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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.5 GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL

2.5.2 Níveis diferenciados de Governança Corporativa da BM&FBOVESPA

De acordo com Silva (2012a) a BM&FBOVESPA, ao perceber que para desenvolver o mercado de capitais brasileiro e atrair novos investidores e novas empresas era preciso incentivar a adoção de regras mais rígidas de Governança Corporativa, assim criou em 2000, três novos segmentos de listagem, chamados Nível 1 (Um) (N1), Nível 2 (Dois) (N2) e Novo

Mercado (NM). A alternativa até então, era o Mercado Tradicional (MB), em que as empresas eram e ainda são obrigadas apenas ao cumprimento da Lei das Sociedades por Ações (Lei das SAs.).

Os novos segmentos representavam um selo de qualidade e marca de compromisso. Possuíam regras progressivamente mais rigorosas de Governança Corporativa, além das obrigatórias por lei. Sendo, o Nível 1 (Um) com regras mais brandas e o Novo Mercado mais rigoroso. A criação dos novos segmentos de listagem possibilitou classificar as empresas quanto ao nível de adoção às melhores práticas de Governança Corporativa, além de estabelecer regras mais severas, complementares à legislação vigente. Para Silva (2012a) o mercado acionário brasileiro ainda é pouco representativo. Uma das principais causas, segundo o autor, são a falta de transparência da gestão e a ausência de instrumentos eficazes de monitoramento das companhias.

A adesão aos níveis diferenciados de GC, segundo Ferreira (2012) tem sido uma das alternativas encontradas pelas empresas brasileiras para atrair novos investidores, facilitando o acesso a novas fontes de financiamento, a um custo menor.

De acordo com Silva (2012a) o Novo Mercado foi inspirado no Neuer Market alemão, criado em 1997. É o nível mais exigente de Governança Corporativa da BM&FBOVESPA. Voltado para empresas que desejam abrir seu capital. Conforme a BM&FBOVESPA (2015), este segmento conduz as empresas ao mais alto padrão de Governança Corporativa.

O Nível 1 (Um), de acordo com Silva (2012a) é destinado, principalmente, a empresas que faziam parte do mercado Tradicional e ao migrarem, se comprometem a fornecer informações adicionais que ajudam na avaliação do valor da companhia, além das obrigatórias por lei. No Nível 2 (Dois), são cumpridas todas as obrigações do Nível 1 (Um), além de fornecer maior transparência de informações. O Nível 2 (Dois) é similar ao Novo Mercado, porém, com algumas exceções, como o direito de manter ações preferenciais (PN). Essas ações podem dar direito a voto em casos excepcionais, como aprovação de fusões e incorporações da empresa e contratos entre o acionista controlador e a companhia, sempre que esses assuntos forem tratados em assembleias de acionistas. Outro diferencial no Nível 2 (Dois) é a equidade, quando o controlador vende suas ações, os demais detentores de Ações Ordinárias (ON) e Preferenciais (PN) têm o direito de vender suas ações nas mesmas condições do controlador, direito de tag along 100% (BM&FBOVESPA, 2015).

Em 2005, a BM&FBOVESPA criou o BOVESPA Mais (MA) destinado às empresas que desejam acesso ao mercado de capitais de forma gradual, que preferem uma adaptação antes da oferta pública de ações. Neste segmento são permitidas apenas ações ordinárias (ON).

O ingresso ao BOVESPA Mais deixa as empresas em uma espécie de “vitrine”, aumentando sua visibilidade para investidores. As empresas podem fazer listagem no BOVESPA Mais e têm até sete anos para realizar o IPO. Este segmento possibilita a captação de recursos menores, se comparados aos do Novo Mercado, mas em volume suficiente para financiar os projetos de crescimento das empresas. Em outubro de 2014, criou-se o BOVESPA Mais Nível 2 (Dois) (M2), com o objetivo de atrair pequenas e médias empresas à Bolsa. Uma das diferenças desse segmento com o BOVESPA Mais é a possibilidade de emissão de ações ON e PN. Em ambos segmentos, as empresas se comprometem com elevados padrões de Governança Corporativa e transparência com o mercado (BM&FBOVESPA, 2015).

A BM&FBOVESPA possui atualmente seis segmentos de listagem, sendo: BOVESPA Mais (MA), BOVESPA Mais Nível 2 (Dois) (N2), Novo Mercado (NM), Nível 2 (Dois) de Governança Corporativa (N2), Nível 1 (Um) de Governança Corporativa (N1), Tradicional - BOVESPA (MB) (BM&FBOVESPA, 2015).

Um dos grandes incentivadores à adesão aos níveis diferenciados de Governança Corporativa da BM&FBOVESPA foi o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que em outubro de 2000, lançou o Programa de apoio às Novas Sociedades Anônimas.

Para proporcionar uma melhor compreensão das diferenças existentes entre os segmentos de listagem, a BM&FBOVESPA, disponibilizou um quadro com as principais informações de todos os segmentos de listagem, exposto no quadro 3.

Quadro 3 – Comparativo dos segmentos de listagem

Fonte: BM&FBOVESPA (2015).

BOVESPA MAIS BOVESPA MAIS

NÍVEL 2 NOVO MERCADO NÍVEL 2 NÍVEL 1 TRADICIONAL

Características das Ações Emitidas Permite a existência somente de ações ON Permite a existência de ações ON e PN Permite a existência somente de ações ON Permite a existência de ações ON e PN (com direitos adicionais) Percentual Mínimo de Ações em Circulação (free float) Não há regra Distribuições

públicas de ações Não há regra

Vedação a disposições estatutárias Composição do Conselho de Administração Mínimo de 3 membros (conforme legislação), com mandato unificado de até 2 anos Mínimo de 3 membros (conforme legislação) Vedação à acumulação de cargos Não há regra Obrigação do Conselho de Administração Demonstrações Financeiras Reunião pública anual Facultativa Calendário de eventos corporativos Facultativo Divulgação adicional de informações Não há regra Concessão de Tag Along 100% para ações ON 100% para ações ON e PN 100% para ações ON 100% para ações ON e PN Oferta pública de aquisição de ações no mínimo pelo valor econômico Obrigatoriedade em caso de cancelamento de registro ou saída do segmento, exceto se houver migração para Novo Mercado Obrigatoriedade em caso de cancelamento de registro ou saída do segmento, exceto se houver migração para Novo Mercado ou Nível 2 Adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado

Política de negociação de valores mobiliários

Política de negociação de valores mobiliários e código de conduta

80% para ações ON (conforme legislação)

Obrigatoriedade em caso de cancelamento de registro ou saída do segmento

Conforme legislação

Obrigatório Facultativo

Conforme legislação Traduzidas para o inglês Conforme legislação Facultativa Obrigatória

Obrigatório

Mínimo de 3 membros (conforme legislação), com mandato unificado de até 2 anos

Mínimo de 5 membros, dos quais pelo menos 20% devem ser independentes com mandato unificado de até 2 anos

Não há regra

Presidente do conselho e diretor presidente ou principal executivo pela mesma pessoa (carência de 3 anos a partir da adesão)

Não há regra

Manifestação sobre qualquer oferta pública de aquisição de ações da companhia

Não há regra

Permite a existência de ações ON e PN (conforme legislação)

25% de free float até o 7º ano de

listagem No mínimo 25% de free float

Não há regra Esforços de dispersão acionária

Quórum qualificado e "cláusulas pétreas"

Limitação de voto inferior a 5% do capital, quórum qualificado e "cláusulas pétreas”

A ação objetivava estimular o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, com a adoção de boas práticas de Governança Corporativa por parte das empresas, o que atrairia novos investimentos, colocando em prática o conceito de que a melhor governança reduz o custo do capital. A participação do BNDES foi além do incentivo, participando também, por meio da subscrição de ações ou debêntures conversíveis em ações, no máximo 35% (trina e cinco por cento) no capital futuro da empresa (SILVA, 2012a).

O BNDES atua permanentemente na difusão de práticas da Governança Corporativa nas empresas em que participa, na promoção da maior transparência e respeito aos acionistas minoritários, em conjunto com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a BM&FBOVESPA (BNDES, 2015).

Os incentivos à abertura de capital existem, mas uma característica das empresas brasileiras, mesmo ao realizar essa abertura, é manter o controle acionário (SIVEIRA, 2005; SILVA; LEAL, 2007; ROSSETTI; ANDRADE, 2012; KPMG, 2013). O modelo de estrutura de propriedade e controle nas empresas, conforme Rossetti e Andrade (2012) compõem um círculo vicioso de raízes históricas que contribuem para a provável lentidão rumo a um maior engajamento na adoção de processos e boas práticas de governança no país.

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