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5.   RESULTADOS E DISCUSSÃO 60

5.1.   Gestantes Adolescentes que Evadiram da Escola 60

5.1.7.   Natureza do apoio social percebido no grupo de gestantes que evadiu da escola:

Frente à perspectiva contextual da gestação não planejada entre gestantes adolescentes que evadiram da escola, incluindo as adolescentes que evadiram tanto antes quanto durante a gestação, o sentimento presente entre essas jovens é de insegurança diante do evento. Essa insegurança, nas gestantes que evadiram da escola, é influenciada principalmente relativa à relação conflituosa com o núcleo familiar, sendo representada principalmente pela figura materna e pela ausência do pai. Esse sentimento de insegurança influenciou também sua trajetória escolar.

Diante disso, o apoio social foi percebido, em sua perspectiva estrutural, através das perspectivas funcionais: afetivo, material, informacional e interação social positiva. Esse apoio social percebido foi originado da rede de apoio social da adolescente grávida, composta principalmente pelo parceiro, mãe, sogra, amigos e profissionais de saúde.

Moreira (2008) revela, em seu trabalho sobre satisfação e composição da rede de apoio social em gestantes adolescentes, que estas se mostraram muito satisfeitas, apesar de contarem com uma rede de apoio pequena durante a gestação. Quanto à composição desta rede, a mãe e o companheiro assumiram posições de destaque.

Para Sluzki (1996), que tem trabalhado com esta questão, a rede social representa o conjunto de todas as relações que uma pessoa possui e que para ela são significativas. Segundo o autor, redes pequenas, porém com alto grau de funcionalidade, são comuns, embora tendam a sobrecarregar seus membros, uma vez que muita confiança e expectativa são depositadas nessas pessoas.

Em nossa pesquisa, o apoio afetivo foi representado a partir de dois tipos de DSC produzidos pelas adolescentes: um com IC de “isolamento social” e com IC “apoio afetivo do parceiro”. No DSC do isolamento social auto-imposto, as adolescentes demonstraram não procurar esse tipo de apoio e até preferir ficar sozinhas em momentos de tristeza. Já no DSC que percebeu o apoio afetivo do parceiro, esse apoio deu-se por meio do diálogo, da aceitação da gravidez e da demonstração de sentimentos de afeto. Não houve evidências de percepção de apoio afetivo da mãe ou do núcleo familiar das adolescentes quando fixemos as perguntas direcionadas para esse tópico, provavelmente em virtude da relação conflituosa com a mãe e da ausência do pai em sua rede de apoio.

Griffiths (1994) e Godinho (2000) indicam em seus trabalhos que as adolescentes, ao engravidar, buscam inicialmente o apoio do parceiro e, em seguida, da mãe e de amigos.

O apoio material percebido originado principalmente da mãe e do parceiro, deu-se através do fomento de bens materiais e do auxílio para o acompanhamento pré-natal, como consultas e exames médicos. A gravidez ocorreu, provavelmente, numa etapa do processo vital em que o jovem casal não havia ainda alcançado a independência material e domiciliar em relação aos seus pais, fenômeno que contribui para modular o chamado “prolongamento da juventude”. Concorre ainda para esse processo a interrupção da trajetória escolar das gestantes e o adiamento da sua profissionalização. Essas duas situações – autonomia familiar-residencial e escolar-profissional – constituem o limiar de ingresso à vida adulta. Nesse percurso em direção à “adultez”, pressupõe-se que a adolescente necessita não somente receber apoio social, mas percebê-lo como tal.

Não foi relatado apoio em relação ao cuidado com a criança após o nascimento para que a adolescente pudesse retornar aos estudos.

Na perspectiva funcional do apoio informacional, este foi percebido através dos serviços de saúde, representados pelos profissionais de saúde, sendo a Agente Comunitária de Saúde importante neste reconhecimento, e pelas reuniões do Grupo de Gestantes ocorridos no CSF. O relato da experiência de vida através da mãe e da sogra também foi reconhecido como fonte de apoio informacional.

A interação social positiva foi percebida através do núcleo familiar das adolescentes e do grupo de amigos e deu-se principalmente através do diálogo.

A trajetória escolar das gestantes adolescentes que evadiram da escola antes ou durante a gravidez foi influenciada pelo sentimento de insegurança proporcionado pelo evento da gestação não planejada. Apesar da controvérsia entre causa ou consequência, a baixa escolaridade da própria adolescente foi associada à gravidez em muitos trabalhos. No trabalho de Pereira et al. (2005), realizado em Portugal, revelou-se que cada série repetida aumentaria sensivelmente a chance de gravidez (OR= 7,4; IC95%: 2,18-25,1). No de Amorim et al. (2009), encontrou-se associação da gravidez na adolescência com escolaridade inferior a oito anos de estudo formal. Essa baixa escolaridade da adolescente também foi relacionada com risco de repetição da gravidez num período de cinco anos (BRUNO et al, 2009).

Segundo Manfré (2010), a gravidez precoce pode contribuir para alterações no projeto de vida da adolescente, interferindo em sua trajetória escolar, na entrada no mercado de trabalho e, consequentemente, na busca de melhores condições de vida. A instabilidade econômica pode contribuir para uma reação em cadeia, uma vez que a adolescente abandona os estudos para desempenhar outras responsabilidades decorrentes do novo papel que assume, o de mãe. Em seguida, a baixa escolaridade e grau de instrução precário levam à dificuldade de inserção no mercado de trabalho, bem como causam comprometimento da estabilidade conjugal, principalmente se a jovem não conta com o suporte da família.

Essas adolescentes demonstraram reconhecer a escola como importante para o seu futuro profissional, mas sua trajetória acabou sendo influenciada negativamente pelos sentimentos de vergonha pela gravidez diante dos colegas e professores da escola, pelos sintomas de vômitos e indisposição ocasionados pela gravidez e pela necessidade de cuidar do filho após o nascimento. Assim, esses eventos contribuíram para o abandono ou para a permanência do afastamento em relação à escola. As adolescentes demonstraram desejo de retornar aos estudos, mas na dependência do apoio afetivo e material por parte da família, que pode ser materializado no reestabelecimento da relação com a mãe que se mostra conflituosa, e no apoio material representado por ajuda para cuidar da criança após o nascimento.

A partir dos DSC produzidos, para sintetizar as IC e/ou AC e os DSC do grupo de gestantes que evadiram da escola, elaborei um mapa conceitual que representa a visão geral da natureza do apoio social percebido nesse grupo (Figura 1).

Figura 1 - Natureza do apoio social percebido no grupo de gestantes adolescentes que evadiram da

escola, Sobral-CE, 2013