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A definição da metodologia de pesquisa em um trabalho acadêmico exige considerar a sua efetivação em consonância com as afinidades ideológicas e realidades objetivas relativas ao campo. Tendo em conta tais aspectos, optei por uma metodologia de caráter qualitativo, que propiciou uma visão global do fenômeno, situando-o no contexto onde esse ocorre. Como ensinam Minayo e Sanches (1993), a investigação qualitativa tem por fundamentos valores, representações, costumes, atitudes, opiniões, que buscam esclarecer a complexidade do fenômeno estudado. O objeto da abordagem qualitativa está no nível das percepções, em constante interação com motivos, ações, hábitos e valores, que se expressam por meio das manifestações pessoais e grupais, presentes na vida cotidiana. Desta maneira, configuram-se como procedimentos singulares, no estudo em curso, observar e analisar a ação dos sujeitos na elaboração dos ciberconteúdos educativos. Os ciberconteúdos em si são importantes, como fenômeno novo a ser definido, mas seu percurso de elaboração, que integra sujeitos em dinâmica interativa e multidisciplinar, se mostra como percurso metódico a ser trilhado.

Para Minayo (1998), haja vista o aspecto plurifacetado, já que abrange áreas do conhecimento como a Educação, a Comunicação Social, a Sociologia e a Informática, o mais coerente é a associação de técnicas de pesquisa. Elas não devem ser misturadas, mas criteriosamente delimitadas pelo fluxo do que ocorre na prática e pelo tempo de permanência em campo. Essa combinação é sugerida para trazer a melhor elucidação de questionamentos e a maior proximidade da realidade e por mostrar, sob vários pontos de vista, os elementos que

fazem parte do objeto enfocado. Acrescento, ainda, o fato de que esta abordagem de pesquisa define-se como exploratória explicativa.

Para Barbier (1997), a pesquisa-ação tem caráter mais coletivo do que individual, podendo se tornar comunitário, daí sua feição cooperativa. Não ocorre de maneira inteiramente instrumental, o que significa uma intervenção do pesquisador nas suas fases constitutivas em espiral, quais sejam, a ação, os contratos, a reflexão e as mudanças. A ação acontece de modo mais efetivo quanto mais advém das contratualidades entre os participantes, as quais se consolidam em atitudes comuns entre os sujeitos de um grupo, voltadas para um objetivo previamente definido. Diz respeito às suas capacidades interativas. Configura-se tanto mais eficaz quanto mais aglutina todos os elementos de uma realidade complexa.

Com este fim, foi escolhido um método de pesquisa-ação com viés participativo (THIOLLENT, 2005), fundamentado na mobilização do grupo de pesquisa na produção de conteúdos educativos de forma contínua e colaborativa. Ainda que haja uma diversidade de enfoques e antagonismos conceituais concernentes às metodologias participativas, é possível indicar como característica diferenciadora dessa categoria de estudos o fato de serem desenvolvidos de maneira coletiva e se firmarem em variados níveis de participação relativos a uma coletividade, com ligação direta à temática ou à realidade estudada. Assim, os princípios participativos são, para este estudo, meios basilares, cuja utilização busca efetivar a colaboração e os princípios de grupo relativos à ação para a qual se propuseram.

A elaboração de ciberconteúdos pressupõe a ação dos participantes em esferas que conjugam a ―presencialidade‖ e a virtualidade, os saberes individuais e as competências coletivas, o dissenso e o consenso, em um fluxo contínuo e não previsto, fruto de negociações e mudanças que ocorrem ao longo de todo o processo produtivo. Dá-se pela descoberta, pela mediação e retomada circunscritas a um contexto e a um tempo específicos. Diz respeito a entendimentos e objetivos coletivizados, que visam ao ato de fazer, juntos, conteúdos educativos que estão na rede, são da rede, se reordenam por ela como reflexo de cultura oriunda do ciberespaço.

Aproxima-se, desta maneira, das condições declaradas pelos autores Carr e Kemmis (1988) como importantes para que a pesquisa-ação ocorra: aspectos participativos, feição democrática e sua contribuição à ciência e à mudança social. A efetividade de um trabalho coletivizado com tais princípios possibilita a dinâmica fluida de observação e análise na relação pesquisador/objeto e define os próprios caminhos da pesquisa, que se fundamentam numa produção grupal.

São apontadas três condições mínimas necessárias para se assegurar a efetivação investigação-ação. São elas:

A primeira, que um projeto que tenha planejado como tema uma prática social, considerada como uma forma de ação estratégica susceptível de melhoramento; a segunda, que dito projeto percorra um espiral planejamento, ação, observação e reflexão, estando todas estas características implantadas e interrelacionadas sistemática e auto-criticamente; a terceira, que o projeto implique aos responsáveis das práticas em todos e cada um dos momentos da atividade, ampliando gradualmente a participação no projeto para incluir a outros afetados pelas práticas, e mantendo um controle colaborativo do processo. (CARR; KEMMIS, 1988, p.177)

Por se tratar de um campo de estudo incipiente e revelar práticas sociais em transição, o desenvolvimento da pesquisa concerne não somente ao desenvolvimento de produtos educativos em si, os ciberconteúdos educativos, mas também aos hábitos dos participantes quando lidam com tecnologias digitais, quando os confrontam com a formação de saberes, com visões sobre o ensino e aprendizagem e acerca dos conteúdos educativos. Vincula-se, também, ao movimento de desbloqueio de determinados comportamentos relativos a essas realidades e manifestação de novas práticas.

Além das características descritas por parte de Carr e Kemmis (1988), Thiollent (1996) acrescenta que a pesquisa-ação requer uma ideia de ação, que pede, preliminarmente, a definição de alguns componentes: um agente, um objeto ao qual se vincula a ação, um objetivo, um ou vários meios, um campo ou domínio definido.

Como pesquisa-ação, este estudo não pretende alterações rápidas na feitura dos ciberconteúdos, visto que as mudanças advêm de interação contínua do que o grupo entende sobre conteúdos com suas especificidades e a prática para desenvolvê-los, da ação crítica e intervencionista dos sujeitos no que tange ao objeto. Permite maior aproximação entre o pesquisador e o grupo pesquisado, sendo possível observar e obter informações reveladoras que resultem em discussão e troca dialógica de experiência e conhecimento, permitindo que os resultados e conclusões sejam debatidos e apropriados pelas partes, na perspectiva de desenvolver a capacidade crítica e reflexiva dos participantes, sobre esse processo; ou seja, as análises sobre a realidade pesquisada se configuram pelo fluxo contínuo dos componentes da ação, para que seja reconhecida como tal. Este processo engloba a concepção do que seja ciberconteúdo educativo, o planejamento de iniciativas com o intuito de fazer conteúdos com tais singularidades, o perfil dos participantes, as negociações, seu desenvolvimento, as mudanças, em um todo complexo consoante é expresso na figura que segue.

A seguir, delinearei quem são esses sujeitos, os instrumentos necessários para a concretização da pesquisa, como os sujeitos se integraram na ação de criar ciberconteúdos

educacionais, as fases previstas para o desenvolvimento dessa ação, além de suas respectivas cronologias.