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4 MONITORAMENTO ELETRÔNICO E AS MEDIDAS

4.1 POSSÍVEIS APLICAÇÕES DO MONITORAMENTO

4.1.1 Nas medidas protetivas de urgência de caráter penal

As medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor de natureza penal são as previstas nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei “Maria da Penha”. Estas medidas são alternativas legais de restrições de conduta aplicáveis ao agressor que visam acelerar a solução dos problemas da mulher agredida, servindo como meio de proteção e garantia dos seus direitos.

A primeira observação a se fazer é que essas medidas cautelares podem ser aplicadas de ofício pelo juiz ou requeridas pelo titular da ação penal, ou seja, o Ministério Público, assim como a autoridade policial pode representar pela adoção de determinada medida cautelar (art. 10 da Lei 11.340/2006).

Outro ponto diz respeito à necessidade dessas medidas serem aplicadas na presença dos requisitos da fumaça do bom direito e do perigo na demora e, igualmente, devem durar somente o tempo necessário para garantir a proteção da vítima e seus familiares.

O inciso I autoriza a suspensão da posse ou restrição do porte de arma de fogo pelo agressor. Destaca-se a sua aplicação aos casos restritos de posse regular de arma registrada e de porte legal, uma vez que a posse ou porte ilegal é fato típico que acarreta a apreensão da arma, nos termos do Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003). Impedir o uso da arma de fogo legal para ameaçar ou ceifar a vida da (ex) esposa ou (ex) companheira ou algum familiar e coibir o efeito intimidatório da simples existência da arma são as finalidades dessa medida.

Consoante o §2º do art. 22, nas hipóteses do indiciado pela prática de violência doméstica e familiar contra a mulher estar inserido no art. 6º da Lei nº 10.826/200347, o juiz poderá de imediato aplicar a suspensão da posse ou

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Art. 6º - É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para:

I - os integrantes das Forças Armadas;

II - os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal; III - os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei; IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 250.000 (duzentos e cinqüenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço;

V - os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;

VI - os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal;

restrição do porte de arma de fogo, comunicando ao órgão competente. Destaca-se que o simples emprego dessa medida não a torna eficaz, sendo cogente a sua aplicação concomitante com o afastamento do lar conjugal e da proibição de determinadas condutas.

O afastamento coercitivo do agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida é medida cautelar discriminada pelo inciso II. Com essa ação propõe-se: impedir ou dificultar que as agressões sejam perpetradas ou reiteradas no lar conjugal; afastar as pressões e ameaças contra a vítima e seus dependentes ou familiares; e preservar o patrimônio, já que os objetos do lar não poderão ser destruídos. A imposição de afastamento ocorre, principalmente, quando o agressor descobre que as autoridades tomaram conhecimento da agressão praticada contra a vítima, tornando-se, portanto, insustentável mantê-los sob o mesmo teto.

Essa medida não é novidade no ordenamento jurídico brasileiro. Outras legislações como a Lei nº 9.099/1995 (parágrafo único do art. 6948), o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990 – art. 13049) e o Código de Processo Civil (art. 888, VI50) prevêem o afastamento do agressor do lar, sendo que apenas na primeira hipótese há a determinação específica para casos de violência doméstica e familiar praticada contra a mulher.

Como última medida cautelar penal, tem-se as ordens judiciais restritivas contidas nas alíneas a, b e c do inciso III do art. 22 da Lei nº 11.340/2006. Inicialmente, expor-se-ão as medidas que restringem a liberdade de ir e vir do

VII - os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias;

VIII - as empresas de segurança privada e de transporte de valores constituídas, nos termos desta Lei;

IX - para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental.

48 Art. 69 – omissis

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima (grifos nossos).

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Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.

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Art. 888 - O juiz poderá ordenar ou autorizar, na pendência da ação principal ou antes de sua propositura:

agente - alínea a e c, e que têm o condão de inibir a aproximação do agressor em relação à vítima.

Na alínea a, proíbe-se o agente de se aproximar da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor. Para melhor entendimento, Leda Maria Hermann afirma o seguinte:

A extensão aos familiares preserva, antes de tudo, a própria vítima, que vai necessitar do apoio da família para atravessar a ruptura da relação violenta, por natureza interativa e conflituosa. Quanto às testemunhas, o interesse a ser preservado é a aplicação da lei penal, posto que a proximidade física do agente pode representar, por si só, intimidação implícita51.

Com relação a proibir o agressor de frequentar determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida (alínea c), os locais são, por exemplo, local de trabalho da vítima, faculdade ou qualquer outro lugar que ela freqüente regularmente. Salienta-se que, como esta medida vai de encontro à liberdade de locomoção, o magistrado deve agir com prudência e observar os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade ao aplicar a medida, ou seja, deve ser aplicada quando for imprescindível para assegurar a segurança da vítima.

A última restrição, contida na alínea b, pretende impedir que o agressor cause constrangimento à vítima, seus familiares e testemunhas, por qualquer meio de comunicação, como carta, telefonema, e-mails. Ela representa um complemento às outras restrições de aproximação ou presença física, e por isso recomenda-se o uso daquela juntamente com qualquer uma destas.

Após todos esses apontamentos, pode-se perceber que a vigilância eletrônica, além de coibir o crime, pode ser aplicada em algumas das medidas protetivas de urgência (natureza penal) que obrigam o agressor.

A Lei 11.3340/06, mais comumente conhecida como Lei “Maria da Penha”, ao ser promulgada, inovou ao conceder medidas protetivas de urgência à mulher que esteja em situação de risco, face à gravidade dos atos violentos que é submetida por parte do seu agressor.

Ante esses fatos, o monitoramento eletrônico insere-se como uma inovação legislativa, podendo ser usado para dar maior eficácia às medidas de

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HERMANN. Leda Maria. Maria da Penha Lei com nome de mulher: considerações à Lei

afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; de proibição de aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; e de frequentar determinados lugares.

A tecnologia de segunda geração (GPS - Global Positioning System) é a melhor opção para a vigilância do agressor, pois permite detectar, com precisão, a sua localização. Da mesma forma, oferece uma razoável liberdade de movimento (necessita-se apenas estar distante da vítima ou de determinado lugar), contrário ao uso do sistema ativo que impõe que o sujeito esteja em determinado lugar em momento específico, não sendo possível saber o seu paradeiro52.

O sistema via GPS funciona por meio de transmissor que envia dados do movimento do vigiado a Central. Verificada qualquer violação, um alarme é disparado e a autoridade competente toma as providências necessárias.

Diante da violência de gênero, é interessante que tanto a Central de Monitoramento quanto a vítima sejam alertadas quando o agressor descumprir qualquer uma das determinações judiciais. Para isso, a pessoa sob proteção (mulher, familiares ou testemunha) precisa receber um dispositivo que avisa quando o vigiado avança o perímetro delimitado, permitindo, desta maneira, que ela se proteja, seja fugindo, pedindo ajuda ou ligando para a autoridade policial.