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Na década de 1990, o centenário do Kolleg

CAPÍTULO 2 O CENÁRIO DA CIDADE E DO KOLLEG NAS DÉCADAS DE

2.9 Na década de 1990, o centenário do Kolleg

A tradição no Kolleg, ao longo dos anos de sua existência, tem sido marcada no discurso da população, nas manchetes da mídia impressa, na contratação de professoras oriundas da escola normal do próprio colégio.

No ano de seu centenário, além das festividades espetacularizadas na comunidade, com desfiles, solenidades, festas e jantares, missas, foi também produzido um livro comemorativo.

O livro, além de conter dados históricos a respeito da fundação da escola, trazia também um conjunto de memórias transcritas por figuras ilustres, figuras estas que foram alunos do colégio.

De um dos prefeitos da cidade, a professores universitários, renomados como pesquisadores, a coordenadoras pedagógicas da escola, estas memórias traziam à tona lembranças que certamente foram produzidas pedagógica e culturalmente no interior da escola e nas suas relações com a cidade.

Um dos poemas escritos como portador textual de reminiscências do tempo de aluna do Kolleg, escrito por uma das coordenadoras pedagógicas, explorava da arquitetura aos estigmas de germanidade da cidade – crianças loiras que na atual década (1995), ano do Centenário, não se fazia mais homogeneamente presente.

Do alto da colina contemplas a cidade centenária

que te viu semente que te viu crescer. Almas generosas abandonaram sua vida para começar vida nova contigo. Da Alemanha vieram.

Seus grandes ideais geraram grandes obras - e aí estás.

Do alto da colina...

Como tudo mudou, pensas... Onde a mata que me cercava?! Onde as palmeiras

que ornamentavam meu portal?!

Onde a algazarra das criancinhas loiras? A beleza serena das moças de tranças? O misticismo dos lugares sábios? Onde os longos, negros hábitos a farfalhar pelos meus caminhos escondendo silhuetas elegantes, afligindo no calor...

Ah! Quantas lembranças

em tuas reminiscências centenárias... Ah! Se pudesses contar a parte da história que silenciou com o tempo...

Do alto da colina

estendes teu simbólico olhar, mergulhas no teu passado e te orgulhas.

Hoje, não mais as palmeiras.

Hoje, os flamboyants que atapetam tua entrada com as cores da vida, da energia.

Hoje não mais as criancinhas loiras predominando. Hoje, todas as cores enfeitam tuas salas e teus pátios e a Língua menos falada é a Alemã.

Hoje, não mais a beleza serena das moças de tranças. Hoje, a beleza da vida em plenitude,

explodindo, formando, buscando o futuro da máquina. Hoje, não mais o misticismo dos bugres.

Hoje, a realidade da vida que cerca teus muros, invade tua alma de “pedra viva”

e leva aos teus a verdade que liberta. Hoje, não mais os longos vestidos negros. Hoje tão poucas mas tão fortes,

essas Religiosas que te levam em frente, te sustentam nos ombros,

todas as criaturas que recebes. Do alto da colina,

abres teus braços centenários que não se cansam de acolher

que buscam encontrar antigos amigos, antigos alunos com uma doce saudade;

que buscam envolver todos os amigos, todos os alunos, deixando em cada um a marca da tua Sagrada Família.109

Igrejas e escolas paroquiais ou confessionais no alto da colina. Lugar comum nas construções das cidades. Do alto, avista-se todo o espaço social, isto significa tanto adquirir maior visibilidade, quanto ter mais controle sobre este lugar e seu funcionamento social.

As palmeiras... Planta ornamental cultivada como símbolo festivo dos Clubes de Atiradores inaugurados nos tempos da colônia, foram elas também escolhidas para ornamentar o portal de entrada do Kolleg, até bem recentemente, quando foram substituídas pelo flamboyant.

Mas há que se destacar um trecho do poema da coordenadora pedagógica da escola quando se refere ao predomínio das crianças loiras que no ano do centenário já não eram homogeneamente constitutivas dos grupos de alunos.

Implicitamente a autora parecia dizer assim como as professoras em suas entrevistas, que “os de fora” adentraram os muros da escola e multiplicaram de cores o seu interior. Já não predominava o ideário do Deutschtum: louro, olhos azuis, pele muito clara. Assim como o idioma alemão já não era mais componente curricular.

O “futuro da máquina”. Foram as máquinas que impulsionaram o desenvolvimento econômico da cidade. O primeiro tear dos Hering, colocado em funcionamento na própria residência da família. Na década de 1980-1999 outras máquinas trouxeram novas características para a cidade – de pólo têxtil a pólo de software. E foi também nessa década que algumas mães sentiram mudanças interpessoais na interface com a escola, na medida em que as informações cotidianas sobre seu funcionamento passaram a ser veiculadas pela internet.

O Kolleg tem uma influência muito forte na cidade. Teve mudanças lá a partir do momento de mudança de direção. A competição interna aumentou, a forma de comunicação mudou. (Mãe C, 2007)

Ex prefeito da cidade, aluno do jardim de infância, ingressando aos quatro anos de idade, em 1941. Um dos destaques do texto do ex aluno prefeito referia-se aos lugares internos e externos da escola sempre tão limpos. A escola não só no período em que o prefeito freqüentou o jardim de infância, mas também no período 1980-1999, tinha uma irmã responsável pela supervisão da limpeza dos lugares institucionais, pois segundo depoimento da professora Sa“[...] a limpeza sempre foi nosso cartão de visita” (2007).

[...] onde a exuberância da mata contrastava com o cuidado dos caminhos sempre limpos e floridos, culminando com a Gruta onde a imagem de N. Senhora, entre flores e velas, extasiava os olhares dos pequeninos. Esta cena firmou-se profundamente em minha memória, talvez como uma das mais marcantes imagens da minha infância.110

O Kolleg não só sobreviveu ao tempo, como parece que a cada década passada, fortaleceu-se como instituição de referência na cidade. Uma das entrevistadas, que foi aluna do colégio e na condição de mãe decidiu matricular seus quatro filhos na mesma escola,

explica o que entendia por ser a diferença entre o Kolleg e outras escolas particulares da cidade.

Bem, eu fui aluna da escola. Entrei lá em 1958. Na minha opinião, ela veio cumprindo desde esse tempo sua função essencial à sociedade blumenauense. Eu não tenho dúvida que tenho uma personalidade saudável graças à formação que tive lá. E vejo isso nos meus filhos também. Você acha que é fácil criar e educar quatro filhos meninos? Sem a ajuda da escola eu não teria conseguido, nem com a participação do meu marido, que sempre foi muito presente. Aqui em casa a gente nunca separou o que era meu e o que era dele na educação dos meninos. O que vinha da escola, os dois acompanhavam. Meus filhos tiveram formação espiritual. Lá eles tiveram experiência de mundo. A educação do Kolleg é com severidade e disciplina. Mas bem dosada com amor. Lá elas ensinam as crianças a inserir-se na sociedade blumenauense. Elas têm uma base sólida para formação da vida futura. Nunca se preocuparam em mudar seus métodos. Para mim educação que dá certo é isso. Manter a tradição. Se deu certo para mim, é claro que vai dar para meus filhos. Isso é igual em outra escola? Eu penso que não. Das que eu conheço não. (Mãe MG, 2007)

O depoimento de ex aluno do Kolleg, registrado no livro comemorativo do centenário da escola corrobora com o ponto de vista da mãe MG.

[...] Havia uma mística forte, marcada, na condução do ensino nesse Colégio e da qual senti falta quando tive de mudar de escola. Esse “élan” reencontrei quando depois ingressei no Seminário católico para preparar- me ao sacerdócio. [...] Os valores que impregnavam o ensino no Kolleg eram os mais elevados de nossa cultura cristã e contribuíram decisivamente para rica e saborosa existência que sempre levei. Compreendo, assim, perfeitamente, a importância desse centenário e seu significado para Blumenau e região. [...] Que o Kolleg perdure espargindo sua benéfica influência sobre nossa cidade e sobre nossa Nação.

São vencedores. O lema de uma turma de formandos do ano de 1987, alunos que encerravam o ensino fundamental era “Compromisso: lutar: Objetivo: vencer”. Lembremos: “Deus não escolhe os preparados, Ele prepara os escolhidos.” Essa era uma das crenças do Kolleg. E essa preparação não ficava restrita aos muros internos da escola. Ela era espetacularizada para a comunidade blumenauense, conforme nos conta a mãe Al, do que mais marcou o processo de escolarização de sua filha no Kolleg.

Os melhores momentos da época de escola da Ma ficaram eternizados para mim nos desfiles do 7 de setembro, no desfile da Primavera, nas festas juninas em que os pais eram convidados a participar, nas homenagens ao aniversário da cidade, teatros de fim de ano, a Semana de Artes, quando eles expunham os trabalhinhos que eles faziam.(Mãe Al, 2007)

No ano do centenário, irmãs da Congregação KLG vieram da Alemanha especialmente para acompanhar os festejos. A escola como espaço e como lugar transcendendo fronteiras, criando um inventário de sentidos, de geração a geração, constituindo assim memória coletiva, “autoimagem nós”.

No próximo capítulo será visto como foi produzida e reproduzida esta autoimagem “nós” no dia a dia educativo da (pré)-escola kolleguiana, tendo como unidade de análise as produções infantis.

Considerando a escola como espaço e lugar, neste caso específico, o Kolleg como lugar de tradição, valores e estabelecimento de sentimentos de pertença, tanto entre professoras quanto entre mães, analisarei o desenho curricular selecionado tradicionalmente pela escola.

Segundo Forquin (1993), na educação escolar temos seleções e reelaborações de conteúdos culturais a serem disseminados por meio do trabalho escolar.

No próximo capítulo, apresentar-se-á as seleções culturais feitas pelo Kolleg, de forma a perceber valores do catolicismo e dos marcos simbólicos da cidade que constituíram o dia a dia educativo das crianças da (pré)-escola no segmento dos anos 1980-1999.

Vale esclarecer que, para que o trabalho não ficasse exaustivo do ponto de vista da leitura, optou-se metodologicamente por não apresentar a organização curricular ano após ano. Desta forma, selecionei o que foi reiterado ao longo do período, em relação a organizações curriculares, mostrando o que modificou e o que permaneceu.

CAPÍTULO III

INDIVÍDUOS, COTIDIANOS E COMUNIDADES DE SENTIDO: NA (PRÉ)-ESCOLA TRADIÇÃO É A “FAMÍLIA KOLLEG”

Para onde estou indo? Perdão pelo devaneio. As contradições que salientei não eram somente das festas de ontem e hoje, mas também ocorriam no dia-a-dia. Ainda hoje festejamos muito, demais para as nossas condições atuais, mas o velho tom descontraído se foi, porque a igualdade social se perdeu. Blumenau não é mais a velha Blumenau.111

Para onde estamos indo? Esta pergunta parece ter sido recorrente no interior do Kolleg, que atento às reconfigurações da cidade, procurou inovar e conservar prática/s pedagógicas em seu cotidiano. Suprimindo algumas festas e mantendo pequenos rituais da germanidade, o dia a dia educativo da (pré)-escola manteve firme seu projeto de constituição de mentalidades infantis que tivessem como foco o envolvimento com a “família Kolleg”, firmada na fé, no bem servir a pátria com homens e mulheres bem sucedidos, capazes de manter o espírito de superioridade. O Kolleg, não buscava igualdade social. Pelo contrário, almejava destaque, superioridade, desde sua instalação na cidade até as décadas de 1980- 1999. O Kolleg, vigilante, atento, minucioso e estratégico politicamente percebeu que Blumenau não era mais a velha Blumenau. Por isso se reconfigurou em alguns aspectos e se manteve firme em outros. As professoras, mesmo não participando das festividades de ontem e de hoje consideradas tipicamente germânicas, por outro lado lamentavam a velha Blumenau, aquela de homens e mulheres trabalhadores, aquela politicamente coesa, aquela de olhos azuis e cabelos louros. As mães, também não participando das festividades, não lembravam a velha Blumenau. Porque viviam a Blumenau do seu tempo. A cidade segura, com emprego, tranqüila e organizada. Na Blumenau das décadas de 1980-1999, os indivíduos entrevistados manifestaram diversos modos de ser, sentir e pensar a cidade. Nas relações sociais vividas, estruturaram suas mentalidades, seus “eus” cotidianos (Gofmann, 1983). E nesse jogo simbólico construíram diferentes comunidades de sentido, pelas cadeias ritualísticas de interação, nas quais se envolveram ou se distanciaram. Tais sentidos ajudaram o Kolleg a tomar decisões curriculares sobre a organização do cotidiano da (pré)-escola, em cuja teia de relações de interdependência tentou tanto atender expectativas das famílias, quanto aparentar aspectos mantenedores da situação da germanidade.

111 “Conversa de um velho colono blumenauense. Blumenau em Cadernos – Tomo XLVIII – Nº. 03/04 –

Depois de nos capítulos anteriores ter sido explorada a relação do Kolleg na cidade em dois períodos distintos – no primeiro capítulo a instalação da colônia e a chegada do Kolleg e todas as cadeias ritualísticas de interação formadas no desenvolvimento social da cidade em seus processos de urbanização e industrialização, e, no segundo capítulo as décadas de 1980- 1999 e toda a reconfiguração do cenário social e educacional, mostrando politicamente a construção do cenário de fachada para manter a definição da situação do tipo ideal blumenauense - nesta parte da tese toma-se as manifestações culturais das crianças em suas atividades escolares produzidas nas décadas 1980-1999 como objeto de análise. Boa parte do caldo analítico que ofereço se dedica a identificar palavras-chave, palavras de ordem, expressões ritualísticas, frases contidas no registro das professoras que demarcavam traços do cenário dos eus cotidianos vividos no dia a dia da (pré)-escola do Kolleg os quais intencionavam pedagogicamente uma grande meta – a perpetuação da “auto-imagem nós da família Kolleg”.

Na condição de profissional e pesquisadora que se debruça sobre a educação infantil, considero que o campo no Brasil ainda é eivado de indagações, incertezas e ambiguidades. Amparando-me na legislação recente, na qual a criança é considerada sujeito de direitos e a educação infantil como primeira etapa da educação básica, ação complementar à da família112, considero também que as propostas curriculares para educação da criança de zero a seis anos exigem diferenciais claros, específicos, em se tratando da natureza das atividades planejadas para e com as crianças, as interações e agrupamentos, as brincadeiras e a exploração das áreas do conhecimento e linguagens (Dias, 2003). Embora reconheça que a educação infantil institucionalizada, ou seja, formalmente organizada em sistemas de ensino no âmbito municipal ou estadual, assuma a forma escolar (Vincent, Julia, 2001) desde os primeiros anos em que a criança entra na creche ou pré-escola, defendo que a especificidade de uma pedagogia da educação infantil (Rocha, 1999; 2002; Faria, 2007) seja o carro chefe da organização do trabalho pedagógico para e com a pequena infância (Bondioli, 2004), reconhecendo a infância como categoria social e as crianças como produtoras de manifestações culturais nas diferentes formas de expressarem suas linguagens (Sarmento, 2000). Nesta tese parti do suposto de que no Kolleg a (pré)-escola assumia práticas de escolarização transformando a criança em aluno na educação infantil e ao analisar as atividades das crianças, utilizei o esquema conceitual de Gimeno para quem atividades são

112 Constituição de 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990), Lei de Diretrizes e Bases da

[...] esquemas de conduta aberta na classe, ou fora dela, tanto de professores como de alunos, que podem ser descritos em termos de espaço físico no qual se realizam, o número de participantes que intervêm, os recursos utilizados, o conteúdo focalizado pela atividade, etc. (1998, p. 210)

Considerando as crianças atores sociais plenos, ao tomar como unidade de análise suas produções em contextos escolares, me apoio no quadro do pensamento sociológico, na perspectiva analítica de Corsaro (1997), James & Prout (1997), Plaisance (2004) e entendo que as atividades produzidas no dia a dia da (pré)-escola kolleguiana, mesmo sem oferecer institucionalmente tempos e ambientes para que as crianças façam um planejamento partilhado (Wohmann & Weikart, 1995) com as professoras, ou seja, para que tenham vez e voz na estruturação da rotina diária, são, ao seu final, produto do que elas (as crianças) dizem, fazem, pensam, sentem, vivem.

É possível identificar, no material recolhido, certa unicidade no que concerne à organização metodológica do dia a dia educativo na (pré)-escola, não descolada do projeto educacional da congregação, cujas metas e finalidades estavam sedimentadas no catolicismo romanizado desde sua inauguração, no século XIX até a década em estudo.

O material empírico em que esta parte da tese se apóia se constitui das atividades práticas planejadas e narradas pelas professoras, contidas nos seus planos e registros de aula, concretizadas no dia a dia educativo pelas crianças. Como diz Gimeno, as atividades práticas ajudam a compreender os pressupostos nos quais se apóiam “[...] compará-los com as idéias introjetadas pelos professores como sustentação racionalizadora de suas ações” (1998, p. 263).

Pretende-se neste último capítulo da tese especificamente adentrar a caixa preta da escola, notadamente o cotidiano da (pré)-escola, compreendendo as turmas de crianças de três aos seis anos de idade durante os anos 1980-1999, considerando que, no primeiro e segundo capítulos, se é que assim posso dizer, fez-se uma abordagem da cidade como configuração social e as relações sociais constitutivas das cadeias de interdependência.

O significado que se atribui ao termo caixa preta, sob o aporte conceitual de Dominique Julia compreende o registro e os códigos culturais e simbólicos adotados pela e na instituição para engendrar as práticas escolares. Trata, portanto, do funcionamento interno da escola, de sua cultura interna, conforme assinala Julia:

[...] poder-se-ia descrever a cultura escolar como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas [...] ( 2001, p. 10)

No período investigado, percebe-se que no cotidiano da (pré)-escola do Kolleg houve alterações no discurso pedagógico. Foram alterações iniciadas pela retirada do idioma alemão do currículo, sob a influência do processo nacionalizador brasileiro na era getulista, mas que foi marcadamente iniciado a partir do desmembramento da “grande colônia”, no final da década de 1930. Somado a isso, desde 1950, com o entorno do caldo populacional da cidade e a crescente população católica, as irmãs da congregação, atentas às reconfigurações da estrutura social, adotaram o discurso do nacionalismo ocidental (Tomio, 2001), que tem na sua composição o uso racional das tecnologias da informação e comunicação, o espírito do competir e vencer, sem, contudo perder o núcleo rígido da formação de mentalidades e dos eus cotidianos (Gofmann, 1983) – o catolicismo romanizado.

Além disso, as irmãs estavam atentas também ao perfil das crianças que recebiam na (pré)-escola. Não eram mais as meninas vestidas com os aventais bordôs, quadriculados, de laço de fita no cabelo, nem os meninos de calça curta, estilo moço de bandinha típica.

Figura 9: Crianças do jardim de infância do Kolleg

Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, 1981

Os meninos e meninas matriculados no Kolleg nas décadas de 1980-1999 eram crianças de uma sociedade globalizada. As irmãs estavam atentas a esse cenário. Às crianças que queriam lanchar no Mc’Donalds, que disputavam no dia a dia, desde pequenas, pelo tênis e calça jeans de marca, que traziam no lanche salgadinhos da Elma Chips. Era o mercado estadunidense, com seus logotipos e slogans de última geração compondo o cenário

blumenauense, que há muito tempo havia deixado de ser tipicamente alemão. No Kolleg, o ideário germânico começou a ficar em segundo plano nas décadas de 1980-1999.

Porém, conhecedoras do poder do discurso do empresariado local em torno da defesa da superioridade étnica e do desejo de consolidar a autoimagem da cidade como “um pedacinho da Alemanha no sul do Brasil”, as irmãs não deixaram de veicular na proposta pedagógica (pré)-escolar algumas festividades e rituais do ideário germânico, mesmo que de forma bastante rarefeita.

Através dessas festividades e rituais do cotidiano, o Kolleg mantinha-se na pauta dos desfiles e da imprensa, veiculando simbolicamente seu status de tradição e referência, não só em disciplina e ordem para atender expectativas das mães, mas também mostrando, superficialmente, a “tradição germânica” nos rituais da espetacularização do folclore alemão nos desfiles da Rua XV de novembro, sazonalmente na Oktoberfest, nas comemorações do aniversário da cidade e na comemoração cívica em sete de setembro.

Superficialmente a tradição era veiculada no cotidiano da (pré)-escola com a utilização de personagens criados pelo marketing turístico e veiculados no Jornal de Santa Catarina para