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para a comemoração do 25" aniversãrio da LatínAmerican Perspectíves, gostaria de indicar alguns pontos que devem se constituir num dos possíveiS eixos temãticos da Revista, para a nova fase que se inicia. Menos do que olhar para o seu passado, gostaria de indicar um con­ junto de problemãticas que me parecem de extrema relevãncia no

mundo contemporãneo. Dada a impossibilidade de tratá-las de modo mais detalhado, no ámbito deste pequeno texto, procuro tão-somen­ te indicá-las sob a forma de notas.

1) No limiar do século XXI, o projeto socialista encontra-se em con­ dições de um balanço mais conclusivo: derrotadas as suas mais impor­ tantes experiéncias, com a URSS ã frente, é possível constatar que es­ ses projetas não foram capazes de derrotar o sistema de metabolismo sociál do capital. Esse sistema, constituído pelo tripé capital, trabalho e Estado, não pode ser superado sem a eliminação do conjunto dos ele­ mentos que o compreendem. Não basta eliminar um ou mesmo dois de seus pólos. O desafio é superar o tripé, nele incluída a divisão social hierárquica do trabalho que subordina o trabalho ao capital. Por não 1 Publicado na Revista Latín American Perspectives. VaI. 25-6, número especial de

25 anos, novembro de 1998, Califórnia.

é criar e inventar novas formas de atuação autônomas, capazes de

articular e dar centralidade ãs ações de classe, O fim da separação,

introduzida pelo capital, entre ação econõmica, realizada. pelos. sin­

dicatos, e ação político-parlamentar, realizada pelos partIdos, e ab­ solutamente imperioso. A luta contra o domínio do capital deve ar­

ticular luta social e luta política num complexo indissociáveL

6) O mundo do trabalho tem cada vez mais uma conformação mundializada. Com a expansão do capital em escala global e a nova forma assumida pela divisão internacional do trabalho, as respos­ tas do movimento dos trabalhadores assumem cada vez maIS um sentido universalizante. Cada vez mais as lutas de recorte nacional devem estar articuladas com uma luta de amplitude internacionaL A transnacionalização do capital e do seu sistema produtivo obriga ainda mais a classe trabalhadora a pensar nas fo rmas internacio-

nais da sua ação, confrontação e solidarkdade. _ _ .

7) A classe trabalhadora no mundo contemporaneo e maIS com­

plexa e heterogénea do que aquela existente durante o penado de

expansão do fo rdismo. O resgate do sentido de pertencimento de clas­

se contra as inúmeras fraturas, objetivas e subjetivas , impostas pelo

ca ital, é um dos seus desafios mais prementes, Impedir que os tra­ balhadores precarizados fiquem à margem das formas de orgamza­ ção social e política de classe é desafio imperioso o mundo con­

temporàneo. O entendimento das complexas conexoes entre .classe

e género, entre trabalhadores "estáveis" e trabalhadores precanzados, entre trabalhadores nacionais e trabalhadores imigrantes, entre tra­ balhadores qualificados e trabalhadores sem qualificação, entre tra­ balhadores jovens e velhos, entre trabalhadores incluído e desem­

pregados, enílm, entre tantas fr aturas que o capItal Impoe obre a

classe trabalhadora, torna-se fu ndamental, tanto para o movImento

operário latino-americano como para a refle ão da e_squerd . O res­

gate do sentido de pertencimento de classe e uestao crUCIal nesta virada de século.

Por isso penso que, na pauta da LAP, que se abre para essa no a

fase de sua história, essas questões devem merecer sua reflexao

terem avançado nessa direção, os palses pós-capitalistas foram incapa­ zes de romper a lógica do capitaL Penso que a reflexão sobre esse pon­ to é um primeiro e decisivo desafio,

2) A experiência do "socialismo num só país" ou mesmo num

conjunto limitado de países é um empreendimento também fadado

ã derrota, Como disse Marx, o socialismo é um processo histórico­

mundial; as revoluções políticas podem inicialmente assumir uma

conformação nacional, mais limitada e parciaL Mas as revoluções

sociais têm um intrínseco significado universalizante, Na fase do capital mundializado, o socialismo somente poderã ser concebido como um empreendimento global/universaL

3) Nesse contexto, as possibilidades de revolução política na

Amética Latina devem ser pensadas como parte de um processo que

não se esgota em seu espaço nacional. Como vimos ao longo do sé­

culo XX, a tese do "socialismo num só país" teve um resultado trã­

gico, Repeti-lo seria correr o risco da farsa, O desafio maior, por­

tanto, é buscar a ruptura com a lógica do capital em escala mun­ diaL Países como Brasil, México, Argentina, podem ter papel de re­ levo nesse cenário, visto que se constituem em pólos importantes da estruturação mundial do capitaL São dotados de significativo par­ que produtivo e sua importáncia estratégica lhes confere grandes possibilidades, uma vez que estão muito diretamente vinculados ao centro do capitaL Junto com a Índia, Rússia, Coréia, China, entre outros que não estão diretamente no centro do sistema capitalista, eles constituem uma gama de forças sociais do trabalho, capazes de impulsionar um projeto que tenha como horizonte uma organi­ zação societal socialista de novo tipo, renovada' e radicaL

4) Nesse contexto, o desenvolvimento de movimentos sociais de esquerda, capazes de enfrentar alguns dos mais agudos desafios

deste final de século, mostra-se bastante promissor, O movimento

social e político dos Zapatistas, no México, o advento do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) no Brasil, a retomada das lu­

tas operárias e sindicais na Amética Latina dos anos 90, as explo­

sões sociais dos trabalhadores desempregados, entre outros movi­

mentos de esquerda que emergem no mundo contemporãneo, são prioritária.

exemplos de novas formas de organização dos trabalhadores, que se rebelam contra o sentido destrutivo do capitaL

5) O capital tem um sistema de metabolismo e de controle so­

cial essencialmente extra-parlamentar, Desse modo, qualquer tenta­

tiva de superar esse sistema de metabolismo social que se atenha à

esfera institucional e parlamentar estará impossibilitada de derrotá­

lo, O maior mérito desses novos movimentos sociais de esquerda

afiara na centralidade que eles conferem às lutas sociais, O desafio

maior do mundo do trabalho e dos movimentos sociais de esquerda

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LUTAS S O C IA I S E D E S E N H O S O C I ETAL