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4. EL CONTEXTO ESPAÑOL: LA CONSTITUCIÓN Y LA JURISPRUDENCIA DEL TRIBUNAL CONSTITUCIONAL

4.2 SITUAÇÃO NA PRIMEIRA E SEGUNDA INSTÂNCIAS

4.2.3 Na segunda instância

145 por exemplo, do intervalo intrajornada e dos feriados na jornada 12x36 e das horas extras de tempo à disposição.

Pelo que foi dito, a conclusão mais razoável é de que a Lei n. 13.467/17 tem sido aplicada pelos Juízes de primeira instância, no TRT da 3ª Região, aparentemente com mais rigor nos temas que dizem respeito à responsabilidade processual da parte autora, na perspectiva processual, e nos assuntos relativos a direitos revogados, na ótica material, isso sem prejuízo de adoção de determinados temperos decorrentes da interpretação conforme a Constituição, mas com reduzido espaço para decisões radicais, quer pela aplicação desmedida, quer pela resistência gratuita.

146 substituição: algumas admitem tranquilamente as apólices de seguro que tem sido apresentadas pelas empresas Reclamadas; outras exigem que o valor segurado supere em 30%

o valor originalmente exigido para o depósito recursal, nos moldes da OJ n. 59 da Subseção Especializada em Dissídios Individuais-2 do TST; outras analisam com mais rigidez as cláusulas das apólices de seguro e, além do acréscimo de 30% no valor segurado, exigem, por exemplo, prazo indeterminado de vigência, que seja assegurada a participação do Juízo da execução para se determinar o pagamento do valor segurado ou para eventual revogação da garantia, rejeitando as apólices que descumpram tais exigências, possibilitando a fragilização do seguro, deixando de cumprir a função de garantia de futura execução.

Em relação às normas processuais que alteram os custos do processo, como aquelas concernentes à responsabilidade pelo pagamento de custas processuais, honorários periciais, honorários advocatícios sucumbenciais e novos regramentos para beneficiários da gratuidade de justiça, há Turmas que entendem por sua aplicação apenas aos processos ajuizados após a entrada em vigor da Lei n. 13.467/2017. Isto porque, com a entrada em vigor da denominada reforma trabalhista, o risco processual do reclamante sofreu profundas alterações. E o momento em que esse risco é sopesado é aquele em que ocorre o ajuizamento da ação. Neste aspecto, tendo em vista o princípio constitucional da segurança jurídica e o princípio da não surpresa, entende-se que tais questões processuais devem ser regidas pela lei nova com relação às ações ajuizadas após sua entrada em vigor, independentemente de tratar-se de contrato em curso ou não.

O Tribunal Superior do Trabalho já sinalizou neste sentido, ao editar a Instrução Normativa n. 41/2018, que “dispõe sobre as normas da CLT, com as alterações da Lei n.

13.467/2017 e sua aplicação ao processo do trabalho”, tratando dos honorários advocatícios sucumbenciais em seu art. 6º, segundo o qual:

Art. 6º. Na Justiça do Trabalho, a condenação em honorários advocatícios sucumbenciais, prevista no art. 791-A, e parágrafos, da CLT, será aplicável apenas às ações propostas após 11 de novembro de 2017 (Lei n. 13.467/2017). Nas ações propostas anteriormente, subsistem as diretrizes do art. 14 da Lei n. 5.584/1970 e das Súmulas n. 219 e 329 do TST.

Contudo, algumas Turmas entendem pela aplicação imediata de tais normas processuais a todos os processos em curso, seguindo como critério a data de prolação da decisão.

Há, ainda, questões processuais trazidas pela Lei n. 13.467/2017 que já tiveram sua inconstitucionalidade reconhecida pelo Tribunal Pleno do TRT da 3ª Região.

147 É o caso da condenação do reclamante beneficiário de justiça gratuita ao pagamento de custas quando dá ensejo ao arquivamento da ação:

Súmula n. 72 do TRT da 3ª Região: Arguição Incidental de Inconstitucionalidade.

Pagamento de custas. Beneficiário de justiça gratuita. §§ 2º e 3º do art. 844 da CLT (Lei n.

13.467/2017). São inconstitucionais a expressão "ainda que beneficiário da justiça gratuita", constante do § 2º, e a íntegra do § 3º, ambos dispositivos do art. 844 da CLT, na redação dada pela Lei n. 13.467/2017, por violação direta e frontal aos princípios constitucionaisda isonomia (art. 5º, caput, da CR), da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CR) e da concessão de justiça gratuita àqueles que dela necessitarem (art. 5º, LXXIV, da CR). (RA 145/2018, disponibilização: DEJT/TRT3/Cad. Jud. 19, 20 e 21/09/2018).

Por outro lado, já foi declarada a inconstitucionalidade do dispositivo da reforma trabalhista que pretendeu restaurar a TR como índice de correção de débitos trabalhistas, em que pese o reconhecimento da inconstitucionalidade de tal critério de atualização pelo Ex.

STF:

Súmula 73 do TRT da 3ª Região: Arguição Incidental de Inconstitucionalidade. Atualização Monetária dos Débitos Trabalhistas. Art. 39, caput, da Lei n. 8.177/1991 e art. 879, §7º, da CLT (Lei n. 13.467/2017). I - São inconstitucionais a expressão "equivalentes à TRD", contida no caput do art. 39 da Lei n. 8.177/1991 e a integralidade do disposto no § 7º do art.

879 da CLT, inserido pelo art. 1º da Lei n. 13.467/2017, por violação ao princípio constitucional da isonomia (art. 5º, caput, da CR), ao direito fundamental de propriedade (art. 5º, XXII, da CR), à coisa julgada (art. 5º, XXXVI, da CR), ao princípio da separação dos Poderes (art. 2º) e ao postulado da proporcionalidade (decorrente do devido processo legal substantivo, art. 5º, LIV, da CR). II - Nos termos das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade n.s 4.357 e 4.425 e na Reclamação n. 22.012 e pelo Tribunal Superior do Trabalho na Arguição de Inconstitucionalidade n. 0000479-60.2011.5.04.0231, aplica-se o índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR) para atualização monetária dos débitos trabalhistas até 24/03/2015, e a partir de 25/03/2015, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E). (RA 67/2019, disponibilização: DEJT/TRT3/Cad. Jud. 23, 24 e 25/04/2019).

No que se refere à incidência das normas de direito material, também na segunda instância os critérios de direito intertemporal variam conforme a Turma julgadora.

Quer nos parecer que a maioria rejeita a retroatividade das normas a situações jurídicas consolidadas, de forma que, para contratos de trabalho iniciados e rescindidos antes da entrada em vigor da Lei n. 13.467/2017, a jurisprudência majoritária não aplica as alterações normativas.

Quanto aos contratos de trabalho já iniciados após 11/11/2017, as novas regras de direito material incidem às relações jurídicas trazidas à apreciação do Judiciário, e são interpretadas em cotejo com as demais normas contidas na legislação trabalhista, em convenções internacionais do trabalho (com a aplicação, por algumas Turmas, de técnicas de controle de convencionalidade) e na Constituição (com a remessa de alguns incidentes de Arguição de Inconstitucionalidade para apreciação pelo Tribunal Pleno, por observância à

148 cláusula de reserva de plenário contida no art. 97 da CF e na Súmula Vinculante n. 10 do STF). Há Turmas que aplicam literalmente as novas regras, sem maiores discussões hermenêuticas; e há Turmas que resistem à aplicação literal e desenvolvem métodos de interpretação sistêmica e teleológica.

Em relação aos contratos de trabalho iniciados antes, mas que continuaram vigendo após a entrada em vigor da Lei n. 13.467/2017, a impressão é de que a tendência majoritária é a de aplicação das normas anteriores até 10/11/2017 e, a partir de 11/11/2017, a incidência dos novos regramentos.

Contudo, há entendimento no sentido de não se aplicar as inovações legislativas trazidas pela reforma trabalhista, por força do disposto no caput do art. 7º/CF, bem como do art. 468 da CLT, que veda as alterações contratuais lesivas. Esse entendimento é corroborado também pelo inciso III da Súmula n. 191 do TST, que trata do adicional de periculosidade devido aos eletricitários, aplicável analogicamente à hipótese, segundo o qual:

III - A alteração da base de cálculo do adicional de periculosidade do eletricitário promovida pela Lei n. 12.740/2012 atinge somente contrato de trabalho firmado a partir de sua vigência, de modo que, nesse caso, o cálculo será realizado exclusivamente sobre o salário básico, conforme determina o § 1º do art. 193 da CLT.

Ou seja, a lei nova restritiva de direitos aplicar-se-ia apenas aos novos contratos, assim entendidos aqueles firmados após a sua vigência.

A partir dessas considerações, pode-se inferir que, paulatinamente, como se disse, tem havido uma mudança interna no perfil geral do magistrado trabalhista. O eu interior, para fora de si, já não se convence – ou não se convence tanto – da necessidade do caráter tuitivo das normas trabalhistas, cuja transcendência não se fecha mais sobre a parte, historicamente, hipossuficiente, porém se expande em direção ao outro sujeito da relação jurídica de emprego com o objetivo de reequilibrar as forças contratuais no nível normativo – o que provavelmente significará uma acentuação do desequilíbrio real entre as partes.

Se, antes, pairava uma atmosfera entre os recém-ingressos na carreira plena de compromissos com o próprio ramo trabalhista, seus princípios especiais básicos e com a lógica que deu ensejo à criação desta Justiça Especializada, agora se observa uma fragilização destas certezas. A visão de mundo dos magistrados facilitava essa postura protetiva, e as próprias instituições caminhavam segundo este contexto.

Atualmente, com as muitas reformas legislativas, as múltiplas alterações procedimentais e o próprio ataque às instituições, nota-se uma tendência para uma espécie de julgador mais rígido, literal, que anseia pelos arquivamentos, extinções sem resolução do

149 mérito, aplicação de normas que possam diminuir o acervo processual e evitar ações supostamente abusivas por parte dos jurisdicionados.

Essa postura pode estar assentada em um sentimento de autodefesa, notadamente nos magistrados mais jovens. Decidindo conforme o rigor gramatical da lei (“o juiz é a boca da lei”) a pressão é aliviada de várias formas: o juiz aparenta ser mais técnico e menos acessível, diminuindo as situações de confronto com partes, procuradores e a sociedade; as decisões ficam mais uniformes, simples e rápidas, afetando positivamente na produtividade; a responsabilidade pelas eventuais “injustiças” das decisões é transferida para o legislador, investido na figura de senhor do que é politicamente adequado inclusive para o caso concreto, o que afasta o peso de a sentença ter que enfrentar a crueza e a criatividade de uma realidade social, sempre desigual e cruel.

De se destacar que o próprio Poder Judiciário favorece a germinação desse magistrado. Com efeito, até mesmo a campanha da “escola sem partido” pode estar afetando algumas Escolas Judiciais. Estas, a pretexto de se tornarem apartidárias, deixam de ocupar o relevante espaço de formar partidários do próprio Direito do Trabalho, para criar um ambiente eminentemente técnico, que muito bem estariam aptas a formar magistrados de outras áreas, sem qualquer ajuste no programa de seus cursos. Em meio a essa conjuntura, aquelas que não adotam esse padrão acabam sendo tingidas de vermelho pela opinião pública e pela própria Justiça Especializada, marca que se usa para criticar uma suposta ideologia em favor dos empregados.

Tampouco o ambiente do fórum e dos plenários favorece a confecção de um Direito Processual do Trabalho artesanal, com sentenças tecidas a mão, mas sim de decisões produzidas em série, com uso de alta tecnologia. E o Direito do Trabalho acaba se encolhendo nesse sítio supostamente “neutro”.

E ainda há o rigor do sistema de precedentes (art. 926 do CPC), que expõe a sentença a toda sorte de controle, em nome da segurança jurídica, direito fundamental que se tornou jargão da crítica à Justiça do Trabalho. A decisão que sai dos trilhos da jurisprudência vinculante não mais fica sujeita apenas à reforma ou cassação pela via recursal: desafia reclamação (art. 988 do CPC), mandado de segurança e até manchete em capa de jornal.

Tudo isso se soma e constrói um ambiente insalubre para o magistrado, estratégico para o capital e hostil para o trabalhador. Pouco a pouco, ao que parece, a Justiça do Trabalho vai deixando de ser uma casa de especiarias para se tornar uma “megastore”, engendrando as reformas enlatadas do texto da lei para a formação do magistrado e para a modulação do comportamento das partes.

150 5 COMO O JUIZ PODE AFETAR A LEI