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Narrativas autobiográficas em um curso especial de formação de docentes de

6 Orientação e avaliação de Narrativas (auto)biográficas em programas de

6.1 Narrativas autobiográficas em um curso especial de formação de docentes de

Bueno (2006) apresenta ponderações sobre o uso de narrativas (auto)biográficas que vem se multiplicando nos cursos de formação de docentes no Brasil. Segundo a autora, que não desconsidera as vantagens ligadas ao seu uso (e várias delas encontram-se explicitadas na análise acerca do curso específico que aborda em sua pesquisa), a prática com as narrativas (auto)biográficas nestes cursos tem se caracterizado como um mecanismo de controle. Segundo Bueno isto ocorre

Primeiro, pelo fato de que tais programas atingem grandes massas de professores; depois, porque essa atividade é posta em prática por meio de orientações excessivamente diretivas36; em terceiro lugar, porque a idéia

norteadora desses programas é a de formar, em curto prazo, docentes com um novo perfil, tal como rezam as orientações das políticas em curso. (Bueno, 2006, p. 219)

Um outro ponto de questionamento apresentado por Bueno (2006) refere-se ao modelo de competências e sua conseqüente adoção por diversos cursos de formação de docentes. É esse o caso quando a autora tece considerações sobre o uso de autobiografias como componente da formação dos professores no Programa Educação Continuada (PEC-Municípios) desenvolvido entre os anos de 2001 e 2002 no estado de São Paulo. A partir da análise da proposta curricular do curso, Bueno(2006) identificará o estabelecimento de um conjunto de competências a serem desenvolvidas e que orientaram os procedimentos de monitoramento e avaliação do programa. Segundo a autora, um fator complicador ligado ao estabelecimento de uma matriz de competências nos programas de formação é o risco de se incorrer na perspectiva de que ser

competente é apenas ter o domínio de técnicas que permitam lidar de forma eficiente com situações práticas surgidas no cotidiano escolar. Apoiada em Dias e Lopes (2003) a autora ressalta que

A proposta de currículo para formação de professores, sustentada pelo desenvolvimento de competências, anuncia um modelo de profissionalização que possibilita um controle diferenciado da aprendizagem e do trabalho dos professores. Tal perspectiva apresenta uma nova concepção de ensino que tende a secundarizar o conhecimento teórico e sua mediação pedagógica. Nessa concepção, o conhecimento sobre a prática acaba assumindo o papel de maior relevância, em detrimento de uma formação intelectual e política dos professores. (Dias e Lopes, 2003 p.1157 apud Bueno 2006, p. 230)

Para Bueno (2006), portanto, a característica de atendimento em massa, a grande quantidade de orientações em torno da produção que deveria se desenvolver e o norteamento da formação segundo os pressupostos das políticas em curso, imprimem às narrativas características que desvirtuam uma rica produção já publicada nos meios acadêmico-científicos sobre o uso de (auto)biografias em processos de formação.

Neste sentido, Bueno (2006) aponta como problemático o grande número de alunos por turma como uma incoerência em relação ao trabalho com autobiografias. Para tal crítica, fundamenta-se nos estudos de Delory-Momberger (2006) que afirma não ser recomendável se trabalhar com um número superior a 12 alunos. A esse respeito, Bueno (2006) ressalta que no PEC-Municípios as turmas tinham um numero de professores que giravam entre 15 e 40, o que pode dificultar um tratamento mais individualizado e aprofundado do processo de desenvolvimento das narrativas.

Bueno (2006) analisa, também, à marcante diretividade referente aos trabalhos com as autobiografias. Segundo ela, no curso analisado em que predomina um modelo de formação por competências, o estabelecimento de procedimentos de orientação é posto

como forma de controle que busca levar os docentes a se adequarem a prescrições bastante específicas.

Assim, ainda que a proposta curricular do curso baseie-se nas proposições de Perrenoud (1998) em que o conceito de competências é tratado não como uma técnica ou um saber específico, mas antes como uma capacidade de mobilização de diversos recursos tanto cognitivos quanto instrumentais para o enfrentamento de situações complexas e inéditas, seus dispositivos de regulação dificultam a concretização desses pressupostos. Para Bueno(2006) o desenvolvimento de competências segundo esta concepção demanda, por um lado, um tempo muito maior de formação que aquele disponível no período de duração dos cursos e, por outro, liga-se às condições de trabalho dos professores e suas próprias motivações. Esse processo de mobilização de saberes, por sua natureza ampla e complexa, mobiliza imagens e representações dos docentes que extrapolam o âmbito da prática pedagógica cotidiana e do próprio curso de formação e vai encontrar lugar também nas experiências pessoais da infância, da vida familiar, da escolarização etc. A autora ressalta que a proposta pedagógica do PEC-Municípios encontra-se centrada numa idéia de “saber fazer”. Decorre desta afirmação da autora, uma avaliação de que no curso em questão há um equívoco em presumir que é possível modificar práticas solidificadas no exercício profissional cotidiano dos docentes “... por meio de um conjunto de atividades de ensino estrategicamente dispostas, apoiadas em tecnologias e conjugadas com o esforço dos vários profissionais que participaram do Programa.” (Bueno, 2006, p. 231).

Isso nos leva a questionar possíveis pontos de confluência existentes entre a análise efetuada por Bueno (2006) acerca do PEC-Municípios e o curso Veredas, que adotou a

escrita de narrativas (auto)biográficas como um de seus componentes formativos. Procederemos, portanto, à análise de alguns aspectos relativos à concepção e função que as narrativas (auto)biográficas são chamadas a cumprir neste programa tomando como referência as orientações contidas no material instrucional produzido por sua coordenação pedagógica. A análise documental efetuada foi baseada nas seguintes fontes:

• Manual da Agência de Formação; • Manual do Tutor;

• Manual de Avaliação de desempenho; • Projeto Pedagógico;

• Guia Geral do Veredas;

• 28 Guias de estudo das cursistas.

6.2. A concepção e função das narrativas (auto)biográficas como componentes