• Nenhum resultado encontrado

vocabulário, quanto dos da pessoa com a qual você está interagindo (sem termos rebuscados ou complexos) sempre fazem o encontro mais verdadeiro e, portanto, melhora o seu trabalho.

Sempre assinalo minhas dificuldades de entendimento e não as de explicação, se algo não ficou claro, digo que eu não compreendi bem e necessito que a pessoa me esclareça, não digo que ela explicou mal. Tenho um amigo que ao ensinar-nos algo termina a frase dizendo: “me explico?”, dessa forma se coloca como o agente do possível mal entendimento, o que difere do que geralmente se diz, “entendeu?”, “percebe?”, colocando no ouvinte a responsabilidade da compreensão, o que pode intimidar. Numa interação comunicacional a humildade verdadeira sempre é muito bem- vinda.

O número de entrevistas é outro fator que geralmente preocupa a quem quer pesquisar com abordagem qualitativa. É a eterna preocupação com a representatividade, fruto da preponderância do modelo “quanti” nas pesquisas. O número máximo de entrevistas individuais está entre 15 e 257, porque uma entrevista transcrita

equivale a cerca de 20 laudas. Se você escolheu bem os entrevistados terá um excelente material para trabalhar. Essa informação, contudo, é uma orientação. A quantidade de entrevistados não é o fator mais importante. Isso depende muito do tema, algumas vezes, uma só pessoa pode oferecer uma entrevista que contemple de forma tão abrangente a temática, que apenas essa interação seja suficiente.

Por exemplo, para fazer uma pesquisa sobre a história da formação em Nutrição na

7 BAUER, M. W.; GASKELL. G. Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e

169

UFRN, possivelmente fosse necessária apenas uma entrevistada: a professora Carmem  Lúcia

de Araújo  Calado. Essa, além de ter sido uma

das fundadoras do Curso em Natal, em 1978, assumiu, durante muitas vezes, nos anos subsequentes, além da docência, atividades administrativas, que alternavam entre as funções

de coordenadora,  vice-coordenadora e chefe

de  Departamento. Ocupou ainda, o cargo de presidente do Conselho Federal de Nutrição. Já aposentada, participou da equipe que elaborou o Projeto Pedagógico do Curso a ser implementado no Campus de Santa Cruz. Por fim, é também uma compiladora de materiais escritos, tendo sistematizado um conjunto de fatos relevantes sobre o curso durante décadas. Pelas características expostas, é muito provável que uma entrevista com essa professora fosse suficiente para explorar esse tema, pelos cargos ocupados e pelo seu interesse particular em colecionar datas, eventos e registros históricos.

Caso sejam necessárias várias entrevistas, também é importante a atenção na escolha. Pode ser usada a “seleção por critério”, que é eleger pessoas que se enquadrem no perfil desejado. “Seleção por bola de neve”, na qual The appraisal - Grant Wood

170

os próprios entrevistados dão pistas de onde encontrar aquelas cujos relatos podem interessar ao estudo. Há casos nos qual essa última forma é a única possibilidade. Por exemplo, coordenei uma pesquisa na qual um dos objetivos era

entrevistar pessoas que se “alimentavam de luz”8

e era impossível encontrá-los de outra maneira, uma vez que eram poucos e dispersos na cidade, sem ter um ponto de encontro para tal fim.

Entrevistas sobre histórias de vida, assuntos domésticos, alimentação familiar, por exemplo, podem ganhar em qualidade se realizadas nas casas das pessoas, pois materiais úteis à explicitação de alguma ideia, e a própria observação do ambiente podem tornar visíveis aspectos antes desconsiderados por quem pesquisa. Da mesma forma, as entrevistas sobre

8 MEDEIROS M. Comensalidade: um rito de socialização vencido pelas três faces de Cérbero?. In: PINTO V. L. X.; MEDEIROS M. Literatura e Alimentação: delicatéssen na formação em saúde. Natal: EDUFRN, 2011, p. 207-247.

o trabalho nas escolas podem ser favorecidas se realizadas nesse mesmo local.

Independentemente de onde se realize a entrevista, é importante estar a sós, e num local que permita um mínimo de interrupções. Geralmente faço entrevistas com docentes na escola em uma sala na qual não se realizam atividades naquele momento. Minha experiência mostra que sempre haverá pequenas interrupções. Fico atenta a elas, deixo a pessoa entrevistada à vontade para responder ao que lhe perguntam ou fazer o que necessita. Quando retorna sua total atenção a mim, compreendo ser minha responsabilidade saber do que falávamos antes da interpelação e relembro com uma frase como “você me contava que, fale mais sobre isso”.

Sempre que inicio a entrevista peço permissão, e caso seja dada, ligo o gravador diante da pessoa para que fique evidente sua

171

utilização. Não olho constantemente para ele, mas fico atenta ao seu funcionamento. Sempre levo pilhas novas ou o carregador de energia.

Mostro – porque, verdadeiramente, tenho - durante todo o encontro um imenso interesse sobre o que a pessoa diz. Não interrompo sua fala por ansiedade. Olho nos seus olhos calmamente,

faço gestos com a cabeça, como numa conversação normal, evitando sempre aquele olhar desconcertante, crítico, inquisidor. Lembre- se que a maior parte de nossa comunicação é não verbal. Seus gestos, assim como os da pessoa, contam muito. O silêncio, por exemplo, pode estar recheado de significado.

Procuro ser empática, demonstrando segurança e aceitação. Não estou ali para julgar, mas para ampliar o conhecimento e a compreensão de algum assunto, e essa pessoa tem muito a acrescentar nesse sentido. Em outro momento, poderei promover um diálogo no qual possa também acrescentar outra visão de determinadas questões, como por exemplo, quando venho apresentar a composição final de meu trabalho ou na realização futura de um trabalho educativo - neste caso, primando, como

172

Documentos relacionados