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PRÁTICAS EDUCATIVAS EM EDUCAÇÃO MUSICAL

4.3 Na sala de aula a gente trabalha alguma coisa

...Canta, principalmente em datas comemorativas, a gente canta todo início de aula... O clima fica muito mais agradável quando se tem música. (AA)

Ao conhecermos o trabalho musical das professoras entrevistadas, em termos de práticas educativas desenvolvidas no espaço da sala de aula, temos elementos que penso serem determinantes na análise desta questão, até porque se a dúvida é ter ou não ter música em sala de aula, a afirmação é positiva, uma vez que a grande maioria (cerca de 90%), manifestou realizar algum trabalho.

Na escola tem um coral. A gente faz também apresentações do dia dos pais, das mães, então eu procuro [...] dou bastante liberdade pra eles pesquisarem e estruturarem a música que eles quiserem. (CM)

É mais do cantar e de passar a mensagem da música, mas já a música pronta. Explorar sons, não. (HH)

O objetivo é mais de introdução de um conhecimento ou complementar uma mensagem que ela tem e trabalhar. (LV)

Eu trago músicas que eu gosto, que eu acho que são de um ritmo que as crianças têm que aprender a valorizar, porque assim oh, tipo pagode, essas coisas, não quero desvalorizar a cultura deles, mas eu não incentivo. Eu quero que eles aprendam a ouvir outras coisas, então eu trago essas outras coisas, tipo de música clássica pra fazer o trabalho de expressão corporal. É nesses momentos que eu uso a música. (MC).

Não há dúvida de que a música estando presente na vida das pessoas, professores e alunos, de alguma forma acaba ocupando o espaço da escola e da sala de aula. Mesmo naqueles espaços onde ela não se faz presente de forma tão visível, ainda assim, é possível encontrar pessoas “fazendo música” no pátio, na hora do recreio, nos corredores e, inclusive, na própria sala de aula. Segundo Beineke (2001):

Olhar para a música que acontece no contexto geral da escola também permite vislumbrar uma gama de funções e significados que vão muito além daquilo que os educadores musicais costumam considerar como parte do processo educativo. Algumas cenas podem nos ajudar a refletir sobre isso: a música que toca a todo volume no recreio, enquanto que algumas crianças brincam, outras dançam, outras comem a merenda e outras cantam. Todos em silêncio, ouvindo uma gravação na aula de música, balançando o corpo de forma contida, sob o olhar de desaprovação do professor; a música da hora cívica; o coral da escola que apresenta-se em todas as ocasiões especiais, servindo como cartão de visita da instituição; o barulho da aula de música, o silêncio. (p. 8)

Essas afirmações da autora, aliadas às manifestações musicais presentes na escola, narradas pelas professoras entrevistadas, transpõem nosso olhar do existir ou não música na escola para o como se orientam as manifestações musicais existentes no cotidiano das práticas educativas dos professores. Alguns autores têm estudado de forma mais aprofundada esta questão. Dentre eles destaco Merriam (1964), Hentschke (1991) e Tourinho (1993).

No entender de Merriam (1964), há uma diferença significativa entre usos e funções da música, na qual se entende que a maneira como se utiliza uma música (uso) pode determinar a sua função, muito embora aquela música possa não ter sido elaborada para aquela função. Assim, o uso se refere à situação na qual a música é aplicada e a função se relaciona às razões para o seu emprego e aos propósitos maiores da sua utilização31.

Hentschke (1991) traz suas contribuições para esta discussão inferindo que:

[...] é possível classificar pelo menos cinco principais valores sobre os quais a prática da Educação Musical tem sido fundamentada ao longo dos anos. Eu os nominaria valor estético, valor social, valor psicológico, valor multi- cultural e valor tradicional (p. 58).

Uma outra classificação sobre as funções da educação musical na escola vem de Tourinho (1993), a qual inicialmente classifica as atividades musicais em três categorias distintas: atividades de execução, descrição e criação (p. 92). Sobre a execução, a autora realiza uma análise mais profunda em torno do canto, uma vez que tem sido este o principal elemento tratado nas aulas de educação musical. Sobre a descrição, ela traz a audição como ponto central em que afirma que o principal objetivo destas atividades é desenvolver nos alunos a habilidade de “ouvir música tanto analítica quanto sinteticamente” (p. 108). Sobre a criação, a autora entende que:

[...] atividades criativas são aquelas caracterizadas pelo envolvimento – em maior ou menor grau – de processos de decisão musical realizados pelos alunos. Se os alunos estão tomando decisões reais sobre como os sons serão manipulados, então, por definição, eles estarão criando música. (Ibid., p. 119)

31

Originalmente este texto encontra-se na obra de Merrian (1964, p. 209) e foi traduzido por Lucimar Marchi dos Santos.

Estas classificações propostas por Tourinho (1993) determinam a função social assumida pela educação musical no contexto da escola, muito embora ela afirme que esta educação pode “servir” a diversas funções, podendo sofrer diferenciadas interpretações. Penso que não cabe a este estudo um aprofundamento de cada uma destas questões referentes aos usos, funções ou modos com que a educação musical pode se articular no espaço da sala de aula. Apenas entendo a necessidade de se tomar conhecimento de que autores têm buscado investigar estas questões de forma mais minuciosa no sentido de compreender que, enquanto prática social, a educação musical, estando inserida em um meio também social, precisa dar respostas aos anseios destas pessoas. A partir disso, passo a analisar alguns destes elementos presentes nas práticas dos professores participantes desta investigação.

4.4 Às vezes a gente só se lembra de cantar na época da Semana da Pátria, na