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CAPÍTULO II. Aquisição da competência lexical em Língua segunda

2.2.6. Na escrita

A escrita à semelhança da oralidade e da leitura constitui uma das tarefas fundamentais que a escola tem de resolver ao se dar o início da escolarização fundamental de qualquer individuo, porque também se constitui em um indicador de base na análise da eficácia de sistema educativo do País.

Reconhece-se, hoje, que grande parte de alunos no ensino primário e não só, em Angola apresentam dificuldades assinaláveis de escrita que se arrastam até na sua vida fora da escola. As dificuldades devem-se, sobretudo à falta de estratégias didáticas específicas que devem ser materializadas por professores nas suas aulas e pelo facto de tais estratégias exigirem dos professores uma formação específica que muitas vezes não a detêm. Tratando-se de uma questão tão complexa, o ensino da escrita não seria devotado apenas ao ensino primário como fazem crer as práticas educativas. A escrita não se consegue num ciclo de ensino só, é das habilidades mais complexas que o aluno deve treinar infinitamente, pois aprende-se a escrever escrevendo.

Carvalho (2011:79) concebe a escrita como:

“[…] o oposto da oralidade, esta assenta num sistema fonológico e materializada em sons, aquela num sistema ortográfico e materializada em símbolos gráficos visíveis numa superfície. A correspondência entre as unidades constituintes do código oral e as do código escrito, entre o sistema fonológico e o sistema ortográfico, não é unívoca e linear […]”. Vygotsky (1979) apud Carvalho (2011:81) considera a escrita:

“a forma de discurso mais elaborada, uma vez que a comunicação, na falta de apoios situacionais, é conseguida através do recurso exclusivo às palavras e suas combinações. A maior autonomia do texto escrito em

relação ao contexto situacional tem […] implicações importantes quer ao nível da informação que é necessário verbalizar, quer no que se refere ao uso das estratégias e mecanismos de organização textual […]”.

O caráter não unívoco entre o grafema e o fonema, sobretudo na escrita da língua (Português) objeto de análise, constitui uma das razões para a complexidade da sua aprendizagem.

O ensino da oralidade, da leitura e da escrita não deve ser feito de forma isolada, pelo contrário, deve haver uma harmonização dos diversos instrumentos que concorrem para o mesmo, a aquisição e o desenvolvimento da competência lexical em Português língua segunda conseguem-se e podem ser melhorados quando o ensino primário concretizar no ensino o trinómio: oralidade, leitura e escrita de forma eficiente e eficaz. A esse respeito veja-se o que afirmam Lubliner & Smetana (2005):

“o capital lexical é igualmente um factor determinante da qualidade da escrita. Com efeito, quanto maior for, tanto maiores são os recursos disponíveis para selecionar vocabulário preciso e para evitar repetições lexicais […] este capital lexical influencia e é influenciado pelo volume de leituras e pelo nível atingido na compreensão da leitura são factores que favorecem a qualidade da produção escrita, a qual, por sua vez, tem efeitos na compreensão da leitura […] e “desencadeia a espiral ascendente que conduz ao sucesso escolar” (cf. Duarte, 2011:9-10).

O encadeamento harmonioso das habilidades de oralidade, leitura e escrita surge, também no quadro dos objetivos gerais do ensino da língua portuguesa, quer no quadro mais amplo, a Lei de bases do sistema de Educação em Angola (2001:8) que no seu artigo 17º postula como um dos objetivos específicos do ensino primário, “desenvolver e aperfeiçoar o domínio da comunicação e da expressão”, quer no mais estrito, no de objetivos gerais da disciplina da Língua Portuguesa no ensino primário, dentre os quais se destacam no programa melhorado do ensino primário 6ª classe Língua Portuguesa os seguintes:

(i) conhecer a língua nas suas variantes oral e escrita;

(ii) aplicar a língua na comunicação e expressão oral e escrita;

(iii) conhecer os princípios e procedimentos linguísticos e comunicativos relativos à oralidade, à leitura e à escrita;

(iv) analisar os aspetos ligados à língua portuguesa, utilizando-os como base de aquisição de conhecimentos dos conteúdos de outras disciplinas. Estes objetivos elucidam o quão é importante a apreensão com eficácia da oralidade, da leitura e da escrita, e estas habilidades devem ser convenientemente ensinadas para serem desenvolvidas.

2.2.6.1. As funções do dicionário no desenvolvimento da competência lexical

O dicionário é um instrumento de grande importância na aprendizagem

linguística e, mormente no desenvolvimento da competência lexical do individuo. É uma ferramenta indispensável no quadro dos vários instrumentos de normalização linguística, mas está associado à natureza social e cultural de uma comunidade linguística, ou seja, além de ser um instrumento basilar de normalização linguística, também o é culturalmente.

Dubois et al (1973) apud Mendes (200:100) definem-o assim:

“um dicionário é um objecto cultural que apresenta o léxico de uma ( ou várias) língua sob a forma alfabética, fornecendo sobre cada termo um certo número de informações (pronúncia, etimologia, categoria gramatical, definição, construção, exemplos, emprego de sinónimos, idiotismos); estas informações permitem ao leitor traduzir uma língua para outra, ou preenchem as lacunas que não lhe permitiriam compreender um texto na sua própria língua. O dicionário visa também dar as matrizes dos meios de expressão e aumentar o conhecimento cultural do leitor”.

Vilela (1995:78) recorda os aspetos culturais dentro de um dicionário quando assevera que o dicionário regista: “o conhecimento genérico culturalmente partilhado por uma comunidade linguística e codificado no léxico, é a codificação desse saber […] em suporte papel ou electrónico […] que pode ser consultado por pessoas ou máquinas

O dicionário pode desempenhar um papel central no desenvolvimento da competência lexical do aluno, desde que seja selecionado de acordo com a realidade do aluno e os propósitos daquilo que se quer que o aluno apreenda.

Não se deve pôr de parte que todos os eixos ou aspetos que um dicionário carreia estão vinculados à aprendizagem de quem o consulta, independentemente das circunstâncias em que o faz, por isso, parece redundante quando se fala de dicionário na perspetiva didática.

Dada a sua pertinência, convém ser usado como um material didático “normal” como os outros, acontece que para a realidade de Angola, e no caso concreto do ensino primário, os alunos não possuem dicionário básico ou elementar como um material didático “normal” à semelhança de livro de textos ou manual de aluno.

O dicionário por ter um caráter multifacetado (pedagógico, social, cultural, histórico, ideológico, etc.) tradutor de conhecimento metalinguístico, tem uma utilidade inestimável na aquisição e consequente desenvolvimento da competência lexical, a sua adoção e manuseio por parte de alunos, sempre sob orientação do professor, do ensino primário seria um ganho para os alunos desenvolverem e aperfeiçoar o domínio da comunicação e da expressão oral e escrita.

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