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O narrador distante: histórias partidas revelam facetas da vida adulta 1 “After the Race”

Embora Joyce tenha mencionado o desejo de reescrever “After the Race” em cartas, ele nunca de fato o fez. A forma como lemos a obra hoje é semelhante ao modo como foi primeiramente concebida. Grandes temas desenvolvidos ao longo da coletânea são trabalhados aqui: uma sociedade que preza as aparências, que é formada por instituições corruptíveis, as relações calcadas em interesses, o jogo de poder entre nações, o nacionalismo (quando não extinto, patético), a riqueza do continente e a pobreza local, a bajulação e o encantamento com esse estrangeiro em detrimento do nacional, na forma inclusive de uma noção de que, à maneira de “Eveline”, a vida estaria em qualquer outro lugar que não em Dublin. Vejamos tudo isso mais detidamente.

A estrutura do conto é bipartida: a princípio, trata-se da vida social dos indivíduos e, depois, de suas relações em âmbito privado; a primeira parte ocorre durante o dia, e a segunda, durante a noite e a madrugada, até a manhã seguinte; se de um lado temos os momentos que se seguem à corrida, de outro temos o jantar no hotel e o jogo no barco – sendo o primeiro fundamental para a construção do cenário daquilo que se verá futuramente.

A corrida que inspira o conto teria realmente acontecido nos arredores da cidade, em 2 de junho de 1903. Seu principal objetivo era “testar, provar e propagandear o design de automóveis e equipamentos (e, consequentemente, encorajar melhorias)”.1 Além disso, era uma oportunidade para que cada um dos países se exibisse frente aos demais. Dos doze carros que iniciaram a competição, três franceses, três alemães, três ingleses e três americanos, apenas quatro ou cinco2 atingiram a linha de chegada. O vencedor foi um competidor belga que dirigia um dos carros alemães; os automóveis azuis dos franceses ficaram em segundo e terceiro lugares, e em quarto terminou um inglês.

Como já nos indica o título, a estória acontece depois de terminada a corrida. Por mais que as ações de Jimmy Doyle estejam em foco, a história não é narrada do ponto de vista dele, mas por um narrador onisciente que naturalmente está distante dos fatos. É possível notar isso já de início: a voz narrativa descreve automóveis que vão em direção a Dublin e diz que os espectadores estão no topo da montanha, formando um canal por onde passam os veículos.

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GIFFORD, Don. Joyce annotated: notes for Dubliners and A Portrait of the Artist as a Young Man. Berkeley: University of California Press, 1982, p. 52. No original: “To test, to prove, and to advertise (and thus to

encourage improvements in) automobile design and equipment”.

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Ora, para observar a um só tempo carros que atravessam a cidade e espectadores que tentam avistar tais carros, a voz só pode estar fora da cena, descrevendo-a a partir de um ponto de vista privilegiado.

O fato de estar distanciado permite ao narrador ironizar aquilo que observa. Os automóveis se aproximam da cidade pela estrada Naas via Inchicore, em uma região afastada e habitada por uma modesta classe média. Não há competição anunciada nesse primeiro momento da estória: os veículos estão “running evenly like pellets in the groove of the Naas

Road” (D, 44, destaque nosso). Começamos a notar que a corrida a ser considerada aqui não é

a de carros, ou melhor, a competição não é a da corrida; concorrência é o que vai se dar em outro sentido. A estrada Naas chega até Dublin entre a prisão Kilmainham e o quartel do Exército britânico, ambos símbolos da submissão irlandesa.3 Kilmainham Gaol abrigou desde aqueles que roubavam comida durante a Grande Fome (quando superlotou) até os que lutaram pela independência do país. Líderes das rebeliões de 1798, 1803, 1867 e 1916 foram detidos ali, alguns inclusive executados. Entre os mais conhecidos estão Robert Emmet, Charles Stewart Parnell e DeValera. É pelo menos irônico que os observadores dublinenses se reúnam nessa região para observar o desfile dos carros estrangeiros – “and through this channel of

poverty and inaction the Continent sped its wealth and industry. Now and then the clumps of people raise the cheer of the gratefully opressed” (D, 44). As afirmações são duras. Quando a

rainha Alexandra visitou Dublin junto com Eduardo VII, ela observou que, quanto mais pobres as multidões, mais aplaudiam. O canal é formado por dublinenses pobres, que também aclamam o que é de fora, provavelmente sem se dar conta de que a riqueza do estrangeiro se deve, entre outras coisas, à exploração e à opressão de seu povo ou de povos semelhantes – daí a incongruência do também irônico “gratefully oppressed”. Por isso, o trecho começa a sinalizar que o embate que de fato está em jogo na estória é aquele que se dá entre o estrangeiro e o local.

Já aí começamos a notar que a postura desse narrador não é exatamente neutra, uma vez que expressa julgamento sobre as ações das personagens. Não que ele faça comentários ou insista em se intrometer, mas se utiliza dessa ironia clara em algumas das descrições. Além do “the gratefully opressed”, a voz narrativa descreve Jimmy Doyle em sua ingenuidade e seu nervosismo. Trata-se de um narrador que, ao mostrar como age a personagem, explicita o que sente a respeito dela. Jimmy é diferente dos demais. Quando Ségouin o apresenta a um dos

3

JACKSON, John Wyse; McGINLEY, Bernard (Eds.). James Joyce’s Dubliners: an illustrated ed., with annotations. Nova York: St. Martin’s Press, 1993, p. 35.

corredores franceses, por exemplo, ele, que tem bigode castanho claro e olhos cinzentos, não sabe exatamente como agir e murmura um elogio confuso, ao qual o motorista, que tem o rosto queimado de sol, responde com um sorriso branco e brilhante. O rosto queimado pode sugerir que se tratava de um homem viajado, experiente, descrito no momento seguinte em que ficamos sabendo que Jimmy tinha “rather innocent looking grey eyes” (D, 45). Mais tarde, Rivière explica a Jimmy, “not wholly ingenuously” (D, 49), a superioridade da mecânica francesa; não seria ingênuo provavelmente porque gostaria de incentivar o jovem Doyle a fazer investimentos na agência de automóveis que ele dirigiria junto com o primo em Paris. Jimmy quer se aproximar dessas celebridades e se distanciar dos dublinenses, e o narrador dá voz a seu enlevo em frases como “it was pleasant after that honour to return to

the profane world of spectators amid nudges and significant looks” (D, 46), mas seu

nervosismo, sua euforia e até sua descrição física o situam como um local. O termo “profano” aqui não é usado necessariamente no sentido de pecaminoso ou ímpio – a implicação é que as experiências do dia assumiram uma importância quase religiosa para o jovem irlandês: “Essa é sua chance de ‘aperfeiçoar’ a si mesmo”.4

Além dessa inocência, cabe destacar que, após apresentar Jimmy Doyle, o narrador sempre se refere a ele pelo primeiro nome; os demais são mencionados pelo sobrenome. Isso parece reforçar certa proximidade entre o narrador e a personagem, ou talvez entre o narrador e a Irlanda, já que cada uma das personagens simboliza uma nação, mas é, mais que tudo, outro indício para o leitor de que Jimmy não se iguala aos companheiros. Logo de início, os três primeiros competidores estão “in good humour”, ou seja, unidos por um mesmo sentimento, enquanto o quarto, membro considerado à parte, estava praticamente em êxtase.

Ségouin was in good humour because he had unexpectedly received some orders in advance (he was about to start a motor establishment in Paris) and Rivière was in good humour because he was to be appointed manager of the establishment; these two young men (who were cousins) were also in good

humour because of the success of the French cars. Villona was in good humour because he had had a very satisfactory luncheon, and besides he

was an optimist by nature. The fourth member of the party, however, was too

excited to be genuinely happy (D, 44-5, destaques nossos).

No trecho, fica claro ainda que o narrador demonstra conhecer o estado mental dos quatro competidores. A posição privilegiada dessa voz narrativa permite que saiba até o que sentem os espectadores da corrida: “Their [clumps of people] sympathy, however, was for the

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blue car” (D, 44). Já indicamos que esses espectadores têm apreço pelo que é estrangeiro, mas

por que torceriam especificamente para os carros azuis dos franceses? Não há nenhuma justificativa explícita para isso no texto. Ainda assim, talvez se trate de outra ironia do narrador e de uma comprovação de que ele está apto a julgar. Isso porque não apenas os espectadores irlandeses se enganam ao cultuar as riquezas do estrangeiro colonizador, como se iludem ao torcer para competidores que não irão vencer. Nesse sentido, a ingenuidade de Jimmy é também a ingenuidade de seu povo.

O carro em que se apresenta o protagonista é do francês Charles Ségouin, que ele conhecera em Cambridge. O nome Ségouin seria uma provável adaptação de sagouin, que significa pessoa suja, física ou moralmente.5 Ele e André Rivière, nascido no Canadá, eram primos; ambos estavam radiantes não apenas pelo sucesso na corrida, mas também porque Ségouin, que iria montar a agência de automóveis em Paris, recebera alguns pedidos antecipados (e o primo dirigiria o estabelecimento). Já o húngaro Villona estava contente porque almoçara bem e porque, como diz o narrador, era um otimista. O irlandês Doyle, “neatly groomed” (D, 44), “was too excited to be genuinely happy” (D, 45). Apesar de não estarem competindo no momento, o espírito dos quatro “seemed to be at present well above

the level of successful Gallicism: in fact, these four young men were almost hilarious” (D, 44)

– “hilarious” para quem? Certamente não para aqueles que os apreciavam. Provavelmente para o narrador, que, de longe, julga a excitação demasiada e os deprecia.

Um pouco adiante, a frase “the car ran on merrily with its cargo of hilarious youth” (D, 46, destaque nosso) indica que o clima era de euforia. Em verdade, essa alegria é reiterada quase à exaustão ao longo do conto, o que comprova que a corrida era um grande acontecimento para os participantes, para o público e principalmente para Jimmy: “Jimmy’s

excitement” (D, 46), “all the men were excited” (D, 49), “what excitement! Jimmy was excited too” (D, 51), “merry bells” (D, 49), “what merriment!” (D, 50), “the cheer” (D, 44). Os

franceses dirigiam o carro. Eles riam e falavam, por sobre os ombros, amenidades (“light

words”) para o húngaro e o irlandês no banco de trás, mas sem se preocupar se eram ouvidos.

Frequentemente, Jimmy precisava se curvar, em um gesto que parece reverencial, para ouvir frases soltas. Por não ser um movimento agradável, era obrigado a adivinhar o significado do que diziam para gritar de volta (“shout back”) uma resposta adequada (D, 46). Ele ficou tão extasiado por ser visto ao lado de continentais que foi incapaz de se colocar como participante efetivo na situação – seu encantamento o condenou a mero espectador.

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Por mais que o narrador conheça os sentimentos de todos os envolvidos, a posição que ocupa em relação à estória não é estável, não se mantém fixa. Há momentos em que ele se aproxima de Jimmy para expressar a euforia dele, o receio que ele tem de perder dinheiro, sua vaidade, e em outras horas se distancia, ridiculariza a postura do jovem e olha criticamente para a situação. Quando recorre ao discurso indireto livre, Joyce não só deixa claros esses dois lados, como mostra que a voz narrativa oscila entre eles.

Tanto não é completamente fixa a voz narrativa que se articulam passado e presente para aprofundar a ironia e reforçar as críticas. No passado, Jimmy havia sido enviado pelo pai a Cambridge “to see a little life” (D, 45).6 Não era raro, à época, que jovens fossem matriculados em grandes universidades inglesas “sem intenção de obter um diploma ou enfrentar os exames, apenas por conta do status e pela possibilidade de fazer amigos influentes”.7 Até mesmo porque Jimmy não levava os estudos com muita seriedade – ele, que estudava Direito. A temporada em Cambridge de fato rendeu-lhe um contato com Ségouin, que tinha um inconfundível ar de riqueza: “Such a person (as his father agreed) was well

worth knowing, even if he had not been the charming companion he was. Villona was entertaining also – a brilliant pianist – but, unfortunately, very poor” (D, 45-6). No trecho, a

indicação entre parênteses sugere que o autor da frase “Such a person […] was well worth

knowing” seja Jimmy, que retoma algo que havia discutido com o pai. Além disso, por mais

que não haja nenhuma marca de separação entre a fala do narrador e a da personagem, valorizar a amizade de Ségouin, e não a de Villona, por questões financeiras, faz mais sentido na voz de Jimmy do que na do narrador, que insiste em como é tola a subserviência do irlandês. Portanto, trata-se de um trecho de destaque, pois nele a voz narrativa faz uso do discurso indireto livre e almeja mostrar o caráter do protagonista, não relatar o que pensa sobre ele. O destaque se deve ao fato de que o uso do discurso indireto livre é comedido ao longo do conto e quase não há falas evidentes dos envolvidos. Na maioria das vezes, o narrador, muito presente, não permite que personagens ajam nem falem por si mesmas. Por isso, também não se pode dizer que seja um narrador onisciente neutro.

Embora Ségouin e Jimmy fossem meros conhecidos, este último gostava de se ver próximo a uma pessoa que conhecia tanto do mundo (é o que nos diz o narrador, ressaltando a vaidade de Doyle) e (principalmente, podemos imaginar) que era famosa por ter um dos

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Algo a que também aspiram outras personagens da coletânea, como Eveline e Little Chandler.

7

GIFFORD, Don. Op. cit., pp. 53-4. No original: “It was not at all unusual before World War I for ‘young

gentleman’ to matriculate at Cambridge or Oxford with no intention of reading for a degree or standing for examinations but simply for the social status and the possibility of making influential friends which derived from being in residence”.

maiores hotéis da França. As amizades de Jimmy são orientadas pelo interesse. Sua postura, de maneira geral, enquadra-se nos ensinamentos do pai. O progenitor não é apresentado como alguém de convicções políticas firmes: havia começado a vida como um nacionalista defensor de Parnell, mas mudara de opinião depois do escândalo de 1890. Trabalhou como açougueiro em Kingstown e, mais tarde, abriu lojas nos subúrbios de Dublin, com as quais fez fortuna. A repetição das referências à fortuna e à riqueza, nesse trecho, faz pensar que mais uma vez há sarcasmo na voz do narrador, que tem pontos de vantagem sobre a estória e descreve as personagens como as vê. O sarcasmo talvez seja proveniente de uma espécie de desdém pela figura do Doyle sênior ou da intenção de sinalizar uma desconfiança acerca da procedência de tamanha riqueza em um país miserável:

He had made his money as a butcher in Kingstown and by opening shops in Dublin and in the suburbs he had made his money many times over. He had also been fortunate enough to secure some of the police contracts and in the end he had become rich enough to be alluded to in the Dublin newspapers as a merchant prince (D, 45, destaques nossos).

A transformação política do açougueiro foi tamanha que ele, antes um militante pela independência, depois “alimenta e se alimenta de seus antigos inimigos”.8 Esses contratos eram arranjados junto ao governo para fornecer mantimentos a quartéis de polícia e cadeias, instituições mantidas pelo poder britânico. Essa informação, sutil aos olhos de quem lê Joyce hoje, certamente não era mistério na época em que foi publicada a estória. Quando o narrador revela, ou melhor, enfatiza tais contradições na figura do pai, ele quer colocar o leitor a seu lado para observar junto com ele e notar o que ele nota.

À parte isso, todos, e Jimmy em especial, estão extasiados com a situação desde o momento em que são descritos no carro até quando se embriagam no barco. De acordo com Gifford, o protagonista “é submetido a camadas de desorientação. Ao menos seis motivos para confusão são mencionados: a rapidez, o vento, o murmúrio [de Villona no carro], o barulho do carro, a notoriedade e o dinheiro”.9 Doyle diz que tem dinheiro, mas quem o controla é o pai: “Jimmy had respect for his father’s shrewdness in business matters and in

this case it had been his father who had first suggested the investment” (D, 47). Quando

lemos, na voz do narrador, “of course, the investment was a good one” (D, 47), sabemos que ele está na verdade traduzindo um delírio de Jimmy, pois a contribuição é descrita a seguir

8

JACKSON, John Wyse; McGINLEY, Bernard (Eds.). Op. cit., p. 36. No original: “Mr Doyle has changed

politically so much that he now feeds (and feeds off) his former enemies”.

9

Ibid., p. 37. No original: “Jimmy is being subjected to layers of disorientation. At least six factors of confusion

como ínfima, aceita apenas por consideração à amizade: “And Ségouin had managed to give

the impression that it was by a favour of friendship the mite of Irish money was to be included in the capital of the concern” (D, 47). É como se o narrador, que por um momento se

aproxima do protagonista para dar voz a seu desvario, agora se distanciasse, colocasse os pés no chão e o ridicularizasse: a migalha de dinheiro irlandês. A maior parte dos recursos do moço não significava nada. A voz narrativa não compactua com Jimmy, embora expresse algumas vezes o pensamento dele – ela vê além da patética idolatria pelos continentais. Em certa medida, pode-se dizer que Joyce está manipulando o tipo de crítica que quer fazer da Irlanda. A sátira aos conterrâneos não é para enaltecer outros países.

Jimmy até parece reconhecer que a soma não seria considerável aos olhos do francês – mas o narrador indica que o jovem irlandês, herdeiro de sólidos instintos, saberia ao menos com que dificuldade fora acumulada. E se esse conhecimento teria antes limitado caprichos inconsequentes, que diria agora, que grande parte de seus recursos estava em jogo. A ironia se dá em várias instâncias: primeiramente, por nomear essa avareza como um instinto herdado de seu pai: “Joyce está sendo sardônico: solidus é o termo latino para xelim, encontrado na expressão £.s.d.”.10 Em um segundo momento, por dizer que Jimmy saberia o valor do dinheiro em termos de força de trabalho, o que só poderia ser verdade em consideração ao suor do outro, pois em nenhum momento temos indícios de que o protagonista exerce ou exerceu atividade remunerada. Isso também vale para a frase “Jimmy set out to translate into

days’ work that lordly car in which he sat” (D, 47). Por fim, ao falar que seus recursos

estavam em jogo, quando na verdade tratava-se do dinheiro do pai. Interessante notar que este último se sente “comercially satisfied” por ter assegurado ao filho qualidades que supostamente não poderiam ser compradas – ou uma satisfação por ter economizado na empreitada ou um deboche porque ele, na verdade, foi capaz de comprar para o filho aquilo que garantiria seu lugar entre pessoas importantes.

Ainda que o investimento fosse assunto sério para o jovem, ele não era capaz de conter sua animação. Os motivos dos outros para a alegria soavam mais palpáveis: um almoçou bem e os outros dois garantiram emprego. Ele, que investiu boa parte de “seu” pouco dinheiro, está assim apenas por ser visto em tal companhia, o que dá a medida do que realmente valoriza; por extensão, daquilo que os irlandeses realmente valorizam, já que o poder de representação do conto é esse: o gesto de cada personagem adquire a dimensão da

10

Id. No original: “Joyce is being sardonic: solidus is the Latin for shilling, and still found in the expression

postura de uma nação frente às demais; Jimmy, no caso, surge como uma espécie de alegoria da Irlanda.

Não é de espantar que, quando Jimmy e Villona descem do carro e caminham para a casa dos Doyle, ao norte, sejam acometidos por uma curiosa sensação de desapontamento. Sem os amigos franceses e fora do veículo, são apenas passantes. Importante destacar que a parte norte de Dublin era e ainda hoje é uma região mais pobre da cidade – temos aqui mais uma sugestão de que aquela fortuna acumulada pelo pai do protagonista não era assim tão considerável. Na casa de Jimmy, a família estava entusiasmada e o futuro jantar com os colegas havia sido proclamado uma ocasião especial. “A certain pride mingled with his

parents’ trepidation, a certain eagerness, also, to play fast and loose for the names of great

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