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Parte II – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

2. Objeto de estudo e problemática

6.1.3. A narrativa autobiográfica

O uso das narrativas autobiográficas como fonte de investigação e também método de pesquisa na área da educação assenta no pressuposto do reconhecimento de que o sujeito é capaz de narrar a sua própria história e de refletir sobre ela. Ao contarmos as histórias da nossa vida ou parte dela, estamos a dizer quem somos compartilhando a nossa visão do mundo.

Ao contar as histórias da nossa vida estamos a dizer quem somos e a compartilhar a nossa visão do mundo. Nós não apenas contamos o que aconteceu; também explicamos como e porque é que esses eventos se deram, como nós os sentimos, como reagimos a eles e o que é que eles significam para nós. (Mattos, 2008, p. 706)

Assumem assim as narrativas um grande valor, atribuindo sentido à experiência, favorecendo a tomada de consciência de parte do próprio percurso de vida, tornando-se uma fonte de conhecimento do próprio investigador, proporcionando ainda momentos de reflexão crítica.

A narrativa autobiográfica revela a experiência a partir da perspetiva do sujeito, a pessoa lembra o que aconteceu e relata de forma sequencial os acontecimentos, seleciona e relata as experiências que apresentam algum significado num contexto específico.

Ao aprofundar o (auto) conhecimento sobre o passado, e em resultado do seu reconto, emergem significados que não haviam sido explorados e novas leituras do presente, as quais desenvolvem a perspectiva de futuro que se constrói. (Amado, 2014, p. 170)

A escolha por esta técnica de investigação partiu também do princípio de que o investigador não se encontra desprovido do conhecimento relativo à matéria em estudo, pelo que deve inventariar e avaliar os seus próprios conhecimentos e a sua experiência profissional, mobilizando-a de forma crítica como uma mais-valia, ao invés de a renegar como se a mesma fosse um obstáculo ou limitação ao estudo.

113 6.2. Tratamento, análise dos dados

Analisar os dados qualitativos significa “trabalhar” todo o material obtido durante a pesquisa (…). A tarefa de análise implica, num primeiro momento, a organização de todo o material, dividindo-o em partes, relacionando essas partes e procurando identificar nele tendências e padrões relevantes. (…). A análise está presente em vários estágios da investigação, tornando-se sistemática e mais formal após o encerramento da coleta de dados. (Ludke e André, 2001, p. 45)

Consideramos que só a partir do momento em que é analisado o material recolhido, é que falamos em dados da investigação, até então todo o material recolhido no campo refere-se a fonte de dados.

É importante que o pesquisador utilize uma série de estratégias de forma a não correr o risco de terminar a recolha com um manancial de informações irrelevantes para o estudo em causa, tal como nos refere Ludke e André (2001): delimitação progressiva do foco do estudo, numa tentativa de delimitação da problemática; a formulação de questões em torno das quais a atividade de coleta seja sistematizada; aprofundamento da revisão da literatura que se mostre pertinente de forma a ajudar na fase de análise; a testagem de ideias junto dos sujeitos, tomando-os como informantes, no sentido de testar junto deles algumas perceções do investigador e o uso de comentários, observações, especulações durante a recolha e que se utilizem até final do estudo.

Após identificado o objeto de estudo é tempo de descrever o dispositivo que levou à recolha, tratamento da informação e sua análise.

Conforme já referido anteriormente a recolha de dados para este estudo foi feita através da pesquisa documental, do inquérito por questionário e da narrativa autobiográfica. Após um processo de recolha no Serviço de Educação da Câmara Municipal, de documentos produzidos durante a construção e implementação do Projeto Educativo Municipal, que diziam respeito ao período de tempo compreendido entre 2013 e 2017 e elaborado o respetivo inventário passámos à análise documental propriamente dita. Podemos definir esta fase como:

Uma operação ou um conjunto de operações visando representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original, a fim de facilitar um estado ulterior, a sua consulta e referenciação. (Chaumier, 1974, p. 45, cit. Bardin, 1977)

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Após a leitura de toda a documentação a mesma foi sendo agrupada, ou seja, foram agrupados os documentos que apresentavam critérios comuns no que dizia respeito ao seu conteúdo ou mesmo à sua origem. Foi desta forma organizada uma sinopse da documentação selecionada (Anexo III), sendo os documentos codificados por Docº 1, Docº 2, … e assim sucessivamente, constando da mesma, o título e o tipo de documento, bem como as razões da escolha do referido documento. Esta sinopse tem ainda a função de identificar quais os documentos que se destinavam a uma análise de conteúdo posterior e quais os que seriam utilizados nas referências descritivas do presente estudo.

De entre todo o material empírico recolhido e após variadas leituras flutuantes, optámos por efetuar análise de conteúdo aos seguintes documentos: Atas do Conselho Municipal de Educação respeitantes ao período em análise, Atas das reuniões do Observatório do Projeto Educativo Municipal, Recomendações emanadas do Observatório para a Comissão Permanente do Conselho Municipal de Educação, Relatório de Acompanhamento e consultoria da FEP-UCP ao desenvolvimento do PEM (Julho 2013- julho 2014), Projeto Educativo Municipal, I Relatório de Avaliação do PEM (Julho 2017), Projetos Educativos dos Agrupamentos de Escola e Escola Não Agrupada. Após as várias leituras a estes documentos, fomo-nos apropriando da estrutura interna dos textos, entrando numa segunda fase do processo, a produção de categorias.

Uma categoria é habitualmente composta por um termo-chave que indica a significação central do conceito que se quer apreender, e de outros indicadores que descrevem o campo semântico do conceito. (Hogenraad, 1984, cit. Vala, 1986, p. 111)

Da mesma forma procedeu-se à análise da narrativa autobiográfica, também com a construção de grelhas de categorização.

Uma grelha de categorização é um instrumento que se vai construindo, que cresce a partir de uma frase embrionária até ser dado por terminado, não se elaborando de uma só vez. (Afonso, 2014, p. 130)

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Parte III- APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo debruçar-nos-emos sobre a apresentação e discussão dos resultados, que foram obtidos através da análise dos dados recolhidos.

Apresentaremos os dados tendo como ponto de partida as subquestões da investigação que foram delineadas no início da investigação.

De forma a dar resposta às subquestões da investigação foi efetuada análise de conteúdo aos documentos selecionados, à narrativa autobiográfica e efetuado tratamento dos dados recolhidos através do Inquérito por Questionário.

Do cruzamento efetuado de toda a informação emergiram novas categorias de análise que serão o suporte para a apresentação dos dados e sua discussão.

O quadro que a seguir apresentamos explicita as categorias de análise e subcategorias, bem como as fontes que foram mobilizadas para a leitura do contexto.

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Quadro 19- Categorias e fontes mobilizadas para a análise de dados

Categorias de análise de dados Subcategorias Fontes mobilizadas para a análise de dados 1. Perceção dos atores

municipais e educativos, acerca da intervenção municipal em matéria educativa 1.1. A investigadora enquanto ator/participante no processo 1.2. A intervenção do município em matéria educativa

Narrativa autobiográfica Inquérito por Questionário Análise documental

2. A descentralização de competências como processo regulador do sistema educativo local

2.1. A disponibilidade de adesão

ao processo de descentralização Análise documental 3. Processos de construção

e/ou fortalecimento de políticas educativas locais

3.1. O (re) conhecimento do espaço educativo local

3.2. A decisão política promotora de um anova estratégia educativa/formativa 3.3. Transformar uma realidade educativa baseada na autonomia, na vontade e na participação

Narrativa autobiográfica Análise documental Inquérito por Questionário

4. O Conselho Municipal de Educação enquanto órgão coordenador da política educativa local 4.1. Composição e competências do CME, alterações legislativas 4.2. O papel do CME na implementação, concretização e monitorização do PEM Narrativa autobiográfica Inquérito por Questionário Análise documental

5. Articulação entre o Projeto Educativo Municipal e os Projetos Educativos dos Agrupamentos e Escola Não Agrupada

5.1. PEM/ Projeto Educativo Agrupamento de Escola n.º 1de Abrantes

5.2. PEM/ Projeto Educativo Agrupamento de Escolas n.º 2 de Abrantes 5.3. PEM/ Projeto Educativo da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes

5.4. Perceções dos atores acerca da articulação entre o PEM e os Projetos Educativos dos Agrupamentos/Escola Não Agrupada

Análise documental Inquérito por Questionário

6. O Projeto Educativo

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