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PARTE 2 A NARRATIVA E O EMARANHADO

5 NARRATIVAS EMARANHADAS DOS ENCARREGADOS DE COMITIVAS

5.1 NARRATIVAS DO ENCARREGADO DE COMITIVAS DE ESMOLAÇÃO

Comitiva de Esmolação do São Bendito das Colônias. Juntando o tempo de trabalho de ambos, exercem 50 anos trabalho como esmoladores.

Para apresentação das narrativas é necessário um enquadramento tripartido em campos que possam revelar os proponentes, o conteúdo de suas falas e os desempenhos gestuais e dramáticos utilizados, como reforçadores de eloquência, e, portanto confirmadores de competência ao falar do Santo. O quadro também apresenta divisões, fruto pausas da própria narração, não devendo ser confundidas como simples recortes feitos pelo pesquisador. Na verdade, são tentativas de reconstituir uma ambiência, uma retórica própriado narrador.

5.1 NARRATIVAS DO ENCARREGADO DE COMITIVAS DE ESMOLAÇÃO - SEU BATISTA

Proponente Conteúdo Fluxovocal/gestual

Elcio-

Raymundo Jr: Quando falaram que seria o Encarregado, o senhor imaginava que teria que resolver tantos problemas, assim tão diferentes? Quando que o senhor começou a perceber que isto tudo era sua responsabilidade?

BATISTA: Foi depois que eu assumi. Depois de um ano, eu senti logo. Inclusive tinha um Encarregado antigo, Seu Marcelo.

Ele disse:

- SEU BATISTA NÃO ASSUME NÃO. O senhor não sabe o que é isto.

[enquadre de início - o contador assume a responsabilidade]

[performance vocal =

ênfase]

Aí eu fiquei pensando.

Fiquei pensando assim... [repetição, paralelismo] [drama]

[reflexão do narrador]

E QUANDO EU ASSUMI! [performance vocal =

ênfase]

Eu não sabia nada. SABIA REZAR, não sabia.

Eu não sabia nada. Nem coisa do Santo.

[repetição, paralelismo] [drama]

[performance vocal =

ênfase]

[reflexão do narrador]

do Santo. Porque São Benedito era tomado conta pelo Seu Arsênio. Isto foi durante muitos anos. Por que foi uma luta, para entregar esse Santo do seu Arsênio pros padres. Isto teve advogado, teve tudo

até conseguiu, né?697Aí entregou pros padres. Aí

passou a ser o padre. Aí padre entregou para o seu Paulino.

discursoem prosa]

SEU PAULINO ficou responsável pelas QUATRO IMAGENS. Aí saiu o lugar de Encarregado. A depois teve um problema, que não sei qual foi lá, aí tiraram da mão dele.O filho do seu Paulino que também era padre e disse: “Papai você está doente”. Vivia doente o seu Paulino. Ele só falta morrer. Então tiraram da mão dele, ai ele ficou agoniado, se aporrinhou. Aí filho dele aconselhou ele exatamente. Depois distobotaram muitos Encarregados e nunca deu certo. Aí eles fizeram o convite pra mim.

[performance vocal =

ênfase]

Eu sei que teve Encarregado, um tal de Maluco. Eu disse:

- Não vamos tirar o Santo da mão dele aqui em Bragança. Não padre, agora eu não vou tomar conta santo agora não. Ele já chegou aqui, deixa ele terminar logo.Talvez para o ano eu assuma.

[Retomada do discurso em prosa] [dialogismo related speech] Aí eu imaginei, imaginei. [repetição, paralelismo] [drama] [reflexão do narrador]

Meu pai é muito devoto, ele,

minha mãe.

E minha esposa incentivou.

Aí eu fiquei de Encarregado até hoje.Eu mesmo já recebi muitas bênçãos, deste mesmo São da Colônia...

[reflexão do narrador] [repetição, paralelismo]

698

Seu Batista mostra-se um exímio narrador das histórias das caminhadas. Evoca para si a cena de modo a me impactar com seu relato. Ele faz uso adequado de gêneros: ora fazendouso improvisado de poesia enfatizando as repetições e paralelismos, ora

697 Ler trecho do Primeiro capítulo equivalem às notas 270 a 277, relativo ao conflito entre diocese e a

irmandade.

698 O display adotado para narrativa segue a lógica de E. Jean Langdon em: A fixação da narrativa: do

mito para a poética da literatura oral. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre: PPGAS/UFRGS, ano 5, n. 12, p. 13-36, dez. 1999, retomado por Luciana Hartmann para tratar não só da fixação da narrativa, como também da fixação experiência da inteiração social, em: Performance e experiência nas narrativas orais da fronteira entre argentina, Brasil e Uruguai. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 11, n. 24. jul./dez. 2005, p. 131.

utilizando-se de prosa. Contraria a suspeita de que homem do campo, talvez não dispozesse de todos estes recursos para apresentar uma história.

Seu Batista além de demonstrar uma competência de narrador, não se furta de tratar de temas relacionados à processualística do cargo de Encarregado das Comitivas de Esmolação de São Benedito, justamente em razão de ter sido mantido no exercício do cargo todo este tempo. Mas além disto, deixa claro que é devoto, primeiro porque seus pais o foram; Segundo porque é consensual com sua esposa. Mas também, porque tem sua própria experiência com Santo.

Em uma tarde de 2013, seu Batista me explicou como a sua atuação foi melhorando com tempo, principalmente na convivência da caminhada. Os outros integrantes da comitiva participaram em seu crescimento:

Proponente Conteúdo Fluxo vocal/gestual

BATISTA: ESTE RAPAZ AÍ, este cidadão, a pesar de ser mais novo do que eu. Ele já fez de tudo. O pai dele era Encarregado. Era o seu Zé Pescoço. Este é o ZEZINHO, filho dele. A ele me ensinou muitas coisas.

[performance vocal =

ênfase]

[Apontando para um dos integrantes para que pudesse vê-lo]

Quando foi um dia disse:

-ZEZINHO, copia a ladainha que eu quero vê se eu aprendo. E aí ele me ensinou.

Aí ele copiou a ladainha.

[Retomada do discurso em prosa] E eu comecei a lê, lê, e lê. A LLÊÊ, primeiro a responder, depois a ladainha. [repetição, paralelismo] [drama] [performance vocal = ênfase]

Quando ele pensou que não, eu já estava

REZZAANNDO. [ênfase] performance vocal =

[Uso de sílabas alongadas]

A primeira ladainha mesmo, eu ficava nervoso na frente, tremendo. Errei umas coisas, ficava tremendo tudo. Eu olhei pra trás. O pessoal, perguntava, porque o rezador reza a missa de costa. O padre celebra a missa de frente pro povo, né? E o pessoal que tem dificuldade reza a missa de costa. E o Rezador reza a missa pra São Benedito. Foi uma promessa. Foi uma promessa para São Benedito. A coisa era essa. Então eu não me virava pro povo. Eu não olhava mesmo. Eu fechava os

[Retomada do discurso em prosa]

olhos. Eu agradecia a Deus, porque eu ia conseguindo rezar.

Seu Batista teve o seu conhecimento de Encarregado adquirido paulatinamente na experiência de caminhada. Uns vão ensinando para os mais jovens. Sendo que em seu caso, por ter se tornado Encarregado, depois de adulto, não tivera a mesma oportunidade como os demais.

O interessante é ver a sua percepção de alguns assuntos polémicos que remontam o contexto institucional-festivo que envolve a esmolação. Seu Batista tem a exata agudeza de se ver em cima de um “fio de navalha”, quando questionado do “porque o rezador reza a missa de costa”? Aí está uma altercação de grandes proporções que o insere na discussão de seu papel como a gente religioso. Um descuido, seu Batista põe muito a perder. Não quer ser comparado ao sacerdote. Mas querque o povo o veja como devoto.

A composição tripartite da direção das Comissões de Esmolação de São Benedito deu-lhe a justa medida do que está em jogo. Jogo, que aprendeu a jogar de forma competente. Por trás de sua cautela está a ferida ainda perceptível dos conflitos de décadas entre a Igreja e a Irmandade de Marujada de São Benedito de Bragança: “Então eu não me virava pro povo.Eu não olhava mesmo(...) eu agradecia a Deus,

porque eu ia conseguindo rezar”.

Após a isto começou a considerar os problemas do exercício de Encarrado que não pensava em ter que lidar:

Tabela?

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BATISTA: Mas então os problemas, que o senhor esta falando agente não esperava isto, né?

A gente não esperava este tipo de problema.

[função fática = interação com a audiência] [repetição, paralelismo] [drama] [performance vocal = ênfase]

Aí a gente já vai se lembrado do que outro Encarregado falou. Porque motivo ele deu uns conselhos. Este Encarregado, ele é rezador em Bragança. Porque descobriram uma vez que ele até reza para DEFUNTO.

[Retomada do discurso em prosa]

[performance vocal =

ênfase]

ele estava tirando o dinheiro do Santo. Aí meteram a mão no bolso dele. E descobriram lá um dinheiro dele. Comitiva descobriu que ele estava tirando dinheiro do Santo. E aí ele ficou bravo, não foi mais. Aí tiraram ele da esmolação.

Aí eu vi estas coisas, aí eu disse uma vez, eu disse: que eu já fui um ano do Santo da Praia, três anos do Santo dos Campos, e aqui tô completando sete anos.

[reflexão do narrador] [sobrancelhas junta-se afasta-se]

[fala em primeira pessoa = reported speech]

Lembro que uma vez um cara escondeu a chave do cofre. Porque tem hora que tem que ter um [sub] Encarregado também. Que uma vez deram em cima do Encarregado, e tomaram a chave do Encarregado. Deram cinco em cima do Encarregado. Ficaram um envenenado o outro, um eliminando o outro. Aí ficaram de esconder a chave.

[Retomada do discurso em prosa]

[movimento com a mão indicando tempo passado]

Uma vez, eu deixei a chave em cima do cofre. Aí alguém escondeu a chave. Aí eu falei: “rapaz quem foi que mexeu com a chave que deixei aqui em cima do cofre”? Olha dentro da comitiva de São Benedito não existe ladrão. Então nós somos irmãos. Não existem estas coisas. Se eu descobrir que foi, eu vou mandar embora. Vou botar no caderno o motivo porque saiu, Passou pra cá ninguém sabia.

[retomada do discurso em prosa]

[movimento com a mão indicando tempo passado]

[fala em primeira pessoa = reported speech]

E o dono casa disse:

- “Seu Batista, o cara que tirou a chave foi AQUELE CARA DALI”.

[performance vocal =

ênfase]

[movimento indicando pessoa do grupo]

Era uma cara de idade já. Ele está com a chave do

cofre. [retomada do discurso em prosa]

Aí eu fui lá pegar a Chave. Eu disse: “me dá a chave do cofre. Você está com a chave. O senhor que mexeu no cofre, o senhor quer me prejudicar porque?”

[dialogismo acalorado]

Aí ele disse:

- “Não foi porque...” Eu disse:

- “Porque o senhor não falou quando eu perguntei? Porque o senhor não falou que tinha achado. Dava uma desculpa aí”. “Ah porque estava por aí”. “Não estava em cima do cofre”.

justamente como quando a gente serve o exército. No exército não tem ladrão. Se o cara furta, se torna ladrão, a gente acusa ele. A gente pune o sujeito. É justamente em uma comitiva desta não tem”. Aí eu falei para ele: “Você está dispensado do trabalho agora, por este motivo”. Aí eu dispensei do trabalho. Então vim, e de lá vem as consequências em cima da gente.

em prosa]

Seu Batista deu uma pequena mostra de uma ordem de problemas que se quer imaginava que teria que lidar. Certamente, viajar durante nove meses com um grupo de pessoas que pensam de maneira diferente, a respeito da tarefa a ser realizada, implica em uma série de predicados que o Encarregado tem que ter, sob pena de não se mostrar capacitado para este difícil trabalho.

Foi neste contexto que tive uma das minhas maiores surpresas no campo. Algo que tive refletir seriamente. As problemáticas do campo iam além do que concebia inicialmente:

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BATISTA: Isto sobra pra mim, porque fui da polícia. EU FUI POLICIAL. Policial aposentado. Aquele coronel de Bragança. Ele foi do meu tempo, o coronel. Eu fui da polícia, aí eles têm meio receio. Qualquer coisa eu chamo A VIATURA, e eles vão ficar em apuros. Mas isto acontece,... por isto teve estes dois caras que não eram bons elementos não. Rezador bom e tudo. Rezador para não botar defeito. Todas as ladainhas os caras fazem todo o trabalho. Mas o defeito e teimosia, fazendo besteira. Aí tive que mandar embora. retomada do discurso em prosa] [performance vocal = ênfase] [movimento apontando para Bragança]

Tinha um camarada que o pessoal chamava ele de Basquete. Cadê o Basquete? Está lá na Terra Caída. Este camarada era bandido assim. Tinha cortado o PESCOÇO DE UM QUE ANDAVA COM ELE. Supondo que um cara desse andando com a gente, vai trazer prejuízo para nós. Isto tudo é a minha sina. [sobrancelha arqueada] [voz embargada] [função fática = interação com a audiência] [performance vocal = ênfase]

Foi muito inesperado pra mim que o seu Batista tenha sido policial. No entanto, uma certa rotina havia sido percebida no contexto da comitiva. Os rapazes, sempre tratavam os mais velhos com deferência. No almoço, antes de se servirem, pediam licença. Até então pensava que eram uma simples cortesia exagerada. Algo, que seria

inerente ao status do cargo que ocupava na comitiva. Mas algo se revelara, parecendo indicar outro padrão. O seu Batista parecia fazer parte de um “braço disciplinador” na comitiva. Aquela cautela que havia elogiado antes, agora poderia ser fruto de algo mais. Na verdade agora me parecia que a chegada do seu Batista para a Comitiva de Esmolação, teria sido bem pensada pelos gestores das festividades. Seu Batista teria um perfil que necessário a quem viesse a exercer a função de Encarregado. Era necessário alguém que tratasse da questão da ordem, durante a viagem. Que cuidasse do dinheiro, prestando conta fielmente aos gestores (igreja, marujada e secretaria de cultura). Seu Batista fazia tudo isto até onde notei com esmero.

O zelo do seu Batista hoje começa incomodar até mesmo seus filhos, que não vêm mais como bons olhos, o esforço que ele realiza. São nove meses, ininterruptos, apenas por uma folga de cinco dias que cada um tem direito. Seus filhos hoje discutem esta situação.

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BATISTA: Meus filhos não querem mais que eu saia não: “Papai você já está velho, e este suplício lá. O senhor tem um sítio lá”. Eu tenho um sítio na colônia Montenegro.

[reflexão do narrador] [aponta para a região das colônias]

Eu sou mais velho que o seu José Honório... Meus filhos são preocupados comigo. Todos eles trabalham, é porque a minha saúde é boa até agora, né?

[retoma o discurso em prosa]

[performance vocal =

ênfase]

Eu nunca tomei uma injeção, NUNCA FUI NUM HOSPITAL! Nem minha pressão,

nunca tirei.

Nem sei se ela é baixa, ou alta.

[repetição, paralelismo] [drama]

[performance vocal =

ênfase]

As vezes ele brigam comigo:

PAPAI VAI NO HOSPITAL! [ênfase] performance vocal =

Ah, o que que eu vou fazer num hospital... A gente come de tudo aí. Unha de caranguejo. Só não tomo Açaí porque nunca gostei. Não tô com nada desta história de diabete, nada disso,

nada, nada.

Eu ando muito de bicicleta, nesse sol. Eles brigam comigo. Tenho saúde. Tive que subir uma ladeira de Ouren. [retoma o discurso em prosa] [repetição, paralelismo] [A forma complexa, conjugando poesia e prosa]

[Uso da mão para indicar o esforço]

No dia oito de dezembro de 2015, quando estive com a Comitiva de Esmolação de São Benedito de Bragança, na casa de dona Ana e seu Bena, recebi a triste notícia que não poderia falar com Seu Batista, porque encontrava-se acamado. Quando fiz menção que iria a sua casa,mas seu José Honório, atual Subencarregado da comitiva, disse-me que Batista tinha ido para o hospital. E confirmara que era a primeira vez na vida que se submetia a um tratamento médico.

Batista que tinha uma disposição férrea, mantendo-se na ativa até os 78 anos a frente da comitiva, agora está dando sinais de que, talvez a tarefa esteja além de suas condições no presente momento. Uma vez seu Batista me disse que já havia sido curado de sua surdez por São Benedito. Agora só começou imaginar que queira “se apegar o seu São Benedito”.

No dia vinte seis de dezembro de 2015, em sua cassa, seu Batista me confidenciou que os filhos dele voltaram a insistir que deixasse de viajar. Ele próprio tem pensado nisto. Todavia, disse-me que acha muito difícil, porque sente-se atraído por São Benedito. Toda vez que está perto de São Benedito sente-se bem: “como se São

Benedito estivesse me chamando”.

Seu Batista viu muita coisa que pode realmente reforça a sua crença em São Benedito. Contou muita coisa que acontecia nas caminhas pelas colônias, por exemplo:

Proponente Conteúdo Fluxo vocal/gestual

BATISTA: Oh isto aconteceu comigo,OH: [Assume a

responsabilidade de contador]

Eu disse para minha esposa:

- “VAI PARA LÁ QUE O SANTO VAI PASSAR, e a gente vai matar ela [a porca].

Quando Santo passar nós vamos matar esta porca.

[repetição, paralelismo] [drama]

[performance vocal =

ênfase]

Aí terminou o ano da caminhada. Quando chegou faltando cinco dias para eu ia para casa. Aí eu disse:

- Rapaz São Benedito vem pra cá, o que a gente faz? Rapaz eu vou lá no sítio,

lá no nosso sítio.

Vou comprar uma porca, para nós matar. Nem eu, nem ela arrumamos nada. Aí eu fui lá.

[reflexão do narrador] [Pronunciamento emreported speech]

Tinha um vizinho, tinha uns porcos, né? O Santo ia também ficar na casa dele. Sitio dele era aqui, e nosso mais ali na frente. Passei lá e ele direto: RAPAZ VOCÊ TEM UM PORCO?O Santo vai lá em casa. Eu quero comprar um porco. E aí fui lá.

[retoma o discurso em prosa]

[performance vocal =

ênfase]

[aponta com a mão]

Então ele disse assim:

- Seu Batista, eu não tenho, mas o Licéio, meu filho tem.

[reflexão do narrador] [dialogismo em

reported speech]

Então Licéio disse:

- Oh Seu Batista, eu tenho uma leitoa bonita, SESSENTA E CINCO A SETENTA QUILOS.

[reflexão do narrador] [dialogismo em

reported speech]

[performance vocal =

ênfase]

Marrei na ponta da bicicleta uma talba e marrei ela, fui embora. Cheguei lá e a porca no chiqueiro. Agora porca está aqui. Eu tenho mais umas coisas, mais patos aqui, mais umas galinhas... Uns patos para matar pra ajudar. Porque quando chega aqui em casa é muita gente. Aí marrei a porca no pé do limoeira, e fui lá pra feira, pra fazer uma compra pra lá. Ai eu fui embora. Quando eu cheguei em casa, a porca estava meia coisa, e a mulher assim com um copo de leite na mão. Aí eu disse: ei, o que já foi isso aí.

[retoma o discurso em prosa]

A minha esposa me disse:

- Ah que tinha um rato no quintal, aí botei um veneno num ponto lá. Mas fazia um bocado de dias já. E lavei em emborquei ela. A porca se desmanchou dela, de onde ela estava, se deitou, o veneno afetou ela, né? Porque estava lavado, mais estava virado ali. Eh, agora o que a gente vai fazer?

[dialogismo em reported

speech]

Eu disse:

- Não sei o que fazer só tinha este porco lá. Aí eu falei não vai matar este porco não. A porca pode esta afetada de verniz. O que a gente vai fazer?

[Pronunciamento em

reported speech]

Aí eu me lembrei, esta não era a porca que a gente vai matar para São Benedito. Ela está lá no chiqueiro. Aí eu disse pro meu filho. Vai lá e matar a porca. Quando a chegou lá parece que não tinha acontecido nadinha com ela. A porca estava roncando. Porque aquela que era a porca. Não era aquela. Quando foi dia de ano. Eu dei pro Careca

pra passar para o pessoal da Marujada. 699 Então

[retomado do discurso em prosa]

[Sorriso evidente]

699 A porca seria doada para o leilão que acontece nos dias das festividades de São Benedito que vai até o

isto foi uma coisa que aconteceu. Isto não foi culpa nossa, foi esquecimento. Está brincando com coisa séria. Então já aconteceu isto.

Seu Batista mesmo sendo Encarregado de comitiva, não se descuida mais de sua devoção ao Santo. Sabe que a reversão700 de São Benedito é inevitável. A porca que

tinha sido prometida era a que valia. A morte da porca substituta não representava nada para São Benedito. Com isto, seu Batista foi acumulando a experiência não só de sua vida de devoto,mas também de andar com Santo:

Proponente Conteúdo Fluxo vocal/gestual

BATISTA: A gente olha para São Benedito, às vezes para as feições do santo, e a gente vê as suas feições meio para baixo, é o dia que a gente passa todas. É dia que a gente só passa PEIA. A gente sai passa fome, passa chuva, pega tudo, tem dia que a gente pega peia mesmo. A gente sabe que não tá satisfeito o Santo hoje. Mas quando a gente amanhece bem cedinho, e a gente olha para e vê, ele esta ALEGRE. A gente olha para as feições dele. Não sei se impressão da gente, mas a gente olha e parece que ele está feliz. É mode ele soa mesmo. Aí a gente anda num solão, debaixo de um calor tremendo. Aí a gente vê aquele negócio escorrendo nele assim. Aquela coisa assim.

[retoma o discurso em prosa]

[performance vocal =

Ênfase]

[passa com a mão no pescoço].

Só em olhar pro Santo. Eu já prestei atenção nisso. A gente já percebeu isto. A gente olha pro Santo é a gente sabe se o dia vai ser bom. Aí a gente diz: HOJE O DIA VAI SER BOM PARA GENTE. Tem dia que ótimo. Acontece tanta coisa boa. O almoço é bacana, tudo corre bem. Mas o dia que a gente ver assim, a gente passa mal, passa mal. É sol de

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