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Nível Representacional

No documento ANA PAULA DE OLIVEIRA (páginas 38-42)

Capítulo 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.2 A Gramática Discursivo-Funcional

1.2.2 A organização em níveis e camadas

1.2.2.2 Nível Representacional

Enquanto o Nível Interpessoal diz respeito a questões pragmáticas, o Nível Representacional está relacionado aos aspectos semânticos da unidade linguística, ou seja, lida com as designações. De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2008, p. 128), o termo ‘semântico’ é, então, restrito aos modos como a língua se relaciona com os possíveis mundos que ela descreve.

As unidades, nesse nível, são descritas de acordo com o tipo de entidade que designam. Tais entidades são classificadas em diferentes ordens, a saber: entidades de terceira ordem ou Conteúdos Proposicionais, entidades de segunda ordem ou Estados-de-Coisas, entidades de primeira ordem ou Indivíduos e entidades de zero ordem ou Propriedades.

A figura abaixo representa a relação das unidades no Nível Representacional. Descreveremos cada uma delas adiante.

(π p1: Conteúdo Proposicional (π ep1: Episódio (π e1: Estado-de-Coisas [(π f1: [ Propriedade Configuracional (π f1: ♦ (f1): [σ (f1)Φ]) Propriedade Lexical (π x1:♦ (x1): [σ (x1)Φ])Φ Indivíduos ... ] (f1): [σ (f1)Φ]) Propriedade Configuracional (e1)Φ]: [σ (e1)Φ]) Estado-de-Coisas

(ep1): [σ (ep1)Φ]) Episódio

De acordo com Hengeveld e Mackenzie (2008), Conteúdos Proposicionais (p) são construtos mentais que não existem nem no espaço, nem no tempo, mas apenas na mente daqueles que os elaboram. Desse modo, conhecimentos, crenças e expectativas são classificados como Conteúdos Proposicionais.

Podem ser factuais, quando se referem ao mundo real, ou não factuais quando se referem ao mundo imaginário do falante. Além disso, podem ser qualificados em termos de atitudes proposicionais (certeza, dúvida, descrença) e de sua origem (conhecimento partilhado, evidência).

Embora o Conteúdo Comunicado de um Ato possa corresponder a um Conteúdo Proposicional, isso não significa dizer que se tratam de unidades idênticas. A principal diferença entre essas duas camadas consiste no fato de que Conteúdos Comunicados são atribuídos ao falante, o que nem sempre acontece com Conteúdos Proposicionais, que podem ser atribuídos a outros indivíduos que não o Falante.

Segundo Hengeveld e Mackenzie (2009, p. 14), Conteúdos Proposicionais contêm Episódios (ep), isto é, uma série de Estados-de-Coisas tematicamente coerentes, com unidade de Tempo, Lugar e Indivíduo .

Estados-de-Coisas (e) correspondem a eventos ou estados que podem ser localizados no tempo relativo e avaliados em termos de sua realidade. Podem ser ditos “(não) ocorrer”, “(não) acontecer” ou “(não) ser o caso” em qualquer ponto ou intervalo no tempo.

Além disso, podemos também qualificar Estados-de-Coisas em termos de sua ocorrência, submetendo-os a modificadores que indiquem Tempo relativo, Lugar, Frequência, Realidade, cenário físico ou cognitivo.

A Propriedade Configuracional (f), que corresponde ao predicado e seus argumentos, é formada por categorias semânticas equivalentes, ou seja, não mantém uma relação de hierarquia entre si.

Indivíduos (x), ou entidades de primeira ordem, dizem respeito aos objetos concretos que podem ser localizados no espaço e podem ser avaliados em termos de sua existência. Já as Propriedades (ou relações), são entidades de zero ordem, caracterizadas por não terem existência independente e poderem ser avaliadas somente em termos de sua aplicabilidade.

No Nível Representacional, além das quatro categorias semânticas tradicionalmente consideradas – Indivíduos, Propriedades, Estados-de-Coisas e Conteúdos Proposicionais – a GDF acrescenta mais cinco subcategorias que entram na configuração de uma Propriedade Configuracional – Lugar, Tempo, Modo, Razão e Quantidade – uma vez que para muitas línguas determinada categoria semântica é muito relevante, para outras, no entanto, há outros processos gramaticais que só são relevantes para as subclasses dessa categoria semântica.

Por Lugar (l) podemos entender a delimitação espacial designada por formas linguísticas específicas. Esse conceito pode variar de acordo com o contexto ou a depender das intenções de quem fala, por exemplo, quando um corretor diz “casa”, ele se refere a um Indivíduo, contudo, para um comprador, trata-se de um lugar para viver.

Para designar o Tempo (t), as línguas têm expressões especializadas. Algumas estão ligadas à sua interpretação contextual no momento de fala (hoje, no próximo ano), outras estabelecem posições relativas na linha do tempo (antes de sexta-feira, durante), enquanto outras relacionam com o calendário estabelecido socialmente (Domingo, Natal). Algumas expressões temporais identificam um ponto na linha do tempo (momento, meio-dia), outras se estendem naquela linha (período, abril). Na GDF, todas essas expressões têm em comum o fato de serem introduzidas pela variável t.

Ao lado de Lugar e Tempo, Modo (m) é uma categoria que indica a maneira como o Estado-de-Coisas se realiza. Em outras palavras, as línguas nos permitem falar não apenas sobre onde e quando, mas também como. Por essa razão, a GDF reconhece a variável m para casos em que a língua tem expressões especializadas para designar Modos.

Em algumas línguas há evidência para a existência da categoria semântica Razão (r) ou da existência de uma palavra interrogativa de Razão, como why, no Inglês, e por quê, em português. Razões devem ser consideradas um tipo especial de Conteúdo Proposicional, dado que representam as intenções (ou reflexões) que levam um agente humano a agir de certa forma.

O termo Quantidade (q), por sua vez, é utilizado tanto para fenômenos incontáveis quanto para os fenômenos contáveis. Embora as palavras quantidade e número sejam núcleos típicos de expressões Quantitativas, no uso relacional, elas irão ocorrer em expressões com um núcleo configuracional, por exemplo, em “uma grande quantidade de queijo”, o que é designado é o queijo e não uma abstração.

O quadro seguinte resume e exemplifica as categorias e subcategorias semânticas distinguidas na GDF:

Quadro 1. Categorias Semânticas (HENGEVELD e MACKENZIE, 2008, p. 136)

Descrição Variável Exemplo

Propriedade f Cor

Indivíduo x Cadeira

Estado-de-Coisas e Encontro

Conteúdo Proposicional p Ideia

Lugar l Topo Tempo t Semana Episódio ep Incidente Modo m Maneira Razão r Razão Quantidade q Litro

No documento ANA PAULA DE OLIVEIRA (páginas 38-42)

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