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Narrativa noutro formato

No documento Como se cria um livro (páginas 109-113)

The Genius of Design (Sparke, 2009) tem 256 páginas e está organizado

em 5 capítulos, sendo que cada capítulo aborda um tema ou um conjunto de temas específico. Uma vez que os eventos de cada capítulo são sequenciais, podemos afirmar que o livro está organizado de forma cronológica, apesar desta característica não ser tão evidente como noutras obras.

Foram encontradas 80 imagens nas 50 páginas analisadas, o que perfaz uma média de 1,6 imagens por página. Destas, 20 estão impressas em monocromia e 60 estão impressas a quadricromia. A altura média das imagens encontradas foi de 12 cm, e a largura média foi de 11,1 cm. Os artefactos datam maioritariamente do século XX, e as categorias mais comuns foram “efémero impresso”, “objecto industrial” e “objecto doméstico”. As imagens são maioritariamente fotografias.

A característica mais interessante desta obra é o seu cuidado em

explicar quais são as forças políticas, económicas, culturais e sociais que moldaram a vida moderna e, mais especificamente, o design. Esta preocupação traduz-se num índice fora do comum, composto por capítulos com títulos criativos, que ao invés de evidenciarem datas, ressalvam temas mais abrangentes.

O principal problema encontrado é o facto deste estilo de índice poder

ser pouco esclarecedor para o leitor, e por obrigar ao uso de paralelismos,

analepses e prolepses que podem resultar numa passagem algo abrupta de um tema para o outro.

Esta obra tem a particularidade de ter dado origem a uma série televisiva composta por 5 episódios, sendo que cada episódio

corresponde a um capítulo do livro. A série teve uma periodicidade semanal e foi transmitida pela BBC entre Maio e Julho de 2010. Cada episódio tem entre 47 a 50 minutos. Apesar dos títulos serem diferente, há um grande paralelismo entre os capítulos do livro e os episódios da série: o tema central é o mesmo, bem como os designers e objectos abordados.

A série recebeu críticas bastante positivas, quer do público, quer do

jornal The Guardian. Na Amazon USA e UK surgem elogios à forma como a série explica a origem de produtos que utilizamos diariamente, bem como à sua abordagem compreensiva e imparcial, especialmente no episódio dedicado ao design em tempo de guerra. Vários compradores consideraram a série uma óptima ferramenta de ensino.

Já McGuirk (2010) confessa que a série foi o programa de design mais inteligente a que já assistiu, e elogia o levantamento de diferentes contradições que marcam a história do design. No entanto, considera que a série falha na abordagem da nossa própria era do design. Segundo o crítico, justificava-se uma reflexão sobre o futuro do design: por um lado, “um mundo com menos objectos, já que tudo o resto é sugado para os nossos aparelhos electrónicos”69; e por outro, um futuro em

“podemos continuar a consumir indefinidamente, desde que tudo seja reciclado”70.

69 A world with fewer and

fewer objects, as everything gets sucked into our personal electronic devices. 70 We can continue to consume indefinitely – as long as everything is recycled.

Como se cria um livr

o

Síntese

A aplicação desta metodologia permitiu-nos concluir com mais segurança que não há uma abordagem perfeita ou consensual para contar a história do design. Cada abordagem ou formato tem as suas vantagens e as suas desvantagens, pelo que uma obra só conseguirá responder às expectativas de potenciais clientes se conseguir responder às necessidades do público para o qual foi concebida, bem como traduzir intuitivamente o posicionamento dos seus conteúdos.

Vimos que os formatos tradicionais são uma aposta mais segura em termos de durabilidade, continuidade e organização; mas que um formato menos convencional mais facilmente se distingue, ainda que possa ser polémico.

Os sistemas de categorização são uma boa ferramenta para estruturar a informação e para garantir uma maior abrangência, mas pecam pelas suas inevitáveis lacunas e sobreposições; tal como o enfoque numa determinada área ou num determinado período temporal permite uma cobertura mais detalhada, mas poderá resultar num menor retorno financeiro por apenas interessar a uma fatia muito fina da população. A situação é bastante semelhante em relação ao número de países abordados. Por um lado, uma maior abrangência de países traduz-se numa perspectiva mais global do design, ainda que seja impossível incluir o contributo de todos os países numa única obra, como se constatou pelo exemplo de Margolin. Por outro lado, uma obra sobre um único país garante uma visão geral mais apronfudada sobre a evolução do design no contexto nacional, mas poderá gerar um conflito ao incluir obras de designers residentes, mas naturais de outro país; ao incluir obras de designers com dupla nacionalidade; ou mesmo ao incluir obras ou designers que tenham tido um grande impacto na história nacional, independentemente do seu país de origem.

Por último, observámos ainda que o balanço entre imagens e texto tem um enorme peso na forma como uma obra é consultada – e até percepcionada – pelo comprador; e que utilizar diferentes formatos para contar a mesma história pode ser uma boa estratégia para chegar a novos públicos e aumentar o impacto e notoriedade da mesma. Este capítulo permitiu-nos assim perceber melhor o que faz um bom livro de História do Design, e revelou-se um excelente ponto de partida para darmos inicio ao processo criativo.

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Referências bibliográficas deste capítulo

No documento Como se cria um livro (páginas 109-113)