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Números de audiência, obrigatoriedade e flexibilização do horário de transmissão

A partir do levantamento histórico feito no tópico anterior, foi possível visualizar que a trajetória do A Voz

do Brasil muitas vezes foi marcada por mudanças, imple-

mentadas pelos governos e pelas entidades/empresas que gerenciavam a produção do noticiário, com vista à sua modernização. Em alguns desses casos, essas modificações eram justificadas com números gerados por pesquisas de audiência, como no caso do projeto de reestruturação promovido pela AERP, em 1971; e pela Radiobrás, em 1990, a partir de pesquisa encomendada ao Ibope em 1989. No entanto, pode-se considerar que o número de pesquisas realizadas especificamente para coletar informações concretas sobre a audiência do programa, ao longo de toda a sua história de quase 82 anos, é baixo, se comparado à tradição criada pelo setor de emissoras comerciais de monitorar seu público e suas formas de alcance.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) é um exemplo desse quadro: a enti- dade frequentemente publica pesquisas e relatórios que subsidiam ações para mobilização do setor, como seu

levantamento mais recente, divulgado em abril de 2017, que destaca a evolução de celulares com acesso à TV e rádio30.

Com base nos números, que mostram uma queda de 3% nos últimos três anos no número de modelos de aparelho celular que contam com rádio FM integrado, a Abert se propõe a incentivar a classe de empresários da radiodi- fusão a aderirem ao aplicativo criado pela associação, o MobiAbert, com objetivo de ajudá-los a se adaptarem às novas tecnologias. Essa ocorrência constitui um exemplo de como o monitoramento de números e tendências pode ser utilizado na geração de alternativas e soluções.

No que se refere ao programa A Voz do Brasil, nos últimos anos, foi possível ampliar o conhecimento dos hábitos da população em sua relação com o informativo oficial devido à Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM), realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom). A IBOPE Inteligência, empresa contratada em 2013, por meio de licitação, foi responsável pela efetivação dos levantamentos. A primeira edição da pesquisa foi publi- cada em fevereiro de 201431. Na época, 68% dos entrevistados

afirmaram conhecer o programa A Voz do Brasil. Esse número era maior nos Estados do Rio Grande do Sul (91%) e do Rio

30 Pesquisa da ABERT mostra evolução de celulares com acesso à TV e rádio. Disponível em: http://www.abert.org.br/web/index.php/notmenu/ item/25584-pesquisa-da-abert-mostra-evolucao-de-celulares-com-acesso-a-t- v-e-radio. Acesso em: 16 abr. 2017.

31 2014 - Pesquisa Brasileira de Mídia. Disponível em: http://www.secom. gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-con- tratos-atuais/copy_of_livro-pesquisa-brasileira-de-midia_internet-pdf/view. Acesso em: 17 abr. 2017.

de Janeiro (86%). Já Tocantins (42%) e Alagoas (44%) eram os Estados em que o noticiário era menos conhecido.

Com relação à qualidade do programa, em termos gerais, 50% dos participantes da pesquisa avaliavam o conteúdo como “ótimo ou bom”; 19%, como “regular”; e 12%, como “ruim ou péssimo”. Quando perguntados sobre a frequência de uso, a maioria dos entrevistados (66%) afirmou que, apesar de conhecer o programa, nunca o ouviam, enquanto 15% disseram ouvi-lo uma vez por semana ou menos; 8% o ouviam dois dias na semana; 5% afirmaram acompanhar o noticiário três dias semanalmente; 1%, quatro vezes na semana; e apenas 4% declararam ouvir o programa todos os dias na semana.

Em dezembro de 2014, a Secom publicou a PBM201532,

que apontou queda tanto no índice de entrevistados que conhecia o programa quanto no que media a satisfação com a qualidade do conteúdo apresentado pelo radiojornal. Na pesquisa, 57% dos entrevistados disseram conhecer A Voz

do Brasil. Rio Grande do Sul, Paraná e Pará foram os Estados

que apresentaram os maiores percentuais de entrevistados que conheciam o informativo: 81%, 76% e 75%, respecti- vamente; e Alagoas (37%) e Sergipe (25%) os Estados que menos conheciam o programa. O conteúdo do noticiário foi considerado “ótimo ou bom” por 45% dos pesquisados; 20% o consideraram “regular”; e 12%, “ruim ou péssimo”. Quando perguntados sobre o hábito de sintonizar o programa, 63% afirmaram nunca o escutar. Do total de entrevistados, 16% disseram ouvi-lo uma vez por semana ou menos; 7% o ouviam

32 Pesquisa Brasileira de Mídia - PBM 2015. Disponível em: http://www.secom. gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-con- tratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf/view. Acesso em: 17 abr. 2017.

dois dias semanalmente; 5% acompanhavam o informativo três dias na semana; 1%, quatro vezes na semana; e apenas 3% disseram ouvir o programa todos os dias na semana.

O Relatório da PBM 201633, publicado em agosto do

último ano, não trouxe dados sobre a audiência de A Voz do

Brasil. Em resposta ao contato que fizemos com a Secom,

solicitando informações a respeito, por meio de formulário eletrônico disponível na página da secretaria na internet34,

em abril de 2017, foi-nos informado que as mudanças na edição de 2016 da Pesquisa Brasileira de Mídia são o resul- tado de um processo constante de adequação, conforme os objetivos e resultados desejados para o estudo de cada ano. Assim, nessa última edição, não houve coleta de dados relativos aos veículos públicos estatais, apenas dados referentes ao consumo de mídia da população35. Mesmo sem

dados referentes ao ano de 2016, é possível constatar, com apoio dos levantamentos anteriores, a queda de audiência de A Voz do Brasil junto ao público pesquisado. Para tanto, elaboramos o gráfico a seguir (Figura 7), com base nos números contidos na PBM 2014 e na PBM 2015.

33 Pesquisa Brasileira de Mídia - PBM 2016. Disponível em: http://www.secom. gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-con- tratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2016.pdf/view. Acesso em: 17 abr. 2017.

34 Fale com a Secom. Disponível em: http://www.secom.gov.br/fale-com-a- -secom. Acesso em: 17 abr. 2017.

35 Pesquisa Brasileira de Mídia – PBM 2016. Disponível em: http://www. pesquisademidia.gov.br/. Acesso em: 19 jun. 2017.

Figura 7 – Gráfico comparativo entre os números de A Voz do Brasil na PBM 2014 e PBM 2015.

Fonte: Elaboração própria, com base na Pesquisa Brasileira de Mídia (2014, 2015).

Pesquisas como essas acabam por subsidiar ações de mobilização que fazem parte do pleito antigo da Abert, de flexibilização do horário de transmissão de A Voz do Brasil. Um exemplo foi a campanha realizada pela associação a partir de março de 201436, com base em números disponibilizados pelo

Instituto DataFolha, que, à época, apontavam que 68% dos brasi- leiros eram a favor da flexibilização37. Em julho de 2016, o então

presidente interino, Michel Temer, baixou a Medida Provisória

36 Abert lança campanha pela flexibilização da Voz do Brasil. Disponível em: http://www.abert.org.br/web/index.php/notmenu/item/22508-abert-lanca-cam- panha-pela-flexibilizacao-da-voz-do-brasil. Acesso em: 18 abr. 2017.

37 Flexibilização é apoiada por 68% dos brasileiros, conclui pesquisa DataFolha. Disponível em: http://www.abert.org.br/web/index.php/notmenu/ item/22523-flexibilizacao-aumenta-em-13-audiencia-da-voz-do-brasil-e-e- -apoiada-por-68-dos-brasileiros. Acesso em: 18 abr. 2017.

nº 74238, autorizando a flexibilização no horário de transmissão

do programa durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio de Janeiro, a exemplo do ocorrido durante a Copa de 2014, quando também houve flexibilização39. Assim, entre 5 de agosto

e 18 de setembro, as emissoras de rádio puderam veicular o programa entre 19h e 22h40.

A Abert seguiu em intensa mobilização junto ao Parlamento e conseguiu que o texto da MP742, após modifica- ções, fosse aprovado pela Câmara dos Deputados, em caráter permanente, no dia 9 de novembro de 201641. Porém, apesar do

acordo com o governo para a sua votação, a medida, que valia até 22 de novembro de 2016, não passou pelo Senado a tempo, perdendo sua eficácia.

Durante o ano de 2017, a associação continuou em processo de luta para ter sua antiga reivindicação atendida, por meio do Projeto de Lei Nº 595/200342, de autoria da deputada

38 Medida Provisória nº 742, de 26 de julho de 2016. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Mpv/mpv742.htm. Acesso em: 18 abr. 2017.

39 Medida Provisória Nº 648, de 3 de junho De 2014. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Mpv/mpv648.htm. Acesso em: 18 abr. 2017.

40 G1. Governo flexibiliza horário de ‘A Voz do Brasil’ durante Olimpíada, diz Abert. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/07/ governo-flexibiliza-horario-de-voz-do-brasil-durante-olimpiada-diz-abert. html. Acesso em: 18 abr. 2017.

41 Voz do Brasil: flexibilização permanente agora depende do Senado. Disponível em: http://www.abert.org.br/web/index.php/notmenu/item/25333-vo- z-do-brasil-flexibilizacao-permanente-agora-depende-do-senado. Acesso em: 18 abr. 2017.

42 Câmara dos Deputados. PL 595/2003. Disponível em: http://www.camara. gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=109150. Acesso em :18 abr. 2017.

Perpétua Almeida (PCdoB/AC), que aguardava votação na Câmara. Para a entidade, a obrigatoriedade de horário preju- dicava as grandes coberturas jornalísticas, já que as emissoras de rádio interrompiam coberturas de eventos de grande reper- cussão para transmitir A Voz do Brasil.

É uma perda indiscutível para os ouvintes e para as próprias rádios, que sofrem com prejuízos comerciais. Nesse horário de pico, as pessoas querem ouvir informações sobre o trânsito, prestação de serviços, e até mesmo uma boa música para minimizar o estresse do trânsito nos grandes centros. A obrigatoriedade da transmissão da Voz do Brasil sempre foi uma decisão política e dos políticos, que contraria a realidade e os interesses das grandes cidades brasileiras (ANTONIK, Informação verbal)43.

O Estadão, em editorial publicado em 28 de setembro