• Nenhum resultado encontrado

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.3 A NATUREZA DA REALIDADE E DA VERDADE

Na segunda dimensão proposta por Schein, o interesse está em identificar as regras que definem o que é real e o que não é, e, ainda como e por quem a verdade é determinada. Portanto, a finalidade primordial reside em reconhecer o processo de tomada de decisão, a utilização do tempo e a distribuição do espaço físico na empresa.

A Figura 7 mostra o percentual de citações, destacando o valor referente à natureza da realidade e da verdade.

Figura 7 – Percentual de citações – A natureza da realidade e da verdade

No Gráfico 3, é possível verificar as citações do grupo à natureza da realidade e da verdade relacionadas em cada aspecto. Em seguida, é realizada a análise dos dados apresentados.

5.3.1 O processo de tomada de decisão

Conforme Schein (1984a, 1987), é com base e a partir da definição compartilhada de elaborar o que é verdade e e o que é mentira que os membros mais antigos transmitem concepções de verdade e realidade aos membros mais recentes. É assim que desenvolvem uma cultura específica para o grupo ou a organização à qual pertencem.

De acordo com Hall (1984), o processo decisório representa uma das principais funções das lideranças da organização. Delas é esperado que tomem decisões a respeito do estabelecimento de metas, sobre os meios necessários para atingir os fins desejados, referentes à defesa da organização dos ataques provenientes do exterior e sobre a resolução de conflitos internos.

No que se refere aos critérios que orientam o processo de tomada de decisão, destacam-se com o mesmo número de citações (oito) os aspectos: Verdade que sobrevive ao conflito e ao debate e Verdade estabelecida pelo método científico.

5.3.1.1 A verdade que sobrevive ao conflito e ao debate

Este item refere-se às decisões tomadas em conjunto após serem analisadas e discutidas, conforme se nota nas seguintes transcrições:

“Nossa gestão é feita por confiança, então as decisões são bem compartilhadas, nunca vêm de cima pra baixo. Então tem um comitê que decide, mas sempre é bem trabalhado antes, bem compartilhado, não se toma uma atitude assim... amanhã vamos fazer isso. Então claro que a gente fica analisando mercado e tudo mais, a gente procura trabalhar assim divulgando e conscientizando as pessoas, o presidente é bem de trabalhar de maneira compartilhada. Às vezes o presidente bate o martelo e tá acabado, mas a gente procura sempre o consenso”.

“[...] Resolvemos uma decisão muito importante, que influencia praticamente em todos os processos. Essa ideia partiu da superintendência, porém, ela não toma essa decisão sozinha, a decisão final é em conjunto entre o autor da ideia, que [a] leva para avaliação da diretoria, e a diretoria acaba envolvendo outros processos, que é o TI e a parte técnica da empresa. Então, a decisão nunca é tomada por uma única pessoa, principalmente decisões de grande porte. Fazemos a gestão participativa, então um gerente, quando tem que tomar uma

decisão dentro de uma unidade, ele [a] leva para reunião, conversa com o grupo, pega as pessoas-chaves envolvidas e toma a decisão final. A própria diretoria, quando vai tomar uma decisão, reúne seus assessores e gerentes.”

5.3.1.2 A verdade estabelecida pelo método científico

Para Schein (2009), acaba se tornando mais um tipo de dogma, especialmente nas ciências sociais, em que também é assunto de consenso. Aparece nos discursos apresentados da seguinte maneira:

“Todas as decisões são baseadas em indicadores que nós temos internamente, então todas as áreas geram indicadores que são a base para a tomada de decisão. As decisões são sempre baseadas em fatos históricos da empresa.”

“As principais decisões da empresa são tomadas principalmente com base em dados mensuráveis, tanto o histórico da empresa como o do mercado e tendências e possibilidades futuras que aparecem de novos negócios.”

5.3.1.3 Dogma puro ou tradição

Para Schein (2009), é a verdade baseada numa tradição o modo como as coisas sempre foram feitas, como se nota nos seguintes trechos: “Percebo que existe uma hierarquia funcionando... A discussão acontece no colegiado e depois o diretor bate o martelo.”

“Às vezes o presidente bate o martelo e tá acabado, mas a gente procura sempre o consenso.”

5.3.2 A utilização do tempo e a distribuição do espaço físico

5.3.2.1 A orientação de tempo

Dentro dessa subseção se procurará ver, de acordo com os relatos dos entrevistados, o conceito predominante de tempo que a organização

utiliza. Interessa saber se a orientação básica da organização é para o passado, o presente ou o futuro. Para isso, é relevante reconhecer e analisar algumas decisões recentemente tomadas, com o intuito de conhecer a importância que foi atribuída ao que foi realizado de parecido no passado, à ênfase dada aos fatos presentes, ou se as decisões levaram em conta cenários futuros.

Nesse sentido, as organizações que se encontram orientadas para o passado e o presente tendem a adotar uma perspectiva monocrônica de tempo. De modo diverso, as que se encontram orientadas para o futuro adotam uma perspectiva policrônica. Pode-se argumentar, também, que as organizações com uma perspectiva monocrônica de tempo são mais rígidas ou mecânicas, enquanto aquelas que incorporam a policronia como fundamento para a sua orientação temporal são mais flexíveis ou orgânicas.

Quanto à orientação de tempo, nota-se que a orientação básica das organizações pesquisadas é para o futuro. Para concluirmos isso, foi importante identificar e analisar algumas decisões recentemente tomadas, de modo a perceber que as decisões sempre levam em conta cenários futuros. Os relatos que aparecem abaixo expressam esse caráter de orientação das empresas:

“A gente tem estudos de qualidade e viabilidade, no sentido de saber qual serão os impactos de nossas ações.”

“As principais decisões da empresa são tomadas principalmente com base em dados mensuráveis, tanto o histórico da empresa como o do mercado e as tendências e possibilidades futuras que aparecem de novos negócios.”

5.3.2.2 O tempo e a distribuição do espaço físico

O tempo, de acordo com Hall (1984), pode ser classificado como monocrônico ou policrônico.

Nas organizações pesquisadas, o tempo é visto como policrônico e se desprende ao máximo do relógio. Visto dessa forma, as possibilidades de ação são mais amplas e flexíveis. Mais de uma tarefa ou ação pode ser desencadeada no mesmo espaço de tempo. Como se pode observar:

“Não existe um padrão de administração de tempo das atividades; existe, sim, um bom senso, uma percepção de cada um com relação ao volume de suas atividades.”

“Então o tempo vai ter essa flexibilidade em termos do objetivo do trabalho, da meta.”

“Trabalhamos por metas, temos uma coisa chamada eficiência global, ali nós temos os indicadores.”

Dessa maneira, as organizações pesquisadas têm uma orientação policrônica de tempo e são focadas no futuro, entendem que o planejamento estratégico de cenários futuros é uma questão fundamental para a definição das ações que serão essenciais no dia a dia.

Como ressalta Ferro (1991), as diferentes concepções de tempo influenciam a alocação e a disposição do espaço físico nas organizações. O conceito monocrônico requer privacidade. Já o conceito policrônico facilita a elaboração de espaços mais comunitários com poucos muros e mais pontes, abertos e coletivos, favorecendo os encontros informais e formais. Assim sendo, aos espaços são conferidos sentidos distintos que indicam diferentes noções de proximidade e distância, social e física.

Dessa forma, os valores sociais das organizações interferem decisivamente no entendimento do que venha a ser próximo ou distante, restrito ou comunitário. A finalidade primordial, citando Silva (2000), é a de identificar e compreender o modo como os funcionários se distribuem e ocupam os diferentes espaços físicos da empresa.

Durante as visitas realizadas, percebeu-se que as duas organizações cresceram muito nos últimos anos, e, em termos de espaço físico, não houve uma reestruturação que comportasse a estrutura necessária. Essas empresas estão buscando soluções para adequações de suas instalações. Dessa forma, esta análise fica um pouco comprometida, pois nota-se que o espaço físico está distribuído da melhor forma possível. Mas acredita-se que haja uma tendência na orientação de espaços mais comunitários visando a uma proximidade social e física.