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Natureza qualitativa do estudo

4. METODOLOGIA

4.1. Natureza qualitativa do estudo

A expressão investigação qualitativa tem sido utilizada de forma genérica para as formas de investigação que se baseiam sobretudo na utilização de dados qualitativos (Meirinhos & Osório, 2010). Como Bogdan e Biklen (1994) referem, muitos dos investigadores das questões educacionais contemplam uma abordagem qualitativa na condução da investigação.

A abordagem qualitativa como uma metodologia de investigação agrupa diferentes estratégias em que os dados recolhidos são ricos em pormenores descritivos. Neste tipo de investigação as questões são formuladas com o objectivo de investigar toda a complexidade dos fenómenos no seu contexto natural (Bogdan & Biklen,1994).

A investigação de natureza qualitativa possui segundo Bogdan e Biklen (1994) cinco características principais:

 o contexto natural é a fonte dos dados, que são recolhidos através de múltiplos métodos pelo investigador, que participa de forma interactiva;

 preocupa-se em descrever, mais por palavras e não tanto por números, de forma minuciosa todo o contexto, analisando os dados em toda a sua riqueza;  importa mais o que aconteceu, o processo, do que o produto e o resultado

final;

 analisa de forma indutiva os dados, como se todos fossem as partes de um puzzle, não havendo uma preocupação em arranjar dados ou evidência para provar ou rejeitar hipóteses;

 procura o significado das coisas, interessando as perspectivas pessoais dos participantes, de modo a que estas possam ser tidas em consideração na investigação.

Para estes autores, na investigação qualitativa em educação, o investigador comporta-se como um viajante que não planeou a sua viagem. Apesar de terem um plano, os investigadores qualitativos partem munidos dos seus conhecimentos e experiências com o único objectivo de reformular e modificar esse mesmo plano à medida que forem avançando.

Stake (1999) apresenta outro aspecto característico da investigação qualitativa, o facto de que esta direcciona os aspectos da investigação para casos ou fenómenos em que as condições contextuais não se conhecem ou não se controlam. Este autor, numa comparação entre as perspectivas qualitativa e quantitativa da investigação, defende que a realidade não pode ser descoberta, mas antes interpretada, construída e desta forma, a investigação qualitativa procura a lógica da construção do conhecimento.

A selecção da melhor estratégia de investigação depende basicamente, segundo Yin (2001), de três condições: do tipo de questão da pesquisa; do controlo que o pesquisador possui sobre

os eventos comportamentais efectivos; e do foco em fenómenos históricos, em oposição a fenómenos contemporâneos. Este mesmo autor aponta assim que, quando se colocam questões do tipo "como?" e "porquê?", quando o pesquisador não controla as situações ou quando a investigação se centra em fenómenos contemporâneos inseridos num contexto da vida real, a metodologia preferida é o estudo de caso.

O estudo de caso, na sua essência, parece herdar as características da investigação qualitativa (Meirinhos & Osório, 2010) apesar de, como Yin (2001) refere, ser há muito estereotipado como o “parente pobre” da investigação, mesmo continuando a ser utilizado extensivamente em áreas tão diversas como psicologia, planeamento urbano ou educação. Este método também é o modelo mais frequente para a pesquisa de teses e dissertações nestas áreas. De facto, Bogdan e Biklen (1994) também associam o estudo de caso à escolha de muitos investigadores para primeiro projecto devido sobretudo à possibilidade de ajuste do grau de dificuldade e por ser mais fácil de realizar.

Para Ponte (2006), um estudo de caso é:

uma investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um certo fenómeno de interesse.(p.106)

De natureza empírica, um estudo de caso tem um forte cunho descritivo mas não se resume ao mesmo, podendo ter um alcance analítico profundo, capaz de ajudar a gerar novas teorias e questões. Não assume um carácter experimental, exige algum distanciamento do investigador e baseia-se fortemente numa análise documental, tirando partido de múltiplas fontes (Ponte, 2006).

O objectivo de um estudo de caso não é formular generalizações mas produzir conhecimento acerca de objectos muito particulares (Ponte, 2006), permitindo, no entanto, fazer aquilo que Yin (2001) identifica como generalizações para a teoria, isto é, ajudam no surgimento de novas teorias ou a confirmar ou negar teorias existentes.

Bogdan e Biklen (1994) comparam um estudo de caso a um funil, em que numa fase inicial, correspondendo à parte mais larga do funil, o investigador procura as fontes de dados, organizando posteriormente uma “malha” para avaliar as possibilidades dessas fontes se enquadrarem no seu objectivo. Então, começa a recolher dados, a analisá-los e explorá-los, tomando decisões acerca dos objectivos do trabalho, permitindo seleccionar melhores e mais adequadas estratégias. Passa de uma fase alargada para uma mais estreita, afunilando e delimitando a sua área de trabalho. À medida que se vai conhecendo melhor o tema em estudo, os planos são modificados e as estratégias seleccionadas, tomando decisões relativamente aos indivíduos e contexto a estudar ou à estratégia de recolha de dados.

Por outras palavras, o estudo de caso não é nem uma estratégia de recolha de dados nem meramente uma característica do planeamento da investigação em si, mas antes uma

estratégia de pesquisa abrangente (Yin, 2001) ou nas palavras de Ponte (2006, p.11), “mais do que uma metodologia, um estudo de caso é essencialmente um design de investigação”. Estas são também as características essenciais deste estudo, centrado num contexto natural muito específico, Timor-Leste. De facto, pretende-se dar resposta a questões de natureza explicativa, sem controlar os fenómenos, de modo a que o produto final possua características interpretativas das situações. O objectivo principal será “o de construir conhecimento e não o de dar opiniões sobre determinado contexto.” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 67). Pretende-se descrever e compreender, numa perspectiva pragmática, chamando a atenção para o que há de interessante, original e surpreendente na construção do conhecimento profissional dos professores timorenses.