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2. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

2.2 Natureza e Objetivos do Estudo

As constantes inquietações decorrentes da experiência profissional da investigadora, o confronto com a abrangência dos estudos sobre lideranças escolares e o foco na orientação do estudo em administração educacional encontram reflexo na afirmação: “certos pormenores, ambientes ou pessoas tornam-se objetos aliciantes porque intervieram, de forma decisiva, na vida do investigador” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 85)

Tendo em conta as questões orientadoras atrás enunciadas, este estudo visa conhecer o contributo das lideranças escolares num AE para a concretização do trabalho em equipa e a consequente melhoria do serviço educativo, cujos objetivos específicos se apresenta:

1. Conhecer as representações dos atores das estruturas educativas sobre liderança;

2. Conhecer as condições estruturais de diferentes equipas de coordenação educativa no contexto do AE;

3. Conhecer a organização de equipas de coordenação educativa no Agrupamento de Escolas;

4. Conhecer as perspetivas dos coordenadores de diferentes equipas de coordenação educativa sobre as suas funções, no AE;

5. Caracterizar os processos e práticas de trabalho nestas equipas de coordenação educativa.

Neste estudo de caso de natureza exploratória considerou-se que as questões orientadoras e os objetivos justificavam o recurso a uma metodologia qualitativa para

67 se obter conhecimento sobre o objeto em análise, dirigido ao papel das lideranças das estruturas de coordenação educativa no AE.

A metodologia qualitativa está associada ao paradigma interpretativo, o qual, segundo Coutinho (2008), “adota, do ponto de vista ontológico, uma posição relativista – há múltiplas realidades que existem sob a forma de construções mental e socialmente localizadas” e “inspira-se, numa epistemologia subjetivista que valoriza o papel do investigador/construtor do conhecimento” (p. 7).

Esteves (2006) refere que nos últimos trinta anos tem vindo a aumentar a opção pelas metodologias qualitativas nas abordagens aos fenómenos educativos. Segundo esta autora, os estudos inseridos neste paradigma procuram captar o ponto de vista dos sujeitos sobre a realidade, compreender e interpretar com rigor o significado que os sujeitos dão às suas ações através de uma “explicação dos fenómenos latentes na comunicação” (Esteves, 2006, p. 108). Também Coutinho (2008) refere que “A busca dos significados, a construção indutiva da teoria, o papel central assumido pelo investigador” (p. 7) são, assim, características chave deste paradigma. Assim, neste paradigma a produção do conhecimento não é linear e desenvolve-se através de um processo iterativo porque “investigar implica interpretar ações de quem é intérprete, envolve interpretações – a dupla hermenêutica em ação” em que “a interpretação da parte depende do todo mas o todo não depende das partes” (Coutinho, 2011, p. 288).

A metodologia qualitativa caracteriza-se, segundo Bogdan e Biklen(1994) por: (i) ter como fonte direta dos dados o ambiente natural em que estes ocorrem; (ii) os dados serem descritivos (palavras ou imagens); (iii) o investigador ser o principal instrumento de recolha dos dados; (iv) ter como foco também o processo e não apenas nos resultados das ações; (v) a análise dos dados ser indutiva e contínua; (vi) dar especial importância à interpretação que os sujeitos fazem dos seus atos.

Optou-se pela realização de um estudo de caso pois, segundo Bogdan e Biklen (1994), este “consiste na observação detalhada de um contexto” (p. 89) e, de acordo com Coutinho e Chaves (2002), é o tipo de estudo que melhor permite desenvolver “um estudo intensivo e detalhado” sobre o tema, ou seja, sobre as potencialidades do trabalho dos coordenadores das equipas de trabalho no contexto da sua atividade no AE em estudo (p. 223).

Segundo Stake (1999), o estudo de caso pode ser intrínseco, instrumental ou coletivo. No caso presente, trata-se de um “estudo de caso instrumental” (p. 17), uma

vez que procuramos a resposta a um dado problema, partindo desse problema e não de um contexto específico.

Coutinho e Chaves (2002) citam Yin (1994) que define estudo de caso como “uma investigação empírica que investiga um fenómeno no seu ambiente natural, quando as fronteiras entre o fenómeno e o contexto não são bem definidas (…) e (…) em que múltiplas fontes de evidência são usadas” (p. 224). Os mesmos autores afirmam ainda que com a realização de um estudo de caso não se pretende generalizar os resultados mas conhecer, de forma aprofundada, uma dada realidade, “pelo facto do caso ser irrepetível” (Coutinho & Chaves, 2002, p. 231)

O recurso a meios de pesquisa, como a análise documental, entrevistas e análise de conteúdo das mesmas e ainda a observação de reuniões de departamento curricular, permitiu compreender o sentido das abordagens dos sujeitos de investigação e, posteriormente, realizar a triangulação da informação, técnica que contribui não apenas para a credibilidade dos resultados, mas também para revelar com rigor o objeto de estudo na sua complexidade.

Assim, seguiu-se um plano de investigação apoiado em Bogdan e Biklen (1994), que serviu de “guia de estudo em relação aos passos a seguir” (p. 83), partindo-se do desconhecimento do meio onde os sujeitos da investigação desenvolvem a sua ação profissional.

O plano de desenvolvimento deste trabalho iniciou-se em janeiro de 2018 com o pedido de autorização, endereçado ao diretor do Agrupamento, para realizar o estudo de caso entrevistando dois coordenadores de departamento, dois coordenadores de outras equipas de coordenação educativa e um professor sem cargos, no contexto da organização e gestão escolar.

O aprofundamento bibliográfico decorreu durante todo o processo de apoio à identificação da problemática de investigação, a construção do guião da entrevista e a realização do estudo empírico.

Durante os meses de março e abril realizaram-se as entrevistas. Em julho observaram-se duas reuniões de departamento: uma do Departamento Curricular de Ciências Experimentais (DCCEXp.) e outra do Departamento Curricular do Primeiro Ciclo (DC do 1.º Ciclo).

Em síntese, o desenvolvimento deste trabalho consistiu no estudo e na revisão da literatura associada a culturas de trabalho colaborativo e a práticas de liderança escolar, na recolha e na análise de legislação específica no âmbito da autonomia da

69 Escola e dos documentos estruturantes do AE em estudo, na realização de entrevistas às professoras participantes, na observação de reuniões e na análise dos dados, de modo a descrever e interpretar as perceções e as motivações das coordenadoras das equipas de trabalho, bem como as suas práticas.

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