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Na adolescência existem diferenças significativas relativamente à ideação

suicida, depressão e desesperança entre a especificidade, valência e conteúdos das memórias autobiográficas recordadas para a palavra família;

Hipótese 3. Na adolescência existem diferenças significativas relativamente à ideação

suicida, depressão e desesperança entre a especificidade, valência e conteúdos das memórias autobiográficas recordadas para a palavra amigos.

Hipótese 4. Na adolescência existem diferenças significativas relativamente à ideação

suicida, depressão e desesperança entre a especificidade, valência e conteúdos das memórias autobiográficas recordadas para a palavra escola.

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CAPÍTULO III

MÉTODO

Participantes

Participaram neste estudo um total de 205 jovens de duas escolas públicas da área da Grande Lisboa. Do total dos participantes, 9 foram excluídos devido à idade ou à tarefa ter sido mal respondida. Embora um dos sujeitos não tivesse respondido ao questionário sociodemográfico, decidimos inclui-lo na amostra, uma vez que o resto da tarefa estava totalmente preenchida. A amostra final foi, assim, constituída por 196 adolescentes com idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos (M=14,56; SD=0,97), tendo sido o instrumento aplicado a quatro turmas do 8º ano (n=59;30,3%), a três turmas do 9º ano (n=62;31,8%) e a três turmas do 10º ano (n=74;37,9%) (Anexo 3.1). A tabela 1 mostra a distribuição dos sujeitos por idade e ano de escolaridade (Anexo 3.2).

Tabela 1: Distribuição dos sujeitos por idade e ano de escolaridade.

Ano de escolaridade Idade 13 14 15 16 17 8ºano 27 30 1 1 0 9ºano 0 23 26 8 5 10ºano 0 12 49 11 2

Relativamente ao sexo dos jovens, 51,8% (n=101) dos adolescentes são do sexo feminino e 48,2% (n=94) do sexo masculino (Anexo 3.1). A tabela 2 mostra a distribuição dos sujeitos por idade e sexo (Anexo 3.3).

Tabela 2: Distribuição dos sujeitos por idade e género.

Idades Feminino Masculino

13 12 15 14 37 28 15 42 34 16 8 12 17 2 5 Total 101 94

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Dos 196 adolescentes, 94,8% (n=184) têm nacionalidade portuguesa e 5,2% (n=10) são de outras nacionalidades (Anexo 3.1).

Da amostra total, 64,9% (n=126) afirmaram nunca ter pensado em suicidar-se e 35,1% (n=68) afirmaram ter pensado em suicidar-se. Destes últimos, 13,9% (n=27) pensaram em suicidar-se uma vez, 7,7% (n=15) duas vezes e 13,4% (n=26) mais do que duas vezes (Anexo 3.1).

Já no que respeita às tentativas de suicídio, 90,7% (n=176) dos adolescentes nunca tentaram suicidar-se e 9,3% (n=18) dos adolescentes já tentaram suicidar-se. Destes últimos, 5,2% (n=10) tentaram suicidar-se uma vez, 2,1% (n=4) duas vezes e 2,1% (n=4) mais do que duas vezes (Anexo 3.1).

Quando perguntado aos jovens se conheciam alguém que se tivesse suicidado, 33,5% dos jovens responderam que sim e 66,5% que não, sendo que 90,7% desses suicídios foram referentes a conhecidos/vizinhos/amigos e 9,3% foram referentes a familiares. A tabela 3 mostra distribuição dos sujeitos por conhecimento de alguém que se tenha suicidado e sexo (Anexo 3.3).

Tabela 3: Distribuição dos sujeitos por conhecimento de alguém que tenha cometido suicídio

e sexo. Conhece alguém que cometeu

suicídio Feminino Masculino Sim

Não

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59 70

Instrumentos Escala de auto-avaliação da Depressão (DSRS)

A Escala de auto-avaliação da Depressão é um instrumento de auto-preenchimento e avaliação que permite medir os sintomas afetivos e cognitivos e comportamentos da depressão, originalmente desenvolvido por Birleson (1981), na sequência de uma adaptação da escala de Zung (1965). A escala, contendo inicialmente 18 itens, foi posteriormente alterada por Asarnow e Carlson (1985), ficando com mais 3 itens da depressão e 3 itens da desesperança, estes últimos provenientes da BHS. Ao nível da consistência interna, o alfa de Cronbach encontrado foi de .76 (p. < .01) e o coeficiente de fidelidade de Spearman-Brown de .67. (Marujo, 1994)

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Para o presente estudo foi aplicada a versão da DSRS utilizada por Marujo, H. (1994), onde foi excluído um item, referente ao suicídio. A escala ficou assim composta por 20 itens da depressão e 3 da desesperança, existindo três possibilidades de resposta para cada item (“quase sempre”, “às vezes” ou “nunca”), sendo que metade dos itens afirmam o sintoma e a outra metade negam o sintoma. Cada item tem uma pontuação possível de 0 a 2, o que resulta numa pontuação máxima de 40 para os sintomas depressivos.

Escala da Desesperança de Beck (BHS)

A Escala da Desesperança de Beck é um instrumento de auto-preenchimento e avaliação de Beck, Weissman, Lester e Trexler (1974, cit por Beck, A. T. & Steer, R. A., 1988), constituído por 20 itens, que permite medir as atitudes negativas acerca do futuro, percecionadas por adolescentes e adultos. Destes 20 itens, 9 são classificados como verdadeiros e 11 como falsos, podendo os resultados obtidos ir de 0 a 20. Se o valor encontrado estiver entre 0 e 3 é considerado mínimo, se estiver entre 4 e 9 é considerado médio, se se encontrar entre 9 e 14 moderado e, se for maior que 9 é considerado severo.

Ao nível da consistência interna, o nível de fidelidade Kunder-Richardson (KR-20) foi de .92, .93, .91, .82, .92, .92 para sujeitos com ideação suicida, com tentativa de suicídio, alcoólicos, dependentes de heroína, com um único episódio de Depressão Major, com episódios recorrentes de Depressão Major e Distúrbios Distémicos, respetivamente. A correlação teste-reteste com intervalo de 6 semanas entre as aplicações foi de .66 (p < .001). O instrumento que será utilizado é a versão traduzida para a população portuguesa por Viveiros et al. (1997, citado por Soeiro, 1997).

Questionário de Ideação Suicida (QIS)

O Questionário de Ideação Suicida é um instrumento de auto-preenchimento primeiramente desenvolvido por Reynolds (1988), que permite avaliar a gravidade dos pensamentos suicidas em adolescentes e adultos. A versão que irá ser utilizado é a de Ferreira e Castela (1993/94), aferida e validada para a população portuguesa. Nesta versão ao nível da consistência interna o alfa de Cronbach encontrado foi de .96 e a correlação teste-reteste com intervalo de um mês entre as duas aplicações foi de .76.

O instrumento é constituído por 30 itens, variando as respostas de 1 – “o pensamento nunca ocorreu” até 7 – “o pensamento ocorreu sempre”, podendo o resultado oscilar entre 0 e 180.

31 Tarefas de Memórias Autobiográficas

A tarefa de memórias autobiográficas consiste em pedir aos adolescentes que recordem memórias referentes às palavras família, escola e amigos, experienciadas pessoalmente e o mais detalhadas possível. Neste estudo, de forma a evitar qualquer efeito de primazia ou recência, as três palavras foram colocadas por seis ordens diferentes. A tarefa tal como é apresentada, foi desenvolvida por Antaliková et al. (2011), tendo sido baseada na tarefa utilizada no estudo de Wang (2006).

A codificação desta tarefa foi realizada tendo em consideração três parâmetros:

- Especificidade - no qual se distinguem três tipos de memórias autobiográficas:

Memórias Especificas, referentes a um único evento, com duração inferior a um dia; Memórias Categóricas, referentes a episódios genéricos e Memórias Alargadas, referentes a

eventos com duração superior a um dia (conforme referido na p. 24, capítulo I). As respostas que não foram memórias (ex. opiniões) foram consideradas Não-Memórias.

- Valência - positiva, negativa ou neutra.

- Categorias – relações encontradas relativamente ao conteúdo das memórias para as palavras família, amigos e escola. As categorias definidas serão apresentadas no capítulo III.

O instrumento aplicado aos adolescentes encontra-se no Anexo 1.

Procedimento

Com o intuito de recolher uma amostra de adolescentes para o presente estudo, pediu- se autorização por escrito a diversas escolas da área da Grande Lisboa (Anexo 2), obtendo-se o consentimento da direção de duas dessas escolas para a realização deste trabalho. Agendou- se a recolha dos dados com a direção e com os professores, tendo sido os instrumentos aplicados no decorrer dos tempos letivas. A participação no estudo foi consentida pelos pais (Anexo 2.1), tendo a tarefa demorado cerca de 45 minutos a ser realizada.

Após os questionários terem sido preenchidos, procedeu-se à codificação das memórias autobiográficas com três júris independentes e licenciados em psicologia. Só foram consideradas as respostas em que pelo menos dois dos elementos do júri estiveram de acordo. As respostas foram posteriormente inseridas na versão 20 do software IBM SPSS. Para se proceder a análise dos resultados, teve-se em consideração que amostras superiores a 30

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sujeitos dispensam a verificação dos pressupostos para a aplicação dos testes paramétricos. Para todas as análises realizadas, considerou-se uma probabilidade de erro tipo I (α) de 0,05.

Quando se procedeu à análise dos resultados, verificou-se que 78 das memórias recordadas, referentes às palavras família, amigos e escola, foram alusivas à idade atual do sujeito e não relativas a eventos ocorridos há mais de um ano, como foi solicitado na tarefa (Anexo 3.5). Apesar deste número ser muito elevado, optou-se por analisar as respostas e percebeu-se então que a tarefa não tinha sido compreendida, pois este erro era fundamentalmente cometido em uma ou duas respostas e não nas três respostas. Para tomar esta decisão teve-se também em consideração o facto dos adolescentes se guiarem fundamentalmente pelo ano letivo e não pelo ano civil.

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CAPÍTULO IV

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

De forma a facilitar a leitura deste capítulo, optou-se por efetuar a análise dos resultados e respetiva discussão de forma integrada. Num primeiro momento será apresentada uma análise descritiva das variáveis mais revelantes para o nosso estudo e, posteriormente, serão apresentados e discutidos os resultados relativos às hipóteses.

Análise descritiva das variáveis mais relevantes

Sendo a fidelidade de um instrumento elevada se estiver acima de 0,60, é-nos possível afirmar que no nosso estudo os instrumentos da depressão, desesperança e ideação suicida tiveram uma boa consistência interna (Anexo 4.1; Tabela 4).

Tabela 4: Análise descritiva das variáveis depressão, desesperança e ideação suicida.

Dimensões Média Desvio-Padrão Αlfa de Cronbach

Depressão Desesperança Ideação Suicida 11,73 4,50 1,75 5,31 3,68 1,00 0,81 0,82 0,97

A média dos sintomas de depressão foi de 11,73, sendo que Marujo (1994) considera que um valor inferior de 15 é baixo e um valor superior a 15 é elevado, tendo, este ultimo, seis vezes mais a probabilidade de estar associado a um diagnóstico clínico de depressão. Para a escala da desesperança a média encontrada foi de 4,50, o que segundo a classificação de Beck e Steer (1988) significa que as atitudes negativas acerca do futuro tiveram um valor médio (0- 3 mínimo; 4-8 médio; 9-14 moderado; > 14 severo). No que diz respeito à ideação suicida, o valor obtido foi de 1,75. Embora este valor tenha sido estatisticamente baixo, qualquer valor superior a 1,00 indica a existência de pensamentos suicidas, já sendo por isso um motivo de alerta (Anexo 4.2; Tabela 4).

No que concerne à relação entre depressão, desesperança e ideação suicida no género feminino e masculino, constatou-se que a média dos sintomas destas três variáveis foi mais elevada nas raparigas do que nos rapazes, sendo essa diferença significativa para todas as variáveis (p. < 0,05) (Anexo 4.3; Tabela 5).

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Tabela 5: Diferença de médias entre sexo em relação à depressão, desesperança e ideação suicida.

Género Média Desvio-Padrão t Valor-p

Depressão Feminino 13,26 5,52 4,31 0,00

Masculino 10,11 4,61

Desesperança Feminino 5,28 4,03 3,09 0,00

Masculino 3,68 3,09

Ideação suicida Feminino 1,90 1,04 2,24 0,03

Masculino 1,59 0,94

Estes resultados foram de encontro ao esperado, uma vez que ser do sexo feminino tem sido considerado um fator de risco para a presença de ideação suicida (Lopes et al., 2001; Fensterseifer et al, 2004; Santos, 2006; Souza et al., 2009). Estes resultados referentes à população feminina, como já referido anteriormente, podem dever-se às alterações hormonais que ocorrem durante a fase da adolescência (Acosta-Hernández et al., 2011), como também podem ser demonstrativos de uma maior resistência por parte dos rapazes de expressarem sofrimento e sintomas (Cardoso, Rodrigues e Vilar, 2004).

Constata-se igualmente que outro dos fatores de risco para a ideação suicida, frequentemente descrito na literatura é conhecer alguém que tenha cometido suicídio. Na Tabela 3, já como anteriormente mencionado, verificou-se que existiu um maior número de raparigas do que rapazes que conheceu alguém que tenha cometido suicídio. Já através da observação da Tabela 6, é possível verificar que a média de ideação suicida e de tentativas de suicídio é superior nos adolescentes que conheceram alguém que tenha cometido suicídio do que naqueles que, pelo contrário, não conheceram indivíduos nesta situação. Contudo, esta diferença foi apenas significativa ao nível da ideação suicida (p. < 0,05), embora também interpretável para as tentativas de suicídio (p. < 0,10) (Anexo 4.4). Estes resultados são congruentes com a literatura, uma vez que o facto de conhecer alguém que se tenha suicidado tem sido encontrado como um fator de risco para o suicídio (Santos, 2006; Lopes, Barreira e Pires, 2001).

Tabela 6: Diferença de médias entre as ideias suicidas e tentativa de suicídio em relação a

conhecer alguém que tenha cometido suicídio. Conhece alguém que

cometeu suicídio Média Desvio-Padrão t Valor-p

Ideias Suicidas Sim 2,05 1,23 3,24 0,00

Não 1,52 0,96

Tentativa de Suicídio Sim 1,25 0,64 1,65 0,10

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Relativamente à especificidade das memórias autobiográficas, uma vez que a percentagem de sujeitos que recordou memórias categóricas foi reduzida (6,8% para a palavra

família; 4,6% para a palavra amigos; e 4,7% para a palavra escola), comparativamente com a

percentagem de sujeitos que produziu memórias específicas (47,9% para a palavra família; 43,3% para a palavra amigos; e 48,7% para a palavra escola) e memórias alargadas (42,6% para a palavra família; 46,4% para a palavra amigos; e 40,9% para a palavra escola), optou-se por considerar as memórias gerais no seu todo (categóricas + alargadas). Assim sendo, os resultados apresentam uma percentagem mais elevada de recordação de memórias autobiográficas gerais do que específicas para todas as palavras e maior percentagem de não- memórias para as palavras amigos e escola (Anexo 4.5; Tabela 7).

Tabela 7: Percentagem da especificidade das memórias recordadas referentes às palavra família, amigos ou escola.

Mais uma vez, sendo que a percentagem de memórias com valência neutra (4,9% para a palavra família; 5,4% para a palavra amigos; e 9,3% para a palavra escola) foi bastante reduzida comparativamente com as de valência positiva e negativa, como se pode verificar na Tabela 8, optou-se por retirar esta valência na análise estatística que será efetuada para a confirmação das hipóteses do estudo (Anexo 4.5).

Tabela 8: Percentagem da valência das memórias recordadas para as palavras família, amigos

ou escola.

Valência da M.A. Família Amigos Escola Positivo Negativo 48,9% 46,2% 56,5% 38,0% 48,4% 42,3%

De acordo com a análise estatística, houve maior percentagem de recordação de memórias positivas para a palavra amigos do que para família ou escola e, maior percentagem de recordação de memórias negativas para a palavra família do que para amigos ou escola. É também notória uma percentagem bastante mais elevada de memórias positivas para a palavra

amigos do que negativas, não acontecendo o mesmo com as palavras família ou escola.

Especificidade M.A. Família Amigos Escola Específica

Gerais (Categóricas + Alargadas) Não-memória 47,9% 49,4% 2,6% 43,3% 51% 5,7% 48,7% 45,6% 5,7%

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Os amigos ganham efetivamente uma maior relevância na vida dos adolescentes, podendo o facto de os adolescentes passarem mais tempo com o grupo de pares e partilhem pensamentos e intimidade, levar a um maior afastamento por parte dos pais, acabando por existir divergências de crenças, atitudes e valores (Palmonari, Kirchler e Pombeni, 1991). Num estudo realizado por Amaral et.al (1998) com o objetivo de perceber as representações da escola em pré-adolescentes e adolescentes, os jovens evidenciaram como aspetos positivos da escola a relação entre pares, por oposição à relação com os adultos e tipo de aulas.

No que diz respeito às categorias, após a leitura de todas as memórias, foram encontradas as seguintes categorias para a palavra família: conflitos, apoio familiar, divórcio, mudança, lazer, despedida/reencontro de familiares, saúde, nascimento e morte. Já para a palavra amigos, as categorias foram as seguintes: amizade, conflitos, mudança, lazer, início escolar, comportamentos desregrados, despedida/reencontro de familiares e saúde. Ainda referente à palavra escola, as categorias que surgiram foram as seguintes: amizade, conflitos, namoro, mudança, lazer, início escolar, atividades escolares, desempenho escolar, comportamentos desregrados e saúde. No anexo 9 encontram-se exemplos de memórias que os adolescentes recordaram para todas as categorias.

Em traços gerais, verificou-se uma recordação mais elevada de memórias referentes a lazer e conflitos parra a palavra família, uma maior recordação de memórias alusivas a lazer e amizade para a palavra amigos e, ainda, uma recordação mais significativa de memórias alusivas a desempenho escolar e atividades escolares e para a palavra escola (Tabelas 9, 10 e 11).

Tabela 9: Categorias encontradas nas memórias autobiográficas para a palavra família.

Categoria_Família N Conflitos Apoio familiar Divórcio Mudança Lazer Despedida/Reencontro familiares Saúde Nascimento Morte 24 14 12 8 67 7 14 16 18

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Tabela 10:Categorias encontradas nas memórias autobiográficas para a palavra amigos.

Tabela 11: Categorias encontradas nas memórias autobiográficas para a palavra escola.

Apresentação e discussão dos resultados relativos às hipóteses

Para testar a nossa hipótese 1 “Em adolescentes a depressão, a desesperança e a ideação suicida estão fortemente correlacionadas”, procedeu-se à correlação de Pearson entre as três variáveis (Anexo 5.1).

Os resultados das correlações sugeriram que as três variáveis estão positivamente e fortemente correlacionadas entre si e que a correlação entre a ideação suicida e a depressão é mais forte do que a correlação entre a ideação suicida e a desesperança (Tabela 12; Anexo 5.1), confirmando assim a hipótese 1.

Tabela 12: Correlações de Pearson entre depressão, desesperança e ideação suicida.

G é n e r o 1. 2. 3. 1. Depressão - 2. Desesperança 0,66 - 3. Ideação Suicida 0,59 0,47 - Categoria_Amigos N Amizade Conflitos Mudança Lazer Inicio escolar Comportamentos desregrados Despedida/Reencontro familiares Saúde 46 21 23 56 8 7 4 13 Categoria_Escola N Amizade Conflitos Namoro Mudança Lazer Inicio escolar Atividades escolares Desempenho escolar Comportamentos desregrados Saúde 15 15 6 17 8 23 27 29 20 12

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Os resultados acima apresentados vão de encontro aos estudos realizados por Cole (1989), Rudd (1990, citado por Reifman e Windle, 1995; ) e Lewinsohn, Rohde e Seeley (1994, citado por Reifman e Windle, 1995), onde a depressão e a desesperança foram consideradas relevantes, ganhando a primeira maior importância do que a segunda. Também no estudo realizado por Cole (1989), a desesperança não foi tão significativa quanto à depressão na ideação suicida dos adolescentes. Este facto pode dever-se segundo ao autor, aos jovens conseguirem visualizar mudanças positivas a curto prazo (fim dos estudos ou saída de casa dos pais), por oposição aos adultos. Sendo assim, para os adultos, a desesperança é considerada uma variável mais importante do que a depressão nos pensamentos suicidas (Farber, 1968; Beck, 1963, e Kobler e Stotland, 1964, citado por Minkoff, Bergman, Beck e Beck, 1973).

Para validar a hipótese 2 “Na adolescência existem diferenças significativas relativamente à ideação suicida, depressão e desesperança entre a especificidade, valência e conteúdos das memórias autobiográficas recordadas para a palavra família”, realizou-se uma análise de variância (Anova Two-way).

Quanto à dimensão ideação suicida, não se verificaram efeitos de interação entre a especificidade, valência e categorias das memórias autobiográficas para a palavra família. O mesmo se verificou para os efeitos principais referentes às mesmas variáveis (Anexo 6.1). Contudo, é possível verificar que a média de ideação suicida é mais elevada em adolescentes que recordaram memórias gerais, memórias negativas e, memórias referentes a “conflitos” e “saúde”. Já para a categoria “nascimento”, a média de ideação suicida foi mais baixa (Tabela 13).

Para a categoria “conflitos” as memórias foram, por exemplo, referentes a: conflitos entre pais e familiares; agressões físicas entre pais; discussões familiares devido ao irmão ser toxicodependente; conflitos devido à inexistência de quartos para todo o agregado familiar; discussões devido ao facto de um avô ter arranjado uma amante no dia de anos; conflitos com os pais devido a alteração de forma de vestir do adolescente, conflitos com os pares onde os pais têm uma intervenção ativa.

Na categoria “Saúde” as memórias foram alusivas a acidentes (ex. ver a mãe cair na linha do metro) e saúde mental do próprio ou de outros (ex. a mãe tivera uma depressão e por várias vezes tentou matar-se).

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Relativamente às memórias referentes a “nascimento”, estas foram maioritariamente alusivas ao nascimento de irmãos e sobrinhos, encontradas como motivo de grande felicidade pelo adolescente.

Tabela 13 – Média da ideação suicida nos efeitos principais ao nível das memórias

autobiográficas para a palavra família. Média Especificidade das memórias_Família Especificas Gerais F(1,144)=0,04; p.=0,86 1,71 1,80

Valência das memórias_Família

Positivo Negativo F(1,144)=0,18; p.=0,67

1,62 1,93

Categoria das memórias_Família

Conflitos Apoio familiar Divórcio Mudança Lazer Despedida/reencontro de familiares Saúde Nascimento Morte F(8,144)=0,64; p.=0,74 2,03 1,83 1,85 1,57 1,62 1,96 2,02 1,27 1,99

Quanto à dimensão depressão, não se verificaram efeitos de interação entre a especificidade, valência e categorias das memórias autobiográficas para a palavra família. O mesmo se verificou para os efeitos principais referentes às mesmas variáveis (Anexo 6.2). Contudo, é possível verificar que a média de depressão é mais elevada em adolescentes que recordaram memórias gerais, memórias negativas e, memórias referentes a “despedida/reencontro de familiares”, “morte” e “conflitos”. Já para a categoria “nascimento”, a média de depressão foi mais baixa (Tabela 14).

No que respeita à categoria “despedida e reencontro de familiares”, as memórias foram referentes a imigração de pais e outros familiares, ao encontro de pais e familiares que já não viam há anos.

As memórias referentes à categoria “morte” foram maioritariamente relativas a falecimento dos avós e outros familiares.

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Tabela 14 – Média da depressão nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas

para a palavra família.

Média Especificidade das memórias_Família Especificas Gerais F(1,144)=0,55; p.=0,46 11,58 12,02

Valência das memórias_Família

Positivo Negativo F(1,144)=0,56; p.=0,46

10,83 12,88

Categoria das memórias_Família

Conflitos Apoio familiar Divórcio Mudança Lazer Despedida/reencontro de familiares Saúde Nascimento Morte F(8,144)=1,10; p.=0,37 13,08 11,79 12,42 12,00 10,96 15,14 10,36 8,75 14,61

No que respeita à desesperança, não se verificaram efeitos de interação entre a especificidade, valência e categorias das memórias autobiográficas para a palavra família. Da mesma forma não se registaram diferenças significativas ao nível dos efeitos principais na ideação suicida, depressão e desesperança.

De qualquer forma, através da Tabela 15 é verificável que a média de desesperança foi

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