do tributo recolhido pela optante refere-se justamente ao IPI e ao ICMS, conforme os Anexos I e II da LC 123/2006, e a não-cumulatividade define-se constitucionalmente pelo direito a ‘compensar o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores’” – Simples Nacional: Estatuto da

Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte comentado: LC 123, de 14.12.2006; LC 127, de 14.08.2007. São Paulo : RT, 2007, p. 155. Por fim, este é o entendimento

de DÉBORA SOTTO, para quem “Eventuais dificuldades práticas, pertinentes à conciliação do sistema simplificado com a técnica da não-cumulatividade, não podem se sobrepor ao desiderato constitucional, vez que o direito de abater não pode ser limitado pelo legislador infraconstitucional, em prejuízo de terceiros não optantes do SIMPLES NACIONAL. Daí concluirmos pela inconstitucionalidade das disposições, no que diz respeito ao IPI e ao ICMS” – Tributação da Microempresa

(ME) e da Empresa de Pequeno Porte (EPP). São Paulo : Quartier Latin, 2007, p.

De qualquer forma, parece-nos que compete ao Supremo Tribunal Federal dar a última palavra sobre a inconstitucionalidade da limitação imposta pelo art. 23 da Lei Complementar nº. 123/2006.

8. CONCLUSÃO

Ao final dessa exposição, lamentamos. E lamentamos porque a Não-cumulatividade no IPI, como concebida pelo Legislador Constituinte, não mais existe. A interpretação dos casos analisados aponta que a Não-cumulatividade teve seus contornos definidos pela interpretação literal, e não pela sistemática. E essa interpretação acaba por implicar aumento de arrecadação, o que vai de encontro com o ímpeto arrecadatório do Poder Executivo, e na contramão dos direitos fundamentais dos contribuintes.

Não somos, de forma alguma, contra o aumento da arrecadação constitucional de tributos. A arrecadação é saudável e necessária, desde que observe as prescrições constitucionais. O tributo, lembremo-nos, é uma das receitas derivadas que mantém o Estado e possibilita o desempenho de seus serviços essenciais.

Mas há, ainda, outro problema. Parece-nos que por ocasião da análise da questão, o Supremo Tribunal Federal acabou por desempenhar tarefa de competência exclusiva do Poder Legislativo, na medida em que legisla positivamente, realizando profundas alterações estruturais na Não- cumulatividade do IPI, o que fere, também, o Princípio da Separação das Funções do Estado, presente no art. 2º do Texto Constitucional que é, inclusive, cláusula pétrea, conforme dispõe o inciso III do § 4º do art. 60 da Constituição Federal.

No documento 5703 (páginas 46-50)

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