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M Napoli, 1950 in MANCINI, Franco Il presepe Napoletano Scritti e testimonianze dal secolo X

No fim da mostra, Ottavio Morisani37 gerou polêmica ao refutar o status artístico atribuído ao presépio napolitano, tratando seus autores como meros artesões. Em resposta, o colecionador e advogado Riccardo Papale38 elaborou uma carta aberta na qual refutava que se aventasse a possibilidade do presépio do setecentos napolitano ser uma arte menor e propunha que houvesse uma distinção entre a produção dos acessórios cênicos, fruto do trabalho artesanal, com a dos pastores, de natureza artística. Ainda, no âmbito das discussões, Raffaelo Causa39 contestou o enquadramento da produção presepial apenas no campo da escultura:

Non sara al metro della scultura che noi potremo misurare queste manifestazioni e perciò ci sembrano precise le limitazioni del Molajoli, nella prefazione al Catalogo della mostra, quando inquadra il fenomeno nella oscillazione tra i due poli della storia dell’arte e di quella del costume.40 (CAUSA, 1951,p.58-61. In: MANCINI, 1983, p.317-18)

Contudo, não negou o valor da mostra e comentou suas contribuições ao enfrentar a questão das atribuições e produzir um compêndio das biografias dos autores. Posteriormente, o estudioso reformulou a questão no texto La stagione aurea del presepe napoletano no catálogo da exposição Civiltà del Settecento a Napoli ocorrida no final da década de 70, ao apresentar o Presépio Napolitano barroco como singular produto artístico, merecedor de reconhecimento por seu valor histórico e cultural.

37 MORISANI, Ottavio. I pastori e l’arte. Il mattino d’Italia, 13 settembre 1950. In: MANCINI, Franco. Il

presepe Napoletano. Scritti e testimonianze dal secolo XVIII al 1955. Napoli: Società Editrice Napoletana,

1983. p. 310-311.

38 PAPALE, Riccardo. Polemica sui pastori. Il mattino d’Italia, 20 settembre 1950. In: MANCINI, Franco. Il

presepe Napoletano. Scritti e testimonianze dal secolo XVIII al 1955. Napoli: Società Editrice Napoletana,

1983. p. 312-313.

39 CAUSA, Raffaello. Il presepe napoletano del ’700. Milano: Le vie d’Italia, 1951, anno LVII, p.58-61 . In:

MANCINI, Franco. Il presepe Napoletano. Scritti e testimonianze dal secolo XVIII al 1955. Napoli: Società Editrice Napoletana, 1983. p. 317-318.

40 “Não será na régua da escultura que poderemos mensurar esta manifestação e por isso, parecem precisas as

limitações de Molajoli no prefácio do catálogo da mostra, quando enquadra o fenômeno oscilando entre dois pólos, o da história da arte e daquela do costume.” Tradução da autora.

Até a década de 50, os estudos trabalharam no sentido de revisar criticamente a literatura e operar uma história da produção. Nas décadas seguintes, novas metodologias e indagações direcionaram as investigações. Nesse sentido, o livro do pesquisador e antigo conservador-restaurador do Bayerisches Nationalmuseum de Munique41, Rudolf Berliner42 delimitou a passagem desses dois caminhos. Em seu ensaio, o estudioso realizou uma síntese crítica do material publicado até o momento e propôs que as futuras investigações tratassem de outras questões que não fossem ligadas a revisão da literatura, tais como, discutir a singularidade e distinção das características dos autores ou revisar as atribuições das peças.

Dentro das tentativas de novas abordagens, alguns ensaios procuraram analisar e identificar a simbologia presente em seu cenário e outros buscaram as influências da pintura napolitana no fenômeno presepial. Alguns tentaram teorizar quais seriam as primeiras manifestações do Presépio Napolitano, apontando que seu início ocorrera anteriormente à noite de Greccio43 ou trataram de levantar documentos inéditos e solucionar as lacunas acerca da produção do Século XVI e XVII. Ainda, alguns autores focaram seus estudos no colecionismo, na cenografia, nas coleções de museus e outros, nas vestimentas, nos acessórios e nas relações com a História dos Costumes. Enfim, diversos foram os recortes dados ao assunto.

Desde a década 60, destacam-se as pesquisas de Gennaro Borrelli, Teodoro Fittipaldi, Franco Mancini, Raffaello Causa e Elio Catello. Após se ocupar das atividades do escultor Giuseppe Sanmartino na produção de figuras para

41 Trabalhou no museu de Munique, o qual possui uma vasta coleção de presépios.

42 BERLINER, Rudolf. Die Weihnachtskrippe. München: Prestel Verlag, 1955. p.96-117 In: MANCINI,

Franco. Il presepe Napoletano. Scritti e testimonianze dal secolo XVIII al 1955. Napoli: Società Editrice Napoletana, 1983. p. 323-344.

43 Na verdade, esta argumentação baseia-se na notícia documental de 1025, referente à existência de uma

igreja dedicada ao presépio (S. Maria ad Praesepe). Entretanto, estes autores ignoram o fato de que, neste momento, a palavra presépio referia-se ao culto da manjedoura, e não à representação cenográfica da Natividade. Portanto, este fato não deveria ser utilizado como referência para tratar o fenômeno da produção de presépios, da forma como entendemos hoje, ou seja, como escultura de vulto autônoma.

presépios44, Borrelli publicou Il presepe napoletano45. Publicação na qual aprofundou as investigações documentais, elaborando um histórico do Presépio Napolitano desde o século XIV e elucidando algumas questões de períodos pouco abordados pela historiografia. Ainda, introduziu a problemática da evolução da cenografia, delineou um esquema biográfico dos escultores presepiais napolitanos e tratou de seus aspectos estilísticos, apresentando um vasto aparato fotográfico. Essa publicação tornou-se a análise mais concisa sobre o tema e, até os dias atuais, é referência para os estudiosos. Por fim, após a década de 90, o pesquisador focou suas investigações nas cenas, nos personagens, nos acessórios e principalmente, nas cenografias dos conjuntos ao longo dos séculos, editando os exemplares Il presepe napoletano46, Scene e scenografia nel Presepe Napoletano47 e Personaggi e scenografia del Presepe Napoletano48. Nesta linha, cabe ressaltar o estudo de Alessandra Griffo49 que além de tratar das cenas, avaliou a influência da pintura de gênero e de paisagens no desenvolvimento da ambientação cênica.

Durante os anos 60, Franco Mancini discutiu a problemática da atribuição nos presépios50 e abordou a coleção de Eugenio Catello51. Alargando suas pesquisas, realizou uma antologia52 contemplando artigos publicados em jornais e periódicos, escritos históricos, descrições dos viajantes, documentos de arquivo e cartas. Como aponta no prefácio53, seu intuito era realizar um estudo ainda mais ambicioso: “effettuare un censimento sistematico dei pastori, da

44 BORRELLI, Gennaro. Sanmartino scultore per il presepe napoletano. Napoli: Fausto Fiorentino1966. 45 Idem. Il presepe napoletano. Roma: De Luca – D’Agostino,1970.

46 BORRELLI, Gennaro, LISTRI, Massimo. Il presepe napoletano. Napoli: Tullio Pirronti Editore, 1990.

100p.

47 BORRELLI, Gennaro. Scene e scenografia del Presepe Napoletano. Napoli: Tullio Pironti Editore, 1991.

380p.

48 Idem. Personaggi e scenografia del Presepe Napoletano. Napoli: Tullio Pironti, 2001. 220p.

49 GRIFFO Alessandra. Il Presepe Napoletano – personaggi e ambienti. Novara: Instituto Geográfico De

Agostini, 1996

50 MANCINI, Franco. L’attribuzionismo presepiale. Napoli Nobilíssima. III serie, vol. 6. Napoli, 1967. 51 Idem. Il presepe Napoletano nella collezione Eugenio Catello. Firenze: Sadea-Sansoni, 1966.

52 Idem. Il Presepe Napoletano – scritti e testimonianze dal secolo XVIII al 1955.Napoli: Società Editrice

Napoletana,1983.

suddividere in famiglie di mano unitária, pubblicando per ciascuno di essi una scheda corredata dai relativi dati, misure, stato della vestitura, provenienza, bibliografia, ecc.”54 E, justifica: “a parte il tempo necessario per condurre una ricerca a tappeto dei pezzi – eccessivamente lungo ai fini editoriali – il progetto cozzava contro gli altri costi di produzione.”55 Assim, o projeto ganhou dimensões mais modestas, mas não menos importante e é de grande valia aos estudiosos por reunir textos significativos em um único volume. Atualmente, seu o antigo plano foi retomado através a coleção Il Presepe Napoletano nel mondo, a qual procura sistematizar informações a cerca das peças existentes nas coleções com o intuito de reunir um aparato iconográfico dos conjuntos e elaborar fichas técnicas das peças mais relevantes. Até o momento, foram lançados seis títulos56 que apreciam coleções particulares italianas. Todavia, de acordo com o editor57, a intenção é abordar em breve coleções públicas e privadas mundiais, a começar pela Espanha.

Elio Catello dedicou ensaios a certos conjuntos de presépios, como o pertencente ao Principe d’Ischistella58, a grupos realizados nos séculos XVI e XVII59, e a autores de figuras para presépios, como Giuseppe Sanmartino60,

54 “efetuar um senso sistemático dos pastores, subdividir em famílias de mão unitária, publicando para cada

um deles um esquema relativo dos dados, medidas, estado da vestimenta, procedência, bibliografia, etc.”. Tradução da autora.

55 “além do tempo necessário para conduzir uma pesquisa de peças – excessivamente longa para fins editoriais

– o projeto ia de encontro com o alto custo de produção”. Tradução da autora.

56 MANCINI, Franco (org.). Il Presepe Napoletano nel mondo. La raccolta Bordoni – Bologna. Sorrento:

Franco Di Mauro Editore, 1998.

Idem. Il Presepe Napoletano nel mondo. La raccolta Roberto Catello – Napoli. Sorrento: Franco Di Mauro Editore, 1999.

Idem. Il Presepe Napoletano nel mondo. La raccolta Scarlato, Napoli. Sorrento: Franco Di Mauro Editore, 2000.

Idem. Il Presepe Napoletano nel mondo. La raccolta Filippo Soricelli – Napoli. Sorrento: Franco Di Mauro Editore, 2001.

Idem. Il Presepe Napoletano nel mondo. La raccolta Roberto Catello – Napoli. Parte Seconda. Sorrento: Franco Di Mauro Editore, 2004.

Idem. Il Presepe Napoletano nel mondo. La raccolta Giuseppe Lembo – Torre del Grecco. Sorrento: Franco Di Mauro Editore, 2006.

57 http://www.francodimauroeditore.it/presepenelmondo.htm

58 CATELLO, Elio. Il principe d’Ischitella e i presepi borbonici. Napoli Nobilíssima. Napoli, 1978. Vol.17,

fasc.5.

Francesco Celebrano61, Vassallo62. Na década de 90, focou seu trabalho no estudo biográfico dos autores63 e coordenou a mostra La cantata dei pastori. Realtà e fantasia nell’arte presepiale del Settecento a Napoli64.

Após tratar do presépio e da escultura no século XVIII65; abordar a técnica construtiva dos cenários setecentistas66; e escrever sobre os autores de presépio, Matteo Bottiglieri67 e Giuseppe Sanmartino68, Teodoro Fitipaldi organizou a mostra Civiltà del Settecento a Napoli69 . Nas décadas de 80 e 90, seus estudos versaram a coleção do Museu de San Martino em Nápoles e resultaram nos seguintes títulos: Il Presepe Napoletano nel Museo di San Martino70, Il Presepe Napoletano e Michele Cuciniello71 e Il Presepe Napoletano del Settecento72. Nestes ensaios, além de tratar dos pormenores da coleção, ele aborda o presépio napolitano como produto artístico de corte, um fenômeno que se utilizou de escultores, pintores, arquitetos e artesãos, articulando segmentos diversos. Ainda, sobre a coleção do Museu de San Martino, vale ressaltar o livro Presepi a San Martino73, publicado na década de 60 por Marina Causa Picone, quando ela era Diretora do museu. O volume

60 O autor publicou os seguintes textos:

CATELLO, Elio. Giuseppe Sanmartino per il Presepe Napoletano. Arte Cristiana. Nº. 663, vol. 67, fasc.12, 1979.

Idem. Sanmartino. Napoli, 1988.

61 Idem. Francesco Celebrano e l’arte nel Presepe Napoletano. Napoli: 1969.

62 Idem. Scultori per il Presepe Napoletano del Settecento: i Vassallo. Napoli Nobilíssima. Napoli: 1982, XXI 63 Idem. Repertorio biografico degli artisti. In: Presepe Napoletano. Sorrento: Franco di Mauro Editore,

1997. p. 221-230.

64 Idem. La cantata dei pastori. Realtà e fantasia nell’arte presepiale del Settecento a Napoli. Napoli:

Soprintendenza per i Beni Artistici e Storici di Napoli, 1996.

65 FITTIPALDI, Teodoro. Il presepe e la Scultura a Napoli nel Secolo XVIII. Napoli, 1963.

66 Idem. Note e impressioni sulla storia e sulla tecnica struttiva degli <<scogli>> dei Presepi Napoletani del

1700. In: Il presepe. Bolettino Ass. It. “Amici del Presepio”, n.51, 1969.

67 Idem. Sculture di Matteo Bottiglieri in Campania. Campania Sacra. 1973. 68 Idem. Giuseppe Sanmartino (III). Arte Cristiana. 1974.

69 Idem. Scultura e Presepe nel Settecento a Napoli. Napoli: Edizioni del Delfino, 1979. 70 Idem. Il Presepe Napoletano nel Museo di San Martino. Napoli: Electa, 1988.

71 FITTIPALDI, Teodoro, GAETA, Giuseppe. Il Presepe Napoletano e Michele Cuciniello. Napoli: Electa,

1990.

72 FITTIPALDI, Teodoro. Il Presepe Napoletano del Settecento. Napoli: Electa, 1995. 73 PICONE, Maria Causa. Presepi a San Martino. Napoli: L’Arte Tipográfica, 1964.

apresenta as peças de forma detalhada ressaltando suas autorias, eventuais restaurações e demais dados técnicos.

Outro exemplar que se ocupa dos pormenores das peças é o livro organizado por Marisa Piccoli Catello74. A autora apresenta as peças pertencentes ao Banco de Nápoles, além de discutir o problema ocorrido com a dispersão das antigas coleções durante os séculos XIX e XX, e evidenciar a importância de ensaios como o de Raffaelo Causa que aborda o presépio como um produto artístico de corte.

Nas últimas décadas, diversas publicações surgiram no mercado. Muitas delas ensaios sintéticos, sem um aprofundamento crítico. Algumas, derivadas da experiência de um colecionador, outras, obras meramente ilustrativas, além de catálogos de mostras e livros sobre coleções privadas e de museus.

Assim, surgiram volumes sobre as coleções do Bayerischen Nationalmuseum75, em Munique, Museu de Domberg76, em Freising, o Museu de Arte Sacra de São Paulo, o Museo delle Arti e Tradizioni Popolari77, em Roma, ou o do Metropolitan Museum78, em Nova York, que abordam como suas peças setecentistas foram adquiridas ou divulgam como estão expostas. Na maioria dos casos, os exemplares são vistos e repropostos nas coleções de forma diversa de sua concepção original. Como é o caso do museu americano, que retirou as peças napolitanas de seu contexto original e as incorporou à tradição moderna local da Árvore de Natal, colocando-as como um objeto decorativo a ornar a decoração natalina. Já o museu romano realizou um recorte através do viés etnográfico proposto pelo doador da coleção em 1911.

74 CATELLO; Marisa Piccoli (org). Il Presepe Napoletano. The Neapolitan Crib. Napoli: Guida, 2005.

1987.

75 GOCKERELL, Nina. HABERLAND, Walter. Krippen im Bayerischen National museum. München:

Hirmer Verlag – Bayerischen Nationalmuseum, 2005. 384p.

76 FRUNZIO, Paolo. STEINER, Peter. . Die Königliche Krippe (Il Presepe del Re Ferdinando IV di

Borbone). Diözesanmuseum für christliche Kunst. Freising. Napoli: Alfa Tipolitografia, 1996. 69p.

77 MASSARI, Stefania. Il presepe del Re. Nella Collezione del Museo delle Arti e Tradizioni Populari.

Roma: De Luca, 2006.

78 HOWARD L., POOL M. J., ERWITT E., The Angel tree. A Christmas Celebration. Loretta

1.2.1) Primeiras manifestações presepiais napolitanas

As primeiras evidências do culto ao presépio em Nápoles estão ligadas aos franciscanos. Apesar da falta de registros, sabe-se que a ordem difundiu o gosto pela representação da Natividade, pelos acontecimentos de Greccio e pelo presépio na Europa e com certeza, produziu exemplares em Nápoles nos séculos XIII e XIV. Uma escultura com a representação de Nossa Senhora deitada79, pertencente ao acervo do Museu de San Martino, em Nápoles, vem corroborar tal hipótese (Fig. 20).

FIGURA 20 – Virgem proveniente da Chiesa di S. Chiara, Museo di San Martino, Nápoles. Fonte – Arquivo Eliana Ambrosio

Proveniente da Chiesa di S. Chiara80, ela seria a mais antiga imagem de presépio napolitana e estaria ambientada em uma gruta, de acordo com o esquema iconográfico vigente, no qual a Virgem era representada deitada ao lado do menino. Ao que tudo indica, o conjunto foi erigido por volta dos anos quarenta do século XIV, momento em que a Igreja e o convento foram consagrados.

79 Medindo 140 cm.

80 Em seu ensaio de 1889, Di Maddaloni (1889, p. 62-70) ratifica os escritos de Napoli Signorelli (1810-11,

p.28-30), no qual o presépio mais antigo seria o existente na Capela dos Minutolo, e pontua duas obras remanescentes ao século XIV. Uma pertencente ao sarcófago de Contestabile Aldemoresco em São Lorenzo e a outra ao Convento de Santa Clara.

Em seus escritos datados de 1889, Di Maddaloni (1889, p.64) relata que vira o grupo e detalha:

Questo presepe occupa tutta una gran cella terrena del maggior chiostro. È adorno di grandi figure sculte in legno e dipinte, avvegnaché rozzamente; e, come in quello originale di Greccio, vi si vede l’altare a piè della mangiatoia, tra il bue e l’asinello. [...] E quel presepe dovette essere costruito, in quel monastero, a tempo che n’era badessa la Regina Sancia, o poco dopo, sotto il governo di Suor Odolora di Sabrano, ...81.

Entretanto, o presépio observado por ele não era aquele edificado no século XIV, e sim, outro que o substituiu nas últimas décadas do século XV.

Um documento encontrado no Archivio not. Di Fabriano noticia, em 15 de fevereiro de 1384, um presépio em madeira policromada, encomendado por Vanni Mainardi ao Frade Giovanni Bartolomei di Monterubbiano, para a Igreja Santa Catarina82. Essa seria uma das referências mais antigas da tradição presepial napolitana. Ainda, nas proximidades de Nápoles, há um relato de 1324 sobre uma capela dedicada ao presépio na casa do Arcebispo de Amalfi, Andrea di Alagno83. Segundo consta, nas paredes de fundo, concomitante ao retrato de seu mecenas, havia uma gruta com afrescos representando a Natividade, segundo o esquema apresentado pelos Evangelhos Apócrifos.84

Além dos afrescos, era comum a representação da Natividade em relevos para comporem a decoração de sepulcros. Em Nápoles, o mais antigo que se tem notícia foi realizado entre 1402 e 1412 para integrar o sepulcro do Cardeal

81 “Esse presépio ocupa toda uma grande sala no térreo do claustro maior. É adornado de grandes figuras

esculpidas em madeira e policromadas, ainda que toscamente; e como naquele original de Greccio, se vê o altar ao pé da manjedoura, entre o boi e o burro [...] E aquele presépio deve ter sido construído, naquele convento, na época que era abadessa a Rainha Sancia, ou pouco depois, no governo do Soror Odolora di Sabrano, ...”. Tradução da autora.

82 Borrelli (BORRELLI, 1970, p.32 not.10) ao mencionar este presépi cita uma nota de Rudolf Berliner

(BERLINER, R. Die Weihachtskrippe, nt. 344 p.109), a respeito do artigo de Gianandrea intitulado Il presepe di Vanni Mainardi in Monterubbiano (A. GIANANDREA, Il presepe di Vanni Mainardi in Monterubbiano, NUOVA RIVISTA MISENA, anno II, n.7, 1889).

83 Correra (1889, In: MANCINI, 1983, p.96. not. 3) relata este exemplo, baseando-se nos escritos de Camera

(Memorie storiche-diplomatiche di Amalfi, vol I, p. 668).

Arrigo Minutolo (morto em 1412)85 na homônima Capela do Duomo. Antigos relatos atribuíam o relevo ao arquiteto e escultor Antonio Baboccio (1351-1435). Contudo, pesquisas posteriores conferiram-no a outro escultor romano anônimo da escola de Baboccio86. Sua singularidade residiria no fato de ser a primeira obra napolitana inserida dentro da nova paginação iconográfica87, a qual apresenta a Virgem ajoelhada ao lado do menino e São José sonolento. Na composição, nota-se, no fundo da gruta à direita, a Virgem ajoelhada contemplando o menino que está deitado sobre a palha do chão. Do outro lado, São José aparece sonolento próximo ao boi e o burro. Do lado de fora, anjos pairam sobre o céu, enquanto quatro ovelhas comem arbustos, vigiadas por dois pastores.

Na sequência, outro relevo importante situava-se no túmulo de Maria de Aragão na Capela de Piccolomini em Sant’Anna dei Lombardi (Igreja de Santa Maria di Monteoliveto). Apesar de algumas referências atribuírem a autoria a Donatello, a obra foi realizada por seu aluno, Antonio Gambarelli conhecido como Rossellino (1427-1478)88, sendo finalizada por Benedetto da Maiano (1442-1497). No relevo, a cena da Natividade estava ambientada em um estábulo89, ao invés de ser representada dentro de uma gruta. Sobre o teto pairavam nove anjos cantando e dançando, outro pormenor que Vasari (1878, vol. III, p.95) fez questão de exaltar:

[...] fece una tavola di una Natività di Cristo nel presepio, con un ballo di angeli in su la capanna che cantano, a bocca aperta, in una

85 Napoli Signorelli (1810-11, In: MANCINI, 1983, p. 29) afirma que este relevo fora realizado por Antonio

Babosio e pertencia ao sepulcro do Arcebispo da família Minutolo. Em, 1889, Di Maddaloni (1889, In; MANCINI, 1983, p. 64) contesta Napoli Signorelli (1810-11, IN: MANCINI, 1983, p. 28-30) informando que tal relevo estava inserido no sepulcro do Cardeal Arrigo Minutolo e não do Arcebispo Filippolo Minutolo.

86 NICOLINI, 1930, In: MANCINI, 1983, p. 186.

87 Este novo esquema refere-se à nova iconografia da cena da Natividade, a exemplo da pintada por Taddei

Gaddi em 1340 (vide p.39-40).

88 Di Maddaloni (1889, In: MANCINI, 1983, p. 62-73) retifica este equívoco ao comparar a data da morte de

Donatello (1466) e a data de nascimento de Maria di Aragona (1470), confirmando a impossibilidade do escultor ter trabalhado em um monumento póstumo a uma pessoa que nem havia nascido, e assim,

demonstrando a falta de análise crítica no tratamento das informações por parte dos escritores de seu tempo.

maniera che ben pare che, dal fiato in fuori, Antonio desse loro ogni altra movenza ed affetto con tanta pulitezza che più operare non possono nel marmo il ferro e l’ingegno. 90

Ainda, vale salientar, o relevo, contemporâneo a obra escultórica de Rossellino, localizado na Capela de Caracciloi Marchesi di Vico na Igreja de S. Giovanni a Carbonara. Realizado pelos espanhóis Diego e Bartolomeo Ordoñez, anteriormente, fora atribuído por Francesco Proto Duca Di Maddaloni ao espanhol Pedro della Plata91.Sua particularidade residiria na representação de um dos Reis Magos com traços de um dos representantes da dinastia de Aragão. Ao descrever a cena, Nicolini (1930, In: MANCINI, 1983, p. 186) ressalta:

[…] nimbata e ravvolta in panneggiamenti, siede la Vergine col Bambino in braccio e San Giuseppe accanto, mentre, tra paggi, suonatori e cavalli scalpitanti, si vengono i tre re: dei quali l’uno, genuflesso, bacia il piede del Fanciullo; l’altro, parimente

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