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Pretendemos, neste ponto, integrar a formação do arquiteto urbanista no contexto nacional e internacional, compreender a urgência da formação de urbanistas, analisar o ensino e o tipo de instituições responsáveis por essa formação e as principais lições de profissionais ligados ao planeamento urbanístico enquanto professores e/ou profissionais de referência.

Respondemos e partimos do desafio lançado pelo arquiteto André Tavares quando escreve […] Haverá ainda que fazer a história da produção deste texto,

conjugá-lo no contexto da produção teórica e crítica do Institut d’Urbanisme de Paris e, sobretudo, detalhar a sua relação e o seu peso na produção subsequente do

planeamento de David Moreira da Silva. […]121.

Uma primeira abordagem será feita, visando a contextualização da formação do académico naquela instituição francesa, através de uma síntese sobre a emergência do urbanismo no panorama educativo e profissional francês, enquanto disciplina e atividade ligadas às novas exigências colocadas pelo crescimento das cidades, num país que foi palco de dois conflitos mundiais.

Num segundo momento, particularizaremos a situação do arquiteto enquanto aluno do IUUP, disciplinas, professores e organização do curso (estrutura, metodologias adotadas, avaliação), para entendermos os conteúdos e metodologias adotados por esta instituição e, finalmente, a prestação da prova final de curso, a sua tese no contexto geral e particular como síntese das aprendizagens e formação.

O urbanismo surge na passagem do século XIX para o século XX, enquanto ciência que se encontra em formação e parte de uma procura da compreensão da

121 FIMS – TAVARES, André – “A Morte e a Vida da Cidade do Porto. Apontamentos de leitura a propósito da tese de David Moreira da Silva” in MOREIRA DA SILVA, David - Les villes qui meurent

sans se dépeupler. [Edição Digital] Porto: Editora Fundação Instituto Arquitecto Marques da Silva, 2009,

150 pp., p. 6, ISBN 978-972-99852-4-9. Disponível em WWW.URL:http://fims.up.pt/. Desafio colocado por André Tavares no seu estudo introdutório à tese apresentada por David Moreira da Silva ao IUUP, em 1939, para obtenção do grau de urbanista. Na apresentação da edição no site, podemos ler: Esta

publicação reproduz o texto original da tese apresentada por David Moreira da Silva ao Institut d’Urbanisme de l’Université de Paris em Fevereiro de 1939, para obtenção do grau de urbanista. Tomando o Porto como exemplo prático e as teorias de Marcel Poëte como estratégia de análise da história da cidade, Moreira da Silva torna evidente a relação íntima do discurso filosófico de Henri Bergson com os argumentos da cultura arquitectónica portuguesa nos anos que antecederam a II Guerra Mundial. O estudo introdutório de André Tavares faz uma revisão crítica do discurso e fornece ao leitor

as pistas necessárias para uma compreensão histórica dos argumentos de um dos principais urbanistas portugueses do século XX.

organização e regulamentação de um espaço em constante transformação - a cidade. O espaço urbano quis-se organizado e transformado num contexto do período entre duas guerras mundiais, acontecimentos esses que passam a exigir novas respostas para a reconstrução de cidades, alojamento de milhares de pessoas, reanimação das atividades económicas e financeiras. Para isso, é necessário perceber, em síntese, as novas necessidades de uma aglomeração entendida como um todo em constante evolução. A cidade passa a ser pensada e estruturada de uma outra maneira, como um espaço que se pretende planificado, valorizado não só na sua componente estética mas noutras e múltiplas vertentes como na económica, social, geográfica, demográfica, higienista, administrativa, pressupondo, por isso, a intervenção multi e interdisciplinar. Há que conciliar o tempo passado e presente com as possíveis transformações futuras, numa dialética de construção/destruição de um espaço sempre habitado por pessoas e desejado como dignificador da condição humana. O urbanismo passa a ser entendido como uma disciplina que tem como principal meta a organização da vida nas cidades de maneira

a dar aos seus habitantes a possibilidade de viverem higiénica e comodamente. […]122.

N início do séc. XX individualiza-se através do início duma verdadeira escola francesa de urbanismo, aliando a ciência e a ação e um segundo período dos anos 1900 aos anos 1920 que “é o período do nascimento da escola francesa de urbanismo, que reúne um conjunto de ideias e de práticas, e que ensaia a sua profissionalização em concorrência com outros corpos de profissões”123.

Habitar qualquer tipo de espaço de uma forma digna e solidária numa nova conjuntura, pressupõe a criação de uma nova disciplina e o aparecimento de uma nova prática profissional, respetivamente o urbanismo e o urbanista que projetará e elaborará o desenho de complexos planos para a cidade, numa lógica que presidirá ao seu crescimento estruturado e harmonioso presente e futuro. Uma cidade pré-existente deverá ser continuada e respeitada no plano de extensão. Segundo Marcel Poëte

A cidade é um ser vivo, cujo passado temos de estudar para discernir o seu grau de evolução, um ser que vive sobre a terra e da terra, o que significa que aos dados geográficos, é preciso acrescentar dados históricos, geológicos e económicos. E que

122 DE GRÖER, Étienne - Introdução ao Urbanismo. In Boletim da Direcção Geral dos Serviços de Urbanização. I volume 1945-46. Lisboa: Ministério das Obras Públicas e Comunicações, pp. 22-23. 123

não se objete que o conhecimento do passado não tem nenhuma utilidade prática […]124.

Há que corrigir os seus principais e diversos problemas, obter novas respostas às novas solicitações, mas essas outras realizações devem respeitar o caráter da cidade antiga. As novas propostas apresentadas por esse novo ator – o arquiteto-urbanista ou o urbanista-consultor municipal, não devem apagar aspetos da cidade tradicional, mas mantê-los numa linha de continuidade. É nesta lógica que irá nascer a nova disciplina.

Técnico da cidade, o arquiteto urbanista possuidor de um conhecimento multifacetado, maestro de uma orquestra de diversos contributos disciplinares que se

integram e sintetizam no desenho125, estrutura o espaço, atendendo a situações como: o

crescimento demográfico e o alojamento, circulação eficaz, definição de unidades habitacionais urbanas, distribuição e organização da cidade por áreas de atividade e equipamentos, o saneamento, as novas áreas de expansão, zonas verdes, desprivatização do solo… Ao problema estético associam-se outras preocupações de índole sociológica, funcional e estrutural126.

No início do século XX o urbanismo torna-se assim num campo específico de

conhecimento, a disciplina verá alargar o seu horizonte, nascendo um corpus

teórico127.

De acordo com o sistema pedagógico da École, instituição de onde provinham a maior parte dos arquitetos urbanistas, as cidades deviam possuir um plano que representasse a especificidade de cada realidade e permitisse atuar sobre cada uma, de forma a dotá-la de boas condições de vida para aqueles que nela habitavam: higiene, alojamento, acessibilidades e funções.

A palavra urbanismo com significados tão diversos será aqui entendida como tudo o que

[…] diz respeito ao arranjo e embelezamento das cidades e mesmo das aldeias. […] tornar salubre, aumentar e embelezar. É uma questão muito complexa, ligada não

124

Marcel Poëte in CHOAY, Françoise - O Urbanismo. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 2003, pp. 281-284.

125 GARCIA LAMAS, José M. Ressano – Morfologia Urbana e Desenho da Cidade. Lisboa: F.C.T./J.N.I.C.T., 1993, p. 244.

126

Idem.

127 MATUS CARRASCO, Daniel - La Thése en Urbanisme de 1922 À 1937 : Les Étudiants et les Sources

Bibliografiques. T. I: Mémoire. Paris: Institut d’Urbanisme de Paris. Master «Urbanisme et Territoires»

Mention «Urbanisme». Mémoire de Recherche 2ème année, 2009. Disponível em WWW.URL: http:/www.urbanismo.u-pecfr/…/com..univ.collaboratif.utils

e ainda

só à higiene em geral, à salubridade pública, ao conforto (arejamento, limpeza, evacuação dos dejectos de qualquer tipo, aprovisionamento de água potável, etc.) mas ainda à estética (monumentos históricos, artísticos, jardins e parques a conservar ou a valorizar, expansão etc)128.

Arte de dispor no espaço urbano ou rural os estabelecimentos humanos no sentido mais lato (Habitações, locais de trabalho, lugares de lazer, redes de circulação e trocas) de tal maneira que as funções e as relações entre os homens se exerçam da forma mais cómoda, mais económica e mais harmoniosa. […] conjunto de regras jurídicas que permitem aos poderes públicos controlar a utilização do solo em meio urbano […]129.

[…] Em 1911, tinha-se formado em Paris a SFU, Societé Française des Urbanistes,

da qual faziam parte entre outros os Arquitectos Alfred Agache, Marcel Auburtin (1872-1959), André Berard, Léon Jaussely (1875-1932); Henri Prost (1874-1959) e os paisagistas Jean Nicolas Forestier (1861-1930) e Edouard Redont (1862- 1942)130.

A SFU pretendia dar a conhecer o trabalho do urbanista através da realização de eventos vários (conferências). De acordo com o autor, estes técnicos tinham estado na base da preparação da primeira lei urbanista que obrigava todas as cidades mais importantes a possuir um Plano de Arranjo/Ordenamento, Embelezamento e de Extensão - a Lei Cornudet (1919/1924). Um país recém-saído de um conflito mundial, tinha de repensar a reconstrução e o planeamento da futura “cidade” quer através da ocupação de espaços livres quer da realização e projeção das áreas de expansão dos aglomerados urbanos, resolvendo problemas sociais e habitacionais. Esta lei

[…]obriga à formação de planos reguladores municipais (plans d’aménagement) em todas as cidades com mais de 10.000 habitantes, nos municípios do Departamento do Sena, e nas localidades com mais de 5.000 habitantes nas quais a população tenha crescido mais de 10 por 100 no último decénio, nas estações

128 Larousse du XXe siécle en six volumes, Paris, Lib. Larousse, 1935-1945. In FREY, Jean- Pierre, «Généalogie du mot «urbanisme» In Urbanisme, nº 304, janvier février 1999, pp. 63-71. Disponível em WWW.URL: http://urbanisme.u-pec.fr/servlet/com.univ.collaboratif.utils.Lectu

129 Idem.

130 GUTIÉRREZ, Ramón - O princípio do urbanismo na Argentina. Parte 1- O aporte francês. Arquitextos. S. Paulo, [aug.2007] [Consult. 28 julho. 2011]. Disponível em WWW.URL: http: //www.vituvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/216.p.

turísticas e balneares, e nas localidades de interesse histórico ou paisagístico […]131.

A lei regulamenta o tipo de planos de urbanização, visando a reconstrução dos núcleos urbanos danificados pelo primeiro conflito mundial e prevê ainda a criação de uma escola de altos estudos na área de urbanismo responsável pela formação de técnicos.

O urbanismo institucionaliza-se, torna-se então uma área de intervenção pública e os urbanistas pretendem mais do que o simples estatuto de técnicos de planificação urbana, ambicionam o reconhecimento da sua atividade como o de uma ciência das cidades132.

A SFU, inicialmente, preocupou-se mais com o embelezamento, com a monumentalização das cidades e com a melhoria das condições urbanas, uma vez que a cidade era vista como um objeto artístico. Posteriormente, na década de 1930, começa- se a pensar e agir sobre ela de maneira diferente: a valorizar a educação e orientação da

opinião pública, em dotar o país de técnicos de diferentes áreas de formação que pudessem intervir na cidade de uma forma concertada, numa síntese de conhecimentos (historiadores, geógrafos, economistas, juristas, sociólogos, arquitectos) capazes de elaborar grandes planos de remodelação de cidades e de interagir com o poder

local133.

Na primeira década deste século, encontra-se, portanto, em formação aquela que vai ser uma escola francesa de urbanismo, valorizando cada vez mais um ensino prático e científico, seguido, no período pós 1ª Guerra Mundial, pela criação da École des

Hautes Études urbaines (EHEU) do Departamento do Sena que pretende formar

profissionais ao nível da planificação e da intervenção na cidade. Segundo Jean-Pierre Frey, o urbanismo ter-se-á tornado um campo autónomo e numa profissão nova em

França por volta de 1910-1920134.

131 SICA, Paolo - Historia del Urbanismo, El Siglo XX. Madrid: Instituto de Estudios de Administracion Local. 1981, pp. 561-562.

132 GÉRARD, Chevalier – «L’entrée de l’urbanisme à L’Universitè: la création de l’Institut d’urbanisme (1921-1924)» In Genéses, 2000/2 nº 39, pp. 98-120. ISSN 155-3219, p. 106. Disponível em WWW.URL:http://www.cairn.info/revue-geneses-2000-2-page-98.htm.

133

Idem

134 FREY, Jean Pierre; FOURCAUT, Annie - «L’Urbanisme en quête des revues», in PLUET- DESPATIN, Jacqueline; LEYMARIE, Michel & MOLLIER, Jean-Yves sous la dir. De La belle Époque

Pretendia-se que esta nova ciência, a das cidades, se afirmasse como um saber reconhecido de nível universitário, através da criação do Instituto de Urbanismo135.

Marcel Poëte, historiador, bibliotecário e posteriormente nomeado conservador da Biblioteca dos trabalhos históricos da cidade de Paris (1903), será um dos principais responsáveis pela criação do ensino do urbanismo. Na Biblioteca dinamizou um ciclo de

conferências sobre a história da capital que fez desta instituição um cadinho original do ensino urbanístico […] criador da cadeira da história de Paris, em 1914, na Escola

dos altos estudos […]136, a partir de 1916, tornada Instituto de História, Geografia e de

Economia Urbanas. Este organismo cultural promoveu o estudo da cidade: habitação, higiene, administração urbana, o solo, a topografia, a cultura e a sociedade.

O conselheiro municipal Henri Sellier em colaboração com este historiador cria, em 1919, a EHEU ou École des Hautes Études Urbaines, instituição de ensino aberta em 5 de setembro de 1919, que integrava professores oriundos de várias áreas como a da administração, do direito, da história, da geografia, da economia, da sociologia, da arquitetura, da medicina … numa perspetiva interdisciplinar e abrangente. Em 1919, Marcel Poëte lança a revista La Vie Urbain e escreve duas importantes obras Une Vie de

Cité (1924-31) e Introduction à l’Urbanisme (1929).

O Conselho Geral do Departamento do Sena […] adopta, em 9 de julho de 1919, o projeto de uma Escola de Altos Estudos Urbanos (EHEU), concebido pelo conselheiro Henri Sellier em colaboração com M. Poëte, e que a prefeitura homologa

no dia 5 de Setembro […]137.

Os urbanistas, então técnicos de planificação urbana, ambicionavam o reconhecimento do urbanismo como uma ciência das cidades e o fim das incertezas sobre a sua especificidade. Os professores da EHEU foram recrutados da Faculdade de Direito e da prefeitura do Sena (Bruggeman – Organização económica, Louis Bonnier), Henri Sellier (Organização dos Serviços Públicos nos Subúrbios Parisienses), Marcel Poëte (Evolução das Cidades).

caen, Edditions de l’IMEC, 2002, 440p., pp. 285-304. Disponível em WWW. URL: http://www. urbanisme.u-pec.fr

135 GÉRARD, Chevalier - L’entrée de l’urbanisme à L’université: la création de l’Institut d’urbanisme

(1921-24)», Genèses, 2000/2 no 39, pp.98-120. ISSN 155-3219. Disponível em

WWW.URL:http://www.cairn.info/revue-geneses-2000-2-page-98.htmp 136

GÉRARD, Chevalier: “L’entrée de l’urbanisme à L’université: la création de l’Institut d’urbanisme (1921-24) », Genèses, 2000/2 no 39, pp.98-120. ISSN 155-3219. Disponível em WWW.URL:http:// www.cairn.info/r evue-geneses-2000-2-page-98, p. 100

Em 1921, foram recrutados três professores titulares na Universidade de Paris,

Gaston Jéze (organização administrativa), Louis Rolland (Autonomia Comunal no estrangeiro, A manutenção da Ordem na Cidade), Joseph Barthélemy (Questões legislativas atuais sobre a organização das Capitais) e um professor de economia na

Faculdade de Dijon William Oualid (O Municipalismo)138, François Sentenac (a Arte

do engenheiro Municipal). Esta escola de urbanismo integrava docentes que garantiam a

legitimidade intelectual do urbanismo139. Para a integração dessa escola na

universidade, com a designação de Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris, contribuiu o facto dos seus docentes constituirem um conjunto de personalidades ligadas ao mundo político, aos movimentos reformistas, ao ensino superior e à alta

administração140.

Marcel Poëte foi o seu primeiro diretor e professor de história, o jurista Jean Barthélemy, o especialista em direito administrativo, Gaston Jéze, em organização administrativa, Edouard Fuster, higienista e cooperativista de referência, ligado à organização social e saúde, Louis Rolland, no âmbito social, Georges Bechman, higienista, William Oualid ligado à assistência social, ao municipalismo e ao arranjo urbanístico, Augusto Brueggman141, conhecedor dos aspetos da economia social e urbana. Os arquitetos Léon Jaussely, Jacques Gréber, Henri Prost e Louis Bonnier seriam os responsáveis pelo desenho e pelas técnicas urbanas – a arte urbana. A atividade pedagógica exercida por este grupo de professores seria completada com a realização de conferências da responsabilidade de especialistas nas áreas da habitação, higiene, serviços públicos, administração municipal. A partir do ano de 1922 foi

138

Idem, pp. 109-119. Gaston Jéze (1869-1953) especialista de renome internacional no sector financeiro

e conselheiro na Sociedade das Nações (1935-38); J. Barthélemy (1874-1945) professor titular na faculdade de Direito, do curso de história parlamentar; L. Rolland (1877- 1956); W. Oualid chefe de serviço no Ministério do Trabalho; Léon Jaussely, prémio de Roma e professor na Escola de belas-artes e engenheiro em chefe do Governo; G. Bechmann, presidente da AGHTM – ligado ao movimento de salubridade.

139

Idem, ibidem, p. 115.

140 Idem, ibidem, p. 117.

141 GUTIÉRREZ, op. cit., p. 6. Auguste Brueggeman de Biljleved; antigo conselheiro municipal comunal

em Gand […] tesoureiro da União Internacional das cidades e comunas belgas […] funcionário da associação francesa de luta contra o desemprego […] arquivista tradutor na repartição pública das habitações económicas do Sena HBM […] Em Novembro de 1919, participou na criação da EHEU, encarregado de pesquisar documentos didáticos em França e no estrangeiro, antes de ser nomeado diretor do ensino. PAYRE, Renaud - Un Savoir “scientifique, utilitaire et vulgarisateur”: la ville de La

Vie Urbaine, Object de Science et Object de Réforme (1919-1939). Genéses, 2005-03 nº 60, pp. 5-30. Disponível em WWW:URL:http://www.cairn.info/revue-geneses-2005-3-page-5.htm, p. 11

incluída uma secção de ensino destinada ao aperfeiçoamento dos funcionários municipais em termos administrativos142.

A integração e reorganização da EHEU na Universidade dão-se com a criação do IUUP, integrado nas Faculdades de Direito e de Letras. Tornou-se uma instituição de referência quer a nível nacional, quer internacional, gerando um primeiro grupo de conceituados urbanistas. Associada a esta instituição encontra-se a revista La Vie

Urbaine, órgão do IUUP, na qual foram publicados numerosos artigos escritos e

veiculados por homens que fizeram da cidade o seu principal objeto de estudo e de vida, numa tentativa de promover a pesquisa nesta nova área de conhecimento - a transformação da vida urbana, numa perspetiva reformista e não só. Integrava também alguns artigos escritos por alunos que aqui colocavam a síntese da sua tese, como foi o caso do arquiteto brasileiro Correa Lima, sendo ainda um veículo de transmissão de conhecimentos para os estudantes do IUUP e para os funcionários ligados à administração municipal.

As revistas têm uma história e, como os centros de ensino e de investigação, os congressos e as reuniões científicas, contam entre os principais vetores de

institucionalização de uma disciplina143. Com uma enorme adesão por parte estudantil

e, como escreveu Brueggman, esta revista que permitiu difundir os trabalhos relevantes

destinados à educação de opinião e dos poderes públicos é tão urgente e o garante do

Prestígio do Instituto em França e no estrangeiro […]144.

Entre 1900 e 1920, a ligação entre ciência e técnica no ensino do urbanismo insere-se num […] período do nascimento da escola francesa de urbanismo, que reúne

um conjunto de ideias e práticas, e que ensaia a sua profissionalização em

concorrência com outros corpos profissionais”145.

A SFU (Société Française d’ Urbanistes), a EHEU (École des Hautes Études Urbaines) e o IUUP (Institut d’Urbanisme de L’Université de Paris) são referências importantes para a valorização do urbanismo enquanto área de estudos e de formação

142

CHEVALIER, op. cit., pp. 113-116. GUTIÉRREZ, op. cit., p. 6.

PAYRE, op. cit., p. 5, 19-20. 143 Idem, p. 14.

144 PAYRE, op. cit., p. 16.

profissional. Através deste instituto de urbanismo, a França estabelecia o ensino do

urbanismo, codificava e definia a metodologia de composição urbana146.

Esta escola torna-se difusora de uma cultura ligada ao grande traçado e os seus métodos aplicados noutros continentes e noutros países através da atividade de urbanistas formados em França. Portugal não é exceção e requisita através do engenheiro Duarte Pacheco, ministro da Obras Públicas, em pleno Estado Novo, os serviços destes conceituados urbanistas (Donat Alfred Agache, Giovanni Muzio, De Gröer) quer para os projetos de urbanização, quer para o ensino da nova disciplina. Requisita também os serviços especializados de académicos portugueses formados na escola de urbanismo francesa como disto são exemplos Guilherme Faria da Costa (1936) e David Moreira da Silva (1939).

No primeiro volume do Boletim da Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização, em Portugal, nos anos 1945-46, já com Cancela de Abreu ministro da Obras Públicas que sucede a Duarte Pacheco, se afirma o Estado como órgão orientador e regulador da intensa atividade de urbanização no País. A criação da Direção Geral dos Serviços de Urbanização corresponde a uma época na qual o país se encontra apostado na criação ou reparação de infraestruturas, na planificação das cidades e campos e habitação.

Étienne De Gröer arquiteto urbanista formado em arquitetura na Academia Imperial de Belas Artes de S. Petersburgo emigrado para França em 1920, naturalizado francês em 1936, professor do IUUP, substituindo provisoriamente Brueggman, residente em Portugal desde 1938, escreve um artigo147 no boletim da DGSU de 1945- 46, em que apresenta as principais caraterísticas e princípios a observar aquando da execução de um plano de urbanização, na linha da teoria da cidade-jardim e do urbanismo francês de que foi acérrimo defensor.

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