• Nenhum resultado encontrado

Narrativas da Docência na Educação Superior na Engenharia

CAPÍTULO 3 – A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ENGENHARIA NA EDUCAÇÃO

3.3 Narrativas da Docência na Educação Superior na Engenharia

A partir das narrativas das 18 entrevistas, resumimos, com destaque, as falas mais importantes dos professores que através dos seus depoimentos demostram como o exercício docente é visto na prática, no cotidiano das universidades onde atuam é estão representados na amostra pesquisada. Na sequência mostramos o primeiro bloco de perguntas das entrevistas que serão mais detalhadas no capítulo 4. Após as apresentações formais, a cada entrevistado foi perguntado o seguinte: “no seu entendimento, educação e ensino são sinônimos? Explique.”

Dentre os 18 entrevistados de uma amostra de conveniência, a resposta de que não são a mesma coisa foi unânime, entretanto um não caminha sem o outro. Educação é um conceito amplo e ensino, algo técnico. A seguir, algumas falas para exemplificar esse entendimento entre as participações relevantes para esse questionamento:

"Ensino é passar informação" (Engenheiro de Alimentos).

"Eu nunca usei os termos pensando em sinônimos" (Engenheiro de Computação).

"São termos próximos um do outro" (Engenheiro químico).

"Educação envolve ensino e aprendizagem, uma visão pessoal " (Engenheiro Físico).

É perceptível que os entrevistados, embora não tivessem dominado exatamente o conceito de educação e ensino em sua plenitude, são conscientes da sua finalística como docente. Isto evidencia que, na compreensão dos docentes, para alguns não fica claro o papel que seu trabalho exerce sobre os alunos.

Vale ressaltar que a amostra de conveniência foi utilizada com participação de professores de várias engenharias, nesse trabalho não se objetivou trabalhar com uma ou algumas engenharias em específico. Não sendo possível associar na amostra a distinção entre os docentes de uma determinada engenharia em detrimento a outra, avaliando apenas a percepção docente em engenharias.

No caso específico de professores para engenharias o resultado das respostas obtidas é uma resultante da seguinte afirmativa:

A maioria dos professores, no seu processo de formação habitual no campo da pedagogia, já obteve informações sobre a Taxonomia de Bloom e a importância dos objetivos de aprendizagem. No entanto, em alguns cursos superiores, os professores fazem a transição direta da atuação prática ou operacional para a área acadêmica, sem formação específica para a docência. Normalmente, são bons profissionais que se destacam por sua atuação em empresas ou escritórios, e por isso são escolhidos para compartilhar o conhecimento com quem está se graduando. A migração da prática para o ensino, por ora, sem a formação adequada no campo da pedagogia, os torna menos competentes na adoção de métodos e estratégias exigidos para a docência e, assim, há necessidade de formação suplementar sobre o tema. (CHING, 2020, p. 77).

Esse destaque não diz respeito somente a Taxonomia de Bloom, pode ser considerado uma exata definição dos conceitos de educação e ensino. A distinção aos termos já se mostra um avanço no entendimento dos professores, porém a não clareza sobre cada um especificamente mostra exatamente a lacuna de que alguns profissionais passaram por uma formação suplementar e outros não tiveram a oportunidade de terem essa formação.

A segunda pergunta: “o que é necessário para se constituir aprendizagem em uma modalidade formal de educação ou ensino?” Embora tenhamos diversas respostas em suas maneiras de falar, o que enfatizamos nessa pergunta é justamente a compreensão do professor de que é necessário disposição e cooperação por parte dos alunos para se construir as pontes necessárias à aprendizagem. Eles são cientes de que precisam planejar os objetivos de cada ação didática para que alcancem resultados na sua prática interventiva como professor. Nessa pergunta, a fala do professor Imbernón (2011), evidencia bem:

A profissão docente comporta um conhecimento pedagógico específico, um compromisso ético e moral a necessidade de dividir a responsabilidade com outros agentes sociais, já que exerce influência sobre os outros seres humanos e, portanto, não pode nem deve ser uma profissão meramente técnica de especialistas infalíveis que transmitem unicamente conhecimentos acadêmicos. (IMBERNÓN, 2011, p. 30).

O professor vence desafios diários no que diz respeito a significar a sua conduta profissional. Sabemos, sua postura e comportamento estão a todo momento sendo avaliados por algum dos atores do universo escolar – seja pelo seu aluno, supervisores, pais, corpo administrativo, por exemplo. Logo, sua conduta está para

além dos conhecimentos pedagógicos. Antes de tudo, ele precisa ser coerente com a ética e a moral que se espera em uma sociedade organizada em anseios de uma democracia cujos valores sociais de igualdade, respeito e fraternidade sejam uma verdade para todos.

A terceira pergunta: “o que você entende por ensino presencial?”. Essa questão foi considerada a mais rotineira, pois todos já estão acostumados com o modelo presencial de ensino. Não houve nenhuma resposta que não fosse acerca da dinâmica em sala de aula, com horário definido, onde aluno e professor se reúnem por um período para aprender sobre determinado tema cujo espaço precisa ser denominado físico para ser considerado presencial. O interessante foi a possibilidade de se ouvir comentários sobre a existência, também, das aulas semipresenciais e a distância - evidenciando que alguns docentes já haviam experimentado outros ambientes educacionais, outras maneiras de lecionar.

A quarta pergunta: “em seu entendimento, o ensino na atualidade deve ser focado no professor, no aluno, no objeto de aprendizagem ou em outros? Comente.” Desse bloco de perguntas, essa questão foi a que mais encontrou divergência na resposta dos professores. Não houve unanimidade ao se respondê-la. Alguns docentes entendem que o foco deve ser no aluno, numa visão mais humanista do processo de aprendizado; outro, assumindo um olhar mais técnico, defende a primazia do conteúdo, pois o mesmo dará as competências necessárias para o aluno obter a titulação técnica e há, ainda, quem diga que se o professor não for o protagonista dessa condição não haverá aprendizagem significativa. Vejam as respostas:

“A relação de aprendizagem se faz nos três aspectos” (Engenheiro de Produção de Alimentos).

“O foco em si é o aluno, não adianta só passar o conteúdo” (Engenheira de Produção).

“O aspecto mais importante pode estar relacionado ao conteúdo, visto que em dado momento será preciso repetir algumas vezes esse conteúdo para que haja sua melhor fixação” (Engenheiro Mecânico).

A experiência do diálogo com os professores, mostra na prática os conceitos teóricos dos autores até aqui fundamentados nessa dissertação. Fizemos um passeio pelo entendimento do que é o ensino e de como: ele se materializa nas relações diárias de professores e alunos; estão organizadas a sua prática no planejamento das aulas e o foco com que as temáticas são pensadas para o aluno; se efetiva o ingresso

e a formação dos profissionais. Se como foi dito, anteriormente, que a engenharia é a arte de rearranjo dos elementos da natureza, ser professor é a arte de poder se ressignificar todos os dias para se tornar um ser muito melhor acima das didáticas necessárias. Nada disso faria sentido se não houvesse humanidade.

A seguir, no capítulo 4, damos continuidade a essa reflexão relatando os desafios e os percursos sobre a inovação vivenciados pelos professores de engenharias nas universidades públicas brasileiras. Continuamos com a análise dos dados e de como cada contribuição se torna relevante a nossa melhor compreensão do tema pesquisado.

CAPÍTULO 4

OS DESAFIOS E PERCURSOS SOBRE A INOVAÇÃO