• Nenhum resultado encontrado

3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

3.4. Núcleo de Estágio

“Se partilhar for dar um pouco de si,

Se partilhar for dividir um pouco de nós, Então, há uma parte de nós, Em toda a parte, de uma parte de ti.

(Ferreira, 2013, p. 120)

Segundo as autoras Batista e Queirós (2013), a PES decorre em núcleo de estágio que, no meu caso, apenas fizeram parte dois EE, juntamente com a PO e PC.

Visto que este estágio assenta no desenvolvimento de competências, associadas a um desempenho fundamentado numa ética profissional em que se destaca o trabalho em equipa, a existência dos NE vai de encontro a este princípio, onde reina a cooperação e a entreajuda entre os demais indivíduos.

O facto do processo E-A decorrer na presença de diversos grupos (em diferentes comunidades: PC e estagiários; PO e respetivos núcleos de estágio; professores da escola; entre outros) favorece a partilha de conceções e pareceres que, por sua vez, conduzem a práticas pedagógicas individuais mais adequadas às exigências concretas (Batista & Queirós, 2013). Os relacionamentos desenvolvidos e alimentados por e entre todos os elementos pertencentes ao núcleo, devem espelhar um ambiente de partilha e

emancipação. Rolim (2013) acrescenta ainda o dever dos agentes responsáveis pela orientação da PES na promoção de um relacionamento de cooperação e colaboração para com o formando. Desta forma, é possível aferir ao estagiário a “oportunidade de apresentar as suas conceções, defender os seus pontos de

vista e as suas crenças, refletir e justificar as suas opções, (…)” (p. 59),

conferindo-lhe uma responsabilidade acrescida na construção do estágio.

3.4.1. O meu Braço Direito.

Como referi anteriormente, no NE da EC apenas fizeram parte dois elementos, nomeadamente eu e o meu colega e amigo Edgar Cruz. Apesar de apenas nos termos cruzado no primeiro ano do 2º Ciclo de estudos em MEEFEBS, ambos construímos uma relação de amizade que acabou por alicerçar o nosso percurso e ajudarmo-nos mutuamente ao longo de um ano árduo e frágil.

Ao longo do ano foram muitos os momentos de partilha. Criamos (por iniciativa da nossa PC) algumas rotinas fundamentais que proporcionaram momentos de reflexão e discussão, nomeadamente o assistir a todas as aulas um do outro e, no final de cada uma dessas aulas, em conjunto com a PC, conversarmos sobre o que correu melhor e o que poderia ter sido diferente.

“Após ter assistido à aula do meu colega do núcleo de estágio e em conversa

com a Professora Felismina, observei algumas dificuldades com que me defronto igualmente nas minhas aulas: a comunicação com os alunos e a perceção que eles têm do conteúdo dos exercícios que realizam após a nossa explicação. Feita a reflexão da aula do meu colega e após uma discussão sobre algumas soluções para combater esta “falha de comunicação” entre nós e os alunos, decidi na minha aula utilizar outras técnicas para que, não só os alunos compreendessem os exercícios, como também idealizar que a sua dedicação fosse maior por perceberem qual o objetivo do mesmo.” (Reflexão Aula 10- 7 de Out. de 2016)

Para além da discussão sobre os constrangimentos da aula em si, surgiam igualmente outros assuntos de interesse:

“Em conversa com o meu colega do núcleo de estágio, apercebi-me que o

ato de ensinar e o processo de ensino-aprendizagem é realmente demorado e os próprios alunos, cada um a seu ritmo, necessitam de tempo para absorver e tornar os comportamentos adequados, mas pouco familiares, em comportamentos naturais e presentes em todas as aulas.” (Reflexão Aulas 8 e

9- 4 de Out. de 2016)

Procuramos, sempre que possível, organizar, planear e/ou elaborar em conjunto as tarefas propostas nos vários momentos ao longo do ano. Relativamente aos métodos e singularidades de cada um, talvez por já nos conhecermos tão bem e por confiarmos nas competências e capacidades que cada um detém, conseguimos sempre trabalhar de forma harmoniosa e eficiente. Esta partilha tornou bem mais fácil a minha adaptação à azáfama que tanto caracteriza o ano de estágio e sei que o sentimento é recíproco por parte do meu colega. Ferreira (2013) que, tal como nós, foi em tempos uma professora- estagiária, define o ato de partilhar como “um verbo construtivo da nossa pessoa,

é um verbo que nos constrói” (p. 120) e consigo identificar-me com estas

palavras. Senti, de verdade, o apoio de ter alguém com quem partilhar os meus feitos e as minhas angústias e sentir, genuinamente, que o sucesso era de ambos e nunca de um só.

3.4.2. A minha Professora Cooperante.

Como professora em formação inicial, as ideias formuladas sobre o que considero as melhores estratégias e procedimentos de ensino foram criadas pelas minhas vivências passadas enquanto aluna. Isto é, o que considero ser um “bom” professor, qual o ensino mais eficaz, quais os exercícios que poderão enriquecer o processo de aprendizagem dos alunos, entre outros, refletem as imagens que guardo do que anteriormente os meus professores reproduziram

comigo/com a minha turma. Naturalmente, existe uma tendência para replicar algumas das estratégias/ comportamentos atualmente, agora no papel de docente.

Relativamente à conceção desta ideia, Rodrigues (2013) defende que a prática pedagógica no processo de estágio visa o desenvolvimento qualitativo das estruturas psicossociais, permitindo ao aluno adotar uma diferente perceção e compreensão dos constrangimentos e situações adversas com que se irá deparar e envolver. “A aprendizagem, neste caso, deverá constituir-se como

uma mudança no que diz respeito às conceções que o estagiário já possui sobre o processo educativo” (p. 98), sendo o papel do PO fundamental para provocar

estas alterações.

É, portanto, da responsabilidade do PC, a ação de acompanhar e orientar o EE ao longo da sua prática pedagógica. Este agente é igualmente um Professor, à partida com mais experiência e com um conhecimento privilegiado sobre o espaço escolar, que tem por missão “ensinar e facilitar a aprendizagem quer dos alunos, quer dos formandos” (Rodrigues, 2013). No mesmo sentido, Alcatrão e Tavares (2013) conotam dupla responsabilidade ao EE, sendo este aluno e professor em simultâneo. O mesmo autor reforça o papel do PC como sujeito facilitador no desenvolvimento professor-estagiário, o que significa que as aprendizagens do EE irão resultar como reflexos na sua forma de ensinar o que, por sua vez, influenciará igualmente as aprendizagens dos alunos.

Não se espera que o PC nos faculte todas as soluções para os nossos problemas, que nos diga exatamente o que fazer para determinada situação. Não deve ser essa a sua metodologia de trabalho, pois já diz o velho ditado “quem não arrisca, não petisca” e adequa-se perfeitamente na nossa ação enquanto futuros formadores. A construção da personalidade profissional do professor-estagiário vai surgindo à medida que vão enfrentando problemas reais no contexto escolar e que, naturalmente, tentem combater e arranjar soluções para os resolver. Só se torna possível esse cenário se a supervisão, por parte do orientador, promover a liberdade necessária ao seu EE. Esta postura do docente permite que o seu estagiário explore e experimente métodos, técnicas e modelos educacionais, desenvolvendo a sua capacidade reflexiva. Em

simultâneo, poderá ainda providenciar a segurança, o incentivo e a orientação necessários para o sucesso do seu formando como futuro docente.

No meu caso, a sorte bateu-me à porta! A minha PO, para além de um ser humano extraordinário é, igualmente, uma profissional de excelência. Não só conseguiu fomentar ainda mais o meu gosto pelo ensino, como me desafiou todos os dias a me superar e inovar. Incentivou-me a usufruir de componentes como a criatividade e a originalidade, visando não só a minha evolução, como a dos meus/seus educandos. Enquanto interveniente, permitiu-me errar vezes sem conta e encorajou a autonomia na minha atuação. A sua liberdade perante as minhas opções e ações no terreno permitiu um crescimento profissional muito mais autêntico, uma vez que as dúvidas e problemas que iam surgindo ao longo do ano letivo partiam sempre das minhas tomadas de decisão e performance. Possibilitou-me aprender com os meus próprios erros e tornar as minhas dificuldades num mecanismo de formação pessoal e profissional.

Esteve sempre presente, nas angústias e nas alegrias, nos momentos de partilha e nos diálogos informais, nas reflexões e nas sugestões, nas críticas construtivas e nos elogios. Possibilitou-me construir e desenvolver uma postura profissional assente em firmes alicerces de conhecimento, utilizando estratégias que me permitiram encontrar o meu caminho para o expoente da profissão.

Figurativamente, representou o mapa que me mostrou os possíveis caminhos entre um ponto de partida e um destino (Ferreira, 2013) e estar-lhe-ei eternamente grata por este magnífico ano.