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A escolha do problema a ser trabalhado na pesquisa assim como da metodologia que melhor se adapte ao objeto de estudo revelam as concepções e visão de mundo daqueles que vivenciam e ao mesmo tempo pesquisam determinada realidade. Assim devemos traçar um percurso metodológico coerente com a compreensão que se tem do objeto e do contexto de estudo.

Minayo (1993), em sua discussão sobre a delimitação da temática em pesquisa social na área da saúde, revela que o investigador se identifica com o objeto de investigação, eles têm a mesma natureza e estão comprometidos. Explicita ainda que, na construção do objeto de estudo, é preciso labor teórico articulado ao esforço prático de informação, crítica e experiência.

A vinculação do pensamento à ação é abordada pela autora que o atrela à escolha da temática para justificar a não espontaneidade de sua origem, explicando que nada pode ser intelectualmente um problema de investigação se não tiver sido, em primeira instância, um problema da vida prática. Surge, portanto, de interesses e circunstâncias socialmente condicionadas, resultado de determinada inserção no real, nele encontrando suas razões e seus objetivos (MINAYO, 1993).

Nesse sentido, vamos reforçar as assertivas anteriores ao escolher trabalhar um tema com o qual nos identificamos, e mesmo o objeto desta investigação constitui parte da nossa prática profissional, são frutos da vivência e da problematização do cotidiano do trabalho da enfermeira, nos serviços da rede de atenção básica em saúde. Citando Frigotto (1989, p.87):

[...] quando iniciamos uma pesquisa não nos situamos num patamar zero, de conhecimento; pelo contrário, partimos de condições já dadas, existentes, e de uma prática anterior, nossa e de outros, que gerou a necessidade da pesquisa ao problematizar-se.

Entendemos que a construção de uma metodologia revela a necessidade de aplicar métodos coerentes ao objeto de estudo. Assim, considerando que o objetivo deste estudo é avaliar a assistência ofertada pela rede de atenção básica em saúde sob o ponto de vista dos usuários, optamos por construir-se um percurso metodológico de natureza descritiva, utilizando a abordagem qualitativa à medida que tal perspectiva dá abertura à apreensão da complexidade presente nas

relações sociais. Acreditamos que este percurso favoreça uma aproximação com a realidade social na qual cada ator se insere, sempre carregada de muita subjetividade, sentidos e sentimentos conflituosos, ou não, que transpassam significados diversos em seus modos de “andar a vida”.

Nessa perspectiva, a presente pesquisa é capaz de delinear um caminho que transcorre o campo de estudos da saúde coletiva na temática da satisfação em relação à prestação de serviços. Utilizando a abordagem qualitativa do processo de avaliação com enfoque na satisfação dos usuários atendidos em serviços da rede básica de saúde, possibilitaremos abordar características subjetivas dos sujeitos em processo de análise, envolvendo e valorizando suas individualidades.

A pesquisa descritiva, segundo Trivinõs (1994), possibilita uma visão mais ampliada do campo e do fato em estudo, tendo por finalidade: desenvolver, esclarecer e modificar conceitos, buscando formular os problemas de forma mais precisa ou levantar hipóteses que poderão ser estudadas posteriormente.

Em relação à abordagem qualitativa, Minayo (1993) afirma que esta permite trabalhar com contextos de significados, concepções, aspirações, motivações, valores e atividades que correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não possibilitam somente o uso de variáveis quantificáveis, mas também trabalhar com a fala espontânea, realista e natural, assim como a não linearidade das respostas sobre realidades tipicamente não lineares (DEMO, 1998).

As contribuições desse tipo de interação metodológica no sentido de pesquisar e auxiliar, na construção do complexo objeto saúde-doença-assistência, vislumbram diversas modalidades de diálogo que provêm da compreensão e explicação em profundidade das crenças, práticas, lógicas de ação, hábitos e atitudes de grupos sobre a saúde, a doença, as terapêuticas e as políticas, os programas e as demais ações protagonizadas pelos serviços de saúde (DESLANDES; ASSIS, 2002).

A realidade social constitui-se de representações, opiniões e subjetividades arraigadas nos costumes e valores de grupos determinados em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas e, definindo o nível simbólico dos significados e da intencionalidade dessas relações que se expressam pela linguagem comum e na vida cotidiana, constitui-se nas camadas mais profundas e,

portanto, campo de investigação das pesquisas qualitativas (MINAYO; SANCHES, 1993).

Nesse sentido, acreditamos que essa abordagem permitirá olhar e trabalhar o objeto deste estudo com fundamentos que exigem incorporar o significado e a intencionalidade dos atos, das relações e das estruturas sociais dos serviços de saúde, apostando que os usuários, a partir de sua percepção sobre a tríade saúde- doença-assistência, podem ser importantes sujeitos de transformação, com possibilidade de (re)construção da prática da assistência à saúde com ênfase na integralidade da atenção, marcada por uma relação acolhedora, com compromisso e responsabilização.

O confronto da fala com essa prática social tecida também por fios de material ideológico que servem como trama a todas as relações sociais; e a observação de condutas e a interpretação do conteúdo dos discursos ou a fala cotidiana dentro de um quadro de referência, em que a ação e a ação objetivada nas instituições permitem ultrapassar a mensagem manifesta e atingir os seus significados mais latentes; correspondem ao objeto da análise qualitativa completa (MINAYO; SANCHES, 1993).

Dessa forma, acreditamos (pensamos) que esta pesquisa permitirá avançar na aproximação com a realidade ao explorar fenômenos já conhecidos, porém com poucas acumulações nas interfaces de avaliação dos serviços de ABS e outras interfaces inexploradas enquanto processos avaliativos que partem dos usuários.