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2 ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

2.1 NATUREZA DA PESQUISA

A intenção desta seção é apresentar os caminhos utilizados para o desenvolvimento da pesquisa, po sua considerável importância para a compreensão do intinerário seguido. De acordo com Minayo (2016), desde as tribos primitivas até a sociedade ocidental, os homens, cada um em seu contexto, se têm debruçado sobre diferentes tipos de saberes científicos para compreender a própria realidade. Sendo assim, a ciência assume hegemonicamente a forma de construir a realidade, uma vez que é sabido que quase tudo que é possuído, consumido e pensado “[...] está impregnado por algum tipo de conhecimento científico que qualifica os objetos, o uso que fazemos deles e as concepções que temos sobre sua utilidade e moralidade” (MINAYO, 2016, p. 9).

A autora supracitada diz que nossa sociedade acabou por consagrar a ciência como carro-chefe de seu próprio desenvolvimento; já para os críticos, ela é consideraca um mito moderno, por ser considerada também como o único promotor e critério de verdade, dado que desenvolve e cria riscos sociais. Para problemas essenciais como a pobreza, porém, a miséria, a fome e a violência continuam sem respostas efetivas, visto que, além de depender de decisões inteligentes e técnicas, dependem também da política e do domínio do poder (MINAYO, 2016).

Os problemas acima mencionados impactam também no cotidiano da pessoa em situação de rua que frequenta o Centro Pop, demandando dos profissionais habilidade em lidar com questões dessa natureza. Frente a essa realidade, a pesquisa passa a ser entendida como atividade básica do trabalho científico, pelo qual se procura conhecer a realidade por meio de questões e problemas. As respostas são elaboradas a partir de conhecimentos previamente estabelecidos ou necessita da criação de novos referenciais. Neste sentido, é ela “[...] que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo” (MINAYO, 2016, p. 16).

As pesquisas qualitativas estudam fenômenos sociais que envolvem seres humanos e suas diversas relações sociais; neste sentido, para Minayo (2016) ela responde a questões particulares.Dentro das Ciências Sociais, relaciona-se com:

“[...] o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas também por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e compartilhada com seus semelhantes” (p. 20).

Diante dessas reflexões, quando a referida autora discute sobre o objeto das Ciências Sociais, reitera que a pesquisa é, em sua essência, qualitativa. A realidade social passa, então, a ser o centro do dinamismo da vida individual e coletiva com todos os seus significados. Segundo Minayo (2016, p. 14), as Ciências Sociais “[...] possuem os instrumentos e teorias necessárias para aproximar a complexidade da existência dos seres humanos em sociedade, ainda que de forma incompleta, imperfeita e insastifatória.”

Assim, a presente pesquisa é de caráter qualitativo, entendida como um processo que não admite suas etapas visualizadas como estanques, pois “[...] ela se desenvolve em interação dinâmica, retroalimentando-se, reformulando-se constantemente [...]” (TRIVIÑOS 1987, p. 137). Portanto, o que inicialmente foi identificado como tomada de informações pode guiar as novas orientações, que recomendam novo rumo para o esclarecimento do problema inicial gerador do estudo.

À luz das discussões de Minayo (2016) e Triviños (1987) sobre a pesquisa qualitativa, apliquei um questionário nos meses de setembro e outubro de 2017 a vinte educadores sociais dos três centros pop investigados, com o objetivo de obter informações referentes a idade, sexo, práticas de lazer, nível socioeconômico, escolaridade, moradia, tempo de serviço no centro pop, função, religião, conhecimento sobre formação/capacitação, atribuição da função no cotidiano, motivo de continuidade, entre outros.

Desse grupo, a devolutiva foi de 15 questionários preenchidos. Nesse processo, foram identificadas algumas dificuldades no levantamento de informações durante a pesquisa de campo, tais como: trocas de educadores nas equipes, recusa em colaborar com a pesquisa (sob a alegação de provisoriedade no serviço). Essas intercorrências mostram a complexidade que é desenvolver pesquisas, uma vez que não se apresentam de forma estanque e devido à sua natureza qualitativa.

Os fragmentos de falas e as informações fornecidas obtidas por meio dos questionários foram representadas pelas letras F ou M, para indicar o sexo; NS ou NM, para identificar o nível de escolaridade (Nível Superior ou Nível Médio), respectivamente, e a idade.

Dos 15 questionários recolhidos, foi possível determinar os critérios de seleção dos entrevistados cujas trajetórias de formação seriam analisadas. Entre eles: aceitar colaborar espontaneamente com a pesquisa na etapa de entrevista; ter tempo de atuação superior a 12 meses; ter relação com experiência em programas ou projetos sociais.

Os critérios partiram do princípio de que, quanto maior o tempo de serviço, maior seria a experiência acumulada e a familiaridade com o trabalho. Por conta disso, era de se pressupor que os educadores sociais que tivessem experiências em outros programas e projetos sociais

pudessem fornecer mais elementos à investigação. Sendo assim, a partir dos dados produzidos pelos questionários (Quadro 1), foram selecionados seis educadores sociais. Na ausência de um desses critérios, optei por manter ao menos um entrevistado de cada centro pop para dar representatividade aos três centros pop dos municípios28.

N Sujeitos Tempo de centro pop Ens. Superior Atuou em Projetos sociais Se sim, qual?

1 MNM20 13 a 18 meses Não Sim Voluntário no centro pop

2 MNM41 13 a 18 meses Completo

Sim

Capoeira na comunidade, associação de amigos irmãos para toda hora

3 FNM36 Menos de 1 mês Completo Sim Fundação Fé e Alegria do Brasil

MNM33 6 a 12 meses Não Não Não

4 FNM29 6 a 12 meses Completo Sim Fundação Fé e Alegria - projeto casa legal

5 FNM31 13 a 18 meses Incompleto Sim Abrigos de crianças e adolescentes e centro pop

6 FNM37 6 a 12 meses Incompleto Sim ADRA

7 MNS29 Acima de 19 meses Completo Sim Estação Conhecimento

8 MNM48 13 a 18 meses Incompleto Sim Fundação Fé e Alegria - Casa Marista

9 FNS36 Acima de 19 meses Completo Sim Pró-jovem adolescente

10 FNM26 Menos de 1 mês Não Sim Creas, Cajun, Mais Educação, Pró-jovem etc...

11 MNM30 6 a 12 meses Incompleto Não Não

12 MNM29 2 a 5 meses Incompleto

Sim

Instituto Social Esperança. Fez serviço voluntário de redução de danos. 13 FNM50 Acima de 19 meses Completo Sim Abrigos de crianças e adolescentes.

14 MNM37 6 a 12 meses Não Não Não

As entrevistas foram realizadas no mês de novembro do ano de 2017, com o intuito de obter informações específicas sobre os educadores sociais que tivessem relação com suas trajetórias no centro pop29. Utilizei um roteiro de questões previamente configurado, com o objetivo de auxiliar no levantamento das informações advindas das entrevistas com os

28 Identifiquei duas maneiras de contratação dos educadores sociais para atuarem nos centros pop: 1) uma direta,

feita pelo próprio município, em que o profissional compõe o quadro de livre nomeação e exoneração; 2) uma que considero indireta, realizada por ONGs que administram o serviço socioassistencial do município. Sobre esses tipos de contratação, criei categorias que detalho melhor na apresentação dos dados.

29 Os educadores sociais selecionados foram: MNM20, FNM31, MNS29, MNM48, FNS36 e FNM50.

Quadro 1 – Tempo de serviço, formação e experiência com trabalho social Fonte: Elaborado pelo autor.

educadores de forma precisa nessa etapa. As entrevistas foram gravadas e transcritas para, em seguida, analisar suas trajetórias de formação e seu impacto nos serviços prestados.